História Inesperado - Pela manhã

Como sempre, a estilista estava sentada na cadeira desenhando um modelo. Era uma encomenda, para uma festa de casamento...

A vida da garota havia mudado muito nos últimos 6 meses. Pouco antes de fazer 18 anos seus pais decidiram que a deixariam morar sozinha enquanto viajavam pelo mundo, e assim fizeram, saíram e apenas mantinham contato por telefone mensalmente. A padaria então se tornou Ateliê, onde a azulada trabalhava pela parte da tarde em que não estava no colégio, no último ano de seu ensino médio. E seu pequeno negócio crescia, cada vez mais gente notava o seu talento e encomendas eram feitas. Adrien, Alya e Nino eram seus modelos, usavam, quase que diariamente algo da marca LadyCat, oficial de Marinette. E a vida ia muito bem. Morar sozinha havia lhe dado uma liberdade que nunca imaginou, como andar pela casa de lingerie e não precisar entrar e sair de casa escondida toda vez que Paris precisasse de LadyBug. Além do mais também era muito mais fácil fazer com que as coisas com Chat acontecessem ali.

Suspirou cansada. Estava sendo mais difícil do que imaginou, a noiva tinha um gosto muito... peculiar e queria que o vestido das madrinhas o refletissem seu estilo mas nada ficava bom. Decidiu parar um pouco.

Desceu para a cozinha e fez um jantar rápido, estava com fome e muito sono, queria logo dormir. Comeu rapidamente e depois de um banho se deitou. Ainda era cedo, não eram nem dez da noite e a garota ja estava dormindo.

Na manhã seguinte acordou indisposta, um enjoo horrível que a fez pular para o banheiro, assustando Tikki.

A pequena Kwami era a única que cuidava de Marinette, lhe fazia companhia e fazia com que ela se atrasasse o menos possível. A azulada era extremamente grata de ter Tikki consigo.

Depois do enjoo matinal a rotina seguiu. Foi para a escola (onde dormiu maioria das aulas), almoçou (a comida que não ficou muito em seu estômago) e salvou Paris (mais distraída que o normal) e voltou pra casa, onde não demorou muito e um gato preto deitou na sua cama se esticando.

"O que houve, My princess?" Chat perguntou vendo que notavelmente Marinette ainda não estava bem, desde cedo.

"Não é nada, acho que só estou cansada, ou gripando." Falou bocejando.

Chat a puxou para seu peito. Ele realmente estava amando Marinette, mais do que já amara qualquer pessoas, mais do que mesmo LadyBug.

"Eu cuido de você." Falou vendo que a menina já quase dormia. Ficaria com ela a noite toda, uma vez que seu pai achava que estava na casa da mais recente noiva, Cloé.

A cabeça de Adrian estava a mil. Eram tantos pensamentos. Fazia, mais ou menos, um mês que ele havia começado a caça a memórias do dia que deveria ter sido um dos dias mais felizes da sua vida. E aos poucos as peças se encaixavam... mas cercadas de um estranho mistério.

Ele não se lembrava mesmo o que acontecerá, Nino se lembrava que a festa havia acontecido mas apenas isso. Alya não se lembrava mesmo, pra ela essa festa nunca havia acontecido, mas após uma pesquisa em seu blog pessoal e em seus arquivos mais antigos mostrava que havia tido uma festa, que todos haviam ido e que havia sido uma festa que deveria ter sido inesquecível. Mas então como apenas Marinette lembrava?

Havia acontecido a, mais ou menos, dois anos, o mesmo periodo que Marinette havia se afastado de Adrian, os gaguejos pararam, ela não corava mais, começou a se sentir mais a vontade... A sorrir mais... Por que Adrian não notou nada de estranho? Talvez porque foi naquele mesmo período que sua vida deu uma virada... Começou a mentir cada vez mais para o pai, ia para festas, passou a beber. Ao invés de sessões de foto em parques sessões na badalada Paris noturna...

