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História Imaculada - Capítulo V.2


Escrita por: Gaby_Uchiha_

Notas do Autor


OLÁÁÁÁÁ!!!!! Faltando 20 minutos para terminar o dia, vim cumprir com o trato que eu postei na Página do Face! Hoje é dia de IMACULADA!!!
Morrendo de sono e cansaço mas precisava dizer muito obrigada a todos que me deram forças, comentaram, favoritaram ou chegaram agora na história! Obrigada de coração!
Por isso, sem delongas, vamos à continuação do capítulo V de Imaculada!

OBS: Hoje não tem "Por uma Lady" porque esse capítulo é continuação do capítulo V.1, ou seja, só há trechos de "Por uma Lady" no início dos capítulos, não nas continuações ^-^

Divirtam-se...

Capítulo 7 - Capítulo V.2


Seu desejo de se portar como um animal inflamava cada vez mais sempre que o loiro mostrava um sorriso para si, onde ele percebia o deboche por ter invadido o seu jantar com o pai e a mulher que ele desejava tanto conquistar e desposar. Metas essas conhecidas por todos dali.

– É muito bom vê-lo novamente, Comendador – o loiro comentou com tom animado, oferecendo a mão para que o moreno aceitasse.

Poderia parecer inocente a ação, mas Sasuke entendeu a real intenção do loiro, pois ele teria que desfazer o cruzamento de braços com Sakura para poder ofertar a mão.

Se ele não fizesse aquela inocente ação, seria aquele a ser taxado a destruir o decoro primeiro na frente dos demais; por isso, e inspirando profundamente, ele desfez o cruzamento enquanto sentia as mãos pequenas deslizando pelo contorno do seu braço antes do toque se extinguir e existir apenas o toque de mãos firme com seu rival.

Afastou aquele toque o mais depressa possível, como se fosse uma doença contagiosa.

Sakura pareceu satisfeita com aquele aperto de mãos feito à sua frente antes de ouvir Tsunade sussurrar em seu ouvido que o jantar já estava pronto, por isso, tendo a responsabilidade do anúncio, adiantou-se com as mãos unidas sobre o colo:

– Tenho a felicidade de anunciar, nobres convidados, que o jantar já será servido – aquela era a deixa para que partissem ao outro cômodo, mas antes que desse o primeiro passo ouviu a oferta dos dois jovens em uníssono:

– Permita-me, senhorita.

Até mesmo os dois homens se surpreenderam com a coincidência, enquanto Sakura olhava atônita para as mãos estendidas para si, cada um ofertando o seu braço como um legítimo cavalheiro. O decoro dizia que aceitasse a oferta, mas nunca lhe foi dito o que fazer quando dois nobres rapazes lhe ofertavam o braço ao mesmo tempo.

Talvez ela procurasse a resposta para o questionamento silencioso, pois permaneceu petrificada e ruborizada até que seu pai soltasse uma alta risada e fosse ao socorro da filha sem graça com uma governanta prestes a desmaiar atrás de si:

– Presumo, nobres cavalheiros – iniciou cruzando o seu braço com o de sua filha – que nessa presente questão, eu, o pai da moça, mereça a sua querida companhia enquanto partimos ao jantar – comentou já andando para a sala de jantar tendo os dois rapazes seguindo os anfitriões. – Não fiquem com essas feições, é perfeitamente normal e desejado que um jovem rapaz ofereça a companhia à filha do casal da Casa. – Comentou para aliviar o silêncio constrangedor a que foram impostos, ao mesmo tempo que afastava a cadeira para a sua filha como um verdadeiro cavalheiro, recebendo em resposta, o largo sorriso agradecido de sua única prole.

Sasuke suspirou discretamente sentando-se do outro lado do Barão pois seu título lhe dava uma posição de maior destaque na mesa, mas não se felicitou de lembrar que isso também faria com que Naruto ficasse com a cadeira ao lado da dama à sua frente. Por um momento ele desejou quebrar as regras de conduta e poder sentar ao lado dela.

Nenhum dos jovens pareceu entusiasmado para reiniciar uma conversa, mas quando o primeiro caldo encontrou o paladar dos visitantes, Naruto foi o primeiro a exaltar exclamações de enaltecimento para a jovem levemente ruborizada e risonha ao seu lado.

Os elogios não paravam e à medida que Sakura parecia cada vez mais aberta e com largos sorrisos para o convidado ao seu lado, próximo demais de si, Sasuke se fechou mais em seu mundo, vendo com olhos frios o aparente casal divertido e semelhante diante de si.

Sim, ele admitia, estava sentindo ciúmes. Gostava de admirar Miss Sakura sendo cortês e tão receptiva com os outros; ele sempre a respeitava com seus conhecidos, mas naquele momento, enquanto os olhos verdes estavam voltados para o homem loiro e tão animado, ele não aprovou. Não queria que ela olhasse para Naruto, que ofertasse seus sorrisos ou que ficasse tão próxima a outro na noite em que ele planejou tê-la só para si comemorando o que tanto alegrara o seu pai mais cedo, mas ali estava ele, corroendo-se de ciúmes devido a um homem rico e sem títulos entretendo um Barão e sua filha.

Ora, mais que tolice era aquela que ele tanto remoía. Ele próprio se intitulava um tolo por sentir ciúmes e no fundo, ameaçado por um burguês qualquer que em conhecimento popular, em relação aos títulos nobiliárquicos, não se equivalia à poeira das suas vestes produzidas no mais respeitado alfaiate do continente europeu.

Se seu tio Obito sequer imaginasse o que tanto se passava dentro da cabeça daquele homem viril, o Comendador seria motivo de piadas infames e de comentários sobre “Onde estava aquele moleque que menosprezava sua própria condição como nobre inglês?” ou “Quando ele passou a se pautar em títulos e se sentir ultrajado por alguém inferior à si?”.

E no fundo Sasuke concordava com aquele pensamento e até mesmo se perguntava aqueles questionamentos enquanto degustava mais uma iguaria da casa do Barão e semicerrava o olhar para a senhorita à sua frente.

Sakura pareceu ser capaz de ler seus pensamentos ou de ser a observadora perspicaz que ele tanto reconhecia, pois ele viu quando os olhos verdes desviaram de mais um elogio daquele galante burguês ao Barão e mostrou um sorriso complacente em sua direção.

