História Instructions Not Included - Capítulo Quatro - Pais e Filhos

.capítulo quatro -

;você me diz que seus pais não te entendem,

mas você não entende seus pais

Nos confins de sua mente, Jungkook ainda guardava suas melhores memórias com o seu pai, antes de falecer. Jeon se agarrava às lembranças cuidadosamente preservadas, com toda a sua força, assim não acabaria fraquejando. Ah, como o dia que seu pai foi diagnosticado com leucemia parecia recente. A família toda parecia ter morrido um pouco, a cada dia que se passou; seu pai se tornava cada vez mais fraco e cansado devido a quimioterapia extensa. Jungkook e sua mãe sabiam que a situação do patriarca não tinha esperança alguma, mas os seus corações não estavam preparados para ver uma pessoa tão amada partir. E sete anos depois, Jungkook apenas sorria triste com um sentimento estranho no peito. Em quantos argumentos com o pai, o Jeon mais novo não citava a mesma frase: “você não entende!”Ah, mas ele entendia, o filho que não entendia os motivos do Jeon mais velho. Mas, o mundo dá voltas, e agora é a vez de Jungkook ser pai.

Tantos arrependimentos vieram com o tempo, tantas coisas não ditas, tantas mágoas não esquecidas. Se ele visse seu pai agora, ele pediria desculpas por todas as coisas feias que lhe disse, toda a grosseria, toda a revolta, e toda dor de cabeça que lhe causou. Ele diria que o amava, e agora entendia que tudo que seu pai fez foi com as melhores intenções, foi por amor ao filho. O jovem aprendeu que o amanhã não lhe é prometido, e que devia amar pessoas queridas todos os dias, mantendo isso em mente. Nada o garantia que ele iria acordar amanhã e encontrar Jinwoo dormindo tranquilo ao seu lado, segurando os seus cabelos, como estava agora. E Jungkook aprendeu isso da pior maneira, junto com a partida de seu pai.

O Jeon respirou fundo, e beijou a testa do filho com carinho, voltando a fechar os olhos e se concentrar a dormir, já era de madrugada.

Do outro lado do apartamento, Jimin abria a porta da frente, e passava pelo corredor trazendo malas consigo. O loiro esperava ficar em um hotel não muito longe dali, quando voltou para Busan ver seu filho, mas achou melhor trazer suas coisas do estabelecimento quando a criança lhe questionou onde ele dormiria. Talvez ficar mais próximo de Jinwoo fosse uma ideia melhor, sem contar que agora não iria querer passar um minuto sequer longe de seu neném.

Jimin olhou ao seu redor, e abriu um sorrisinho ao ver como o apartamento de Jungkook mudou com o passar dos anos, e a chegada de uma criança. A sala era repleta de brinquedos, ele podia ver CDs de filmes infantis na estante ao lado da TV, e ele achou adorável o desenho infantil de Jungkook e Jinwoo na parede próxima ao corredor. O jovem de vinte e seis anos suspirou cansado, e levou suas coisas até o quarto de hóspedes que lhe foi oferecido. Porém, Jimin não pode se impedir de parar de andar e observar a cena no quarto de Jungkook, no caminho ao quarto. Jinwoo tinha adormecido na cama do pai, e Jungkook ficou com dó de devolvê-lo a sua caminha, então decidiu deixar o filho ali mesmo. Agora, Jungkook dormia de barriga para cima, e a criança abraçava o pai com um braço, e o outro estava nos cabelos do mais velho. O corpinho de Jinwoo subia e descia, enquanto o peitoral de Jungkook se movia devido a respiração. Era adorável.

Aquilo trouxe sentimentos agridoces ao Park, que cerrou os olhos e esfregou suas bochechas. Estava genuinamente feliz ao ver como Jungkook cuidava bem da criança, Jinwoo era constantemente mimado e paparicado por Jeon, e mesmo assim a criança não era mesquinha. Sua decisão de deixar Jinwoo foi feita com muita relutância, e no fundo ele temia o que um desmiolado como Jungkook faria. Agora ele podia ver que Jungkook se tornou um pai excelente, e Jinwoo era sortudo por ter alguém como ele. Era evidente como o mais novo amadureceu, desde que o viu da última vez. Mesmo assim, Jimin também se sentia mal, por não ter sido parte da vida de Jinwoo. Bom, não da maneira que gostaria. Ele queria poder dormir com Jinwoo, assim como Jungkook fazia agora, queria o encher de beijos, de mimos, dar broncas, o ensinar milhares de coisas, o amar. Queria ser pai, porque Jungkook parecia tão apaixonado pela paternidade.

