Estava em um quarto escuro e gelado, no qual se via apenas uma brecha de luz da lua vinda de uma pequena janela que se encontrava há alguns centímetros de si. Levantou-se em passos sorrateiros e olhou o que havia lá fora: apenas árvores, vento, nuvens, e uma enorme fonte de água com o que parecia um anjo e um demônio esculpidos, travando uma batalha milenar. Confusa, dirigiu-se novamente ao quarto, notando que agora seus olhos pareciam ter se acostumado com a escuridão e este parecia bem mais claro, onde se podia ver uma pequena cama, um criado mudo, um tapete e uma porta, apenas.
Assim que seus olhos pousaram na porta, esta começou a se abrir vagarosamente. Assustada, a menina se moveu para trás até se chocar contra a parede, com os lábios entreabertos e os olhos arregalados esperando o que viria a seguir. Queria pensar no porquê de estar ali, mas por algum motivo não importava nem um pouco, apenas sentia as sensações de desespero e medo se apossarem de seu corpo.
Quando a entrada abriu-se completamente, uma silhueta grande e masculina se tornara possível de visar, carregando olhos verdes que brilhavam como a lua, porém num tom de esmeralda. Era quase impossível observar os traços de seu rosto, apenas os olhos estavam visíveis naquele momento. Por algum motivo, um alívio absoluto atingiu seu corpo e uma estranha vontade de se jogar aos braços daquela pessoa nasceu dentro de si.
“Eu o queria para mim. Eu o queria completamente para mim. Eu queria que ali, naquele momento, ele me jogasse contra a cama e me fizesse urrar de prazer como sempre fazia. Mas ao mesmo tempo eu queria seus abraços, seus gestos de carinho, seus sorrisos. Eu não entendia exatamente o que eu queria, mas queria agora.”
Sentindo uma afecção cada vez mais forte em seu peito a medida de que a pessoa se aproximava, a menina cerrou os olhos e envolveu-se em seus próprios braços. Não o conhecia, não fazia ideia de quem aquela pessoa era, mas era tão familiar... Seus sentimentos por ele eram tão absurdamente fortes que estava a ponto de derrubar-se em lágrimas, mesmo sem saber o motivo.
No momento em que sentiu mãos geladas e ásperas tocarem seu corpo, ouviu-se um despertador soar. Em um segundo, acordou em sua cama, numa pequena casa no interior do Kansas. Sentou-se e passou as pequenas mãos com esmaltes azuis escuros pela testa suada, retirando fiapos de seus cabelos negros que ficaram grudados ali. Ofegante, levantou-se se perguntando que diabos de sonho maluco havia sido aquele, e por que sensações tão verdadeiras tinham a invadido: nunca tivera um sonho lúcido.
A parte ruim era que isso não era a única coisa estranha que estava acontecendo. Enquanto fora tomar banho, a água ficava fria e quente várias vezes, assim como as luzes piscavam incessantemente. Teve de se esforçar para concentrar-se em não chegar atrasada na escola e, conforme o tempo passou, todas as lembranças daquele sonho simplesmente desapareceram de sua mente.
“E bem, eu acho que é aqui que começa o meu testemunho: Na parte de minha vida onde eu ainda era normal, fazia coisas normais e achava normalidades em tudo. É, eu era normal.”
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