E como todas as vezes em que ela lhe direcionava o olhar, ele sentiu aquele animal feroz dentro de si que antes pedia para se libertar, se acalmar como um filhote perfeitamente adestrado e reverente à sua senhora.

Inspirou profundamente tentando manter a compostura e manter o olhar cortês que ela direcionava a si assim como a doce melodia que saia dos lábios femininos:

– E o senhor, Comendador. Os pratos da noite se encontram do seu agrado?

– Decerto, Miss Sakura. Agradáveis como sempre. Devo elogiar a adega do Barão, sempre sendo uma das melhores da que tenho a honra de desfrutar.

– Ah, meu amado pai e seus gosto por envelhecer vinhos! – Comentou para a mesa com um largo sorriso à mostra.

– O que seria de um vinho se não envelhecido de forma tão adequada? Um acompanhamento insalubre, decerto – o anfitrião brincou fazendo os jovens rirem e um Comendador mostrar um sorriso de canto ao homem que apesar de simples, tornou-se uma boa influência para si, até mesmo apreciando a companhia do Barão por mais que fossem tão diferentes e o mais velho dominasse grande parte das suas conversas.

– Lamento não ter tanta perspicácia no envelhecimento de vinhos, sentir-me-ia inseguro se algum dia ofertasse algum vinho da minha adega ao Barão – Naruto comentou com naturalidade, agora já tão familiarizado àquele meio familiar.

– Ah meu jovem! Se há algo que tanto aprendi no meu crescimento, é que a presença dos mais experientes sempre deve ser desejada. Como acha que eu aprendi sobre vinhos? Até um simples trabalhador de um grande vinhedo pode se tornar um grande professor à um jovem aprendiz com sede de aprendizado e conhecimento.

– Admiro muito seu pensamento tão aberto ao mundo e suas tantas variedades, Barão. Se houvessem mais homens como o senhor, poderia dizer que o mundo seria um lugar melhor.

– Ora, então porque esperar por homens desse tipo aparecerem? Por que não começar a mudança por nós mesmo e o nosso meio? Veja essa mesa senhor Uzumaki – abriu as mãos exibindo a mesa a sua frente. – Vejo dois jovens cavalheiros com potencial de serem tão bons aprendizes a tudo que a vida ofertar a eles de oportunidade! Meus anos de mocidade já se foram e a velhice já me acolhe em seus braços enquanto colho os frutos dos meus anos de aprendizagem. Não sei se posso ser intitulado como um sábio para lhe passar algum ensinamento, mas se há algo que eu digo e tenho orgulho de transmitir à minha filha – comentou acolhendo a mão jovem de sua menina com a sua já com marcas da idade sobre a mesa. Sakura mostrava o sorriso mínimo e estimulador que ele tanto conhecia para continuar – é que aproveitem a vida ao invés de se acovardarem por medos tolos que agora podem parecer tão grandes. Com o tempo os arrependimentos se tornam fardos e uma pergunta silenciosa do “por que não fiz tal coisa?”. Ora, meus jovens rapazes, se há algo que desejam, sejam felizes e lutem pela sua felicidade enquanto aprendem com a nossa maior professora, a vida.

Naruto ergueu a taça de vinho branco em uma homenagem:

– Proponho um brinde ao Barão e seus tão lisonjeiros ensinamentos.

Sakura foi a primeira a seguir a atitude do loiro erguendo sua própria taça.

– Ao meu pai e aos ensinamentos que tive a grande oportunidade de crescer em companhia.

Sasuke com decoro, também ergueu a sua aproveitando para dizer com os olhos voltados para a jovem:

– À vida e às oportunidades e surpresas que ela sempre nos oferta e que temos que viver.

– Então que a vivamos sem temor. Lutando pelo que desejamos – Naruto falou cortês enquanto as quatros taças se chocavam e a risada do anfitrião ecoava por aquele cômodo.

Discretamente Sasuke ergueu uma sobrancelha e mostrou um olhar desgostoso para Naruto que apenas sorriu discretamente sabendo que aquele Comendador havia compreendido suas palavras. Deixando claro que ele não desistiria daquela jovem de forma alguma por meio da intimidação.

A calma reinava pelo seu corpo e mente como várias vezes reinou durante tantos anos em que orquestrava aqueles crimes, enquanto Sasuke nutria cada vez mais repulsa por aquele ser, sabendo que seus sentimentos negativos, em relação aquele homem, eram extremamente diferentes à indiferença e decoro que ofertava a todos, independentemente da condição financeira ou da Corte.

Diante de Naruto, ele se sentia desconfiado.

O momento de descontração dos convidados apenas foi interrompido pela entrada silenciosa de Tsunade que entregou um envelope decorado ao Barão.

Sasuke até apreciou o silêncio com um gole do seu vinho tinto enquanto mirava a moça de olhos fixos no anfitrião.

– Algum problema, papai? – Perguntou com preocupação assim que viu os olhos do seu pai se arregalando pela surpresa, mas a tensão foi quebrada por uma risada nervosa do mais velho de todos.

– Ora, não se preocupe minha menina. Hoje é realmente um dia para se comemorar e exaltar! – Acalentou sua menina com um largo sorriso enquanto cobria a mão feminina com a sua. – Acabo de receber o convite para um baile em Headfield! – Anunciou alto fazendo todos voltarem os olhos para o silêncio e contente Naruto.

– Baile em Headfield? – Sakura murmurou ainda desacreditada.

– Senhor Uzumaki, quando ia nos contar?

– Desculpe-me Barão. Não queria estragar a surpresa, mas como um grande agradecimento pela enorme hospitalidade que Londres estar nos ofertando, eu e minha querida prima resolvemos abrir nossa casa e ofertar um baile – falou com entusiasmo, olhando para cada exemplar até encontrar os olhos negros e semicerrado do Comendador. – Aliás, Comendador. Se eu bem soubesse que terminaríamos a noite dividindo da mesma mesa, eu mesmo teria trazido o seu convite que já foi devidamente enviado para a sua residência.

– Atencioso da sua parte, senhor Uzumaki – o outro comentou em um tom baixo e frio assentindo para o loiro que sorria largamente.

– Ocorrerá em alguns dias e esperamos a presença de todos. Nos felicitaria imensamente ter a companhia de pessoas que tanto estimamos!