Jimin apenas balançou sua cabeça, e voltou ao seu objetivo principal: chegar ao quarto de hóspedes e dormir.

Jimin e Jungkook estavam tendo muitas emoções e pensamentos para uma madrugada só.

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“Viu! Eu disse que meu papai Jimin existia!” Jinwoo se gabou, com um sorrisão enorme. Ele segurava a mão de Jimin com força, e exibia seu belo papai para todos os seus coleguinhas, que agora tinham caras de espanto. Jimin sorriu de canto, apenas reprimindo a raiva que sentiu daquelas crianças. Jungkook o contou sobre os comentários maldosos que Jinwoo tinha que ouvir todos os dias, e o Park se sentiu irado. Quem eram aqueles pestinhas para falarem mal do seu bebê, Jungkook e ainda si? Eles não tinham noção do perigo? Seu olhar mortal cruzou com o assustado das crianças, e riu internamente de suas reações medrosas. Jungkook apenas assistia tudo, ao lado do loiro, tentando segurar sua risada. Ele viu muito bem os olhares de Jimin, e o medo das crianças; Jimin parecia uma mamãe leoa. Ou seria um papai leão? Talvez trazer Jimin para a escola de Jinwoo não tivesse sido uma ideia tão ruim assim. “Ele voltou da Austrália!” Jinwoo disse animado, e pulou no colo de Jimin, rodeando seu pescoço com as mãozinhas. O Park sentiu seu coração se apertar ao ouvir aquilo, quando Jungkook pretendia dizer a verdade? Seu coração ainda doía com a lembrança de Jinwoo mostrando cada uma das cartas que Jimin supostamente o enviou.

“Onde é sua classe, meu amor?” o loiro questionou a criança, que apontou a direção da sua sala com o dedinho.

Jungkook assistiu Jimin ir em direção da sala de Jinwoo, com a criança no colo e sua mochilinha do homem de ferro nas costas. Quando estava prestes a seguir os dois, foi impedido por uma mão em seu ombro, mais uma vez. Aquela mão lhe parecia familiar…

“Senhor Jeon?” a diretora chata, chamou seu nome. Jungkook suspirou, e se virou. A senhora olhava para onde Jimin e Jinwoo estava, com um olhar que dizia “como assim?”.

“Hm, aparentemente Jimin voltou da ida ‘pra pagar o táxi,” Jungkook disse sem graça, e coçou sua nuca. “Acho que o taxista não tinha troco, sabe?”

O olhar reprovador que ganhou da diretora foi o suficiente para fazê-lo engolir em seco.

“Eu tenho que ir, hm, te vejo depois,” Jungkook disse rapidamente, apontou na direção de Jimin, e depois a da saída, de forma atrapalhada. Deu um último sorriso amarelo, e virou o rosto bruscamente, andando em direção de Jimin. “Temos que ir,” disse baixo, mas alto o suficiente para Jinwoo escutar.

“Ah, papai!” a criança disse manhosa, e abriu um bico. Jungkook se aproximou e beijou o biquinho fofo, fazendo cócegas debaixo dos braços do filho.

“Nós voltamos logo, Woo,” Jungkook assegurou a criança, e bagunçou seus cabelos. Jimin se abaixou e beijou o rosto do filho com carinho, antes de se afastar com uma dor no coração.

“Te vejo daqui a pouco, amorzinho,” Jimin disse de maneira carinhosa, e abraçou Woo. Era tão bom ter dois papais! Jinwoo recebia carinho em dobro!

Nos últimos dois dias, Jinwoo não desgrudava de Jimin, o seguindo em qualquer lugar que ele ia. A criança não queria se separar do pai, por mais puro medo de o perder. Jimin já passou tanto tempo longe, e Jinwoo não tinha total certeza se ele iria ficar agora. E se a sua folga das missões acabasse, quando ele uma não estivesse por perto? Jinwoo ficaria tão triste. Porque com o passar dos dias ele apenas amava mais seu papai, e não queria ficar longe dele nem mais um pouquinho.

Jinwoo acenou para os dois papais de forma meio tristinha, antes de virar as costas e entrar em sua sala de aula. Jimin e Jungkook se olharam por alguns segundos, e simplesmente seguiram o caminho de volta para o carro preto de Jungkook, evitando a diretora da escola. Essa era a primeira vez que ficavam sozinhos, desde a noite no terraço, já que Woo não desgrudava de Jimin por um segundo. E o clima não estava nem um pouco agradável.

Jimin se sentou no banco do passageiro ao lado de Jungkook, e suspirou, incomodado com o clima pesado. Jungkook fingiu que não ouviu, e simplesmente fechou o cinto de segurança, ligando o carro. O silêncio extremamente desconfortável entre os dois, se estendeu por longos momentos, e Jimin sentiu vontade de se jogar pela janela do carro.

