Camila POV
Acordei de supetão, sem saber dia, hora ou local, aos poucos minha consciência foi retomando, passei a mão pelo lado vazio da cama, aquele cheiro me fez rolar na cama até mudar de lado, o cheiro ficou ainda mais forte agora, fechei os olhos e inalei o travesseiro com mais força, droga, o cheiro dela ainda está impregnado ali, me obriguei a levantar, puxei todos os lençóis da cama e retirei as fronhas, levei até a lavanderia e os joguei na máquina, logo em seguida fui tomar banho, não sei se é impressão minha, mas o cheiro dela ainda parece fixado no quarto, me vesti o mais rápido possível, na intenção de sair daquele ambiente, quando eu entrei na cozinha, ouvi alguém batendo na porta, fui até lá. Minha mãe.
— Bom dia, filha. - Disse me abraçando.
— Bom dia, mãe. - Devolvi o abraço e dei espaço pra ela entrar.
Apollo passou na frente dela, e já ia correndo pelo corredor quando minha mãe o chamou, fazendo ele retornar.
— Fale com sua mãe. - Mandou, ele olhou pra mim com o olhar culpado.
— Desculpa, eu esqueci. - Se aproximou de mim e eu tive que me abaixar, para que ele conseguisse beijar minha bochecha.
Feito isso ele voltou a correr, sabe Deus indo pra onde.
— Por que estão aqui tão cedo? - Perguntei, indo novamente em direção a cozinha.
— Fomos levar o Vagabundo pra tomar banho.
— Ah. - Liguei a torneira na intenção de colocar água em uma panela pra esquentar.
— E também porque seu número está dando indisponível.
— Meu celular quebrou, vou comprar outro quando tiver um tempo. - Coloquei a panela com água no fogão e me escorei no balcão, esperando a água começar a ferver.
— Você quer que eu compre? Eu venho deixar aqui pra você.
— Não precisa, mas obrigada.
Apollo entrou correndo na cozinha, com uma das caixas de carro nas mãos, sim, no quarto tem vários brinquedos fechados, que ainda não foram entregues.
— Olha vovó que legal. - Disse empolgado. — Posso abrir? - Perguntou olhando pra mim.
Fiz que sim com a cabeça, e me virei, abri a porta do armário e coloquei o pacote de chá no balcão, juntamente com uma xícara, enquanto eu preparava eles tinham uma conversa empolgada sobre carros, mas não durou muito, logo ele saiu correndo pelo corredor novamente.
— Você quer? - Perguntei olhando pra ela.
— Sim, mas pouco. - Puxou uma cadeira e se sentou na mesa. — Quando você vai trazer ele pra morar com você? Ele está bem empolgado com a ideia de morar com a mãe.
— Não sei, preciso terminar umas coisas ainda. - Coloquei uma xícara na frente dela e voltei pra perto do balcão, preferindo ficar de pé. — E tenho esperanças de você mudar de ideia.
— Eu não vou, vocês precisam desse contato entre vocês, ele é seu filho.
— Ele não é meu filho. - Falei firme, ela suspirou e olhou em direção ao corredor.
— Eu não sei mais o que fazer por você, parece que a cada dia você fica ainda mais amarga, você nem tenta gostar dele Camila, isso ia ser tão bom pra você.
— Eu não quero gostar dele, mãe, essa é a pior coisa que você está me fazendo fazer, bem pior do que o papai fez.
— Seu problema é não saber perdoar Camila, parece que você gosta de sofrer.
Peguei minha xícara, sem nem ter tocado no chá ainda e soltei dentro da pia.
— Estou atrasada para o trabalho. - Peguei minha bolsa em cima da mesa e fui até a sala, em busca das chaves do meu carro, demorei uns três minutos até lembrar que Lauren jogou em direção ao sofá, ainda não sei como ela achou essa chave.
— Você não quer jantar conosco hoje? Seu pai estava falando sobre você ontem.
— Vou pensar. - Respondi. — Agora vai buscar o Apollo, porque eu realmente estou atrasada.