– Ah! Um baile sempre é prazeroso em boas companhias – comentou a mais jovem.

– A senhorita é uma grande admiradora de bailes, estou certo Miss Sakura? – Naruto foi em busca da atenção da jovem enquanto continuavam a saborear da sobremesa que acabava de ser servida por tantos empregados.

– Absolutamente, senhor Uzumaki! Olhe para esta mesa! Por várias noites foi ocupada apenas por mim e pelo meu pai, mas devido aos bailes, essa noite ela tem muito mais do que apenas nós dois. Uma prova de que bailes podem ser o início da construção de laços até mesmo inimagináveis.

– Diante de tão graciosas palavras, quem sou eu para negar sobre tal pensamento – concluiu sorrindo para a moça que olhava para si, antes que conversas banais ocupassem a mesa até que o fim fosse anunciado e o Barão já se adiantasse em mostrar toda a sua residência para o jovem proprietário de terras enquanto a filha conduzia o Comendador para a tão conhecida sala de leitura.

A familiaridade o levou para o sofá com estampas florais enquanto acomodava o braço sobre o encosto e mirava seu olhar sério sobre a moça que já se preparava no assento do pianoforte.

Ele conseguia ouvir as risadas altas do Barão vindo de algum lugar do andar superior e por um minuto ele perdeu o foco de seus pensamentos pensando em tudo e no nada ao mesmo tempo. Só foi desperto pela voz da moça que não parava de tocar perfeitamente uma melodia de um músico português:

– Notei o seu olhar, posso até mesmo afirmar que meu pai notou o quanto o senhor esteve recluso no jantar de hoje – os olhos verdes verificaram mais uma vez a entrada sabendo que a música que ela reverberava abafava a conversa de ambos.

Ele soltou uma risada nervosa antes de passar as mãos nos cabelos tão negros e lisos.

– Não seria a senhorita se não fosse tão perspicaz.

– É por causa do senhor Uzumaki – não foi uma pergunta, mas sim uma afirmação seguida de um olhar rápido na direção do homem feito que se manteve sério.

– Não quero que me entenda mal, Miss Sakura.

– Não é errado e nem posso julgá-lo por não se sentir à vontade diante daquele senhor. Todos nós temos o direito de fazer nossos próprios julgamentos.

– Mesmo que não me julgue, senhorita, consigo perceber que gostaria de me dizer algo.

– Talvez... – sua voz diminuiu um pouco enquanto as últimas notas eram perfeitamente reproduzidas – que o senhor lhe desse mais uma chance.

Sasuke ficou um momento em silêncio ponderando sobre aquele pedido. Nunca havia ouvido Miss Sakura lhe pedir para dar alguma outra chance a alguém, mas também ele próprio nunca se portou de maneira desgostosa em relação a alguém diante daquela moça.

Aquela sentença poderia ser a simples mostra da justiça ou um carinho que aquela moça pudesse estar nutrindo por aquele homem e por isso não desejava que ele fosse odiado por alguém próximo a si.

Pensando dessa forma, o Comendador inspirou antes de dizer com calma e imparcialidade:

– Talvez eu tenha sido injusto de maneira precipitada. Não posso lhe prometer que minha primeira impressão seja mudada de maneira tão rápida, mas tentarei fazer jus à justiça e a verdade.

A sentença pareceu satisfazer a senhorita que logo mostrou um largo sorriso para si antes que seu pai e o outro convidado entrassem na sala que apenas ambos ocupavam.

– Ah, meu bom jovem! E esta é nossa sala de leitura, ou como talvez deveríamos chamar, a sala de Sakura! Minha menina praticamente se apossou desta sala! – Comentou rindo.

– Ora papai! Não seja tão injusto. Gosto dessa sala – a moça entrou na brincadeira começando uma nova melodia que era uma das favoritas do pai.

O Barão riu indo até a moça para depositar um beijo no alto da cabeça de penteado elegante.

Naruto sorriu para aquela amostra de familiaridade tão animada e por um instante ele conseguiu imaginar a angústia e os gritos de desespero quando aquele respeitável Barão encontrasse o corpo sem vida da sua tão amada menina já sem vida sobre o leito virginal daquela moça.

Como um perfeito cientista sempre testando para melhorar seus experimentos, ele anotou mentalmente que ele desenharia um sorriso nos lábios frios da moça como uma piada infame à situação tão mórbida daqueles seres, enquanto ele, o causador de tudo, permaneceria no escuro de um lugar próximo, deleitando-se com o prazer imensurável da dor e da arte que suas próprias mãos executaram.

Os pensamentos daquela mente tão doente fizeram sua pulsação acelerar de forma incomum, enquanto suas mãos suavam querendo romper a pouca distância e envolver o pescoço tão frágil que ela parecia ter. Ele se imaginou a sufocando, imaginou os verdes impregnados de terror enquanto calmamente ele alisava com a outra os fios de cor tão incomum.

Mas ao mesmo tempo que o pensamento veio, ele o reprimiu prometendo-se que aquilo não lhe daria tanto prazer do que seguir a ordem correta dos fatos como tão bem todos os seus experimentos anteriores já haviam provado.

Ele já havia sufocado mulheres, golpeado por trás, feito com que o sangue carmim jorrasse sobre carpetes finos e barracos decadentes, mas como um grande inventor aprendendo com seus erros, ele refinou suas técnicas até chegar naquele estágio. Por isso ele se reprimia, sendo tão paciente e até mesmo propondo a ideia de testar outro experimento com ela, deixando um sorriso impregnar o mórbido leito.

Um sorriso mais satisfeito despontou dos seus lábios antes de voltar a admirar aquela ampla sala de leitura já maquinando como poderia usar a planta daquela casa em momentos futuros ao seu favor ou como a literatura seria mais uma arma a ser usada.

Naquela noite ele queria a confiança, apenas o primeiro passo de muitos perfeitamente arquitetados em sua mente. Por isso, cauteloso como sempre ele admirou a pintura de uma senhora elegante de cabelos dourados e olhos tão verdes quanto o da moça que continuava a tocar pianoforte entretendo aos demais.

– Esta é a minha falecida esposa, Baronesa Mebuki – o Barão explicou se aproximando do mais jovem.

– O senhor tinha uma bela esposa, senhor Barão. Acredito que era dona de uma personalidade admirável por ter conquistado o seu coração.