“Ãn, o que você faz?” Jimin tentou perguntar, de forma esquisita. Jungkook o olhou com uma careta.

“O que?”

“Com o que você trabalha?” Park tentou mais uma vez, fazendo gestos com a mão.

“Para tentar puxar assunto, Park. Eu não gosto de você, não quero conversar com você, e ponto final,” Jungkook respondeu grosso, com uma carranca. Jimin revirou os olhos.

“Eu só não quero esse clima desconfortável entre nós, já que temos o Woo-”

“Jimin, só porque nós temos um filho, não quer dizer que temos que nos tornar um casal,” Jeon resmungou, e juntou as sobrancelhas. “Posso dizer ‘pra ele que nos divorciamos, ou qualquer coisa.”

“Você quer mentir ‘pra ele de novo?” Jimin perguntou, sua voz já estava erguida umas oitavas.

“Não! Eu só não quero que você ache que temos que ter algum tipo de relação, pra cuidarmos do Woo,” Jungkook começou, e pareceu se lembrar sobre algo. “Aliás, nem discutimos isso ainda, porque você voltou? E pretende ficar?”

Jimin suspirou.

“É complicado, tudo que você precisa saber é que eu não tive condições de cuidar do Woo, e você foi tudo que me restou,” Jimin jogou seus cabelos. “Demorou um tempo pra me estabilizar, te localizar, e reunir coragem para voltar,” Park encarou a paisagem do lado de fora do vidro insulfilm do carro de Jungkook. Ele não gostava de se abrir com qualquer um, mas Jimin devia satisfações pra Jungkook, mesmo que estas fossem vagas. “E eu não sei como vamos ajeitar isso, mas eu quero ficar. Eu não quero ficar longe do Jinwoo, nunca mais,” a voz de Jimin saiu confiante, e Jungkook quase suspirou em alívio. Era bom saber que Park Jimin estava convicto do que iria fazer, porque era da vida de Jinwoo que estavam falando, não havia lugar para incertezas.

“Guarda compartilhada?” Jungkook perguntou, com uma sobrancelha arqueada.

“Isso me soa horrível, não quero isso para o Woo,” Jungkook se limitou a concordar. “Jungkook, eu sei que você não gosta nem um pouco de mim, e sei que tem os seus motivos. Mas, eu queria deixar claro que eu não estou aqui ‘pra brincar! Eu não estou falando da boca pra fora, quando eu lhe digo que quero ficar com o Woo, e que não quero mais me distanciar,” Jimin olhou no fundo dos olhos de Jungkook, quando ele parou no farol. “Eu amo ele mais do que tudo,” os olhos do Park já estavam lacrimejando, quando ele abriu seus olhos, e encontrou os de Jungkook mais uma vez. O mais novo suspirou, esfregando sua testa, e batendo a mão no volante do carro.

“Okay,” o moreno respirou fundo. “Quer ir morar lá em casa, então?” as sobrancelhas de Jungkook se arquearam, e Jimin fez uma careta confusa.

“Que?” Jimin proferiu, de lábios torcidos.

“Você quer ficar por perto, certo? Vem morar lá em casa,” Jungkook disse simplista, e avançou o carro quando o farol abriu.

“Mas, você me odeia!”

“Mas, o Woo te ama,” Jungkook suspirou. “Não ficou evidente que eu faço qualquer coisa por ele? Lidar com você não é nada,” debochou, arrancando uma risada do Park.

“Vai ser complicado,” Jimin respirou fundo, já imaginando a dor de cabeça que será se mudar de Seoul de volta para Busan. “Minha vida toda está lá, sem contar o meu trabalho.”

“Com que você trabalha?”

“Achei que não queria puxar conversa, senhor Jeon,” Park Jimin debochou, fazendo Jungkook soltar um resmungo irritado.

“Se você vai ser parte da vida do Woo, vai ter que ser parte da minha também, não é? Eu preciso saber sobre essas coisas,” Jungkook disse de nariz empinado. Jimin riu, e revirou os olhos.

“Foi isso que eu quis dizer antes quando te perguntei sobre o seu trabalho, esperto!” o loiro disse sarcástico, fazendo Jungkook fechar a cara. “Eu sou dançarino, aliás,”  Jimin respondeu pomposo.

“Isso explica as coxas e a bunda,” Jungkook sussurrou para si mesmo.

“O que?”

“NADA!” Jeon respondeu exaltado, tentando disfarçar o embaraço. “Bom, tenho certeza que você pode achar algum trabalho por aqui, sem contar que eu tenho uma boa renda,” Jungkook pigarreou, tentando retomar a postura fria e indiferente.

