Jack On
Logo que entrei no Caminho do Anjo, um som agoniante de ferro batendo ecoa. Ótimo, que maravilha! A merda da porta fechou.
Agora que estava trancado aqui, pude ver melhor o local. Era tudo organizado e limpo, além de feminino demais. Havia um sofá, uma mesinha e um armário velho. Encima do sofá tinha um áudio que era de uma Suzie Campbell.
"Sninf... Tudo parece estar desmoronando! Quando eu fui hoje até a cabine de gravação, Sammy estava lá com aquela tal de... Allison! Aparentemente, eu não recebi o memorando. "Alice Angel agora terá a voz feita pela Srtª Allison Pendle". Uma parte de mim morreu quando ele falou isso. Deve ter algum jeito de consertar essa situação! "
Hm... Sammy além de mentiroso e louco era um mulherengo que trollava a ex? Interessante, muito interessante.
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Ok, isso nem é tão interessante.
Abro uma porta no final da sala e ando por um corredor extenso até chegar numa sala completamente inundada por tinta e cheia de brinquedos até o teto. É muito irritante ter que pisar nessa tinta tão densa, parece que estou pisando em merda. '-'
Paro de andar imerso em meus pensamentos. Por que estou ajudando a Nora? Eu conheço ela faz apenas um dia e nunca vi o pai dela para que eu o salve. Não seria melhor abandonar tudo?
"Você tem uma dívida com ela, Jack. Com ela e com o seu próprio pai. Você não pôde salvá-lo, mostre agora que você é motivo dele se orgulhar."
F L A S H B A C K {ON}
De um beco, o garoto observava a cena assustado. Seu pai ajoelhado no chão, com as mãos atrás das costas e com um revólver apontado para sua cabeça. Ao lado, sua mãe sendo abusada sexualmente. O horror reinava nos olhos do garoto, dos quais saíam lágrimas silenciosas. Em sua mão, havia uma faca grande.
Poderia muito bem matar os agressores, mas o medo o impedia. O que um garoto de 11 anos poderia fazer contra eles? Nada.
Viu o olhar de seu pai sobre si. Mesmo não podendo falar, seus olhos lhe diziam "Corra! Saia daqui, meu filho! FUJA!!". Entretanto, suas pernas não se moviam. Sua mãe lhe suplicava com olhares "Por favor, querido! Fuja desse lugar, saia daqui sem nós!".
Ele se sentia incapacitado, olhava seus pais sofrendo e não podia fazer nada. Até que um dos homens dispara duas vezes.
Sangue.
Era tudo que se podia ver.
Seu pai estava morto, sua mãe também.
Olhou para a faca em suas mãos. Ele queria morrer. Mas não era isso que seus pais iriam querer.
Jack corria o mais rápido que podia pelas ruas de seu bairro, chorando e sangrando por causa dos tombos e cortes que levara durante a fuga dos bandidos. Os assassinos o tinham visto e estavam lhe perseguindo.
Correu como nunca tinha corrido até chegar num galpão abandonado. Sabia que a partir daquele dia, ficar na cidade não era mais seguro, pois seria um alvo fácil.
Não tinha para onde ir, estava cansado, com frio, fome e sede, além de órfão.
Se encolheu no chão sujo do lugar, e tentou pegar no sono, tentando se convencer de que tudo aquilo era apenas um pesadelo, e que seus pais estariam lá para acalmá-lo quando acordasse.
Mal sabia que era somente o início de seu sofrimento.
F L A S H B A C K {OFF}
Depois de tais lembranças atingirem minha mente, sinto uma lágrima escorrer por meu rosto ao lembrar de meus pais e dos dias que passei morando na rua.
Se Henry morrer, Nora vai estar no mesmo estado em que eu me encontro. E eu não posso permitir isso. Ela merece ser feliz.
Nora On
Logo após sair do elevador, desço e subo escadas até parar em uma grande porta de metal. Parece que Alice está aqui...
Eu não quero me encontrar com ela, depois daquelas coisas eu fiquei traumatizada.
Boris para na frente do portão, que se abre fazendo um barulho de ferrugem. E de repente, ele sai correndo feito doido na minha frente, e eu o sigo pelo corredor até chegarmos numa sala expansa. Paro chocada ao ver a cena de Boris olhando para o... Boris? Existe mais um Boris?! Olho ao redor. Existem mais de um Boris. MUITO MAIS DE UM BÓRIS!!! E todos eles estão mortos. Tinha também aqueles caras da guangue do Açougueiro. O chão era como um mar de tinta, e tinha apenas tábuas de madeira para atravessar. Enquato andava assustada pelas tábuas, aquela voz irritante volta a falar.
