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História [Jikook em] — Além da dor. ||DARKFIC|| - Fantasmas e marcas.


Escrita por: Dimin-ssi

Notas do Autor


~Boa leitura!

Capítulo 7 - Fantasmas e marcas.


Fanfic / Fanfiction [Jikook em] — Além da dor. ||DARKFIC|| - Fantasmas e marcas.

 

~Bilhete.

“Eu sei que podes me ouvir. Sei que podes me sentir..., porém não pode me tocar. Não pode me olhar. O amor tem disso: de muitas vezes passar despercebido diante um coração lastimado, mas isso não torna o sentimento falso; ele suporta mesmo não podendo ser explanado, recebido ou dado. É um tanto triste viver assim, eu sei, mas tenho esperanças de que existe outra vida além dessa para nós. Outras oportunidades... E eu prometo aproveitar cada uma delas como se fosse a última vez. Eu sinto muito, meu pequeno, existem coisas que fogem da nossa compreensão enquanto habitamos esse corpo cárneo. Eu te juro recuperar nossos abraços, nossos beijos e nossas promessas. Eu vou resgatar nossas almas e reviver nossa linda história. A única certeza que possuo nessa vida é de que eu não posso, nem consigo deixar de te amar. Não enquanto meu coração continuar a bater.”

 

Despertar e pensar que toda experiência vivida durante a madrugada pudesse ter sido um conjunto de pensamentos e anseios que unidos transformaram-se em um deleitoso sonho. Correto? Errado. Nada fora uma fantasia. Tenho em mãos um pedaço de papel — muito bem reconhecido por se tratar duma das folhas do meu caderno novo — que está preenchido por palavras bonitas, mas de procedência duvidosa. Eu deveria estar com medo? Sim, contudo não estou. O que de pior poderia me acontecer?! Ser iludido por um fantasma é tão normal.

A verdade é que a minha ficha ainda não caiu. Preciso de mais injeções de ânimo/autoestima para poder desacreditar que isso não passou de um ataque psicótico, onde eu crio uma história em minha cabeça narrada e formada por ilusões; onde eu mesmo arranco uma folha para escrever para minha própria pessoa, com uma letra totalmente garranchada, mas de fácil entendimento para que quando eu acordasse tivesse a sensação única de sentir-me bem e amado. Não sei se deu certo, por hora é melhor esquecer.

Ainda de joelhos sobre o chão, procuro pelo meu caderno tateando o lençol. Quando encontro o folheio na intenção de encontrar a carta escrita para Hoseok. Folheio duas, três...seis vezes, mas nada. Nada. Alguém — esse alguém fantasmagórico — a arrancou do meu caderno. Bufo e me pergunto repetidamente o que diabos estaria acontecendo.

— Jimin, vamos para a cozinha. Seu café está pronto. — Hiuka aparece no cômodo e me tira dos meus pensamentos. Sempre tomo café com uma hora de antecedência para não encontrar com appa e meus irmãos. Para eles minha presença na mesa é um afronte e motivo de repulsa. Tudo bem, já entendi que não posso ter uma família normal e o jeito é aceitar, já que não posso mudar minhas escolhas, nem fugir com omma — não no momento —.

Caminho junto da empregada — é estranho chamá-la assim, pois Hiuka é parte da família que escolhi, que tenho de coração — até a mesa que me esperava com café passado e pão doce. Confesso que a fome sumiu enquanto me perdia novamente em meus devaneios sobre a noite que passou.

— Não vai comer? — a mais velha me indaga percebendo minha desatenção.

— Hiuka, você notou algum movimento estranho essa noite?

— Está querendo dizer que ladrões estão rondando a casa? — diz sentando-se ao meu lado e pondo uma de suas mãos sobre a boca.

— Não... eu senti a presença de algo, logo atrás de mim... enquanto eu dormia. — digo percebendo o quão irreais eram minhas palavras entendendo a situação do local onde vivo. Se fosse um dos homens dessa morada eu com certeza teria acordado com uma nova marca em meu corpo. Uma marca que de modo algum passaria despercebida.

— Não foi um sonho? — era de se esperar que se eu contasse isso a alguém não me dariam créditos. Decidi não dar continuidade no assunto e trato de comer. — Ah, Jimin, vou a feira daqui a pouco. Tem algo que queira entregar a seu amigo?

— Hoje não. Mas se puder gostaria que fosse até a casa dele e o avisasse que em breve darei um jeito de vê-lo. — eu sei que até ontem eu não podia com a ideia de sair dessa casa para ver Hoseok, a não ser que eu fosse embora de vez daqui. Acordei com uma motivação que eu desconhecia a tempos. Eu queria ver Hope, eu vou o ver. 