Era quase como se, aos poucos, ChatNoir e Adrian Agreste se fundissem... E era tão estranho, era tão estranho ser ChatNoir sem a máscara uma vez que Chat era tudo aquilo que Adrian não podia ser. O mesmo acontecia no sentido contrário, ChatNoir era cada vez mais responsável, mais humilde, contido. Era cada vez mais Adrian.

Passou os dedos pelos, agora, longos cabelos azulados de Marinette. A chinesa já estava em seu décimo sonho, deitada ao lado daquele que era sua maior decepção e seu maior amor...

Com um último "bip" Chat virou Adrian como a carruagem virava abóbora a meia noite, mas o loiro não se importava, algo lhe dizia que ela não acordaria, e não era sempre que ele podia ser ele enquanto estava com ela. A abraçou.

Tirou do bolso um pequeno pedaço de queijo e deu para Plagg, que estava sentado no criado mudo.

"Bom trabalho, Plagg" Falou lhe entregando e vendo-o engolir rapidamente.

Plagg merecia, estava cansado, haviam sido duas transformações, uma luta e ainda se tranformaria novamente para voltar para casa.

O Kwami, mais do que ninguém, percebia a mudança em Adrian. Era normal para ele ver como o portador e Chat acabavam por se fundir, por isso ele sabia que ChatNoir nunca iria morrer. Mas Adrian era diferente, de alguma forma sentia que ele era.

Passaram-se algumas horas e logo o sol já nascia novamente na cidade das luzes.

Quando Mari acordou a primeira coisa que fez, antes mesmo de Tikki acordar para acorda-la, foi correr ao banheiro, quase caindo no processo, colocando o que não tinha no estômago para fora. A kwami logo foi em direção a ela, ajudando da forma que podia.

"Você precisa muito ir a um médico Marinette" Falou enquanto a azulada escovava os dentes numa tentativa de tirar o gosto horrível da boca. No mesmo momento seu celular tocou numa notificação.

"Ops... Parece que sua menstruação parece estar atrasada esse mês." Seu calendário alertava.

Num momento de esclarecimento Matinette fez todos os cálculos em sua cabeça.

"Merda, merda, merda, merda" Falava enquanto abria o aplicativo vendo que estava duas semanas atrasada. Como ela não havia visto isso antes?! Sua lembrança a acertou com uma pedra, não haviam usado camisinha, ela não se lembrava de terem em momento algum sequer lembrado disso! E fizeram tantas e tantas vezes naquela noite em específico e depois! Mas foi somente aquela noite, em que estava possuída pelo prazer, que não se lembraram...

Deus. Que ela estivesse muito enganada e que fosse apenas um problema hormonal muito grave.

Se arrumou rapidamente e saiu, não explicando nada para Tikki, apenas que iriam a farmácia. E foram rapidamente mesmo. Marinette não sentiu vergonha quando a primeira coisa que fez foi ir para a sessão de testes de gravidez, não se importou com o olhar julgador da caixa quando comprou o teste e uma garrafa de água, muito menos com o do gerente velho que estava olhando para si com desprezo. Quando chegou em casa a água ja havia acabado.

"Marinette, o que é isso?" Tikki perguntou vendo a inquietação da menina.

"Um teste de gravidez." Falou tirando a roupa, antes de qualquer coisa precisava tomar banho e relaxar o máximo possível.

"Gravidez? Mari você acha..." A pequena não sabia o que fazer, mesmo com todo tempo de vida que tinha isso nunca havia acontecido!

"Existe uma chance Tikki... AHHH eu preciso me acalmar! Sim! Acalmar!" Falou batendo as mãos no rosto e entrando no box.

Enquanto Marinette deixava a água cair em sua cabeça Tikki voava pelo quarto, estava tão ansiosa, se não mais do que a chinesa. Já haviam existido várias LadyBugs, muitas morreram, muitas desistiram, muitas cresceram, mas nenhuma havia virado mãe. Tikki sempre sentiu que Marinette era especial, mas não esperava que fosse assim! Respirou fundo... Talvez elas estivessem precipitadas, ou não, de qualquer forma a azulada precisava dela, e ela tinha que estar bem para o que acontecesse.

