Cena 01 – Casa de Praia – Quarto – Dia.
Marcos estava debaixo do chuveiro quente, ele agora parecia mais relaxado. Selma ainda vestida de noiva. Estava sentada na cama e com o pensamento nas nuvens.
- Eu não estou acreditando, será mesmo que tudo isso é um sonho? – Ela perguntou para si mesma.
- Amor, vem... A água está tão boa e eu preciso de você! - Gritou Marcos do banho.
- Só mais um minuto! – Respondeu Selma. – Eu ainda preciso acordar desse sonho... Desse sonho tão maravilhoso... Eu sou a mulher mais feliz desse mundo! – Ela suspirou e o telefone tocou.
- Alô? – Perguntou Selma. Era possível ouvir o barulho da água caindo do chuveiro. – Quem é? – Continuou questionando.
- Você está correndo perigo! – Disse uma voz rouca do outro lado da linha. – Você está correndo perigo e vai morrer! - Continuou.
- Que brincadeira é essa? Eu vou chamar a polícia se não parar de me ligar e como soube que este é o meu número? – Interrogou Selma amedrontada.
- Eu avisei, mas se quiser olhar com os seus próprios olhos, abra a última gaveta... Lembrando que é preciso ter bastante cautela caso queira viver! – Continuou a voz rouca e desligou.
- Meu deus! – Disse Selma trêmula – Isso nunca vai parar, eu correndo perigo? – Em flash de memória, ela se lembrou dos avisos em bilhetes e últimas ligações anônimas, o pesadelo não havia acabado. – Ele disse na gaveta, que gaveta? – Ela procurou nervosa em todo o quarto enquanto Marcos ainda estava no banho. – Última gaveta! – Disse um pouco ofegante. – Ela abriu e encontrou uma arma. – Não! – De imediato obteve a certeza de que a ligação anônima disse a verdade, ao menos a verdade em que ela podia acreditar.
- Meu amor, eu estou esperando, você não vem? – Perguntou Marcos ainda no banho.
Selma pegou a arma, seus olhos se encheram de lágrimas, coçou rapidamente sua cabeça devido ao nervosismo. – Já estou indo, meu amor! – Ela respondeu quase revelando seu choro. Ainda segurava a arma que encontrara na gaveta na qual foi informada numa ligação anônima. Marcos esperava a esposa ainda no banheiro, mas o chuveiro havia sido desligado.
- Então, era tudo mentira... Era tudo mentira! – Ela disse repetidamente desesperada.
Cena 02 - Casa de Praia - Dia.
Marcos saiu do banho e não encontrou a esposa no quarto.
- Selma, cadê você? – Ele saiu procurando pelos cômodos da casa e nada encontrou. – Meu amor, onde você está?
Selma entrou no carro estacionado na garagem do lado de fora e bateu à porta, suas lágrimas borraram sua maquiagem e foi inevitável o estrago. Ela tentou enxugar com o punho fazendo com que o borrão preto em seu rosto aumentasse.
- Cretino, pensou que iria me enganar, mas não conseguiu, eu descobri há tempo... Eu deveria voltar lá e acabar de vez com a vida dele. – Ela continuou muito nervosa e saiu com o carro em alta velocidade.
Marcos ouviu o barulho do carro e quando saiu da casa a esposa não estava mais.
- Onde será que ela foi? – Perguntou preocupado.
Selma dirigia o carro na velocidade máxima permitida, ela havia colocado a arma no outro banco e fitava o rosto borrado pelo retrovisor.
- Eu vou acabar com a sua vida, eu vou acabar com a sua vida... Marcos!
O telefone tocou, ela fitou o aparelho no mesmo instante e percebeu que se tratava de Lauro, ela ignorou e continuou a olhar para a estrada onde havia uma curva imensa a percorrer. - Se pensam que vão ficar com o meu dinheiro, estão enganados, sou mais esperta que eles! Como eu não percebi? Meu deus, como pude ser tão tola? Eu mesma fornecendo armas aos inimigos. - Ela riu de sua possível estupidez. - Você me paga, Marcos!