“Com que você trabalha?” Jimin pareceu curioso.

“Sou um produtor musical,” o moreno respondeu, também pomposo. Jimin riu baixinho, Jungkook parecia um leão exibindo sua juba orgulhosamente.

Ele percebeu que o clima entre os dois, já não era tão desconfortável assim, estavam bem mais leve e descontraído.

“Bom, eu acho melhor voltar para Busan o mais rápido possível, assim posso voltar o quanto antes,” Jimin retomou sua postura cansada, e séria. “Vou ficar mais uma semana por aqui.”

“O que vamos contar para o Woo?”

Jimin queria poder evitar essa pergunta.

“Eu não sei,” respirou fundo. “Eu vou levar algumas semanas para me mudar de Seoul.”

O silêncio pairou entre os dois novamente, Jungkook parecia pensar.

“Contamos para ele que essa será sua última missão, e depois você vai se aposentar,” Jungkook olhou para Jimin, que expressava sentimentos confusos. “Quando você voltar, contamos a ele a verdade.”

Jimin fechou os olhos, parecia ponderar.

“Eu não quero mentir para ele, Jungkook,” os olhos intensos de Jimin o encararam. Jungkook engoliu em seco, Jimin tinha belos olhos.

“Eu também não! Mas, vamos contar a verdade logo, e  quando você estiver fora você pode mandar cartas de verdade,” Jeon sugeriu, vendo Jimin abaixar a cabeça.

“Tudo bem,” sussurrou.

✦

Park Jimin engoliu em seco, sentindo os olhares reprovadores dos três homens a sua frente; eles eram de dar medo. Jungkook o arrastou para uma grande casa, do outro lado da cidade dizendo alguma coisa como “almoço em família”. Jimin admitiu que estava esperando algo um pouco diferente quando visualizou um almoço em família. E isso incluía três caras o olhando feio, assim que pisou na casa. O loiro desviou o olhar para seu filho, que já pulava inquieto ao seu lado.

“Dindo Tae!” Jinwoo gritou animado, e correu para pular no colo do seu padrinho. Taehyung abriu o maior sorriso do mundo, e pegou o afilhado no ar com facilidade, Jinwoo era uma pena.

“Poo! E aí, meu amor?” Taehyung beijou o rostinho de Jinwoo, e o encheu de cócegas, adorando ouvir as risadas da criança. Woo desceu do colo do padrinho com um sorriso gostoso nos lábios, e correu na direção de Seokjin.

“Tio Jin!”

Seokjin se ajoelhou e recebeu a criança em seus braços, com carinho, o enchendo de beijinhos.

“Abraço de Urso!” Jin grunhiu, antes de apertar Jinwoo mais forte, assim ele não iria fugir, e o encher de cócegas. Jinwoo gargalhou e se debateu, falando algo como “eu vou fazer xixi”, mas o tio Jin apenas fingiu que não ouviu. Quando Jin deixou a criança sair do seu abraço de urso, Jinwoo estava levemente tonto, e com pequenas lágrimas no olhos, mas trazia um sorriso gigante.

Jinwoo se afastou do rapaz de cabelos rosados e cambaleou até Namjoon, com uma expressão engraçada no rosto.

“Tio Monie!” Jinwoo abraçou as pernas do Kim, que riu baixinho, levantando a criança nos braços.

“Ah, você chegou!” Namjoon disse de maneira engraçada e encheu o rostinho do Woo de beijos. Jimin sorriu ao ver o carinho que o filho recebia, ele era tão amado! Não é a toa que não sentiu a sua falta até descobrir que ele de fato tinha outro pai.

A razão que os levou a casa de Namjoon e Seokjin é que Jungkook contou para Taehyung sobre a volta de Jimin, pelo telefone alguns dias antes, e o Kim entrou em colapso. Claro, não demorou muito para os dois outros membros da pequena família, descobrirem. Os Kim exigiram uma reunião familiar o mais cedo possível, e Jungkook tinha que admitir que estava curioso com o rumo que tudo iria levar. Tae sozinho já era um babão de primeira, quando o assunto era Jinwoo, agora junte Seokjin e Namjoon e teremos três patetas que irão enfrentar leões famintos pelo toquinho de gente. Aqueles três amavam o pequeno Jeon e não pareciam nem um pouco contentes ao ver Park Jimin, o cara que o abandonou, na sua frente. Jungkook só assistia de longe, com um balde de pipoca na mão, e um sorriso sacana no rosto.

Namjoon devolveu o pequeno ao chão, e Jinwoo voltou sua atenção para o pai Jimin. Andou apressado na sua direção, e pediu colo.

