POV (Maju)
Acordo com pesos sobre, provavelmente minhas amigas, indicando que o dia tinha chegado. Levanto-me assim que saem do quarto, vou com certa dificuldade ao banheiro, fecho a porta e me observo no grande espelho. Aqueles olhos sem vida e as olheiras fundas já não me incomodavam mais, eram apenas sintomas visíveis das minhas cicatrizes, e que agora eram permanentes em mim.
Meu reflexo no espelho
Está tão vazio, como se não tivesse ninguém lá
Eu ando sozinho na rua, mas essa rua
Parece tão vazia
Faço minha higiene, e tomo um banho rápido, a água quente caía sobre minha pele desnuda e a queimava, era uma ardência relaxante. Já pronta, pego minha mochila e coloca sobre as costas, descendo silenciosamente cada degrau da colossal escada de mármore. Sentadas no sofá, estavam as duas pessoas que mais me suportavam e minha mãe, que se encontrava ansiosa para me ver fora de casa.
Eu não culpo meus pais por se comportarem assim comigo, não foram eles que me transformaram nesse ser “desprezível”, esse ser que tem medo de tudo e de todos. O taxi que levaria a mim e minhas amigas à uma nova vida tinha acabado de chegar, me despeço de minha progenitora e sigo para o automóvel.
Sento-me no banco de trás o mais longe possível do motorista, estar no mesmo ambiente que pessoas estranhas me deixava nervosa, eu me sentia vulnerável e inquieta, observava cada movimento seu e apenas me acalmei quando Catarina sentou-se ao meu lado segurando minha mão. As mãos dela eram quentes e macias, diferente das minhas, elas me reconfortavam como jamais outra reconfortou.
Eu sou uma concha vazia, um covarde sem você
As pessoas ao redor me olham com pena
Isso me mata, não mais que um dia
Antes de começar meu dia, sem pensar eu vi
Minha prima tinha esse poder sobre mim, ter ela e Nath comigo nessa nova fase, me deixava otimista, apesar de um pouco apreensiva. O carro já estava em movimento, olho pela janela vendo minha casa se distanciar aos poucos, eu sentia que parte de mim era abandonada, mas essa era a intensão da nossa mudança.
Todas essas novas informações mexiam comigo, eu não demonstrava, permanecia com a mesma expressão sem vida, mas por dentro o temor e o caos me dominavam. A ideia de viajar e recomeçar foi da minha mãe, ela via que eu não tinha mais jeito, e em um momento de falta de opções, propôs isso. Acabei envolvendo minhas melhores amigas nessa confusão que estava minha vida, sem hesitar elas aceitaram e desistiram de tudo aqui, arrumaram suas coisas e agora estavam comigo no carro rumo aos Estados Unidos.
Eu estou cada vez mais com medo porque eu não sou o mesmo de antes
(Não há um sorriso no meu rosto)
Eu estou assustado me vendo ficar fraco
(É quieto como meu coração)
--------- Quebra de tempo -----------
Dormi durante toda a viagem de avião, e como de costume tive os mesmos pesadelos, acordei com o peito angustiado e suando frio. Havia uma movimentação nos corredores, contudo eu não conseguia identificar o porquê?! Nathalia me olhava fixamente, como se esperasse alguma reação minha, não tinha quase ninguém dentro da aeronave, analisei atentamente a situação e notei... tínhamos chegado... o nervosismo se instalou em mim e acredito que demoraria a ir embora.
POV (?)
Idiota
Essa é a palavra que me define. Eu sou um completo idiota, um covarde perdedor, um maldito idiota medroso. Cansei da forma que essa palavra ecoa na minha mente idiota, idiota, cansei de me sentir como tal, de viver como tal.
Podem até falar que tudo é puro drama, porém durantes meus 20 anos de vida eu fui chamado deste modo pela pessoa que menos deveria me chamar assim. O homem, o qual toda vez que lhe chamava de pai me batia, independente do que eu fazia, ele me chamava assim, era idiota pra cá idiota pra lá, acho que mal sabia meu verdadeiro nome.
Minha mãe quando jovem era uma moça muito bonita atraia olhares de todos os rapazes, no auge de sua juventude frequentava muitas festas e em uma dessas conheceu o meu amável papai. Eles se envolveram por algum tempo, até que aconteceu o que eles menos esperavam, eu, uma gravidez e foi aí que as coisas começaram a dar errado.
