Fugir. Ato de escapar (-se), desviar (-se) precipitadamente de (perigo, pessoa ou algo ameaçador, desagradável ou tentador). Era exatamente isso o que ele era: Algo desagradável e tentador. Não olhe para trás, eles disseram na minha cabeça e eu apenas obedeci. Estava frio, eu sentia isso, mas o movimento instintivo de sobrevivência me mantinha aquecida ao mesmo tempo em que meu pulmão clamava por oxigênio.
– VAMOS, VOCÊ CONSEGUE! – gritou o garoto que mal aparecia diante de tanta névoa, apenas segui sua voz. Senti o terreno mais duro, com certeza não estávamos próximos à floresta.
– EU NÃO CONSIGO! – gritei desesperada e senti meu corpo colidir com o chão gélido – DROGA, POR FAVOR, ME AJUDE! – o chamei, temendo que os sentinelas nos alcançassem, e logo senti suas mãos em minha cintura, me ajudando a continuar.
– Não temos muito tempo, Maree. – disse o menino com um olhar aterrorizado enquanto me puxava para continuar, mas eu sabia que não iria adiantar.
– Por favor, pare. – pedi em vão, já que minha voz não era tão audível mesmo em tamanho silêncio da floresta – MATTHEW! – gritei e afastei sua mão de meu braço, o assustando.
– O que está fazendo? – perguntou confuso e eu balancei a cabeça assentindo fraco.
– Não vai adiantar fugir, garoto. Eles sempre nos acham, não importa onde.
– Ei, ei, ei! – segurou meu rosto, me fazendo encarar seu par de olhos castanhos sob a lua – Estamos juntos nessa, ok? – falou sorrindo e eu me aproximei para beijá-lo, mas me afastei assim que ouvi os passos mais fortes oriundos da escuridão da mata.
– Fuja. – ordenei e ele me encarou sem entender – Eles estão atrás de mim, não de você. – ele riu sem humor.
– Você só pode estar de brincadeira.
– Nunca falei tão sério em toda minha vida. – falei firmemente e o mesmo tentou se aproximar de novo – Vá embora antes que eles te achem Matthew. Não podemos nos render assim.
Os barulhos ficaram mais altos. Eles estavam perto.
– Eu quero que saiba que eu nunca vou esquecer você, Maree. – disse olhando em meus olhos.
– Todos os dias nós nos esquecemos disso tudo, garoto. Não sabemos de onde viemos, nem de onde nos conhecemos, nem porque nos conhecemos. – os barulhos de passos, as luzes das lanternas eram visíveis através dos galhos e nas partículas de neve nos mesmos.
– Prometa que não irá me esquecer. – falou com lágrimas nos olhos.
– Matthew... – falei impaciente. Outros galhos quebrados, eles estavam a menos de 1 km.
– PROMETA! – gritou em lágrimas e eu o encarei com o coração partido.
– Eu não posso prometer isso. – contive o choro. A luz chegou a minha pele, e era oficial, eles já tinham me visto – MATTHEW, AGORA! – o empurrei para longe e o mesmo correu contra sua vontade.
Virei-me para a direção das luzes com certo medo. Olhei para o relógio, mas o mesmo marcava 23h58min. Apenas dois minutos para tudo acabar.
O barulho de folhas secas cessaram e luzes bateram direto em meus olhos, me fazendo colocar a mão sob os mesmos diante de tamanha luz e desconforto.
– Abaixem as armas! – gritou uma silhueta de um homem alto e aparentemente forte, não pode concluir direito, já que as luzes ainda me cegavam.
– Não chegue perto de mim! – ordenei e o mesmo parou de caminhar em minha direção, apenas se movimentando de maneira calma.
– Calma menina, estamos do mesmo lado. – disse a sombra de voz grossa e uma sensação estranha tomou conta do meu corpo, eu já havia escutado essa voz antes.
– Quem são vocês?! – perguntei nervosa, tremendo para falar a verdade.