— Vai lá buscar ele, vou tirando o carro. - Disse e saiu porta afora.
Bufei e fui em direção ao quarto que contra vontade estou montando pra ele, na verdade minha mãe está montando, porque não tem nada ali dentro que fui eu a responsável por comprar.
— Ei garoto, sua avó está esperando por você.
— Mas já? - Perguntou se levantando do chão. — Acabamos de chegar. - Colocou o carro em cima da cama e veio em direção a porta.
— Preciso ir trabalhar, e já está tarde.
— Seu trabalho é legal? Eu posso ir no seu trabalho? O vovô me leva no trabalho dele, mas não é tãããão legal. - Falava tropeçando nas palavras e olhando pra mim. — A vovó disse que no seu trabalho tem leão, macaco, onça, girafa, é verdade?
— É.
— Que maneiro. - Segurou minha mão enquanto andávamos. — Você me leva lá?
— Você pode pedir pra sua vó levar você.
— Mas ela não trabalha com girafas e macacos.
— Não, mas qualquer pessoa pode entrar onde eu trabalho, diz pra ela que você quer conhecer o zoológico.
— Você vai tá lá? - Me olhou com expectativa.
— Talvez, mas onde eu fico não pode entrar ninguém.
— Ahh, que chato. - Parei de andar quando cheguei na porta do meu carro, ele olhou confuso pra mim. — Por que você parou, Mila? - Tapou rapidamente a própria boca com as mãos. — Desculpa, vovó disse que não posso te chamar assim, eu esqueço às vezes.
— Tá tudo bem, eu acho bem melhor, você não?
— Ah, não sei, eu gosto de você ser minha mãe.
— Mas eu não so… - Cortei minha fala. — Sua vó está esperando por você, vai.
Ele afirmou com a cabeça, mas ficou parado na minha frente, franzi o cenho.
— Baixa. - Disse balançando as mãos, só então eu entendi, ele deu um beijo na minha bochecha e saiu correndo em direção ao carro da minha mãe.
*****
— Bom dia, mau humor do meu dia. - Dinah disse quando entrei no nosso consultório.
— Bom dia, engraçadinha. - Coloquei minha bolsa no armário, me aproximei dela e puxei a prancheta que ela estava nas mãos, fiz uma careta ao ver alguns dos nossos afazeres. — Ah não, tirar sangue do Léo novamente?
— Isso mesmo, precisamos fazer mais alguns exames no nosso gatinho.
— Gatinho que comeria a gente na primeira oportunidade.
Léo é o leão do zoológico.
— Exagerada. - Puxou a prancheta da minha mão. — Você prefere que ele fique na caixa de compressão ou aplicar um tranquilizante?
— Um tranquilizante preso na caixa de compressão. - Falei séria e ela riu alto.
— Fala logo, Camila.
— Caixa de compressão, quem sabe ele consegue escapar e me levar logo pra outra vida. - Mal terminei de falar e ela me acertou um tapa forte na cabeça.
— Para com esse humor medonho, eu hein, não são nem nove horas da manhã ainda.
— Você sabe que tem a mão pesada, né? Puta merda. - Falei passando a mão no local atingido.
— Pra ver se seu cérebro passa a funcionar direito, agora vamos logo.
Bufei e fui atrás dela.
Tinham tantas coisas pra fazer, que só paramos na hora exata do almoço, e como de costume almoçamos no restaurante do zoológico mesmo.
— O que aconteceu? - Dinah perguntou, me fazendo olhar pra ela.
— Nada, por quê?
— Faz meia hora que sentamos aqui e seu prato continua intacto, você só fica com falta de apetite quando acontece alguma coisa.
— Você deveria parar de me analisar. - Soltei o garfo dentro do prato. — É a Lauren.
— O que tem aquela branquela? - Neguei com a cabeça e quando eu ia responder ela voltou a falar. — A bunda dela é muito branca? Tenho uma curiosidade enorme de saber.
