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História Jimmy Stuart e o Livro dos Anos - Phill, Russel e Bertrand


Escrita por: LBSantana

Notas do Autor


As coisas começam a ficar... mágicas! ;)

Capítulo 4 - Phill, Russel e Bertrand


4. Phil, Russel e Bertrand.

A luz fraca da rua entrava, timidamente, pela porta de vidro do quarto, tornando-o assustador. Não tinha coragem de me mover, tentava respirar sem fazer movimentos bruscos,  minha cabeça doía, impiedosamente, não me deixando dormir. Cheguei a fechar os olhos, fortemente, talvez, quando os abrisse, estaria no internato, com a certeza, de que Michael dormia no beliche de cima. Mas, quando abri os olhos, não estava no internato. A porta do quarto começou a abrir-se, lentamente, enxuguei as lágrimas e fechei os olhos, não saberia o que dizer para Michael. Ouvi alguém se aproximar da cama e sentar-se nela, fiz o possível para não me mover, parecia estar congelado.

- Jimmy?! – a voz de Michael estava amigável. – você já está dormindo?!

Ele começou a acariciar o meu cabelo. Pude perceber a sua preocupação.

- O que está acontecendo? – ele falou, agora mais baixo, quase sussurrando, provavelmente, acreditava que eu já dormia. – você sabe que pode confiar em mim. Sabe que eu te amo, maninho.

Não tive como resistir, rios de lágrimas desciam dos meus olhos. Queria poder explicar a Michael tudo o que acontecia comigo, abraçá-lo, entretanto, nem eu mesmo conseguia entender, então hesitei. Felizmente, ele não percebeu que eu chorava, continuou a afagar os meus cabelos. Podia ouvir a sua respiração, parecia estar chorando também, não tive coragem de olhar.

- Você lembra aquela vez, que você entrou na cozinha do internato para pegar um dos bolinhos da Sra. Rose? – Michael falou com um leve sorriso. – você deixou cair uma xícara de porcelana, que se espatifou no chão, - infelizmente, eu lembrava – você ficou parado na frente da xícara, olhando abestalhado, parecia que estava olhando para o fim do mundo, - ele ainda mantinha o mesmo sorriso. – eu fui lá e te puxei pela mão, saímos correndo. A Sra. Rose quase nos pegava lá dentro. Como ela ficava irritada com quem entrava na cozinha dela!

Michael sempre tinha o poder de me fazer parar de chorar e não foi diferente agora, mas ainda continuei fingindo que dormia.

- Ainda estou segurando a sua mão – ele me falou, enquanto apertava, calorosamente, a minha mão.

- Sonhe com dias melhores. – ele beijou a minha testa e foi para a sua cama.

Fiquei olhando a luz que atravessava a janela, não conseguia dormir, minha mente estava trabalhando a todo vapor. Michael, provavelmente, já dormia, ele não demorava a cair no sono, como uma pedra. Fiquei me sentindo culpado, pois, talvez, ele estivesse achando que eu não confiava mais nele. Precisava arranjar alguma forma de dizer que ele continuava sendo a pessoa que eu mais confiava nesse mundo. Resolvi mudar o fluxo de pensamento. Fiquei pensando no sonho que tive, hoje à tarde, era tão esquisito. Primeiro, eu não sabia como o vilarejo tinha ficado deserto e o pior, somente, eu estava lá. Quero dizer, sozinho não, pois eu não sabia o que me perseguiu pelas ruas. Um cachorro talvez, mas parecia ser bem maior. Um urso? (O que eu estou pensando? Nem sei se há ursos nos arredores do vilarejo. Ou será que tem?) De qualquer forma, eu não gostava da ideia de ser perseguido por um urso ou qualquer outra fera. E depois, como eu fui acabar me esbarrando em Kevin?

Eu tentava, fervorosamente, imaginar o que aconteceu comigo, quando eu o vi, mas o meu mundo, restrito às fronteiras do orfanato, me impedia de encontrar uma resposta racional. Lembrei-me de como ele me segurou forte, em meu sonho, me encarava com seus grandes olhos negros, os quais me pareciam tão, agradavelmente, misteriosos. Sentia-me, como se tivesse um mundo inteiro para decifrar ali. Entretanto, pela cara que ele fez para mim, eu não saberia escolher entre ele ou o monstro. Por que, justamente, Kevin? Por que não Michael? Afinal, onde estava Michael nos meus sonhos? Será que, até neles, eu estava excluindo-o, de certa forma? Se ainda não estou louco, com certeza, não falta muito - deduzi.