– Ah, ela conquistou o meu coração antes mesmo que me visse – sorriu complacente antes de voltar a olhar para os outros jovens que haviam silenciado ouvindo suas palavras.

Ele gostava de se lembrar da esposa e enaltecê-la, gostava de mostrar que nem o tempo ou a sociedade tão manipuladora o houvesse feito a esquecer ou trocá-la por outra jovem dama, mas naquela noite, ele primaria pela felicidade e por isso, sendo um bom orador, caminhou a conversa por outro caminho:

– Me pergunto se o Comendador já satisfez a curiosidade da minha menina.

Sakura compreendendo o lado do pai, sorriu entrando na brincadeira:

– Ah, tentei sondá-lo assim que chegou em nossa residência, mas foi mal em dizer que usaria isso ao seu favor – parou a melodia voltando o corpo para os demais com um falso desapontamento estampado em sua face.

– Perdão se fui tão perverso com a senhorita – ofertou um meio sorriso enquanto estendia a mão para a dama que a apertou rapidamente como um gesto complacente.

– Será que algum de vocês poderia romper com os tormentos? Presumo que até o senhor Uzumaki já está sem compreender os motivos dessa noite – foi sagaz.

– Ah, Miss Sakura – o loiro começou atravessando a sala para pôr uma mão sobre o pianoforte – nunca admitiria por achar quebra do decoro, mas sua situação é a mesma que a minha – sorriu cúmplice para a jovem satisfeita que voltou o olhar analítico para o pai distante e o Comendador próximo a si, ainda no sofá, deixando-a mais uma vez, desde que se conheceram, entre aqueles dois homens.

– Comendador... – estimulou.

– Eu trabalho com o Barão em sua Indústria Textil, senhor Uzumaki. Meu irmão é dono de uma frota que trabalha com rotas comerciais marítimas. O Barão conseguiu um grande negócio com importadores dos países do Mediterrâneo...

– Ora meu jovem – o Barão interrompeu – não seja humilde com seus próprios feitos. Na verdade, senhor Uzumaki, a Indústria conseguiu tão bons importadores devido ao talento do Comendador e por ter tantos contatos.

– Fascinante, Comendador. Como produtor também conheço bem o quanto vale os contatos – o loiro foi cortês fazendo o moreno continuar não sendo afetado pelos elogios do outro:

– Foi um grande empreendimento e até mesmo usamos uma grande embarcação do meu irmão, mas, próximo ao Estreito de Gilbraltar, a embarcação foi saqueada.

– Piratas? – A surpresa estava desenhada no rosto do homem mais novo.

– Infelizmente.

– E como isso pode ser motivo para um dia tão feliz?

– Há cerca de uma semana – reiniciou a fala erguendo-se com elegância e estendendo a mão para que Miss Sakura também se erguesse sem romper a ligação das mãos – a Indústria teve que recomeçar do zero e convencer os importadores de dar um prazo maior à ser cumprido. Uma tarefa quase impossível como deve bem saber, senhor Uzumaki.

– Exato.

– Mas por obra do acaso, conseguimos ter a felicidade da coincidência de encontrarmos o maior dos importadores passeando por Londres – sorriu minimamente pondo sua outra mão sobre a enluvada daquela moça que o olhava interessada pelo andar da história. – Tive a honra de me encontrar com ele pessoalmente e entregar a carta em suas mãos sobre o nosso relato. Levou algumas horas de debate, mas no fim ele concordou com os novos termos, transmitiu seus sinceros pêsames pelo infortúnio ocorrido e declarou que o Barão tinha grande sorte de estar em companhia de pessoas certas.

– Ora! Isso é uma grande alegria – ela sorriu antes de ser interrompida pelo sério Comendador.

– Lembra-se que te disse que tudo estava conectado a você?

– Sim.

– O investidor em questão se compadeceu pela carta entregue a ele e questionou quem havia a redigido. Fui sincero em dizer que em parte era obra sua.

Os olhos de Sakura se arregalaram com a notícia. Em geral mulheres não eram admitidas entre os negócios dos homens, mas o fato de Sasuke ter admitido isso à um investidor e esse mesmo ter aceitado aquilo que seria tido como “afronta” por outros homens era algo para se surpreender.

Sasuke não completou contando os pormenores da surpresa daquele poderoso burguês que logo mostrou seu fascínio pelo talento de uma mulher, dizendo que provavelmente a dama era dona de uma inteligência admirável por muitos admiradores, algo que ele prontamente concordou e o homem sábio e de cabelos grisalhos compreendeu como uma declaração partindo do próprio Comendador de semblante tão sério. Nem ao menos aquele homem pensou em comentar sobre uma de suas belas filhas como qualquer pai faria, já que ele compreendia que era uma tarefa falha. Aquele Comendador já não era dono do próprio coração.

– Será que um dia irá parar de me surpreender, Miss Sakura? – O loiro proferiu as palavras que permeava até mesmo a mente do moreno ao seu lado.

Ela sorriu sem graça com a situação, não sabendo o que dizer, mas comentou com uma risada baixa:

– Presumo que dessa vez sou eu a pessoa que está surpresa, senhor Uzumaki.

Os quatro integrantes daquela sala riram juntos antes de ser Naruto aquele que mais uma vez puxou um brinde com os dizeres:

– À Miss Sakura, a dama que não se cansa de surpreender, nós, simples homens honrados pela sua presença.

Ao que ela respondeu com um sorriso feliz:

– Espero poder surpreendê-lo mais uma vez, meu caro senhor Uzumaki.

Após o brinde, a noite transcorreu com risadas, doses alcoólicas e conversas banais. Estavam entrosados, Naruto já havia se tornado parte do círculo favorito do Barão que já o escalava para futuros jantares. No entanto, como o decoro e a hora anunciavam, já era hora dele partir.

Foi com dificuldades que ele resistiu aos pedidos do Barão para que ele ficasse por mais tempo, mas no fim ele partiu da sala sendo acompanhado pela senhora daquela casa.

– Espero que tenha sido do seu agrado esta noite, senhor Uzumaki. Perdão pelo convite tão repentino – Sakura anunciou vendo a senhora Tsunade ajudar o homem a vestir o sobretudo e a cartola.

