História Insane - Natália

Enquanto me envolvia ainda mais naquele edredom macio, levei minhas mãos frias até a altura do nariz e boca e espirrei odiosamente. Já haviam três dias em que eu estava com aquela gripe maldita que estava assolando uma pequena parcela da população coreana naqueles tempos difíceis. Virei-me para o criado mudo amadeirado que ficava rente a minha cama e vi alguns medicamentos e um copo com água que foram deixados por Bruna ali e eu sorri com aquilo. Peguei um dos remédios e este servia principalmente para amenizar desconfortos no nariz e eu só desejava que realmente funcionasse.

Aquela gripe estava me matando. Era um fato nada agradável, mas mesmo assim não havia sido o pior de tudo considerando o incidente entre Bruna e o babaca que ela está gostando.  Eu não entendia, como alguém poderia em qualquer hipótese ignorar alguém como Bruna? Eu queria pular no pescoço dele e mostrar toda a minha raiva, mas claro que eu não podia. Bruna parecia querer evitar o assunto, e eu não estava interessada em ser a responsável por trazer a tona tais lembranças .

Em meio a um espirro a outro, eu tentava inutilmente pensar em algo que pudesse me levantar de vez daquela cama e foi aí que comecei a ouvir o telefone tocar na sala e eu suspirei detestando aquilo, eu até mesmo considerei por algum tempo não atender, mas e se fosse o meu chefe? Ah, eu tinha que atender.

Sentei na cama enquanto percebia que o telefone parava de tocar, no entanto eu sabia que a pessoa ligaria mais uma vez. Tirei o cobertor cuidadosamente, prendi meu cabelo desajeitadamente, coloquei meus chinelos cor de rosa e sai de meu quarto para chegar ao objeto que naquele instante tocava incessante e me deixava ainda mais infeliz.

" Bom dia, você está falando com Natália"   Eu disse enquanto esperava não ter que informar pela milésima vez que não poderia ir trabalhar aquela semana para o meu chefe.

" Você é amiga de Bruna?"  Era uma voz masculina e muito bonita e obviamente não era meu chefe. Tentei lembrar de alguém que poderia ser o susposto dono daquela voz tão melodiosa, mas não consegui pensar em ninguém mesmo que eu tivesse aquela impressão de já ter antes ouvido aquele timbre em algum lugar. Depois de raciocínar sobre aquela pergunta, minha curiosidade deu lugar a preocupação e o chão que eu estava pisando parecia flexível e inseguro. Sim, eu estava cheirando a sopa e mingau , perturbada com aquele desconforto nasal e para piorar estava entrando em declínio com as minhas paranóias .

" Aconteceu alguma coisa com ela? " Meu tom saiu mais receoso do que eu queria , com certeza.

" Não , Não... Eu realmente queria falar com ela,mas eu acho que posso resolver isso com você, Natália"  Eu me senti aliviada e voltei a sentir que estava pisando sobre o chão. Mas eu ainda tinha perguntas para aquele cara.

" Você não é o tal Kim, não é? "  perguntei raivosa

" Então você sabe... " Ele deduziu brandamente me fazendo sorrir de orgulho, eu sabia de tudo que tinha Bruna no meio.

" Eu sei muito bem "  expliquei com hostilidade.

"Sendo assim, você está ocupada? " O que era aquela pergunta? O que esse cara tem na cabeça?

" Ocupada demais para falar com você, babaca"  Disse e espirrei novamente .

"Eu gostaria de me encontrar com você para falar sobre Bruna, você pode?" Indagou e eu planejei mil maneiras de me vingar daquele safado.

"  Condomínio na rua 28 "  Eu realmente iria pro inferno por aquilo.

"Você está falando sério? Sabe quantos condomínios tem em Seul? " Seu tom ameno sumiu completamente e ele parecia desacreditado daquela sacanagem.

"  Isso não é problema meu. E antes que eu me esqueça, eu não estou tomando vinho e não estou bem vestida mas estou muito afim de te passar essa gripe infernal, babaca"  E então bati o telefone rindo daquela sacanagem.

  Eu sabia que ele não iria achar aquele condomínio, nem me dei o trabalho de ir vestir qualquer outra coisa. Depois de ter lavado meu rosto descontente com sua vermelhidão, fiz um cafézinho e me joguei sobre  o sofá da sala para assistir qualquer porcaria na TV.

Eu havia pegado no sono e já estava até sonhando com alguma coisa que não me lembro agora quando ouvi algumas batidas na porta, e eu me sentei frustrada. Até mesmo considerei que poderia ser o babaca de mais cedo, mas aquilo não tinha sentido. Eu havia dado informações tão miseráveis que ele levaria décadas para achar o endereço que queria .  Mesmo assim, eu teria que atender a porta.

Calcei meus chinelos enquanto caminhava até a porta e quando a abri senti minha boca secar voluntariamente. Eu estava tão plerplexa...

Olhei para a pessoa e sufoquei um grito de surpresa, todas as minhas ações pareciam petrificadas e eu me sentia como um gigante tentando se esconder de baixo da cama. E ele apenas me olhava apreensivo, acho que eu deveria convidá-lo  para entrar.

— Eu posso entrar ? – aquela pergunta me fez andar para trás atônita enquanto ele entrava e fechava a porta.

Um cosplay de Park Jimin? Oi?

— O que está acontecendo aqui? – aquilo era para ser uma pergunta interna mas acabou por sair dos meus lábios sem que eu percebesse.