— Que maravilhoso ouvir isso, e se precisar da minha ajuda saiba que terá toda. 

— Eu sei que sim, por isso você é minha mãe de coração.

Ouço barulhos anunciando o movimento nos quartos. Me levanto apressado e agradeço Hiuka pela refeição antes de me retirar. Caminhando em direção ao meu canto noto a figura de Jungkook se aproximando de mim. Apesar da minha preocupação após o episódio da cozinha, eu não tenho como simplesmente ficar feliz por sua presença e o perguntar se está tudo bem, se algo dói ou se precisa de mim para qualquer coisa, tipo desabafar. Eu sei que dentro daquele corpo existem questões que ele não pode resolver sozinho. Quando permito que meus olhos acertem seu rosto, vejo marcas fundas em seus olhos, estas pareciam ser causadas por socos e olheiras. Sua boca revelava um corte quando o moreno me direcionou um sorriso nada amigável. Antes que eu pudesse retirar meus olhos de si e me afastar, sua mão agarrou firmemente a minha. Num impulso involuntário tento quebrar o contato, e após suas palavras percebo que eu não deveria ter feito isso. Não deveria, de forma alguma.

— Vamos até o meu quarto. Vou te ensinar a tratar melhor o seu irmão mais velho. — Jungkook disse com seus olhos cravados aos meus. Eu já sentia meus dedos formigarem tamanha força que o maior depositava em minha mão.

— Me perdoa, hyung! — meus olhos estão úmidos e minha voz falha um pouco. Eu não queria ir até o quarto dele, pois sei que nada de bom acontecerá lá.

— Tarde demais. — o moreno me puxa forte em direção ao cômodo. Minhas pernas tremem a ponto de perder a noção do chão abaixo de mim. Acabo por tropeçar e Jungkook me repreende com o olhar.

Sinto meu corpo chocar-se contra a parede assim que entramos no quarto. Logo o ardor em minha perna se faz presente após Jungkook a golpear com seu joelho. Meu corpo escorrega pela parede e caio no chão gelado; permito permanecer assim enquanto aguardo temeroso as próximas ações do mais velho.

— Você acha que a dor é exclusiva sua, não é? — engulo em seco e mantenho meus olhos no chão. — Responda!

— Porque está falando isso, irmão? — preocupado resolvo responder.

— Porquê? — ele ri, zombando das minhas palavras. Ouço em seguida o som de zíper sendo aberto e vejo que roupas estão caindo pelo assoalho. Indignado com a situação, olho rapidamente para cima e me deparo com o moreno desnudo. Paro de o olhar imediatamente, abraçando minhas pernas, tentando inutilmente me proteger de qualquer ato. — Olha para mim, caralho! — seu tom de voz ecoa pelo ambiente que está trancado. Subo novamente meu olhar e me surpreendo ao ver seus olhos vermelhos e molhados, porém seu semblante não é de tristeza, mas sim de fúria. Jungkook vira seu corpo deixando suas costas nuas em meu campo de visão. Fico perplexo ao ver seu lombo totalmente massacrado. Filetes de pele lhe faltavam e próximo ao quadril existe uma frase com letras rasgadas sobre sua epiderme “nunca serei uma vergonha para minha família”. A carne já apresentava sinais de infecção.

— Jungkook! — me ponho de pé, sentindo a dor ostentada no corpo do meu hyung como se fosse em mim. — Appa fez isso com você? — pergunto choroso, estendendo a mão para o tocar.

— O que acha? — ouço as fungadas vindas de si e percebo que está a chorar embaraçado. Minha vontade é de o consolar.

— Jungkook... — em um impulso rápido abraço o corpo do maior, mas sem demora o mesmo me arremessa longe.

— Você está com pena de mim? — diz seco enquanto tem sua destra a tentar conter as lágrimas voluptuosas que entornam de seus olhos.

— Não. Não hyung! — digo movimentando as mãos em pedido de calma. — Por favor, não entenda assim.

— Como eu deveria entender? Huh?

— Você é meu irmão, eu me preocupo com a sua saúde. Te ver com esses machucados... me deixa desolado. — durante cada palavra dita, posso perceber a dor que toma lugar da ira em Jungkook.

— Você acha justo se preocupar com minhas feridas enquanto eu sou o causador das tuas? — ele caminha próximo ao lugar onde me encontro e ao chegar perto o suficiente tenta tirar minha veste superior.