– Não é preciso desculpas, na verdade – e ele esperou a senhora que o havia ajudado, se retirar – fico feliz por ter sido convidado para um jantar tão familiar. A senhorita e o Barão têm a benção de fazer seus convidados se sentirem em um lar – sorriu para dama antes de se aproximar e segurar as duas mãos entre as suas. – Sei que pode parecer impróprio, mas gostei muito de estar em sua companhia hoje, Miss Sakura. Obrigado pelas maravilhosas horas em que pude me sentir um passo mais próximo da senhorita.

– Nossas horas juntos também foram do meu agrado, senhor Uzumaki – ela lhe ofertou um sorriso largo e corado, sentindo o leve aperto nas suas mãos cobertas pelas grandes e masculinas.

– Não sabe o quanto suas palavras significam para mim, por isso – inspirou profundamente de um jeito inocente que tirou uma risada da moça antes dele continuar: – mesmo sendo inoportuno, gostaria de dizer que em muito significaria vê-la no baile de Headfield ou quem sabe, se a fortuna for boa conosco mais uma vez, podermos nos reencontrar por acaso mais uma vez para que eu possa desfrutar da sua companhia e de tão interessantes conversas. Juro que tentarei ser digno da sua companhia e conhecimentos. Como seu tão sábio pai disse...

– Devemos aproveitar as oportunidades da vida e lutar pelo que desejamos – ela completou com um breve sorriso sabendo muito bem o que ele diria, da forma que o loiro assentiu com força antes de beijar as mãos femininas longamente e erguer seu olhar, mirando diretamente para as íris tão verdes:

– Posso me iludir com a possibilidade de reencontrá-la? – Falou em um sussurro só para que ela ouvisse.

– Nunca uma possibilidade esteve tão perto do real, senhor Uzumaki – respondeu com inteligência, mostrando olhos brilhantes em expectativa do futuro.

– Obrigado, Miss Sakura. Até o nosso próximo reencontro – com mais um beijo e uma reverência cortês ele partiu para fora da residência do Barão de Louborn.

Sakura se manteve na porta, observando aquele senhor adentrar em uma das carruagens de seu pai que o levaria para casa. Suas mãos estavam sobre o colo e se apertaram quando ela viu o sorriso de menino nascer mais uma vez para si através das vidraças da portinhola.

Aquela foi a última imagem que ela teve do loiro naquela noite antes que os cavalos relinchassem e o trote vigoroso quebrasse o silêncio daquelas ruas já escuras e tão vazias adornadas por simétricos paralelepípedos.

Sua face ainda estava voltada para a rua que logo ficou vazia, mas a presença do olhar pesado sobre as suas costas a fez se voltar com um sorriso complacente ao Comendador posicionado sério um degrau acima do vestíbulo em que ela se encontrava.

Ela permaneceu em silêncio enquanto o homem com passos pesados e firmes se aproximava de si.

– A senhorita parece apreciar bastante a presença do senhor Uzumaki – a voz saiu fria como sempre, algo que poderia ser interpretado como soberba pelas pessoas que não o conhecia profundamente.

Ela foi educada em lhe dar um pequeno sorriso e fechar a porta para que a vizinhança bisbilhoteira não o vissem tão próximos e propagassem infâmias sobre a senhorita.

– Estaria mentindo se dissesse que não aprecio, Comendador.

Ele assentiu inspirando o ar discretamente, mas ela continuou:

– Sinto-o como um homem solitário, assim como o senhor.

Os negros observaram cada traço que exalava a verdade de pensamentos para si.

– Pareço-lhe solitário? – Ele questionou com um leve sorriso, tentando aliviar a tensão, mas a resposta foi séria à maneira que ele tanto conhecia:

– Parece-me um homem em busca do seu lugar no mundo. Um lugar para dizer como seu e não ter mais que partir.

Ele não pôde negar, no fundo ele sabia que aquela era a verdade e esbanjando da sinceridade tão impregnada em si, disse sem temor:

– Nós dois sabemos a qual lugar eu quero permanecer.

A resposta a fez inspirar profundamente olhando para os lados em busca de uma saída:

– Comendador, eu...

– Não diga nada – ele a interrompeu pegando as duas mãos da dama antes de encostar seus lábios nelas e lá permanecer por longos segundos e ele ter que erguer o rosto para anunciar: – Devo partir.

Ela não o impediria, sabia que era melhor para ambos por isso tentou aliviar a tensão com um sorriso:

– Posso pelo menos saber quais eram os dois outros motivos que o fizeram tão feliz essa noite? Ou acha que seria tola de me esquecer das suas palavras de mais cedo?

O sorriso de canto tão característico do Comendador reapareceu desenhado em seus lábios:

– Seria uma infâmia chamá-la de tola, Miss Sakura.

– Ainda não me respondeu, meu senhor.

Aquele sorriso mínimo se tornou um pouco maior que o contorno dos dentes tão brancos poderiam ser observados pelos atentos.

– O segundo grande motivo é de causa pessoal. Hoje recebi uma carta do meu irmão. Ele e sua esposa responderam com muitas saudades para as suas palavras, além de acrescentarem que Sir Itachi enviou uma das suas melhores embarcações para Hong Kong com o intuito de trazer os meus pais à Londres e ambos poderem passar algum tempo comigo e conhecerem o palacete que tanto preparo. Meu amado irmão já está até planejando uma viagem com toda a família para Northville.

– Que notícia maravilhosa, Comendador – arfou já imaginando a família Uchiha desembarcando em solo londrino dali há alguns meses, até já sentia vontade de rir imaginando a cena de histeria que seria assim que Ino soubesse daquela história quando a notícia se espalhasse assim que aportassem.

– Se recorda que os motivos tinham relação com a senhorita, não recorda?

– Claro que sim, Comendador.

– Pois esta vinda de minha mãe é devida também à curiosidade dela de conhecer a tão elogiada Miss Sakura que os filhos e a nora esbanjam em suas cartas.

– Ora, estão exagerando nos elogios, meu senhor – falou com a face ruborizada.

– Nunca mentiria para a senhorita – foi cortês e cheio de seriedade, sabendo muito bem que assim que sua última carta chegasse nas mãos de sua mãe em Hong Kong, aquele desejo de conhecer aquela moça aumentaria exponencialmente a fazendo preparar o mais rápido possível tudo o que seria necessário para a longa viagem.