Ela pisou no freio quando olhou o abismo se aproximar, olhou pelo retrovisor outro carro se aproximando, sentiu-se um impacto, não havia como escapar, o carro caiu precipício abaixo e poucos segundos depois houve uma explosão. Saiu um homem do carro de trás, bateu a porta e se aproximou do local do acidente, era Álvaro. Ele observou por algum tempo o carro pegando fogo e em seguida tirou o celular do bolso e discou um número.
- Nota de falecimento em primeira mão! - Ele sorri e desliga. - Não me custou tanto trabalho, obrigado Selma!
O motorista voltou para o carro e acelerou partindo para longe dali.
Cena 03 - Horas depois - Mansão de Selma - Tarde.
Vera desceu as escadas atordoada com os gritos da empregada Segunda, a moça segurava o telefone, bastante aflita.
- Que gritaria toda é essa, Segunda-Feira? - Perguntou preocupada.
- Não é nada bom, uma notícia muito triste! - Disse a empregada.
- Que? - Tomou o telefone. - Como assim? Diga-me que é um engano, não pode ser, minha menina! - O telefone caiu de suas mãos e ela caiu desmaiada sobre o sofá.
- Dona Vera! Dona Vera, acorde! Não morra, por favor! - Disse a empregada desesperada. - Eu tenho medo de fantasmas e não morra também!
Álvaro entrou na sala e viu toda a cena, ele se aproximou de Segunda e verificou o estado de Vera que estava despertando aos poucos.
- O que está acontecendo? - Perguntou o rapaz.
- Encontraram o carro da Dona Selma, ele caiu em um enorme precipício e as esperanças que ela esteja viva é nenhumazinha! - Disse a empregada.
- Minha cabeça! - Reclamou Vera. - Eu não estou acreditando nisso, minha menina não pode estar morta! - Lamentou a governanta.
- A Dona Selma? Morta? - Continuou o rapaz fazendo perguntas.
Vera levantou do sofá e olhou rapidamente pela janela, ela encarou os dois empregados na sala, não conseguiu esconder seu choro.
- Alguém ligou para o Marcos? Eu preciso falar com o Marcos! - Disse Vera.
Cena 04 - Casa de Diana - Sala - Tarde.
Diana estava segurando o telefone, parecia preocupada e percorria a sala completamente inquieta. Daniel apareceu e percebeu o comportamento estranho de sua mãe.
- O que houve? Está estranha e segurando esse telefone como se estivesse esperando alguém ligar.
Diana colocou o aparelho no lugar e abraçou o filho.
- Estou preocupada, meu querido! - Respondeu com uma voz mais suave.
- Preocupada com o que? O que está acontecendo, mãe? Conte-me tudo! - Exigiu Daniel.
Ela deu as costas para o filho e respirou fundo.
- Estou preocupada com o seu tio, o Marcos... Eu sei que deveria estar arrasada, não tinha tanta proximidade com a Selma, claro que não desejei a morte dela, eu só queria que o meu amado irmão fosse feliz, ele casou com essa mulher acreditando que seria feliz e agora acontece essa tragédia. - Disse Diana.
- A Selma? - Perguntou Daniel.
- Sim, a Selma está morta e não me pergunte como foi, sei pouco do que aconteceu, quero saber como o Marcos está neste momento!
Cena 05 - Delegacia - Tarde.
Marcos aguardava sentado numa antessala até um policial chamá-lo, então o rapaz entrou na sala do delegado, ficando frente a frente com o próprio.
- Meus sentimentos, rapaz! Confesso que estou um pouco intrigado, um acidente assim... Acontecendo desse jeito, o casal acabaram de se casar. - Comentou o delegado.
- Eu não sei como aconteceu... Eu não estou acreditando ainda que isso aconteceu, a Selma não pode estar morta! - Disse Marcos sem esperanças.