Marinette saiu do banho, vestiu uma roupa confortável, secou os cabelos. Sentou no divã ao lado de Tikki e pegou a sacola com o teste. Ambas se encararam. Antes de Marintte abrir Tikki voou para perto de sua mão.

"Eu to aqui com você Marinette." Falou vendo a de olhos azuis concordar com um fraco sorriso.

Marinette tinha a sensação de que já sabia a resposta. Mas estava com medo.

Era muito simples, urinar no copinho, colocar a caneta dentro do copinho e esperar. Eram 60 segundos para um resultado com precisão de 99,8%. Os 60 segundos mais demorados da vida de Marinette. Estava com muito medo.

Antes mesmo de completarem-se os 60 as duas listrinhas vermelhas já haviam aparecido... Por um momento Marinette perdeu completamente a força e o equilíbrio caindo de joelhos no chão do banheiro com o teste em mãos, mãos estas que tremiam. Estava com medo, estava com muito medo! E agora? O que aconteceria com sua vida? Ela tinham 18 anos, ainda estava no ensino médio, estava começando sua vida profissional! Um bebê, havia um bebê dentro de si! Um bebê dela e de Chat! Como contaria ao herói? E se Chat não aceitasse? E se ele a largasse? Dissesse para ela abortar? Não! Ela não conseguiria! Ela era LadyBug, teria que contar para ele também... Eram tantos pensamentos, em uma fração tão curta de tempo que não deu tempo de Tikki ir abraça-la antes de ouvir seu forte choro.

Enquanto Marinette chorava o mais alto que seus pulmões deixavam sentiu seu corpo ser envolto em um abraço terno, era uma garota que parecia mais nova do que si, sem roupas, os cabelos vermelhos.

"Mari..." Era a voz de Tikki, aquela era Tikki, a Kwami estava com ela e mostrava isso. Marinette estava com tanto medo, mas sabia que não estava só, ela tinha Tikki...

Quando, vencida pelo cansaço, a chinesa parou de chorar a kwami a tirou do banheiro e a levou para a cama, a fazendo sentar lá. O olhar da maior era vago, apenas Deus sabia o que se passava na cabeça da azulada. Enquanto isso Tikki foi para o guarda-roupa e pegou uma blusa mais longa de Marinette e vestiu.

"Tikki... como você está assim?" Marinette perguntou um pouco baixo.

"Eu sou um ser de milênios Marinette, eu sei alguns truques. Mas você não poderá ser LadyBug hoje." Sorriu para a outra, numa tentativa de anima-la. E conseguiu um leve sorriso.

"Você fica linda assim..." Respondeu.

Tikki subiu para a cama, se encostou na parede e fez um sinal para a azulada ir para perto dela e foi atendida, logo tendo Mari deitada em suas pernas. Fazia carinho em seus cabelos, acalmando-a, não queria falar, queria apenas que Marinette conseguisse se acalmar.

A maior logo quebrou o silêncio.

"O que acontece agora Tikki?" Perguntou com a voz trêmula.

"Eu... Não sei Marinette" falou muito sinceramente.

"Eu vou ser mãe Tikki... Tem um bebê aqui..." Sussurrou colocando uma mão em cima da barriga.

"Vamos conseguir Marinette. Eu vou estar com você" Tikki falou sorrindo. Marinette sorriu, estava com medo, mas... ao mesmo tempo estava feliz, muito feliz.

O sino da igreja tocou. Eram dez horas da manhã. Marinette Dupain-Cheng tinha 18 anos, faltavam 4 meses para se formar no colégio, era uma designer em ascensão em Paris, LadyBug, amava o herói ChatNoir, e iria ter um bebê...