– Eu sei – ela sorriu. – E qual seria o terceiro motivo da sua alegria que teria haver comigo?

Sasuke olhou firme nos olhos divertidos antes de dizer de maneira tão lacônica e impactante:

– Sua companhia.

Aquela simples sentença de apenas duas palavras a fez mudar a feição descontraída para a de espanto.

Sasuke como um exemplar também oriental e soturno, tinha o hábito de ser diferente dos outros homens que por vezes declaravam-se por meio de frase elaboradoras, cheias de adjetivos dignos dos poetas românticos; ela já havia ouvido várias daquelas declarações desde que foi apresentada à sociedade, mas apenas o Comendador era aquele capaz de dizer de maneira tão curta e direta o que ele sentia e isso sempre causava uma face ruborizada na moça sem palavras.

Ele sorriu para aquela expressão até engraçada antes de se afastar e perceber que não havia nenhum empregado por perto para pegar seus acessórios. Até abandonaria o decoro para se vestir sozinho, mas Sakura, aparentemente recuperada se adiantou para onde os pertences estavam pendurados. Ela pegou o pesado sobretudo ofertando com os braços abertos e um sorriso de desculpas pela situação:

– Deixe-me ajudá-lo, Comendador.

Ele não a repreendia por não haver algum serviçal por perto para fazer aquele serviço como qualquer outra pessoa faria em seu lugar, na verdade, aquele homem apreciou a sensação de se voltar de costas para a moça e sentir as mãos femininas o ajudando a se vestir. Uma situação aparentemente inocente, mas que os deixava em uma situação tão semelhante a recém-casados quando a atenciosa esposa leva o seu marido à porta e o ajuda com os detalhes antes de lhe ofertar um cálido e rápido toque de lábios e palavras de motivação.

Aquela cena tão viva em sua imaginação o tirou um sorriso enquanto terminava de ajeitar a abertura do sobretudo e se voltava a dama que já pegava a sua cartola.

– Obrigado, Miss Sakura – agradeceu colocando a alta cartola, mas ao invés de partir, permaneceu com a postura ereta diante da moça mais baixa que si.

Ela sabia que ele queria lhe dizer algo, por isso permaneceu paciente mesmo sentindo as bochechas corarem com o olhar fixo do homem em seu rosto.

– Gostaria de lhe fazer um último pedido antes de partir...

– Se estiver em meu alcance, serei feliz em cumprir.

– Gostaria que fosse minha acompanhante no Baile de Headfield – o pedido a fez arregalar os olhos não sabendo como responder. – Sei que os bons modos ditam que você deve ir com o seu pai pois ser minha acompanhante poderia incitar más falas, mas não peço que não vá com o seu pai, apenas peço a possibilidade de estar em sua companhia. É enfadonho ir sozinho a esses bailes.

A justificativa a fez rir e assentir de acordo.

– Serei feliz em tornar menos enfadonho uma noite à um bom amigo!

Ele agradeceu com uma suntuosa mesura de despedida.

– Até o Baile de Headfield, Miss Sakura – beijou a mão feminina olhando-a nos olhos.

– Até o Baile de Headfield, Comendador.

Ele partiu com passos largos antes de entrar com segurança na carruagem negra de detalhes dourados de sua própria coleção.

Ela sorriu até aqueles cavalos o conduzirem pelo mesmo caminho que o senhor Uzumaki havia percorrido.

Assim que a carruagem pomposa do Comendador sumiu de suas vistas, Sakura sentiu todo o peso do cansaço e com passos lentos retornou para dentro de casa, encontrando sua ama em estado de choque e olhos brilhantes na sala, enquanto seu amado pai repousava folgadamente sobre a poltrona.

– Pelos Céus! Dois! Dois pretendentes! É uma dádiva! Uma dádiva! – Exclamou a senhora alto o bastante para que todos os empregados da casa ouvissem a alegria daquela governanta que percebia que aqueles dois rapazes estavam imensuravelmente encantados por sua menina. – Dois! Dois! – Continuou vangloriando-se enquanto o Barão apenas ria.

– Presumo que perderei minha menina em breve para esses jovens – o grande senhor lamentava, porém, seu tom era cheio de risadas que faziam as faces de Sakura ruborizarem enquanto ela se sentava exaurida em um dos sofás.

– Papai, amada ama, não creio que possamos tirar conclusões precipitadas – a menina intercedeu com a voz baixa; suas botinhas e o corset já estavam a matando.

– Como ousa dizer tal coisa? – Tsunade perguntou raivosa, não gostava que contradissessem suas convicções duras feito pedras. – Tenho absoluta e imensurável certeza que o Comendador de Northville e o senhor de Headfield estão completamente apaixonados pela Miss Sakura! – Afirmou com absoluta certeza enquanto se aproximava da menina corada. – Ah, eu sabia que esses belos olhos que herdou da mãe e esses cabelos dos anjos não haviam sido dados à Terra sem que sua passagem não fosse notada – comentou de forma apaixonada, segurando delicadamente o rosto de boneca da menina. – Veja, Barão! Diga-me se esse rosto não é digno de ser a senhora de uma grande casa!

– Se a senhora, uma especialista em casamentos, está falando, quem sou eu para opinar? – Perguntou com humor o homem, antes de se erguer para sentar ao lado da filha, pegando morosamente a mão pequena da jovem. Seu tom era mais contido e baixo quando retornou a falar, mas o brilho que perpassou seu olhar não deixava dúvidas de seu encantamento e dor pela certeza do que diria: – Minha querida, por mais cética que você seja, como um homem, e seu pai, digo que o olhar e atenção que aqueles dois nobres rapazes lhe reservaram a noite inteira são de completa adoração. Posso dizer com propriedade, e digo isto pois desde que me apaixonei por sua mãe, eu também agir como aqueles rapazes. Por isso minha menina, lhe aviso que não se assuste se os dois lhe requererem atenção. São dois nobríssimos rapazes, de boas famílias, mas antes de tudo pense com seu coração. Algum deles lhe atraí?

– É claro que sim! Diante dessas duas dádivas e possibilidades, é claro que eles são alvo de atenção de Miss Sakura! – Declarou Tsunade, ainda inundada pela felicidade de sua menina ter aqueles dois pretendentes enquanto todas as rodas de conversas femininas cobiçavam a presença dos dois, mas ali estava a menina que nem todos os títulos acima dela foram suficientes para tirar a atenção daqueles dois viajantes. Tsunade tinha certeza que nenhuma outra jovem tinha tamanha dádiva do que ter a atenção de dois gentlemen como o Comendador e o senhor Uzumaki.