- Preciso de todos os detalhes, preciso que me conte tudo e não deixe passar nenhum fio da meada! - Aconselhou o delegado.
- O que precisa? - Perguntou Marcos.
- Vocês saíram da festa de casamento, foram à casa de praia e é estranho porque logo a Selma pegou o carro. Ela saiu em plena lua-de-mel, vocês chegaram a discutir? - Perguntou o delegado.
- Não, não brigamos em nenhum momento, estávamos cansados até, a viagem durante a estrada é um pouco cansativa e passamos a noite na festa. - Comentou Marcos.
- Soube que a Selma, bem... Ela tinha um comportamento instável, não notou nada diferente antes de ela sair com o carro? - Continuou o delegado.
- Não, não notei nada diferente, ela estava feliz e chegamos bem. Como eu disse antes, estávamos cansados e tudo que planejamos fazer naquele momento, era tomar um banho e dormir um pouco. Eu fui primeiro, ela ficou um pouco para retirar o vestido e me acompanhar.
- E ela não foi, entendo! - Complementou o policial. - Um comportamento estranho, o que fez a Selma não entrar no banho... Será que ela recebeu algum telefonema? Ou ela esqueceu alguma coisa?
- Isso eu não posso responder, eu a esperava e quando percebi... Não havia mais tempo, ela saiu com o carro! - Disse Marcos.
- Tudo bem, creio que já disse tudo que podia, pode ir... Eu comunico qualquer novidade sobre a investigação! - Disse o delegado.
- Obrigado! - Respondeu Marcos.
O recém-viúvo saiu e o delegado encarou o colega policial ao lado.
- Muito estranho, sinceramente... Eles acabaram de se casar, ela saiu no meio da lua-de-mel, devia ter uma razão e eu mesmo irei descobrir. - Disse o delegado.
Cena 06 - Rua - Tarde.
Marcos saiu da delegacia, sua aparência acabada revelara um dia difícil, seu cabelo estava bagunçado e os olhos inchados por causa das lágrimas derramadas. Letícia abrius os braços, ela estava o esperando e o abraçou com cuidado.
- Eu sinto muito, meus sentimentos! - Disse a secretária tentando confortar o rapaz.
- Eu não estou acreditando, Letícia! Como isso foi acontecer? A Selma não podia ter saído daquele jeito, o que ela fez com sua própria vida? Eu a amava. - Disse Marcos aos prantos.
Letícia enxugou as lágrimas do rapaz com um dos dedos delicados e fez um gesto para que o mesmo entrasse no carro.
- Tem que ser muito forte nessa hora, entendo a sua dor, por favor, entre! - Marcos entrou e Letícia fechou a porta.
Ela entrou pelo outro lado e segurou a mão do patrão.
- Estou desolado! - Lamentou Marcos.
- Descanse um pouco, não posso pedir para que não chore, desabafe o que precisar, eu estarei aqui do seu lado, mas tente descansar. - Disse Letícia.
Cena 07 - Cemitério - Dia.
Marcos vestia seu luto pela noiva, carregava com ele um buquê de rosas e deixou sob a lápide de sua esposa, Selma Monteiro. As pessoas já se despediam do local onde houve o velório, Letícia espera o rapaz de longe.
- E o que será da minha vida agora? Você não deveria ter me deixado Selma! - Disse Marcos.
Diana se aproximou do irmão usando um vestido preto e colocou sua mão no ombro do rapaz.
- Marcos, temos que ir! - Disse ela.
- Eu não posso ir, eu não quero ir! - Disse o rapaz.
- Meu irmão, eu sei que a dor que está sentindo nesse seu coração é enorme, eu sei que amava muito a sua esposa, ela está em um bom lugar agora, se isto lhe conforta, mas não pode ficar aqui, você já se despediu. - Continuou Diana.
Everybody's Change da Banda Keane tocava ao fundo. Letícia se aproximou e olhou para Diana.
- Não se preocupe, eu fico com ele! - Disse a secretária.