Mamãe descobriu que não era a única na vida do homem que ela jurava amar, papai era casado e tinha um filho dois anos mais velho que eu. Minha progenitora não sabia o que fazer, foi expulsa de casa, não tinha para onde ir, correu para os braços dele. Sua esposa descobriu sobre sua traição, abandonou ele e seu filho, e como não tinha nada perder abrigaram minha mãe.
Infância era para ser a melhor época, contudo para mim foi à pior. Quando criança vivia fantasiando o dia que eu ia poder dormir sem estar com dor no corpo ou chorando por ouvir os gritos de socorro da minha mãe. Enquanto ainda era bem novinho, todas as vezes que eu tentava apanhar no lugar dela, Hoseok, meu irmão mais velho, me impedia de fazer tal ato.
Eu estou despertando um outro eu interior
A luz fraca que foi apagada
Me acorde, abra meus olhos
Sim, me acorde
Isso é um túnel sem fim
Nas trevas sem luz
(Me acorde, me acorde)
Eu preciso me encontrar
Lembro-me do jeito que ele protegia-me, abraçava-me bem forte e sussurrava que tudo ia ficar bem, que me protegeria de tudo e de todos e por fim dizia que me amava. Com isso eu ficava um pouco mais tranquilo, sentia que ele era o único que realmente amava-me, mamãe me culpava pela vida que levava e papai me odiava por ter estragado sua vida, e meu irmão apenas me ninava até eu cair no sono.
Hoseok era uma criança como eu, mas ele era tão mais responsável, não perdia seu tempo brincando com bonecos, ele estudava pela manhã e trabalhava durante toda a tarde e começo da noite, nosso pai não sabia disso, achava que ele passava o dia todo no colégio, ele não contava para ninguém, mas eu sabia. Quando chegava em casa, na maioria das vezes, eu estava machucado e chorando, eu corria para os braços dele me abrigava em seu conforto, ele sorria falando o quanto sentiu minha falta e como me amava, ele cuidava dos meus machucados, me banhava, alimentava-me, e colocava me para dormir. Em certa noite, quando achou que eu estava dormindo, eu o vi começar a chorar, e ali eu tive a certeza, Hoseok sofria calado para me proteger.
Na noite da morte da minha mãe, Hoseok adquiriu o vício em álcool, naquele dia eu vi nos olhos dele medo do que ia acontecer comigo. Por minha culpa ele se tornou um alcoólatra, por minha causa com 16 anos Hoseok usava drogas.
Me acorde, fomos pressionados pelo tempo
Aquela criança que cresceu de repente
Eu vou acordar essa sociedade amedrontada agora
Compartilhe uma nova história comigo
Você não pode colocar um preço na minha vida
É uma vida que não pode ser trocada com a de mais ninguém uh
Quando atingiu sua maioridade, fugimos juntos, eu e ele, sem rumo com medo, no fim chegamos aos Estados Unidos, Hoseok preocupava-se comigo, me colocou em uma escola para terminar o ensino médio, lá conheci meu único amigo, Taehyung, o único que não zombou de mim na escola. Achei que com a nossa mudança Hoseok ia dar um fim ao seu vício, porem ele só piorou e eu era o culpado, comecei a trabalhar em uma cafeteria para poder nos sustentar.
As noites que ele não voltava para casa, eu tinha pesadelos, dele virar um monstro como nosso pai, e o único culpado disso sou eu. Essas mesmas noites que eu passava sozinho chorava muito, eu desejava a morte, pois tudo isso era minha culpa, com o tempo eu comecei a aliviar minha angustia ferindo-me, no começo eu só me arranhava, mas com o passar do tempo isso passou a ser insuficiente. Em uma noite de desespero procurei em todas as minhas coisas algo que pudesse me machucar, achando no meu material escolar um apontador, o qual desmontei e com sua lâmina fiz cortes no meu antebraço esquerdo. Quando fiz o primeiro, minha pele se rasgou, senti uma leve ardência e pequenas gotículas de sangue se formavam em cima da linha, me causando um alivio inexplicável.
Criei um vício em segredo que cada dia piorava, na escola quando me zoavam, eu quebrava uma caneta qualquer e passava pelo meu corpo até perfurar, no café onde trabalhava, quando alguém me julgava com o olhar me queimava com o café, não conseguindo evitar me machucar. Um dia Seok chegou em casa e me viu sem camisa, era um dos raros dias que ele estava sóbrio, ele viu as marcas no meu corpo, ele viu como eu estava magro, e ele se culpou por tudo, mesmo a culpa sendo inteiramente minha. Ele começou a se esforçar para não beber e eu me esforçava pra não me machucar, mas ambos falhávamos.