— Hyung! Não! — peço suplicado a aquele que parece surdo diante minhas palavras. — Para, por favor! Por favor Jungkook! Para... — me debater e implorar de nada adiantou, me vejo com o tronco despido diante meu irmão. Minhas mãos pequenas teimam em tentar esconder o pouco de pele que consigo.

— Está com vergonha pela nudez, ou, será pelas cicatrizes por mim causadas? — Jungkook coloca suas mãos ao redor do meu corpo, puxando-me para frente de um grande espelho. De frente para ele, meus olhos perguntam de forma silenciosa o motivo pelo qual disto, mas só consigo ver os orbes escuros do mais velho a me olhar com indiferença. Ele vira meu corpo, fazendo com que eu tivesse total visão da minha imagem refletida, consigo atrás de mim, colado a minhas omoplatas trocando olhares comigo pelo espelho. Suas mãos sobrepõem as minhas, as afastando do meu tronco e deixando-as cair pelo comprimento do meu corpo. Me sinto exposto e envergonhado.

— Porquê? — indago com a voz rouca pelo choro que habitava agora minha garganta.

— Shii. — ele toca com a ponta dos dedos as minhas costas, passando-os como se estivesse fazendo um desenho em minha pele. — Vira de frente para mim e tente olhar para o reflexo das suas costas. — acatei e pude ver que o desenho que ele fazia em minha pele nada mais era o contorno das cicatrizes que eu possuía, e entre tantas estava lá... Uma das que mais me causou dor, aquela que Jungkook causou ao rabiscar meu dorso com uma garrafa de vinho quebrada. — Quanto tempo precisou para que parasse de doer? — referindo-se a marca dos cortes.

— A dor física, ou, a emocional? — pergunto prestes a deixar cair as lágrimas antes contidas.

— As duas. — a voz embargada e os olhos inchados do meu irmão denunciavam que estava prestes a se entregar ao pranto, novamente.

— A física demorou quase quatro meses para que eu não sentisse mais nada, mas sempre que a enxergo sinto como se ainda estivesse aberta. A dor emocional existe em mim todos os dias, e eu sei que vou levá-la comigo para o túmulo. — após terminar minhas palavras, vejo o moreno deixar que as gotículas salgadas banhem seu rosto, apoiando sua cabeça na minha. Nossas lágrimas transformando-se em uma só, tendo nossas faces coladas pela testa. O silêncio foi quebrado por um murmurar de Jungkook, eu não sei o que ele estava a dizer, ou, a tentar. Permito que minhas mãos pousem sobre seus ombros e vejo que o moreno consentiu. Fiquei surpreso ao sentir as suas envolverem minha cintura. Após o choro acalmar-se de ambos, Jungkook retira sua testa do contato com o meu e se põe a me olhar, ficando assim por certeiros quarenta segundos, onde nem ele, nem eu, falamos nada.

Jungkook desfez a troca de olhares ao se afastar para catar nossas vestes pelo quarto. Eu senti algo bom, algo que eu praticamente desconhecia tamanho tempo que me fora tomado. 

— Se vista rápido. Não quero nenhuma peça de roupa sua aqui.  Hoje à noite trarei uma mulher para cá. — disse me jogando as peças e sem olhar para mim. A sensação boa não durou um mísero minuto. Já podia identificar o lado obscuro e perverso de meu irmão. Comecei a me vestir apressado e ele fez o mesmo. Ando até a porta e espero que o mais velho a destranque, permitindo minha saída. Jungkook termina de se vestir e vem até mim, eu não troco olhares com ele, apenas aguardo com o corpo escorado na parede e as mãos aconchegadas pelo bolso de minha calça. Notando a demora para que a porta fosse aberta, ergo minha cabeça em sua direção e este está a me olhar com o semblante incógnito.

— Abra a porta. — meu tom de voz saiu de forma ríspida. Me arrisquei ao falar assim, mas não percebi que a mágoa interna se fazia presente em minhas atitudes e minhas palavras.

O vejo sorrir cinicamente enquanto destranca a porta. De fato, as questões que Jungkook guarda em seu interior são tantas que ao menos consigo desvendar que face ele carrega quando me olha.

