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História Inalcançável Você - Antes, parte 6


Escrita por: princetri

Notas do Autor


tomara que eu seja arrastada por uma enchente

Capítulo 49 - Antes, parte 6


Fanfic / Fanfiction Inalcançável Você - Antes, parte 6

2014.


 


Camila POV



— Oi mãe, entra. - Abri um pouco mais a porta e ela entrou.


— Ele já acordou? - Perguntou passando os olhos pela sala.


— Ainda não. - Passei as mãos no rosto, tentando me manter atenta ao que minha mãe diz.


— Você parece cansada.


— Tenta cuidar de uma criança de dois anos.


— Eu cuidei de você. - Sorriu.


— Quando estava preparada pra isso, não com 22 anos, com um filho que foi jogado em cima de você. - Eu disse e ela comprimiu os lábios.


— Não diga isso, minha filha, Cara pode ouvir e ficar magoada.


— Ela saiu. - Soltei o ar dos pulmões. — Eu não aguento mais, mãe, eu tento, dou o meu melhor, mas eu não estou dando conta, é tudo muito cansativo, filho, namorada… ou esposa, sei lá, essa faculdade que parece que não vou terminar nunca pra começar logo a trabalhar, tá tudo uma grande merda. - Falei, sentindo as palavras amargarem na minha boca. — Toda noite é a mesma coisa, a babá vai embora, Cara vai trabalhar e eu fico aqui sozinha com ele, incapaz de fazê-lo parar de chorar, não importa o quanto eu tente, eu não consigo aprender a cuidar dele, parece que quanto mais o tempo passa, pior fica.


— Oh, meu amor, eu não sei como posso ajudar você, eu… eu estou tentando de todas as formas deixar as coisas mais leves pra você, mas está difícil.


— Eu sei mãe, desculpa, eu não queria falar isso tudo, eu estou assim ultimamente, quando dou por mim, tô a horas me lamentando. - Fui andando em direção a varanda, Vagabundo está andando de um lado para o outro perto da porta, com certeza quer ir fazer xixi. — A senhora pode pegar ele lá no quarto, leva ele dormindo mesmo, eu já ajeitei a bolsa dele, tá em cima da cômoda. - Abri a porta e o cachorro passou em disparada, indo fazer xixi onde foi ensinado a fazer.


 Hoje é o aniversário da Cara, minha mãe se ofereceu pra ficar com Apollo, enquanto a gente “aproveita a data”, por mim, eu iria deitar e relaxar, coisa que a tempos eu não faço, todo dia é a mesma coisa, uma criança correndo pela casa, eu correndo pela casa atrás da criança, grito, choro, queda, barulho, não pode isso, não pode aquilo, você vai se machucar, machuca, chora, faz de novo, chora de novo, banho, comida, banho de novo, “como assim você deixou pra fazer cocô depois de já tomado banho?”, banho, comida, comida quente, choro de novo, e assim por diante, todos os dias, às vezes chega até a ser pior. Ao contrário de mim, Cara nasceu pra ser mãe, tudo que ela faz ele gosta, com ela ele não chora, não come comida quente, não escorrega na hora do banho por ela ter esquecido de colocar sandálias nele. Ocorre tudo perfeitamente bem.


 Quando a minha mãe saiu, me deitei no sofá por alguns minutos, apreciando o total silêncio ou quase total, as patas de Vagabundo andando pela casa, não deixa o silêncio ser tão pleno, ergui um pouco o braço pra olhar a hora no relógio, 09:07, Cara provavelmente está perto de chegar, ela saiu bem cedo, porque mal acordamos e quase iniciamos uma discussão, então pra evitar, como sempre, ela saiu. Me arrastei até o banheiro, na intenção de tomar um banho gelado e tentar ficar mais calma, hoje é aniversário dela eu tenho a obrigação de tentar parar de brigar, pelo menos hoje. Vesti uma roupa básica, já que ela disse que não quer sair, um short jeans e uma camiseta branca. Quando abri a porta do quarto, ouvi barulhos na cozinha e segui até lá.


— Oi. - Eu disse, pra chamar a atenção dela, que no momento tira compras de uma sacola e as deposita na mesa.


 Ela olhou pra mim e sorriu, um sorriso largo, tentei retribuir na mesma proporção, mas o meu saiu com menos intensidade.


— Sua mãe já veio buscar nosso pequeno? - Perguntou e eu afirmei com a cabeça.