– Somos amigos, apenas isso... – disse e se aproximou mais, e seu movimento me fez sacar a arma presente em minhas costas – Opa, opa garotinha! – deu uma risada e levantou sua mão – Você não pode fazer isso.
– Dê mais um passo e eu te mostro que posso. – falei mantendo a calma na voz, mas era perceptível o meu nervosismo e medo.
– Não garota, você não pode e não vai... – se aproximou mais e eu olhei para o relógio: Apenas dez segundos.
– E eu posso saber o porquê dessa convicção toda? – o enrolei.
– Porque você precisa de mim, garota – suspirou ainda tenso com a minha mira em sua testa – E nós precisamos de você, Mareena. – Como ele sabia meu nome?
Foi a última coisa que eu pensei antes de encarar o relógio. Seis, cinco, quatro...
– Eu acho que não vai ser dessa vez. – apontei a arma repentinamente para o meu peito, na direção do coração.
Três, dois...
– NÃO MAREENA! – gritou o homem correndo em minha direção.
– Um. – murmurei para mim mesma e apertei o gatilho.
– Mareena? – acordei num só pulo respirando forte, meus pulmões estavam desprovidos de ar, como se eu tivesse acabado de correr uma maratona ou feito uma competição de fôlego na piscina – Você está bem? – perguntou Alyee, minha irmã mais velha e eu assenti ainda assustada.
– Estou sim, Aylee... – me sentei na cama e esfreguei meus olhos. Estava suando frio.
– Você sonhou de novo com aquilo? – perguntou preocupada e se sentou ao meu lado na cama com os pés cruzados em posição de índio.
– Sim. – respondi desanimada – Eu não aguento mais isso, Aylee. Eu vejo o sorriso desse garoto, sempre estamos fugindo, mas quando tudo parece estar certo, os homens ruins aparecem e nos perseguem... – passei a mão em meus cabelos com raiva. – Por que eu sonho com isso?
– Eu não sei Maree. – sorriu de lado na tentativa de me acalmar, mas era perceptível o seu olhar de pena. Eu não quero que ela sinta pena de mim. – Talvez seja porque você sinta falta do Alex e...
– Não! – a interrompi – Não fale o nome dele, por favor... – senti o choro aparecer, mas fiz de tudo para não demonstrar.
– Me desculpe Maree, eu não queria fazer isso. – me abraçou e eu apenas retribui, ela me passava conforto. – Não fica assim, tá? Ele está em um lugar melhor agora.
– Mas eu não estou com ele... – respondi com certo ódio, me sentia culpada tudo aquilo que aconteceu naquela noite. – Por que eu sempre machuco as pessoas?
– Você não tem culpa, Mareena! – tentou me tranquilizar, mas nada mudaria o fato que eu me odiava cada vez mais por isso.
Era difícil para uma garota de 15 anos perder o melhor amigo que conhecera desde seus 2 anos de idade.
– Eu o amava... – falei entredentes.
– Eu sei que sim... – afogou meus cabelos ruivos e eu suspirei forte – Agora tenta dormir, tá? Amanhã será um grande de dia para mim e eu quero que você esteja radiante naquele vestido de madrinha que eu mandei fazer para você! – eu sorri ao escutar aquilo.
– Você vai me esquecer quando se casar com o Mark, não vai?
– Claro que não, menina! Pelo amor de Deus! – começou a rir, arrancando uma risada minha também. – Eu prometo que não te deixarei nunca. – tirou uma mecha do meu rosto e eu sorri fraco.
– Espero que sua promessa seja cumprida... – disse e logo deitei, e a mesma fez questão de me abraçar e logo adormeceu, porém, ao contrário da Aylee, eu não havia conseguido dormir aquela noite. Não pelo medo de sonhar com aquele garoto misterioso, ou com a terrível cena de ver o meu melhor amigo sendo levado em um saco preto.
Mas sim, com um medo que ter que presenciar mais uma promessa sendo quebrada. ‘’Eu prometo que não te deixarei nunca’’. Essas eram as exatas palavras que o Alex me dizia todos os dias quando nos víamos.
E olha o que aconteceu...
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