Nossa realidade é como uma dor, que está presa dentro de um pote de pedra
O que eu posso fazer é
Cantar essa música como se eu estivesse doido
Talvez isso desperte
Todo ano, eu estou na minha linha de chegada
Você não vai se atrasar
Apenas pule como um equestre, por mim
Hoje faz cinco dias que Hoseok não volta para casa, e já estou perdendo a cabeça, pensando no pior, o maior tempo dele longe de casa foi dois dias, eu estou com medo, eu choro feito uma criança que não sou há muito tempo. Tudo é minha culpa, se eu não tivesse nascido Hoseok ia ser feliz com sua família, sua mãe não o abandonaria, ele teria uma profissão, eu nasci para atrapalhar sua vida, ele deve me odiar por isso, eu sou tão inútil, talvez se eu morresse ele seria feliz, pararia com o vício se casaria e teria um filho lindo com sempre sonhou em ter, ele vai ser um pai tão maravilhoso, eu sou um peso desnecessário na sua vida. Eu sou tão idiota que ainda estou aqui atrapalhando sua vida.
Com a visão um pouco embasada por causa das lagrimas eu corro para o banheiro tentando achar a minha lâmina, eu preciso me aliviar, preciso parar de sentir, preciso dormir. Abro o armário do banheiro, tomo uns dois calmantes e pego por fim a minha fiel amiga, entro no Box e ligo o chuveiro, assim o sangue se dilui na água e não fica nenhuma evidencia do que eu fiz.
Começo com alguns cortes superficiais, depois vou passando por cima das feridas que ainda estão se cicatrizando, vejo o sangue começar a sair, e suspiro aliviado. Dói, mas essa dor não é nada comparada com a dor que eu sinto quando vejo o Hoseok de manhã todo sujo e bêbado. Começo a escorregar pela parede até sentar no chão, passo os cortes do meu braço para minhas coxas, fazendo cortes bem profundos, começo a sentir uma tontura habitual do calmante e deixo a lamina de lado, aproveitando a sensação de que tudo vai acabar quando eu dormir, já não consigo mais focar minha visão em nada, meus braços e pernas estão formigando e ainda sinto o sangue sair. Escuto uma voz e passos, porém não consigo identificar nada, estou em um mundo à parte.
Antes que seja tarde demais, eu estou me levantando
Meu coração está tremendo
Me acorde, grite alto
Sim, me acorde
Sinto alguém me chacoalhar, mas eu não reajo, não tenho mais controle do meu corpo, sinto aquele cheiro que eu tanto senti falta, era Hoseok ali, e de novo eu estava o fazendo sofrer. Escuto sua voz bem longe de mim, apesar de estar do meu lado, ele falava desesperadamente, ele gritava.
Juntando novamente
As peças desse jogo de quebra-cabeça
(Me acorde, me acorde)
Agora eu acredito em mim mesmo
-Jimin Jimin Jimin. Fica comigo Jimin, eu te amo tanto irmãozinho, desculpa isso tudo é minha culpa, eu fiz você se machucar, eu te machuco, eu não te mereço, por favor, desculpa. Por que você fez isso? Por que eu machuquei a única pessoa que eu me importo? Por quê? Jiminie, quando você acordar, você vai me perdoar? Vai continuar me amando? Mesmo eu sendo o monstro que fez isso com você? Sabe eu tinha uma coisa para te contar, eu estava esses dias com um grupo de apoio, estava superando meu vício por você, eu até arranjei um emprego para te dar uma vida melhor, então por favor não vai embora, não agora, eu falhei em te proteger, mas eu prometo que mais ninguém vai te machucar. Me perdoa? Aish, sou tão idiota, olha como você está por minha culpa, desculpa – ele por fim beija minha testa.
Perguntas atiradas em mim
Mesmo sem um ponto de interrogação
(Me acorde, me acorde)
Pode-se ouvir de longe o barulho das sirenes de uma ambulância, então ele estava gritando com a emergência, o som vai ficando cada vez mais fraco, até eu não escutar nada, até que por fim escuto um “Jimin” bem baixinho.
A resposta que o mundo quer
É cega para esse desespero
Ter uma voz
(Me libertando)
Mesmo que demore, eu continuo andando
Jogue fora suas preocupações
Na verdade, benefícios são como manteiga
Sim, me acorde
Eu estou libertando meu novo eu, o que?
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