— Eu rodei o guarda-roupa atrás daquelas fraldas que você comprou, que são menos apertadas e não encontrei. - Comentei. 


— É porque elas não ficam no guarda-roupa, ficam na cômoda. - Fez cara de riso. — Mas besteira, ele sobrevive.


 Rolei os olhos e me aproximei da mesa.


— O que você comprou? - Perguntei olhando para as sacolas.


— Algumas coisas pra fazer o almoço.


— Você tem certeza que não quer sair? A gente pode se arrumar rapidinho.


— Não, tá tudo bem. - Deu a volta na mesa e parou na minha frente, colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha e acariciou meu rosto. — Eu só quero que você fique um pouco menos estressada.


— Eu tento o tempo todo.


— Eu sei que tenta. - Selou nossos lábios brevemente. — E eu te amo ainda mais por isso.


— Eu também te amo, muito. - Coloquei os braços por cima do ombro dela e a aproximei mais de mim. — Sabe qual a coisa mais estranha? - Negou com a cabeça. — Eu sinto sua falta, a gente se vê todos os dias, se fala todos os dias, briga todos os dias. - Sorri triste. — Mas ainda assim, eu sinto a sua falta e como eu posso sentir saudades de uma pessoa que está parada bem na minha frente?


— Você sente falta do que eu era, você…


— Não é isso. - Interrompi ela. — Você…


— Não me interrompe, deixa eu terminar, você sente falta dos dias que eu saia e depois te ligava mandando ir me encontrar na praia, sente falta das noites que eu chegava do trabalho e ia arrancar você da cama, pra você ir assistir TV comigo, porque eu não queria só assistir TV, eu queria assistir TV com você, sente falta das tardes que ficávamos só nós duas nesse apartamento enorme apreciando o silêncio, sente falta de quando podíamos sair sem ter hora pra voltar, você sente falta de tudo isso e mais um pouco, até sexo a gente não faz mais com tanta frequência, e eu sinto muito por tudo isso, meu amor, eu nunca quis transformar sua vida em um fardo.


 Uma lágrima desceu pelo meu rosto, porque é exatamente isso e eu não posso dizer que ela está errada, eu queria dizer que não era isso, que ela está errada, mas não está, eu sinto falta de tudo isso e minha vida realmente se transformou em um fardo. Coloquei o rosto na curva do seu pescoço e me agarrei a ela, segurando-a o mais perto a mim possível.


— Não desiste de tentar fazer isso da certo. - Pediu com a voz embargada.


— "Enquanto houver você do outro lado. Aqui do outro eu consigo me orientar.” - Citei e mesmo sem está olhando para o seu rosto, sei que ela está sorrindo, esse é o trecho de uma música brasileira, que ela ama e me mostrou no início do nosso namoro. — Que tal a senhorita fazer o nosso almoço agora? - Me afastei.


— Vou começar agora mesmo. - Se afastou e voltou a tirar as compras da sacola. — Conhecendo você como eu conheço, é capaz de você me comer, LITERALMENTE, caso passe da hora do seu almoço.


— Ainda bem que você sabe. - Brinquei.


 Enquanto ela cozinhava, fiquei na cozinha, conversando, ela falando sobre as últimas pagação de mico que ela presenciou na boate que trabalha, planos para quando terminássemos a faculdade, planos de uma casa maior, planos de colocar Apollo pra fazer algum esporte, planos, planos, planos e planos.



*****



 O clima entre a gente ficou estável ao longo do dia, coisa bem rara. Depois do almoço, ela me convenceu a descermos para a piscina do prédio, o que foi uma péssima ideia.


— Você é tão cínica que me irrita. - Eu disse entrando no elevador, tentei fechar a porta antes que ela entrasse, mas foi inútil.


— Você está fazendo de novo, Camila, vendo coisa onde não tem, só inventando a porra de um motivo pra brigar comigo. - Disse irritada, faltando muito pouco pra sair em um grito.


 Eu não estou vendo coisa, ela estava sim trocando olhares com a piranha da vizinha, eu não sou idiota, não sou.


— Você acha que sou uma criança, né? Ou cega talvez. - Fiquei andando de um lado para o outro, naquele cubículo minúsculo. — NÃO É A PORRA DA PRIMEIRA VEZ QUE VOCÊS FLERTAM E SEMPRE NA MINHA FRENTE, CARALHO. - Gritei, porque não estava mais conseguindo segurar, fodam-se as câmeras.


