Enquanto Areum tolamente buscava remover a tintura do braço com água fria e pedaços de papel higiênico – que inevitavelmente despedaçavam-se ao serem irrigados com o líquido, preenchendo a pele com os pequenos pedaços brancos – o outro, chinês e dito como invasivo rapaz, fizera o oposto tornando uma fácil tarefa em algo muito eficaz.
Com um novo pedaço de algodão umedecido em água quente – que no caso encontrava-se já morna – a qual havia deixado em um recipiente, após conhecer mais alguns cantos da casa para trazer a quentura, passou a esfregar a área da tatuagem com uma cautela relativa. Para a sorte da garota o símbolo erótico era o que menos persistia em sua epiderme naquele instante, só restavam-lhe os números.
— Se os números não querem sair tão fácil — Xu pronunciara enquanto delicadamente cuidava do braço alheio, daquela que pela primeira vez fitava-lhe apenas com admiração, afinal, o estranho não havia hesitado em vim lhe ajudar. — é um sinal.
— Sinal de que sua tinta é boa, isso sim.
— Sinal de que o destino nos quer junto. — O sorriso fora direcionado para a face feminina que, há primeiro instante, embriagada no momentâneo afeto que havia conquistado, retribuiu.
— Você só fala bosta. — Desmanchara o sorriso e reassumira a carranca facial.
— Princesas não deveriam falar palavrões.
— Eu não sou uma princesa.
— Bruxas não deveriam falar palavrões.
O cenho franziu-se e, automaticamente, a mão vaga lhe tapeou o braço junto com bico que formara nos roseados lábios. O chinês apenas gargalhou, a ardência não era suficiente para lhe irritar, ainda mais quando encontrava como seu mais novo hobbie irritar a nova companhia.
Com a tinta retirada, Minghao ainda recebera o privilégio de permanecer durante mais algum tempo ali. Seok podia ser irritada, estressada e carregar sete facas só em pensar no rapaz, mas tinha interesse em desvendar a aura misteriosa que lhe revestia.
O rapaz dos fios castanhos escuros encontrava-se sentado contra o gélido chão com as pernas longas esticadas por este enquanto, entre elas, o animal de pequeno porte acomodava-se em busca de ser afagado. A jovem preparava pipoca, já que era o único petisco disponível para oferecer – assim como alimento, pois vinha adiando a ida ao mercado que era logo em frente.
— Por que você deu o nome dele de Mingyu? — A voz robusta de sotaque fora elevada para que, da cozinha, ela pudesse o escutar. Os seus dedos acariciavam a pele enquanto afundava-se nos pequenos fios daquele que deveria ter o tamanho da sua mão.
— Por causa... — Agarrando o balde de pipoca ela parara. Realmente não sabia o porquê. — Sei lá, achei bonito.
— Mingyu é um nome vindo do chinês, sabia?
Meneando a cabeça em negação enquanto tapava a boca com o milho estourado esticara o balde para a visita alimentar-se igualmente, mas ele negara em primeiro instante por conta das mãos que tanto acariciavam o pequinês.
— Acho que é por isso que os “Mingyus” costumam se dar bem comigo. — Sorrira enquanto amassava o pequeno rosto do animal entre as palmas da mão, complementando sua frase anterior, antes de erguer-se e dirigir-se ao lavabo em frente para limpar as mãos.
—Alguém já te disse que você é muito cheio de si?
Com as mãos já secas e sentando-se ao lado de Areum, numa distância razoável, no acolchoado – tendo o pequeno Mingyu, cujo nome ainda lhe arrancava risadas, apoiado em seus pés – apunhalara uma quantia do alimento oferecido.
— Se eu não me amar ninguém irá. — Cessara as falas com o mastigar da pipoca, conquistando total atenção da garota, que ainda analisava a frase e a expressão facial alheia.
— Se você se amar demais, não vai ter espaço para amar os outros.
— Quem tem um grande coração sempre tem amor para dar. — E o tique comunal de piscar um dos olhos voltara à tona, arrepiando os pelos do braço feminino que continuava surpreendendo-se com o rapaz oscilante entre amargura e fofura. — Sobre o que é sua reunião? — Quebrara o silêncio recém-estabelecido.
— Hm? — Ela retribuiu-o com o olhar confuso.