~xxx~

 

Já são três horas da tarde e me encontro apenas com mamãe e Hiuka na moradia, esse de fato é o melhor momento do dia. Sentado junto da dona SeongJin, olhamos um programa de culinária que passava na TV. Minha mãe adorava a gastronomia e sempre que pode faz pratos deliciosos para mim. Existe um fato curioso, mas que me deixa envaidecido por ter sido presenteado com isso, ela se recusa a cozinhar para o resto de nossa família que vive conosco; os dotes culinários de omma são exclusivos só para mim. Ah, acho que nunca falei sobre meus tios, avós ou primos, né? Pois bem, moramos longe deles pois appa quis assim. Ninguém além dos que convivem comigo conhecem minha “doença”, assim denominada por aqueles que repudiam minha orientação sexual. Para a perspectiva preconceituosa, seria melhor que os demais familiares não me vissem mais, até tivessem-me como morto do que descobrissem que eu gosto do mesmo sexo. Preciso confessar que sinto falta dos meus avós e especialmente do meu tio paterno, que na época parecia tão divertido e boa gente. Não sei se ainda cultiva o lado humano e nem se ele teria a mesma reação de seu irmão ao descobrir que sou gay, só sei que adoraria ver meu tio Taehyung novamente.

— Filho, Hiuka me contou sobre você querer ver Hoseok. Fiquei muito contente por saber que está disposto a sair dessa casa, nem que seja por alguns minutos ou horas. Você é corajoso e forte, eu sempre soube disso. Sempre soube que não iria viver o resto de sua vida assim, com medo das pessoas. — mamãe me incentivava diariamente a ter força e fé para enfrentar as lástima da vida. O resultado das suas palavras motivadoras está presente em mim agora, e vou a cada dia lhe dar um motivo para me enxergar com os olhos orgulhosos.

— Eu tenho que agradecer a senhora por ter me mostrado que vale a pena lutar por aquilo que se quer. Eu quero a liberdade e a dignidade para viver. Irei dar passo a passo e no fim dessa caminhada te levarei comigo para longe dessa podridão que existe nessa casa.

— Jimin, Jimin! — Hiuka aparece no cômodo, afoita e com seu sorriso contagiante.

— O que foi? — omma pergunta a frente, sinalizando para que ela senta-se junto de nós.

— Trago boas notícias!

— Diga, por favor! — falo atiçado pela curiosidade e pelo bom pressentimento.

— Fui até a casa do seu amigo. O disse que você gostaria de vê-lo.

— Meu Deus... e o que ele respondeu?! — mamãe estava mais entusiasmada do que eu, que estava começando a ficar com um pouco de medo, mas me mantive firme, lembrando sempre da promessa que fiz a pouco a omma. Ela irá se orgulhar do homem que me tornarei ao me livrar das celas de espinhos que aqui me aprisionam.

— Ele disse que virá até aqui em algum momento oportuno. — meu coração perde a esperança por pensar que Hope falou aquilo para não ter que se comprometer a vir até minha casa. Lugar onde ele tem total desgosto. É de se entender. 

— Ah, tudo bem...— digo um tanto desanimado, porém a mulher continua a falar.  

— Então, Jimin. Trate de se vestir bem amanhã para receber seu amigo, ok? — finaliza com um sorriso sapeca de orelha a orelha. As duas mulheres me abraçam e entendo que em menos de 24 horas terei Hoseok frente a frente comigo.

~xxx~

A noite chega e eu só sei contar os segundos para a hora que verei meu amigo. Penso em milhares de coisas que precisamos conversar, consigo até imaginar como deve estar seu rosto que já era bonito quando mais novo. Com certeza Hoseok teria se tornado um belo rapaz. Preciso deixar arrumada minhas vestes que usarei, quero estar bem apresentado perante ele, mas com as roupas que tenho fica difícil. Já disse que meu vestuário é composto pelas vestimentas que já não servem em meus irmãos, e preciso dizer que nenhuma dessas roupas me agrada. Me levanto e vou em busca de minhas melhores peças; destaco uma calça jeans, a melhorzinha, porém esta marcava minhas coxas avantajadas; uma blusa de lã preta, que possuía rasgos por ser velha, mas nada posso fazer, é o melhor que tenho.

Após arrumar minhas roupas deixando-as em um canto reservado do meu balcãozinho, deito em meu lençol e penso no que acontecera pela manhã; o episódio com Jungkook foi bastante confuso e eu não sei o que pensar sobre. Penso que as vezes não pensar em nada e abstrair qualquer situação que envolve ele, é o melhor a se fazer.

Escuto o barulho da porta principal sendo aberta e junto desta, burburinhos acompanham risadas. Consigo identificar a voz de Jungkook e também uma voz feminina a se aproximar, fazendo-me recordar do que meu irmão havia dito pela manhã “hoje à noite trarei uma mulher aqui”.



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