— Você é uma idiota, isso não interessa a você. - Chutei ela por debaixo da mesa, quando vi que ela ia devolver o chute, virei as pernas para o lado, o que fez a cadeira ir pra trás e fazer um barulho horrível, todo mundo olhou na minha direção, senti vontade de cavar um buraco no chão. — Você é uma pessoa muito lixo, Dinah. - Bufei. — Vamos logo embora.
— Não mesmo, senta e me conta o que aconteceu. - Disse me puxando pelo braço e me fazendo cair sentada na cadeira novamente. — Vocês brigaram?
— Não, ela… ela disse que me ama. - Falei em um tom baixo.
Dinah arregalou os olhos e soltou os talheres.
— Puta que pariu, e o que você respondeu?
— Nada, eu só disse que ela não podia fazer isso.
— Você não fez isso. - Falou em um tom incrédulo.
— Se for pra me julgar nem fala nada. - Falei e ela respirou fundo. — Eu não queria magoá-la, eu não sei o que fazer.
— Agora não tem muito o que você possa fazer, você deveria ter pensado nisso antes de se envolver com ela.
— Ela é insiste, Dinah, e quando eu dei por mim já tinha cedido, quando dei por mim eu também estava indo atrás dela, e agora não sei como desfazer isso.
— Isso não precisa ser desfeito, vocês podem tentar, eu sei que não sei a história toda sobre seu passado, mas você não pode se privar de viver uma coisa boa por medo de se machucar.
— Não é medo, é… - Neguei com a cabeça e suspirei. — Deixa pra lá, eu vou conseguir concertar isso.
— Só tenta não magoar ela. - Pausou. — Mais.
— Eu estou tentando isso desde o começo.
*****
Quando deu meu horário, juntei rapidamente minhas coisas e desci, eu preciso conversar com Lauren, pelo horário talvez eu a encontre ainda na saída, joguei minhas coisas dentro do carro e depois entrei. Acertei em cheio, Lauren estava na saída do zoológico, mas ela não está sozinha, perto da bilheteria ela conversa com uma mulher, parei o carro próximo a elas, como ela não olhou eu tive que buzinar pra chamar sua atenção, feito isso ela olhou pra mim, não só ela, mas a outra pessoa também.
— Posso levar você em casa? - Perguntei, ela olhou pra mim, pra garota, pra mim.
— Chegou tarde gatinha, vim aqui só pra buscá-la e ela acabou de aceitar ir comigo. - A garota disse olhando pra mim.
— E você quem é? - Perguntei tentando não parecer irritada.
— Oh, cadê meus bons modos? Eu sou Emmy Rossum, ex-namorada dela, e você, quem é?
— Eu preciso conversar com você. - Falei olhando diretamente para Lauren, e tentando ignorar aquele outro ser ali do lado.
— O que? Não pode ser aqui? É porque eu realmente vou com ela. - Lauren falou, o que fez a garota sorrir e minha raiva subir.
— Se pudesse ser aqui eu já teria falado. - Falei irritada.
E sabe o que é pior? Eu não sei o que quero falar com ela, eu só quero tirá-la daqui.
A tal Emmy franziu o cenho e olhou pra Lauren.
— É a veterinária? - Perguntou apontando na minha direção.
Lauren fez que sim com a cabeça, sorri por dentro ao saber que ela falou de mim pra ela.
— Então amanhã você pode me procurar. - Lauren disse e foi em direção a um carro vermelho, que está estacionado um pouco mais a frente.
A tal Emmy, olhou pra mim e riu, antes de também ir em direção ao carro, abri a porta do meu carro e apressei meus passos pra acompanhar Lauren antes que ela entrasse, quando ela colocou a mão na maçaneta segurei no seu braço, a fazendo se virar pra mim.
— Por que ela está aqui? Ela não tinha ido embora? - Perguntei entredentes, me segurando pra não falar alto e dá ainda mais motivo pra aquela idiota rir da minha cara. — Onde você está indo com ela?
— Primeiro solta meu braço. - Mandou séria e no mesmo instante soltei. — E quem é você pra querer tantas explicações de mim? Isso não diz respeito a você.