– Ah papai, é tudo tão confuso – lamentou-se cobrindo o rosto corado dos seus dois acompanhantes.

– Ora, ora, minha menina está constrangida por tanta atenção masculina – riu o mais velho pegando com delicadeza as mãos da menina, revelando a face vermelha.

– Gosto muito da companhia do Comendador e do senhor Uzumaki, papai.

– Por isso intercede por conciliação de ambos – supôs o pai, já que ouvira o pedido da sua menina ao Comendador. A mais nova apenas assentiu.

– Não me alegra ouvir que minhas atitudes levam à atenção de ambos, pois isso significa que talvez no final terei que partir o coração de um deles.

– Ora, minha menina, se eles nutrem uma grande estima por você e já sabemos que o Comendador sim, devo afirmar que no final, o que não for escolhido ficará feliz só com a possibilidade da sua felicidade futura!

– E se no final eu não escolher nenhum dos dois? – Perguntou temerosa e baixo antes de ver o surto da sua ama.

– O QUÊ? Como assim você não escolheria nenhum dos dois? Miss Sakura, escute-me. Pode parecer confuso agora, mas a senhorita já está na hora de desposar e já é uma grande dádiva dois homens de posses e juvenis estarem com pretensões de desposá-la. O senhor Uzumaki pode ainda não ter dito isso em palavras, mas tenho a certeza que logo dirá. A feição e o amor construímos com o tempo. Deve escolher entre um deles. Claro que o Comendador já tem um título e logo será um Visconde, mas o senhor Uzumaki é o senhor de grandes terras, sua fortuna é imensurável segundo conversas, você será a senhora de Headfield! Algo que você não poderá ser de Northville já que o Comendador é o segundo filho e o título de senhora será passado para Lady Izumi... – continuou ponderando os prós e os contras de cada rapaz.

– Se é um título que a aflige, senhora Tsunade, ouvi dizer que irão dar um ao senhor Uzumaki.

– Um de Baronete? – Perguntou ultrajada. – Miss Sakura é filha de um Barão, deve se casar com alguém de título igual ou superior a ela!

– Então preferes o Comendador? – Perguntou o Barão se divertindo com as feições retorcidas da senhora que tentava escolher com quem Sakura teria um casamento mais vantajoso, não encontrando uma solução final.

– Prometo que escolherei com sabedoria e se eu sentir que meu coração pertence à um deles, contarei a vocês – a mais jovem intercedeu pela ama confusa.

– Ah! Irá! Irá! – Tsunade se recompôs voltando a ativa. – Agora temos que cuidar dessa pele! – Observou sua menina de todos os ângulos. – Tratamento com óleos, máscaras, todos os dias! Irei ao boticário ao amanhecer atrás das novas tendências para manter a pele jovem e bonita, além de passarmos pelo atelier de Madame Brodiö e encomendar um novo e belo vestido digno de Rainha Vitória para você ir ao Baile de Headfield. E ah! Botinhas novas! Luvas, chapéus; temos que pesquisar um penteado também – listou freneticamente tudo o que sua menina precisaria enquanto o Barão apenas ria das atitudes da outra mulher.

– Ah, minha querida filha, presumo que você terá dias difíceis segundo as ideias da senhora Tsunade.

– Muito, papai – a menina se deixou sorrir um pouco apesar de toda aquela loucura.

 

✵✵✵

 

Assim que as botas de Naruto alcançaram o pedregulho em frente à Headfield, elas pararam, não percorrendo o costumeiro trajeto para dentro da exuberante residência retangular onde habitava.

Pouco se importava com o horário ou com o que seus empregados achariam de suas atitudes, apenas marchou para o lado oposto a residência, entrando no mar de flores que era a sua plantação.

Durante o dia aquele lugar era o oásis aos olhos que desconheciam ou até mesmo que conheciam aquela visão multicolorida; porém, ao anoitecer, sob a luz prateada da lua, as cores sumiam em meio a penumbre, tornando todo aquele mar de cores e pétalas diferentes em apenas um negrume e um odor forte de milhares de flores diferentes. Apesar de tudo, ele era capaz de reconhecer o cheiro individual de cada uma das suas criações, mas não eram as flores que o faziam atravessar aquele mar revolto, mas sim o que havia além dela – uma construção abandonada e destruída pelo tempo, mas que não deixava de mostrar todo o seu esplendor do passado...

O esplendor da antiga sede de Headfield.

Sim, aquela construção escura, de grandes proporções e cheias de trepadeiras subindo pelas paredes majestosas, era a casa onde crescera e que no fim terminou em chamas, manchada, destruída pelo tempo e pelo clima, mesmo assim, a maior parte da sua estrutura original permanecia intacta como um fantasma, uma lembrança persistente.

Aquilo não lhe era incômodo, na verdade, era como um velho amigo que guardava seus tesouros, a casa na árvore na imaginação das crianças.

Os passos do homem cessaram assim que alcançou a calçada agora irregular da frente da casa. Seu olhar vagou por uma das portas caídas do grande portal, um convite macabro e sombrio para que adentrasse aquele recanto tão abandonado.

Com as mãos nos bolsos e feições neutras, suas botas pisaram sobre o portal onde flores haviam sido entalhadas.

O frio ali dentro era mais intenso, culpa da carga histórica e dos corredores de ar criados pelo tempo. O vento mórbido, correndo salões silenciosos contavam a trágica história com seus zumbidos.

Nada daquilo afetava o homem sem emoções que apenas se ateu a dançar seus grandes olhos azuis pelo caos que o grande salão de festas havia se tornado. Com pouco esforço poderia imaginar e se lembrar com perfeição dos bailes que sua mãe ofertava à sociedade enquanto ele ainda era um pequeno homem, olhando por baixo aquele mar de pernas e vestidos bufantes que deslizavam pelo rico piso com desenhos históricos; seu pai, um digno orador, estaria ouvindo histórias dos homens de barrigas protuberantes e cartolas altas, enquanto sua adorada e amável mãe estaria desbravando o salão dando ordens doces aos seus empregados que serviam toda a alta classe londrina ali reunida.