— A reunião? O motivo pelo qual você tanto queria arrancar o braço fora? — Soprara um riso. — Sobre o que é.
— Ah! — Soara constrangida e realizada. — É uma reunião de negócios. Eu finalmente posso sair de ser a mera secretária que serve cafezinhos para... Trabalhar com papelada. Tudo bem, eu sou uma mera estagiária, não vou conseguir o que eu quero tão cedo, mas qualquer coisa que não seja cheirar café oito horas por dias irá me deixar feliz.
— É mesmo — Os dedos estalaram-se e ele sorriu curto. — Você ainda é uma estudante.
— Não fale como se fosse superior.
— Não seria só por que eu não fiz faculdade? — Gargalhara baixo. — Você faz faculdade do que?
— Administração.
— Pois bem — Soprou mais um riso. — Eu não me formei em nada, só terminei o Ensino Médio e tecnicamente trabalho mais nessa área do que você mesma. Eu administro a minha loja, os meus funcionários.
— Como quiser senhor Minghao. — A mão abanara-se para a face masculina esboçando o desinteresse feminino.
A conversa fluíra entre sorrisos e instigações um ao outro numa intimidade originada no estabelecimento diante ao desespero inicial de Areum e o interesse acobertado do rapaz.
Chutando as pedras da rua de seu apartamento o rapaz caminhava até a portaria. Pela ausência de garagem no prédio pequeno e primitivo tinha sempre de arriscar à estadia de seu automóvel próximo as calçadas. De seus lábios escapava como um vento o soar de uma melodia que escutava no rádio antes de estacionar.
E a música que lhe animava no trajeto fora tapeada pelos miarem angustiantes e robustos de dor em meio à escuridão. Os olhos rondeavam os cantos em busca daquele que exprimia a sonoridade. Incomodado e instigado pelo som alcançou o celular de seu bolso e ligou o flash, apontando este para os cantos.
Próximo a uma árvore da entrada do edifício pode ver o magro e pequeno animal ainda no choramingar com a pata aparentemente ferida. Xu tivera o coração apertado naquele instante; não era o melhor amigo dos animais e sequer possuía um – apesar de gostar deles – e não tinha o costume de auxiliar animais que via na rua, mas não conseguiria desviar de caminho e deixa-lo ali.
Os passos singelos o levaram para perto do animal, com a luz redirecionada de sua face para perto apenas. Estendera a mão na tentativa de conquistar o afeto do bichano enquanto agachava-se ao encontrar-se mais rente. Ficara enrolando ali junto ao estalar dos dedos e o assoviar até que o gato viesse a se abeirar e confiar nas mãos pálidas de longos dedos. Segurou-o no colo, Minghao, e acariciou os pelos enquanto proferia baixar palavras acomodando o animal.
— Ei, preciso que você venha em casa — Xu dizia com o telefone apoiado entre o ombro e a orelha enquanto enchia um pote vazio com pedaços fatiados de maçã, que era o que poderia oferecer ao novo visitante.
— Agora?! São quase onze... — A voz rouca soara alto em seu ouvido e Minghao interrompera com um espirro. — Da noite.
— Eu sei — Deixou o pote contra o piso e, com a aproximação do bicho, recuou e espirrou novamente vindo a encobrir o nariz e boca com a palma da mão. — Urgente. Agora. Considere uma recompensa, mas venha logo.
O animal alimentou-se com relativa dificuldade e o chinês lhe supriu do mesmo modo com água. Agachado contra o chão, agarrando as próprias pernas com o braço esquerdo e com a mão direita contra os pelos escuros, chamava-o enquanto procurava ver sua resistência quanto à pata que o levava a mancar.
E como um bom e obediente amigo, o dono da voz rouca – que por vez não era, finalmente, Mingyu a incomodar Minghao em mais de um seus dias, até por que tão cedo isto não aconteceria com sua mais nova marca permanente na pele – dirigiu-se no mesmo instante para a casa, trajeto que, de carro, era relativamente próximo.
— O que eu estou fazendo aqui e por que você precisa tanto de mim? — O rapaz ajustou os óculos de grau e fechou a porta que estava destrancada fitando o amigo encolhido próximo ao piso, soprando um riso.
Virou-se o proprietário da casa com os olhos inchados e avermelhados e com os braços vindo a se encherem de marcas, bolinhas e semelhantes. — Fazer boas ações é doloroso e você vai ter que ficar com o gatinho. É seu presente.