“Papai, o senhor se lembra do Dindo Tae, do Tio Jin e do Tio Monie, não é?” Jinwoo olhou para Jimin com seus grandes olhinhos brilhantes. Jimin engoliu em seco, e abriu um sorriso.

“É claro que sim, Woo,” Park respondeu com um pigarreio.

“Então porque não estão se abraçando? Você não sentiu falta deles?” Jinwoo franziu o cenho, e fez um biquinho. Jimin olhou para Jungkook desesperado, pedindo ajuda com os olhos. Jungkook riu da cara do Park, e sentiu vontade de deixar Jimin se virar sozinho. Mas, foi ele que inventou a mentira sobre as missões, então ele devia ajuda ao Park, mesmo adorando ver Jimin em apuros.

“Seu pai é tímido, meu amor,” Jungkook respondeu sereno, e tomou Jinwoo do colo do Jimin. O loiro suspirou em alívio de maneira discreta, quando Jungkook o salvou. Enquanto isso Taehyung tinha um semblante pensativo. “Quer assistir um filme até o jantar ficar pronto?”

Jinwoo abriu um sorriso, e assentiu com a cabeça freneticamente.

“Eu tenho alguns CDs no meu quarto, Woo, você pode assistir os que estão do lado da TV,” Jin disse de forma carinhosa. Jinwoo assentiu, e desceu do colo do pai, correndo em direção ao quarto do Tio Jin e do Tio Monie.

Assim que a criança deixou a sala, todos os olhos focaram em Park Jimin, que agora tinha as bochechas vermelhas e olhava para baixo. Jungkook se aproximou do loiro com um sorriso de canto, e tocou em seu ombro.

“Vem, deixa eu te apresentar a família,” Jungkook disse com um tom filho da puta. Ele estava adorando aquilo demais. Ele arrastou Jimin até onde os Kim estavam, pelo ombro. “Esse é Kim Taehyung, meu amigo de infância e padrinho do Jinwoo.”

“Ah, prazer,” Jimin disse incerto, estendendo sua mão para Taehyung, que abriu um sorriso um tanto assustador.

“Oh, o prazer é todo meu!” Taehyung disse com tom de deboche, enquanto apertava a mão pequena de Jimin com uma força desnecessária, levando o loirinho a fazer uma careta de dor.

“Ha!” Jungkook tentou segurar seu risinho ao ver a cena a sua frente, mas Jimin ouviu muito bem, e lhe deu um olhar feio. Ah, mas Jungkook ia pagar por isso depois!

“E esse é meu primo Kim Seokjin,” Jeon puxou Jimin até pararem em frente a Jin, que tinha um sorriso doce no rosto. Jimin franziu as sobrancelhas, estranhando o sorriso.

“Olá,” Jimin repetiu o mesmo gesto que fez ao ser apresentado a Taehyung. Jin não respondeu, mas o loiro quase suspirou aliviado quando viu que ele não apertou sua mão com força demais, como Kim Taehyung.

Jungkook puxou o loirinho mais uma vez, para ir em direção de Kim Namjoon, quando Jimin tropeçou no pé que Seokjin estendeu no caminho. Eles estavam judiando do Jimin. Jungkook olhou para o primo, sorrindo de lado.

“E esse é o marido dele, Kim Namjoon.”

Namjoon se afastou de Jimin bem antes dele estender sua mão. O loiro engoliu em seco, fechando o olhos e trazendo sua mão estendida para perto do seu corpo. Jungkook tentou ignorar o fato de que se sentiu mal ao ver Jimin triste pela maneira que estava sendo tratado. Ele merecia, não é?

“Você ainda não contou a verdade ‘pro Woo, Jungkook?” Taehyung perguntou o que estava o incomodando há um tempo. Jungkook olhou para Jimin, e apenas suspirou.

“Não, eu pretendo contar ‘pra ele depois que Jiminse mudar de Seoul,” Jungkook coçou sua cabeça.

“Como assim?” Namjoon questionou, indo em direção ao sofá da sala.

“Eu, hm, vou me mudar para o apartamento do Jungkook,” Jimin disse de maneira baixa, ainda incomodado pelos olhares.

“Vocês estão juntos?” foi a vez de Seokjin se pronunciar, indo em direção de Namjoon. Porque ele fez  soar como se Jungkook estar namorando Jimin fosse um ultraje? Ele só cometeu alguns erros.

“Não! Jimin quer estar próximo do Woo, e não queremos guarda compartilhada, então vamos criá-lo juntos, mas sem compromisso,” Jungkook explanou, e Jimin assentiu com a cabeça, ainda se sentindo ofendido

“Boa sorte,” Taehyung disse sarcástico, e Jimin se sentiu mal. Essa era a punição por ter abandonado seu filho, ele merecia cada olhar feio e maltrato daqueles ao seu redor.