— CEGA COM CERTEZA VOCÊ NÃO É, JÁ NOTOU QUE É SEMPRE VOCÊ QUE NOTA A PRESENÇA DELA? - A porta do elevador se abriu no último andar, fui a primeira a sair e entrar em casa, ela bateu a porta com força quando também entrou.


— A diferença, Cara, é que você é sonsa, finge que não tá vendo PORRA nenhuma. - Joguei a toalha que eu estava nas mãos em cima do sofá.


— Camila, pelo amor de Deus, eu te amo, merda, eu quero que ela vá pro raio que a parta. Eu não tenho culpa se ela fica nos olhando. - Suspirou.


— Nos olhando vírgula, olhando pra você, vai saber se enquanto eu estou aqui, nessa droga de apartamento a noite, cuidando do SEU filho, você não tá lá fodendo com ela, né?! - Alcancei meu objetivo, claramente eu consegui atingi-la. 


— Meu filho, claro. - Riu com escárnio. — Você é uma merda de uma garotinha mimada, Camila, só pensa em você, você é egoísta!


— Eu que sou egoísta? Você faz tudo pensando somente em você, como se suas decisões não me atingissem, mas você vive comigo, elas me atingem sim, você trouxe um cachorro e uma CRIANÇA, para as nossas vidas tudo isso sem me consultar antes, como se eu também não fosse ser afetada, você é igualzinha ao seu pai, só pensa em si. - Me arrependi no mesmo instante de ter citado o pai dela, porque eu juro que tive a impressão de ver os seus olhos faíscarem.


— Eu… eu… EU NÃO SOU IGUAL AQUELE MERDA, ele é um monstro, igual a esse que você se tornou nos últimos anos, você é baixa, usa de todas as suas armas quando quer afetar alguém. - Secou bruscamente uma lágrima que desceu. — Você está se tornando minha maior decepção.


— E você já é meu maior erro, maldita hora que aceitei namorar com você, maldita hora que eu conheci você, a minha vida tá uma merda, até a droga da faculdade que eu faço POR SUA CAUSA, é uma merda.


— Por minha causa? Você que não consegue controlar essa merda dos seus ciúmes, queria ter a oportunidade de me vigiar o tempo inteiro, isso sim.


— VAI EMBORA! - Gritei a plenos pulmões. — VAI EMBORA AGORA, EU NÃO QUERO MAIS VOCÊ!


— Camila? Você… você não… - Suspirou fundo e passou a mão no rosto. — Eu vou tomar um banho, espero que você se acalme.


 Começou a andar em direção ao banheiro, mas fui atrás dela.


— Você não me ouviu? Eu quero que você VÁ EMBORA, EMBORA!


 Ela brecou a caminhada e virou pra mim.


— Camila, eu só vou perguntar uma vez, você tem certeza? Se eu sair, eu não volto mais. - Ela está com a voz embargada.


 Eu afirmei com a cabeça, mas eu não quero que ela vá embora.


 Por que então eu fiz isso?


 Será que eu quero?


 Eu amo ela, eu odeio o que a minha vida se tornou, mas eu a amo.


— Certo. - Passou a mão pelo cabelo, fazendo ele cair para trás e fez o caminho até o nosso quarto.


 O que ela está fazendo? Ela vai me obedecer? Ela não pode fazer isso. Não consegui me movimentar, não consegui falar, parece que estou em outra dimensão, onde eu sou apenas plateia, sem direito de interferir. Eu não sei se demorou, eu não sei se foi rápido, mas ela já está novamente parada na minha frente, com uma mala. 


 Ela não pode ir.


— Você disse que eu sou seu maior erro, Camila, mas você foi meu maior acerto, a melhor coisa que aconteceu na minha vida, antes de conhecer você, eu achava que o motivo para os meus pais não gostarem de mim, era eu, mas você me fez perceber que não e essa foi a melhor sensação que eu senti na minha vida, meu maior erro foi ter superestimado você, achar que você já estava pronta pra tudo isso aqui. - Apontou o apartamento. — Mas eu não te culpo por não ter dado conta, eu vou sair sim da sua vida e levar o meu filho, como você diz, junto comigo. - Secou rapidamente uma lágrima que teimou em descer pelo seu rosto. — Eu nunca tive a intenção de transformar você nessa pessoa.