O pequeno menino de cabelos de ouro que por muitas vezes esteve entre as duas escadas em forma de "X" observando o salão cheio de convidados, agora era o homem que observava o salão coberto de poeira, folhas, dejetos de animais e até mesmo pedaços do telhado que caía com o passar do tempo, deixando à mostra uma parte do céu noturno – o tapete negro coberto de pequenos diamantes.

O lugar onde aquela pequena e inocente criança permanecia, agora era o lugar da frondosa árvore que intitulava aquele lugar como seu habitat.

Sem mais delongas, o homem de porte viril desbravou aquele piso, fazendo cascalhos rolarem e ratos buscarem a segurança das suas tocas.

Os degraus rangeram com o novo peso sobre elas enquanto Naruto subia mais e mais passando sua luva branca sobre a camada de poeira que mostrava o quão inutilizado era aquele corrimão.

Ele não continuou o trajeto para o terceiro andar, escolheu continuar pelo corredor mais escuro e sujo que havia naquele segundo piso. Sombras dos galhos dançavam de maneira fantasmagórica nas paredes, mas nem mesmo a fechada abrupta de uma porta enferrujada do outro lado da casa o incomodou.

Era como um protótipo preparado para aquilo, caminhar tranquilamente com seus passos seguros, seguindo para um quarto amplo e destruído, na qual o seu destino final era um closet.

Seus passos pararam diante do amplo armário de portas de madeira.

A destruição dos cômodos anteriores eram o contraste perfeito em relação àquele limpo closet. A madeira do armário brilhava mostrando sua imponência, remontando uma época posterior à destruição daquela casa.

As mãos masculinas logo se desfizeram das luvas brancas e sujas, naquele lugar ele queria tocar com suas próprias mãos; sentir a textura fria contra sua mão quente e calejada. E como um devoto, ele abriu lentamente as portas de madeira revelando o horror que ele nutria ali dentro – mostrando todos os tantos fios que ele havia coletado por tantos anos.

Curtos, longos, ondulados e cacheados, de tantas formas de tantos jeitos que era até difícil dizer quantos haviam ali exposto como um mural, uma galeria para o seu bel prazer.

Cada um dos fios pendurados não era nomeado pelos nomes das suas vítimas, mas por flores frescas de diversas espécies e provindas de sua plantação. Cada uma com seu significado que representava a sua vítima e no centro, no local de maior destaque, estava a cortina longa de fios vermelhos como o sangue, como o fogo derramando-se pela exposição até alcançar a rosa branca que identificava sua antiga portadora.

– Olá mamãe – a voz de Naruto saiu fria enquanto sua mão sentia a textura já quebradiça dos fios que antes pertenceram à senhora daquele lar agora tão destruído. – Gostou da rosa que lhe deixei hoje de manhã? – Referiu-se à rosa branca que mostrava a perfeição em suas pétalas. – Sua favorita – comentou com descaso enquanto via as falhas em alguns pontos do seu bem mais precioso em toda a galeria.

Se havia algo que Naruto não perdoava era aquelas falhas naquele longo cabelo.

Em sua concepção, ele era imaturo demais na época em que conseguiu aqueles fios, foi inconsequente ao acertar aquele machado na cabeça de sua mãe enquanto a mesma cantarolava uma cantiga e penteava seus longos cabelos soltos, e não prever que a grossa camada de sangue mancharia os fios de tal forma que nem todas as fórmulas que ele testou por anos traria de volta o brilho original.

Não havia uma forma de voltar ao passado e fazer de uma forma diferente. Sabia que nunca conseguiria algo tão imaculado e significativo como aquele cabelo, sua primeira obra conquistada que resultou em uma carnificina contínua até ele silenciar a todos e pôr fogo na grande residência, restando apenas a menina de cabelos cor de sangue igual à sua mãe. Restando apenas Karin.

– Querido primo? – Não se surpreendeu ao ouvir o chamado feminino vindo da boca da sobrevivente daquele episódio macabro guardado à sete chaves. – Disseram que você havia chegado, mas que apenas entrou na plantação. Os empregados ficaram preocupados, mas os confortei dizendo que você estaria bem – uma risada anasalada e debochada saiu daquela mulher que pouco se importava com os funcionários, apenas os queria manter longe do seu primo e ainda ganhar o bônus de ficar com ele à sós.

– Apenas vim visitar minha mãe – falou frio como sempre antes de começar a fechar sua galeria, não se importando em direcionar algum olhar para a mulher que continuava na entrada segurando uma lamparina para iluminar seu caminho.

– Algo lhe incomoda? – Perguntou assim que o fecho alto das trancas provou que os tesouros daquele homem estavam mais uma vez guardados, só então Naruto direcionou o primeiro olhar para sua astuta prima.

– Nada me incomoda, Karin. Nada nunca me incomodou – a voz saiu sem emoções e aquela era a verdade, nenhuma de suas atitudes passadas eram carregadas de arrependimento. Por isso, caminhando calmamente em direção à sua prima, ele se prostrou diante dela, deixando em evidência a diferença de altura e força dos dois. Karin não se abalou com a aproximação, apenas fixou seu olhar seguro no rosto perfeito de seu primo que pegava uma mexa do seu cabelo.

Os azuis pareciam avaliar a qualidade daquele produto tão vivo e forte, diferente dos cabelos quebradiços da sua mãe.

– Tão parecido ao mesmo tempo que é tão diferente – comentou. – Igual as rosas brancas e vermelhas.

Ela sabia o que aquilo significava. Sabia que como todas as outras mulheres, assim como Sakura e até mesmo a falecida senhora Uzumaki; Karin também tinha uma flor segundo a mente doentia do seu primo, e sua flor era a rosa vermelha.

A rosa branca tingida pelo sangue de Afrodite...


Notas Finais


Admito que ri escrevendo que ambos tinham ofertado a mão para a Miss Sakura e praticamente desmaiei imaginando o Comendador dizendo "Sua companhia", ain, não me avacalhem, eu gosto desses gestos sutis das literaturas do século XIX onde nem beijo tem hahahaha
Obrigada por lerem. Desculpa os erros gramaticais, tô com muito sono pra corrigir direitinho hahahah

[Nova fic postada][Short]

Jogo da Morte: https://spiritfanfics.com/historia/jogo-da-morte-7918026


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