Ainda com os olhos fechados, tentei me concentrar no ranger das paredes, talvez, se eu não pensasse em nada, eu conseguisse dormir. As paredes rangiam, assustadoramente, fiquei escutando-as por um bom tempo, até que eu comecei a sentir um vento dentro do quarto. Estava com os olhos fechados há tanto tempo, que eu não me importei em abri-los, acreditava que já estava sonhando. O vento foi aumentando e eu comecei a perceber clarões, que pareciam relâmpagos dentro do quarto, com certeza, já estava sonhando, não me dispus a abrir os olhos. Pode ser que, se eu não der importância, o sonho não seja tão assustador e passe rápido! Os relâmpagos ficaram mais frequentes, o vento aumentava, furiosamente, o barulho de três coisas caindo no chão me surpreendeu. Logo em seguida os ventos e os relâmpagos cessaram.

Decidi abrir os olhos, aparentemente, não havia nada de novo no quarto, Michael ainda dormia, como um urso hibernando no inverno. Comecei a preparar o meu psicológico, seja lá o que pudesse aparecer, eu saberia que era um sonho, acho que funcionou. Algo em baixo da minha cama sussurrou, percebi que havia pessoas cochichando. Dirigi-me até a ponta sudeste da cama e me abaixei, cuidadosamente, para observar os espiões. Os olhos desciam cada centímetro da cama, como se preparassem para ver algo terrível. Percebi que começava a ficar com medo, mesmo sem ter motivos racionais, consequência do outro pesadelo. Quando, finalmente, alcançaria o fim da cama, notei um clarão bem forte vindo em direção à minha cabeça e dei um pulo para trás. Três rastros de luz saíram percorrendo as paredes do quarto. Não tive como me conter, fui para debaixo do lençol.

As luzes continuavam a percorrer o quarto, loucamente, como fogos de artifício. Podia escutar sorrisos, um tanto agudos e, à essa altura, não sabia se Michael já teria acordado. Entretanto, lembrei que aquilo não passava de um sonho e, por fim, retirei o lençol da minha cabeça. Três criaturas, um tanto esquisitas, corriam pelo teto e pelas paredes, arrastavam as unhas no chão, provocando as faíscas de luz. Michael não deixou de dormir, nem por um segundo, como já era de se esperar. As criaturas, que pareciam anões, não ficavam quietas. Comecei a ficar tonto com aquelas luzes.

- Parem com essa bagunça! – gritei, demonstrando, certa, posição de comando.

Eles pararam e ficaram sorrindo, no chão do quarto, bem em frente à minha cama, eram três anões, como eu suspeitava, vestiam roupas meio velhas, calças rasgadas, completamente, desbotadas e blusas de uma cor verde musgo, cabelos grisalhos bem desarrumados. Percebi que faltavam alguns dentes, quando eles sorriam, os olhos eram grandes e vividos, sobre um nariz retorcido, a pele era cheia de rugas profundas. Unhas grandes saltavam de seus pés e mãos, estavam descalços. A minha imaginação era, incrivelmente, fértil, pensei enquanto olhava, dramaticamente, para cima.

- E vocês, o que são? – perguntei, interrompendo as suas gargalhadas.

- Nós? – perguntou um deles, a sua voz era, irritantemente, aguda – somos duendes, é claro! Ou você está nos confundindo com algum dragão? – e voltaram a sorrir, descontroladamente. Não pude perceber se tinham orelhas pontudas, devido aos seus cabelos espalhados.

Nossa, acho que ser perseguido por uma besta era mais interessante!

- Ah, claro! E eu sou papai Noel! – falei, sarcasticamente.

- Papai de quem? – e voltaram a sorrir.

As suas gargalhadas eram perturbadoras. Michael era um herói, por poder dormir num momento desses.

- Ok, senhores duendes. – eles riram, ainda mais, forte – Quais são os seus nomes?

- Meu nome é Phil. – falou o que possuía o cabelo mais comprido, quase chegando aos seus joelhos, o que não surpreendia muito em uma pessoa daquela estatura.

- Meu nome é Russel. – era o mais baixo de todos.

- Meu nome é Bertrand. – este, não parava de sorrir um segundo, tanto que as suas bochechas eram bem contornadas.

- E você? - falou Phil, enquanto Bertrand puxava as suas tranças. – qual o seu nome?

- Meu nome é James. – respondi.

- E, este aqui, que parece estar morto? – questionou Russel, mexendo nas orelhas de Michael.

- Hei, - falei, severamente, com o anão mais baixo, fazendo-o voltar para perto dos seus companheiros. – não o perturbe. Este é o meu irmão, Michael.

- Ele tomou algum tipo de poção? – Bertrand fez todos os anões rirem.

Não me preocupei em responder, provavelmente, eles ririam mais.

- E vocês, são irmãos também? – não contive a curiosidade.

- Nós, - falou Russel – irmãos? – e voltou a sorrir.

- Eu sou pai de Bertrand! – falou Phil.

- E eu, sou pai de Russel! – completou Bertrand, dando um cascudo na cabeça do filho.

- Uau, - suspirei. – eu, quase, não percebi a diferença.