 Ela disse e virou indo em direção a porta, por que ela está indo embora? Por que eu estou parada aqui? Ela não pode me deixar, a gente precisa continuar tentando, uma hora a gente consegue, uma hora eu consigo, ela disse que iria ser paciente comigo, então por que ela está indo? Por que eu mandei? Eu não queria dizer aquilo.


 Quando a porta se fechou eu chorei, chorei por eu não está sendo justa com ela, por eu não está sendo justa comigo, chorei por todas as vezes que quis chorar e não chorei, chorei por eu ter que ser mãe em um mundo que nem filha eu aprendi a ser ainda, chorei por não conseguir consolar o choro de uma criança, por não conseguir consolar o meu, por ter mandado ela ir embora e por ela ter ido.


 Me deitei ali mesmo, no meio do corredor da nossa sala, porque eu sou incapaz de sair dali, incapaz, esse deveria ser meu sobrenome, eu sou incapaz de tantas coisas, talvez eu realmente seja uma mimada que não aceita ter tudo o que quer e como quer, talvez meu pai esteja certo, talvez ela esteja certa.


 Eu dormi, pelo menos eu acho que sim, porque o relógio digital que está em cima da TV, marca 3h da madrugada, me levantei de sobressalto, a casa completamente escura, apenas a sala parcialmente iluminada pela luz que entra pela varanda. Tive a impressão de ouvir a voz da Cara me chamando, liguei todas as luzes da casa, chequei todos os cômodos, mas ela não está ali. Retornei pra sala em busca da minha bolsa, despejei tudo que tinha dentro, pra tentar encontrar meu celular, encontrei.


 Liguei pra ela, chamou, chamou, chamou, chamou, chamou, caixa postal. De novo, de novo, de novo, e atendeu.


— Você não sabe a felicidade que me fez sentir ao ver seu nome no visor. - Pausa. — Foi bem difícil pegar o celular. - A voz dela está abafada.


— Volta pra casa, amor, eu sinto muito por ter mandado você ir, me perdoa, volta, por favor, eu… eu não quero ficar sem você. - Falei em desespero, meu coração está tão apertado, que acho que eu estou prestes a sofrer um ataque cardíaco.


— Diz que me ama. - Pediu, ela está com a respiração alterada, deve ter bebido. 


— Eu te amo, muito, você não é igual ao seu pai, você não foi meu maior erro, não é o seu filho, é o nosso filho, e eu te amo mais que tudo. - Ela começou a soluçar. — Por favor volta logo pra nossa casa.


— Eu não posso, Camila, não posso voltar pra nossa casa, eu sinto muito.


— Por que não? Me perdoa, por favor. - Falei, ou melhor, supliquei. — Volta pra mim, volta.


— Me promete uma coisa?


— O que você quiser.


— Me promete que você não vai se culpar? Me promete que você não vai parar de viver sua vida, me promete que o Apollo vai ser bem cuidado.


— Do que diabos você está falando? - Ouvi sirenes do outro lado da linha e nesse momento meu coração errou uma batida. — Onde você está? O que está acontecendo? - Perguntei desesperada.


— Me promete, Camila.


— Onde você es…


— ME PROMETE, CAMILA!


— Eu… eu prometo.


— Eu te amo, meu sol particular.


 Os barulhos de sirene ficaram mais próximos, várias vozes do outro lado da linha, mas a dela eu não ouvi mais. Por alguns segundos eu vi tudo ficar escuro, respirei fundo e tentei me concentrar nas vozes, chamei, gritei, mas ninguém ouvia, encerrei a ligação e liguei novamente, um homem atendeu.


— O que aconteceu? Quem é você? Onde ela está?


 Ele disse que ocorreu um acidente em um cruzamento, envolvendo três carros, entre eles um corolla branco, o interrompi e pedi o endereço, quando ele passou deixei o celular cair no sofá com ele ainda em linha, peguei as chaves do meu carro e sai, do mesmo jeito que eu ainda estava, short, camiseta e descalça.


 A pior noite da minha vida, a pior cena, a pior notícia, nem que eu viva mil anos, minha mente apagará aquela imagem, eu vi minha vida passar diante dos meus olhos, e cair no chão, bem ao lado daquele corpo. 


 “Eu sinto muito, mas ela não resistiu aos ferimentos, ela morreu ainda antes de conseguirmos tirar ela das ferragens.”


Notas Finais


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