O silêncio desconfortável pairou sob os cinco, e o estômago de Jimin deu um loop. Ele queria ter um lugar para enfiar a cabeça, de vergonha. Aqueles três a sua frente estiveram mais presentes na vida de Woo, do que Jimin esteve…

Jungkook observou Jimin, com um sentimento estranho no peito, talvez os Kim tenham pegado pesado demais com o Park. Jungkook era o único que tinha direito de ficar com raiva de Jimin no fim das contas, não? O Jeon que era o outro pai de Jinwoo, e foi Jungkook que sacrificou sua vida inteira em prol do bem estar do bebê. Os três ajudaram o moreno quando ninguém esteve ao seu lado, mas ele não queria que eles guardassem mágoas. E o loirinho parecia estar mal.

O dia passou como uma tortura para Jimin, que sentiu vontade de chorar de alegria quando Jungkook o chamou para ir embora. Ele esperava poder ser perdoado pelos Kim, um dia. Mas, antes disso, ele queria o perdão de Jinwoo e Jungkook.

Jimin levou Jinwoo adormecido no seu colo até o banco de trás do carro, e o colocou com cuidado na cadeirinha. O pai olhou para o rostinho adormecido do filho, e tirou a sua franja do rosto. A testa de Jinwoo estava toda suada por conta da sua correria, mas Jimin não se importou com esse fato e beijou sua testinha mesmo assim. O loiro fechou a porta do carro, e foi até o banco do passageiro, respirando fundo e fechando seus olhos. Hoje não foi um dia muito bom. Jungkook virou o rosto e fitou Jimin por um tempo, enquanto este ainda tinha os olhos fechados. Ele sentia que devia falar alguma coisa.

“Hm, me desculpe se eles te fizeram desconfortável,” Jungkook disse de forma baixa, chamando a atenção de Jimin, que se virou no banco para poder fitá-lo. “Eu vou, hã, conversar com eles.”

Aquilo não fazia sentindo, na cabeça de Jimin. Jungkook devia ter adorado vê-lo sofrer nas mãos do seus amigos, não ter sentindo empatia por ele! O Jeon odiava o loiro afinal! Jimin olhou para Jungkook com seus olhos brilhantes, de maneira surpresa. Jimin realmente tinha olhos lindos.

“Porque? Achei que me odiasse,” a voz do Park soou como um sussurro, ele falou de forma cuidadosa assim não irritaria o moreno. Jungkook parou para se perguntar a mesma coisa: porque?

“Ódio é uma palavra muito forte, eu não gosto de você,” Jungkook virou sua atenção para frente, sentindo o olhar de Jimin sob si. “E eu sou responsável por te fazer sofrer, não preciso de ajudantes!”

Jungkook não esperou ouvir a risada gostosa de Jimin depois de sua resposta estranha, mas ele ouviu. Aquilo estava começando a ficar irritante, pois acima de tudo, Jimin também tinha uma risada bonitinha. Não é justo! O moreno virou seu rosto mais uma vez, vendo como Jimin levava sua mãozinha para boca enquanto ria. Se Jungkook não achasse tudo tão irritante, iria achar adorável.

“Por que está rindo?” perguntou de forma irritada, vendo que Jimin apenas riu mais um pouco.

“Ai, Jungkook,” Jimin retomou o fôlego. “Você é uma gracinha,” o loiro olhou para Jungkook de forma engraçada, enquanto o outro formava uma expressão indignada.

“Gracinha o teu cu! Eu vou falar com eles nos seus sonhos!”

Porque Jimin não parava de rir?

“Eu sei que é mentira, você vai falar com eles sim,” disse convicto.

“Como pode ter tanta certeza?” Jungkook disse com um bico nos lábios.

“Porque você tem um bom coração, e não é o ser frio que finge ser.”

✦

E lá estavam eles, Jimin, Jungkook e Jinwoo, naquela mesma estação de trem. Jungkook sentiu memórias voltarem à tona, assim colocou os pés naquele lugar, parecia ontem que ele tentou seguir Jimin até Seoul, com Jinwoo suspenso em seu moletom de zíper.  Jeon estava tão desesperado, mal sabia que não ter entrado num trem para Seoul foi a melhor coisa que lhe aconteceu. Agora ele voltava ao mesmo lugar, com Jimin ao seu lado, e Jinwoo no colo teu colo. Eles ainda tinham uma hora antes do embarque, então se sentaram na pequena área de alimentação, aproveitando seus últimos momentos antes de Jimin deixar Busan, para voltar apenas semanas depois. Jinwoo olhou para Jimin com seus olhinhos brilhantes.