— Não vai com ela, por favor. - Pedi em um tom mais ameno. — Eu quero falar com você.
— Pode falar, sou toda ouvidos.
Droga, o que eu falo? Eu não sei o que falar, eu não tenho o que falar, tenho a sensação de estar precisando conversar com ela, alguma coisa está querendo sair, mas não sei o que.
— Hã… na verdade, eu… eu…
Desisti de tentar colocar o nada em palavras, em um gesto totalmente impensado eu juntei nossos lábios, pressionando com uma mão na sua nuca para que ela não nos separasse, mas infelizmente ela é mais forte do que eu e conseguiu me empurrar.
— Mas… que porra, Camila! - Disse irritada, com o tom de voz elevado. — Você acha que sou o que? Uma boneca a qual você pode recorrer sempre que quer brincar um pouquinho? Depois simplesmente me larga de canto e finge que nada aconteceu, e quer saber de mais? Eu estava errada sobre você, você realmente é uma pessoa terrível, você tem toda a razão, terrível. - Abriu a porta do carro e entrou.
Lauren POV
Eu não pretendia aceitar a carona da Emmy, mas a presença de Camila me pressionou a aceitar logo. Agora estou dentro do carro dela talvez me sentindo tão mal quanto eu me sentiria dentro do de Camila.
— Ela ficou com a maior cara de idiota. - Emmy disse rindo, tentei ignorar o que ela falou, mas ela voltou a insistir. — Ela realmente achou que você ia com ela, sendo que eu cheguei primeiro.
— Não se engane, Emmy, eu vim com você porque atualmente estou menos irritada com você do que com ela, e porque você insistiu muito, mas não se engane mesmo, porque o problema dela é realmente ser idiota, mas eu me encontro apaixonada por ela, não por você, não mais.
Funcionou, ela não voltou mais a falar e eu quase me senti mal por ter sido grossa, mas foi ela quem pediu, só falei a realidade. Ela me deixou em casa e foi embora, dizendo que qualquer coisa eu poderia ligar. Quando passei pela portaria vi Normani vindo em minha direção.
— Até que enfim você chegou. - Segurou na minha mão e foi me guiando em direção ao elevador.
— Aconteceu alguma coisa? - Perguntei preocupada.
— Mais ou menos, quero te mostrar uma coisa.
— O que?
— Você vai saber quando a gente chegar lá em cima.
— É sobre a Emmy? Porque se for, eu juro que não estou com ela, foi só uma carona.
Ela olhou pra mim com o cenho franzido.
— A Emmy está na cidade? E você estava com ela?
— Sim, mas como eu falei, foi só uma carona. - O elevador se abriu no meu andar.
— É bom mesmo que seja só isso, ela foi bem vadia quando foi embora sem olhar pra trás. - Falou enquanto eu abria a porta.
— Deixa a lição de moral pra Elise, por favor. - Falei e ela riu.
— Certo, até porque vim aqui pra falar sobre a Camila.
— Ah não, eu quero falar sobre ela tanto quanto quero falar sobre a Emmy.
— Mas sobre ela você vai ouvir. - Disse e foi em direção ao meu quarto, enquanto eu me sentei no sofá da sala. — Alex me contou da tentativa frustrada de vocês pra descobrirem algo sobre ela. - Disse quando voltou com meu notebook na mão.
— Minha não, dele, eu fui contra essa ideia.
— Sabe o erro de vocês? Não me chamar, mas como não guardo rancor, resolvi ajudar assim mesmo. - Se sentou ao meu lado. — Eu descobri uma coisa, e com certeza é isso que faz ela ser daquele jeito todo estranho, toda fechada.
— O que e como?
— Simples, no google.
— Você pesquisou o nome dela no google? - Perguntei incrédula.
— Foi. - Deu de ombros. — Não achei nada, só achei no nome do pai dela, Alejandro Cabello, e como ela é filha única, essa notícia só pode ser sobre ela. - Virou a tela pra mim
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