— Meu deus, Minghao, você está bem? — Os olhos arregalaram-se.
— EU PAREÇO BEM? — As unhas cravavam-se no próprio braço com ferocidade enquanto tacava o corpo contra o chão, sentando-se nele. — O gato estava chorando na rua. A pata da frente tá machucada. Eu dei frutas e água, mas não tenho condições de cuidar dele.
— VOCÊ É ALÉRGICO?
— SOU — Respondera no mesmo tom.
— Eu realmente agradeço pelo gato e vou cuidar dele. — Sorria Jeon aproximando-se do animal e o acariciando. —Qual o nome?
—Não sei. Se vira.
— Vou o chamar de Xuxu em sua homenagem — Wonwoo agarrara o animal no colo entre amplos sorrisos, agarrando até mesmo risada do chinês que se sufocava com a própria alergia. — Primeira vez que eu fico feliz em perder um amigo. Perdi amigo, mas ganhei um gato. Quem precisa de Mingyu quando se tem um gato?
— Mingyu é mais difícil de cuidar do que um gato. — Ergueu-se em direção à cozinha e agarrou um copo de água, tomando este quase em um gole só para retomar a respiração e vasculhar os armários atrás de remédio.
— Aliás, como ficou a tatuagem?
Agarrou dois comprimidos antialérgicos e tomou-os de uma vez com o auxílio de mais água. Apoiou-se na porta do cômodo e observou o amigo pálido com o bichano nos braços.
— Hm, maravilhosa é claro, fui eu que fiz. — Ambos riram baixo. — Básica na verdade, só o meu nome. — Os olhos alheios se arregalaram. — Na próxima aposta eu escrevo o seu. Não se preocupe.
— Vou ter permissão de algum dia contar para ele que foi tudo armado?
— Eu não acho que isso vai o fazer voltar a falar com você, mas relaxa, eu o faço voltar a falar com você.
— Eu sou o mero dono do Xuxu enquanto você é o dono do Mingyu.
O chinês esboçou amplos sorrisos antes de gargalhar e cruzou os braços, meneando a cabeça. —Apesar de tudo, Kim não é meu cachorro não, ele é realmente um bom amigo.
— Para te aturar também, é claro. — O mais novo batera contra o ar enquanto ameaçava o visitante. — E estou brincando? Quando se tem um amigo como você, quem precisa de inimigo?
— Eu te dei um gato — O dedo apontara para o bicho dos olhos claros enquanto Minghao assumia a aura enfurecida.
— E já agradeci, dei até seu sobrenome para ele. — O mais velho fitou o rapaz em seu estado deplorado com a aversão natural e pré-estabelecida e suspirara. — Não quer ir para um médico? Aproveita que eu estou aqui.
— Não se preocupe hyung. Eu estou acostumado a ter isso até de passar perto de um gato. Infelizmente. Eu só o ajudei por que saberia que você não iria recusar ficar com ele, sorte dele. — Esboçara um sorriso.
— Dele não. Xuxu. — Corrigira o mais novo conquistando suas risadas relativamente travadas pela garganta inchada. — Se você realmente, realmente, realmente mesmo não quer ir num hospital então vou levar ele embora antes que você vire um balão vermelho.
— Não se preocupe, ainda não sou parte de filme de terror.
Jeon apontou com o indicador em sua direção e esboçou um sorriso na face enquanto soprava um riso. — Peguei a referência.
— Pode ir embora e levar o monstrinho com você. — Movimentara os dedos no ar na indicação de que o mais velho se fosse. — E não se esquece de passar num veterinário.
— Levarei a miniatura de Xu Minghao e passarei num veterinário amanhã de manhã. — Esboçara o sorriso mais uma vez e fitou o amigo. — Se não melhorar, me avise. E quando eu ver a patinha dele, aviso também.
Meneou a cabeça consecutivamente o dono da casa enquanto mais uma vez acenava para que o amigo fosse embora. — Não se preocupe comigo, pode ir para casa.
Wonwoo inevitavelmente gargalhou, sabia que continuar com o animal ali era apenas um malefício para o corpo do amigo que, naturalmente, reagiria negativamente apenas com sua presença e por isso tratou de retirar-se com novos e repetidos agradecimentos pelo presente inesperado e recebido como obra de um destino.
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