“Essa é sua última missão, não é papai?” Jinwoo perguntou hesitante. Ele estava tão triste que o papai Jimin tinha que ir embora, o garotinho achou que ele iria ficar consigo para sempre, agora. Mas, estavam tirando seu papai de si, mais uma vez. Jimin olhou nos olhinhos do filho, seu coração se apertando. Como ele poderia mentir para aquela criaturinha? O loiro levantou seu olhar para Jungkook, que pareceu ter entendido suas intenções no mesmo instante, e negou com a cabeça rapidamente.

“Não ouse-”

“Woo, meu amor, eu nunca fui ‘pra lua,” Jimin começou com um sussurro. Jungkook cerrou os olhos, tocando o ombro direito de Jinwoo. “Eu também nunca conheci o Homem de Ferro,” respirou fundo. “Ou salvei bebês ornitorrincos, eu não faço missões, meu amor,” Jimin ainda não conseguiu olhar para os olhos do filho. “Seu papai te disse isso porque a verdade é que,” seus olhos finalmente se encontraram com os olhinhos de Jinwoo, e seu coração parou por um momento. Como ele olharia nos olhos daquele bebê e diria que o abandonou? Ele entendia o que levou Jungkook a mentir, os olhos de Jinwoo eram… Como ele iria continuar? Jinwoo não merecia isso, mas Jimin começou, teria que ir até o fim. Mesmo que os olhinhos de Jinwoo estivessem brilhando, por conta das pequenas lágrimas que se formavam. “Quando você ainda era um bebêzinho, eu não consegui cuidar de você, e tive que ir embora por um tempo.”

Jinwoo estava chocado, papai Jimin não estava fazendo missões para salvar o mundo? Então onde ele esteve todo esse tempo? Isso quer dizer que, seu pai mentiu para si.

“O papai mentiu para mim?” Jinwoo virou seu rostinho, olhando para Jungkook com seus grandes olhos chorosos. Esse era o seu pior pesadelo.

“Não, não! Ele te disse isso assim-” Jimin tentou intervir. Não era culpa de Jungkook!

“Você nunca se esqueceria dele,” Jungkook cortou o loiro, e o olhou nos olhos. “Assim, você nunca deixaria de o amar, Woo.”

Os dois olharam para o garotinho de olhos grandes, e cheios de lágrimas. Jinwoo estava tão triste.

“Mas, isso já passou, querido,” Jimin se aproximou de Jinwoo, e afagou seu rosto por cima da mesa. “Eu vou ficar com vocês agora, juntinhos!”

“Então porque você está indo embora?” a vozinha do garoto era de partir o coração.

“Porque eu tenho que trazer todas as minhas coisas da minha casa antiga! Eu prometo que volto logo, logo-” Jimin foi interrompido pela voz robótica da estação anunciar o trem para Seoul. Jimin olhou para Jungkook tentando achar algum suporte, mas o moreno apenas se levantou da cadeira, e pegou a mãozinha do Woo.

“É hora de ir,” disse firme. Jungkook não queria demonstrar o quão vulnerável estava. Jimin bateu sua testa contra a mesa, e respirou fundo. Se levantou, e pegou suas malas. Olhou para Jinwoo cabisbaixo ao lado de Jungkook, e tentou segurar sua mão. Seu coração se apertou quando não sentiu Jinwoo apertar sua mão como sempre fazia, mas eles tinham que ir. Os três partiram em silêncio até o portão quatro, e Jimin parou de andar assim que o trem foi visto. O loiro se ajoelhou para ficar da mesma altura de Jinwoo, e respirou fundo. Afagou seu rosto com carinho, ele iria se lembrar do sorriso gostoso do filho quando estivesse desolado em Seoul. Por que ele já parecia sentir saudades do seu bebê?

Jinwoo comprimiu os lábios com força, tentando segurar o choro, mas foi em vão quando ele se jogou nos braços de Jimin.

“Me leva com você por alguns dias,” a vozinha chorosa de Jinwoo foi ouvida em seu ouvido.

“Mas você vai perder a escola, meu amor,” Jimin disse lutando com as suas próprias lágrimas.

“Papai falou que não importa,” Jinwoo se afastou um pouco, mantendo suas mãos ao redor do pescoço de Jimin, de uma maneira que poderia ver o seu rosto. Jimin olhou para Jungkook que ainda não tinha esboçado grandes reações.

“Querido, se eu te levar comigo, seu pai vai ficar sozinho!” Jimin disse seu olhar se alternando entre Jinwoo e Jungkook. Ele afagou o rostinho do bebê, com carinho. Sua bochechas estavam molhadas pelas lágrimas.