— Eu quero ter a oportunidade de esclarecer. – ele disse e eu tive que encara-lo naquele momento.

Ele apontou para o sofá como se pedindo minha permissão e eu apenas  mexi minha cabeça em afirmação.

— Quem é você? – Perguntei enquanto me tocava e verificava se eu estava tendo febre. Aquilo só podia ser febre.

— Sou Park Jimin e você é Natália, certo? – sua expressão era calma e eu não sabia o que pensar e nem o que fazer, mas eu ri. Gargalhei tão alto que já era constrangedor.

— Você não é Park Jimin. Park Jimin é um bêbado babaca. – meus lábios pareciam pesar depois que disse aquilo e o olhar que me foi lançado fora cheio de hostilidade e perplexidade.

— Park Jimin é um bêbado para todas as pessoas que acreditam no falso motivo por trás da queda do BTS, contudo, não passei todo esse tempo a procura de um condomínio na rua 28 para vir falar da incoerência midiática.

Minha boca secou completamente, minhas mãos agarradas uma na outra e minha cabeça trabalhando nas dimensões que talvez me explicasse se aquilo era real ou não.

Park Jimin estava realmente ali? Eu estava com febre ? Eu estou maluca? O que eu posso dizer? É complicado .

— Certo...Jimin... O que um ex k-idol faz sentando no meu sofá? .– Seu rosto bonito foi contemplado por mim pela milésima vez naquele mesmo minuto.

— Sabe o Kim? Ele é um dos meus melhores amigos... E eu estou a par dos acontecimentos entre sua amiga e ele.

— Seu amigo?

— Kim Seokjin. – ele falou calmamente mas meus sentidos não se definiam e eu não consegui esboçar  qualquer reação que não fosse de pura perplexidade.

Olhei para seu rosto delicado, porém muito masculino e vi que ele parecia desconfortável. Não! Era eu quem devia estar! Tem um k-idol que por sinal era minha paixonite de adolescente e acabava de descobrir que o tal crush da minha melhor amiga era o Seokjin, que também era sua paixonite de criança boba.

Aquilo me parecia loucura... E era!
Quais eram as chances daquilo acontecer? Quais eram?

— Cacete. – usei aquela expressão e notei seu olhar curioso, obviamente que ele não sabia o que significava um cacete.— Eu só quis dizer que estou chocada.

— Eu não pretendo te deixar confusa. Eu apenas queria que me ajude a lidar com essa situação. – ele parecia implorar por algum consentimento e aquilo me fez ponderar sobre como eu deveria lidar com aquilo.

— Como eu poderia te ajudar? .– desviei meus olhos que fitavam o chão para ele e senti seu olhar peculiar sobre mim. Aquele olhar de deixar pernas bambas.

— Tudo isso será novidades para ela, mas Jin está totalmente apaixonado por ela. – ele explicou o óbvio, aquilo era uma verdade mesmo quando eu não sabia quem era a pessoa por trás daquela tela .

Mesmo que aquilo fosse novo, eu entendia perfeitamente o que estava acontecendo e tudo fez sentindo

Enquanto sentia ser observada pelo homem a minha frente, eu me permiti lembrar da primeira vez que soube das mensagens que Bruna passou a trocar com seu novo amigo virtual.
Lembro de ter perguntado como se conheceram e de como ela estava super empolgada ao falar dele, os olhinhos dela tinham aquele brilho bonito e feliz.

Segundo ela, eles haviam twitado em uma mesma publicação sobre o fim do BTS e estavam tentando apaziguar a situação lembrando que até mesmo k-idols tinham suas vidas para seguir, e ao que tudo indicava, Kim concordava com ela e passaram a conversar e logo  então perceberam que tinham muito em comum .

Fechei meus olhos e tudo fez sentindo.  Jin estava de olho no twitter e Bruna se destacou na multidão sendo a única a defender suas convicções a favor do grupo extinto, talvez aquilo o tenha encantado. Algo em Bruna não incita a querer sua amizade.

— Você está bem? – Jimin perguntou obviamente preocupado com meu silêncio.

— Eu estou bem, mas... Você poderia me dar um tempo? Isso é louco demais para assimilar de uma outra para a outra....

— Ah, eu... Eu entendo completamente, mas por favor, me diga que irá me ajudar – ele pediu e eu não tinha como negar, Bruna estava envolvida e automaticamente estava envolvida também.

— Farei tudo o que estiver ao meu alcance. – eu afirmei e aquilo talvez tenha sido o motivo de sua expressão suavizada .

— Estou muito grato.– ele falou enquanto se levantava do sofá para ir embora.

—  Não se preocupe com isso... Apenas me dê tempo para conversar com ela...– eu disse e ele concordou meneando a cabeça .

Depois que ele saiu, me joguei no sofá pensando se aquilo deveria ser algo da minha cabeça... Como assim, por que eu sentia aquela velha Natália voltando? Eu não tenho mais 18 anos, eu não deveria estar pensando naquelas coisas.

Ele não parecia ser aquele bêbado babaca que a mídia dizia o tempo todo, poderia ser mentira? Talvez... Mas o que realmente interessava era : Uma das minhas garotas era a crush suprema de um K-idol bonitão.

O que eu faria primeiro? Eu sempre conto as coisas para a Bruna primeiro, mas nesse caso, Gabi e Ingrid vão ter de descascar esse abacaxi... Vão ter que me dar a solução... Vão ter que me ajudar.

Ah, eu estava tão desesperada!