"Olhe em volta. Levou tantos deles para me tornar tão linda. Qualquer coisa menos que perfeita foi deixada para trás" -aperto o cano que segurava com força- "Eu tive que fazer isso... Ela me obrigou.- que? Como assim, "ela me obrigou"?
Após o pequeno monólogo de Alice, vejo uma porta e ao lado, uma mesa com um áudio da Suzie, que falava que ela havia saído com o Joey, que ele era encantador e blá, blá, blá. Não era interessante.
Após entrar na porta, sigo por um corredor onde me deparo com uma cena que eu não queria ter visto. Alice numa cabine, torturando um daqueles bicho de tinta. Ela parecia entretida.
-Moça, você me chama e fica me ignorando? Se tá tão feliz dando choque nessa coisa, eu vou embora.-digo irônica chamando a atenção dela.
-Sério? Pois bem, se sair daqui quem será torturada é você.-ela diz sorrindo friamente.
-Ouch, foi mal.-digo sentando no chão.
-Hm....
-Que foi?
-Agora vem a pergunta. Eu mato você? Te corto em pedaços somente por prazer? Que dúvida cruel.
-Que tal me deixar viver?
-A escolha não cabe a você. Vai acabar morta de qualquer jeito mesmo. Assim como o seu amigo.
-O QUE?! Se você fez algo com o Jack eu vou te mat-
-Rsrsrs. Cuidado com a língua, ou irá perdê-la.
-Certo...-digo com raiva- O que você quer?
-Olhe para essa aberração por um instante.-ela diz apontando para o bicho.-Ele se arrastou para cá. Rastejando sua tinta imunda até a minha porta. Ele poderia ter me tocado. ELE PODERIA TER ME LEVADO DE VOLTA!!
-Se acalme, por favor.-digo um tanto assustada, mas parece que ela não ouviu.
-Você sabe como é viver numa poça escura? É irritante. Um monte de vozes gritando incessantemente! Pedaços de sua mente nadando como... Como um peixe num pote!
-Na primeira vez que nasci, eu ficava me mexendo, escorrendo. Eu era sem forma. Na segunda vez, bem... Eu me tornei um anjo!- ela diz. Mas logo seu rosto deformado adquire uma expressão frustrada.
-Eu não posso deixar que o demônio me toque novamente. Não agora, que estou tão perto. Tão... Quase perfeita!
-Alice... Você está bem?
-E por que não estaria? Ou melhor, por que se importa com isso?
-Por nada não. Prossiga.-digo virando o rosto para o lado.
-Por enquanto, vou te poupar. Não, melhor ainda. Vou deixar você sair do estúdio.
-SÉRIO?! ALICE, EU SEMPRE SOUBE QUE VOCÊ ERA UMA BOA PESSOA E-
-Te deixo sair contanto que faça uns favorzinhos para mim antes.
-Era bom demais pra ser verdade.-digo e ela ri.
-Volte para o elevador, querida. Temos muito trabalho a fazer.- ela diz e fecha a cabine. Mas eu ainda ouço os gritos do bicho que ela voltou a torturar.
Logo ao sair da cabine, vejo que Bóris sumiu. Saio correndo até o elevador e uma tábua impede minha passagem.
-O que foi agora?
"Você já os viu? Os inchados! Eles estão estufados de tinta densa. Argh, eles me enjoam."
-Fresca...
"Entretanto, são a coisa perfeita para me manter viva. Se for pegá-los, aprenda a andar silenciosamente. Volte para minha porta, tenho algo de que você vai precisar"
Volto para a porta da miserável e havia uma espécie de painel, onde tinha uma "Ink Tool". Eu a pego e o cano que eu tinha some magicamente por macumba. Estava subindo as escadas para o elevador e ela volta a falar.
"Somente mais uma coisa. Tem poucas regras em nosso mundo. Tão pequenas verdades... Mas tem uma regra que todos nós sabemos e respeitamos.
Cuidado com o demônio de tinta.
Fique andando por muito tempo e ele vai acabar te achando! Então, se você o ver é melhor que se esconda. E se você não conseguir, bem... Eu aproveitei nosso encontro, Nora.
Enfim, vamos começar o nosso trabalho."
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