Diana assentiu e foi embora após beijar o rosto do irmão. Letícia ficou um pouco atrás do viúvo e encarou a lápide sob a grama.
- Obrigado por estar ao meu lado! - Disse Marcos à secretária.
Cena 08 - Cemitério - Dia.
Diana saiu do local e encontrou Vera do lado de fora. Rubens também a esperava, ela se aproximou da governanta.
- O Marcos quis ficar mais um pouco, eu estou indo agora! - Disse Diana.
- Tudo bem, eu ficarei mais um pouco e espero pelo Marcos. - Respondeu Vera.
- Vamos, Diana! Eu não suporto este lugar, odeio mesmo! - Disse Rubens.
Diana encarou o marido e entrou no carro.
- Um dia você vai vir para cá, não há como escapar... Rubens!
- Eu serei cremado e vou ordenar que joguem as cinzas no mar! Uma pena o corpo da Selma ter virado cinzas em um barranco. - Disse com sarcasmo.
- Não deveria brincar com essas coisas! - Recriminou Diana.
- Não estou brincando, estou sendo sincero! - Respondeu Rubens.
Cena 09 - Casa de Maria - Sala.
Penélope chegou e percebeu uma música agitada vindo do quarto de sua amiga. Ela se aproximou e abriu a porta flagrando Maria bebendo de uma taça de vinha e usando um vestido vermelho.
- Maria? O que significa isso? - Perguntou chocada com o que encontrara.
- Estou comemorando, quer um pouco? Mas só um pouco, este vinho está nas últimas e guardei para usar no melhor momento. - Disse Maria um pouco alegre.
- A sua filha morreu e você está se divertindo? - Continuou Penélope.
- Ela morreu... Não eu! Já estava na hora mesmo, viva eu não ganhava nada mesmo e agora morta, eu serei a única herdeira! - Disse Maria.
- O que? Eu não estou acreditando no que está dizendo! - Questionou Penélope.
- Eu mesma irei provar que sou a mãe biológica da Selma e que tenho todos os direitos de receber a fortuna dela.
- Sinto muito, mas a Selma acabou de se casar e o marido dela que vai herdar toda a fortuna!
- Não se eu puder evitar, eu vou acusá-lo, com certeza ele matou a pobre da minha filha! - Disse tomando o resto do vinho.
- Eu não sei o que ainda estou fazendo, como pude ser sua amiga? - Perguntou Penélope.
- Você não tem onde cair morta, minha querida! - Debochou Maria.
- Tudo bem, estou saindo! - Disse Penélope fechando a porta com força.
Cena 10 - Uma semana depois - Rua - Noite.
Já é noite e Álvaro desce de um táxi após estacionar na porta de um condomínio, o rapaz paga a viagem e se dirige a portaria. O porteiro olhou uma vez para o homem e logo em seguida lhe entregou uma chave.
- Já está tu... Tudo certo! - Gaguejou o funcionário.
- Obrigado! - Disse gentilmente com um enorme sorriso.
Álvaro riu e tomou a chave de suas mãos, entrando em direção ao estacionamento que levara ao elevador. O porteiro continuava observando o estranho em seu trajeto com olhos arregalados.
- Como você consegue ser tão lindo? - Pergunto a se mesmo diante do espelho do elevador.
Ele saiu de lá assim que chegou à cobertura, o celular tocou em seguida e tirou do bolso rapidamente. - Acabei de chegar, não demore! - Desligou e abriu a porta do apartamento.
- Eu não estou acreditando nisso, eu sai daquele cafofo e agora sou o cara da cobertura, tudo bem que isso ainda é pouco do que tenho para conseguir, a vida boa só está começando... Álvaro, Álvaro! - Ele se jogou no sofá e deixou os pés para a cima. - Vida de pobre nunca mais!!
A campainha tocou em seguido e ele levantou-se apressado para abrir a porta.
- Eu pensei que fosse criar raízes aqui te esperando, mas agora que você chegou, eu quero é fazer outra coisa!
Continua...
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