“Meu pai vai ficar comigo para sempre, eu só que quero meu papai Jimin por mais um tempinho,” Jinwoo se jogou nos braços de Jimin mais uma vez, chorando alto, e o apertando forte. Jimin sentiu seus olhos arderem, ele entendia porque Jinwoo disse aquilo. Ele tinha medo que Jimin não voltasse, mas ele sabia perfeitamente que Jungkook sempre esteve e sempre estaria ao seu lado. Aquilo partiu seu coração com tanta intensidade. A voz robótica foi ouvida de novo.

“Meu amor, eu te prometo, prometo de mindinho, que eu vou voltar logo!” Jimin afagou as costas de Jinwoo, e o afastou de si por um tempo. Ele beijou suas lágrimas, e seu rostinho inteiro, mostrando o quanto amava seu bebê. “Eu te amo muitão,” sussurrou, abraçando o filho.

“Eu te amo muito muito muito,” Jinwoo disse com sua voz de choro.

“Jimin, é hora de ir,” Jungkook disse finalmente, chamando a atenção do loiro para si.

“Não!” Jinwoo pulou no colo de Jimin, e o mais velho fechou os olhos.

“Eu vou voltar, amor, e vou morar com você para sempre, okay? Mas, para isso eu tenho que ir,” Jimin suspirou. “Eu vou lembrar de você toda vez que ouvir aquela música do amanhã, bebê.”

O pai teve que se afastar do filho, mesmo que sua vontade fosse contrária. Olhou para Jungkook, que pegou o Jinwoo choroso do chão. O loiro se surpreendeu quando Jungkook o chamou mudo com a sua mão, e puxou Jimin para um abraço quando este se aproximou. Jimin apenas sorriu, e deitou sua cabeça contra o peito de Jungkook, e afagava o rosto de Jinwoo ao seu lado.

“Quando voltar, eu quero os meu 10.000 won de volta,”  Jungkook disse brincalhão. Demorou um pouco para Jimin entender, mas quando o fez, riu baixinho.

“Eu te dei o Woo, não te devo nada,” Jimin pegou sua mala, e deixou um beijo na cabeça do Jinwoo, antes de virar as costas com suas lágrimas brilhando nos olhos. E mais uma vez, Jimin estava embarcando em um trem para Seoul, e Jungkook segurava Jinwoo no seu colo, observando de longe.

✦

Jungkook abriu a porta do quarto de Jinwoo cautelosamente. O menino não deixou o lugar desde que voltaram da estação de trem, e Jungkook estava preocupado com o seu bebê. Ele franziu seu cenho quando viu Jinwoo sentado na sua cama, rasgando algo. Se aproximou, e se espantou quando viu que ele estava rasgando as cartas!

“Woo, o que você está fazendo?” Jungkook tentou recolher as cartas, mas Jinwoo tomou-las de si, para depois rasgá-las.

“Mentiroso,” Jinwoo falou baixinho, mas foi o suficiente para Jungkook escutar, e perder o ar dos pulmões.

“O que?”

Jinwoo levantou seus olhos marejados para o pai, e fungou.

“Você mentiu ‘pra mim,” a vozinha do filho parecia tão magoada, que Jungkook se sentiu pesado.

“Porque eu te amo, Jinwoo!” Jungkook tentou trazer o filho para seu colo, mas ele apenas se debateu.

“Você me disse que não pode mentir! Você mentiu ‘pra mim,” chorou, se afastando do pai, e se encolhendo. “Eu não te amo mais!”

Jungkook arregalou os olhos, como Jinwoo pode dizer uma coisa dessas? Ele não entendia que tudo que fez foi por amor, foi para o seu bem? Foi quando Jungkook se lembrou de seus tempos de criança, era o clássico caso do filho achar que tem a razão. Achar que seus pai não lhe entendem, seus pais estão estragando tudo, quando na verdade eles não entendem os pais. Mas, mesmo assim, Jungkook se sentiu verdadeiramente machucado.

O pai apenas se levantou, seu semblante estava livre de sentimentos. Jungkook se afastou de Jinwoo e  virou as costas para ele, pronto para sair do quarto. Se virou mais uma vez, encontrando o filho com a cabeça entre os joelhos, chorando copiosamente. Ele suspirou. Jungkook não se importava que o filho estivesse bravo consigo, e tivesse dito coisas horríveis, seu amor era incondicional, não mudaria por nada, e por essa razão ele se deitou ao lado filho na cama, e o rodeou com seus braços.

Eles já sentiam falta de Park Jimin.

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