Eles começaram a pular uns em cima dos outros, fazendo cócegas, eles rolavam e assanhavam, ainda mais, os seus cabelos. Achei engraçado o jeito como eles brincavam. Fazia-me esquecer das coisas ruins.

- Mas o que vocês vieram fazer aqui mesmo? – interrompi.

- Não sabemos. Gostamos de olhar as casas, quando as pessoas estão dormindo. – respondeu Phil.

 - E hoje, foi a vez da minha? – fiquei, um pouco, desajeitado, por ter falado ‘minha’, mas, felizmente, eles não sabiam que eu era novo ali, acho.

- Na verdade, esta não é a primeira vez que viemos aqui! – comentou Russel - geralmente, nós paramos na biblioteca ou ficamos brincando de atirar gatos, porém, hoje, decidimos ousar.

- E vocês, já foram pegos alguma vez? – estava curioso.

- Bem, às vezes, tem uma velha que briga bastante quando ela nos vê com os seus gatos. – disse Bertrand.

- É a Sra. Carmem. – dessa vez, até eu sorri.

- O que você estava fazendo Papai Noel?  - Russel quis me irritar.

- Pode me chamar de Jimmy. – falei, enfurecido. – eu estava dormindo, quer dizer, sonhando, nada de interessante.

- E o que vocês duendes costumam fazer? – tentei parecer interessado, mas, no fundo, eu não via a hora de amanhecer e acordar.

- Bem, - indagou Bertrand. – nós gostamos de esconder as coisas das pessoas.

- Gostamos de dar nó nos cabelos das meninas. – prosseguiu Phil.

- Mas a nossa diversão preferida é, sem dúvidas, perseguir unicórnios. – Russel falou, com um brilho intenso nos olhos.

- Uuuuummmm. – os três suspiraram, harmoniosamente.

Nossa, que dia! Agora só falta eles me falarem sobre a Branca de Neve. Este sonho, estava sendo fatigante, mas não posso negar que ele era único. Com certeza, eu já estava em um nível de loucura, bastante, comprometedor. Os duendes voltaram a pular uns em cima dos outros, soltando gargalhadas. Eu ficava impressionado, como o maxilar deles não doía, de tanto rirem. Russel deu um tapa no nariz de Phil e dele saiu um pozinho luminoso e uma tromba de elefante. Phil, por sua vez, fez o mesmo com as orelhas de Bertrand e elas se transformaram em longas orelhas de coelho. Bertrand, dando continuidade à brincadeira, bateu no traseiro de Russel e dele, saiu um rabo escamoso, cheio de espinhos, que desciam até a sua extremidade, formando uma espécie de arma, cheia de pontas afiadas.

- Tá bom, mas eu acho, que já está na hora de vocês irem visitar outra casa! – estava ficando irritado com aquela bagunça.

Quando falei, eles olharam chateados para mim e, automaticamente, os seus adereços malucos desapareceram.

- Não vamos para outra casa, - avisou Phil. – vamos é caçar unicórnios!

Bastou Phil dizer isso e eles começaram a pular, festivamente. Botei a mão na cara, demonstrando a minha “alegria”.

- Por que não o levamos para ver os unicórnios, Phil? – Russel sugeriu.

- Você gostaria de ir conosco, Jimmy? – Bertrand perguntou com uma cara alegre, esperando uma resposta positiva.

Pensei um pouco, antes de responder, será que deveria chamar Michael? Sejamos realistas, ele, com certeza, não acordaria, mas o que poderia acontecer de ruim? Era só um sonho mesmo - pensei. Os duendes aguardavam ansiosos, mal tinha percebido que eles, finalmente, haviam se calado.

- Por que não? – falei, tentando não dar muita importância. – A noite parece que ainda vai demorar mesmo!

Eles começaram a pular e a gritar, como se tivessem ganhado um prêmio.

- Mas os unicórnios estão muito longe? – perguntei.

Eles começaram a sorrir, estrondosamente.

- O quê? – Phil me menosprezava. – Você acha que nós vamos como?

Achei melhor não opinar.

- Você bateu com a cabeça aonde? – questionou Bertrand, com um sorriso.

- Vamos logo, antes que eu desista! – falei, aborrecido.

- Tudo bem. – falou Phil.

Eles se viraram de costas para mim, Phil estendeu a mão, evidenciando o seu indicador direito. Só agora percebi, melhor, como as suas unhas eram, realmente, grandes. Phil levantou o seu indicador, o mais alto que ele podia e começou a descê-lo, vagarosamente. À medida que seu dedo abaixava, um rastro de luz, fino, ia ficando. O rastro de luz abriu-se em um círculo, o qual, dentro, encontrava-se um túnel de luzes verdes e azuis, que fluíam em direção contrária à da abertura e, a todo instante, saiam raios do túnel, que iluminavam todo o quarto. O vento que escapava do portal, era fortíssimo, o lençol embaixo das minhas pernas, parecia dançar, freneticamente, em cima da cama.

- Está na hora. – avisou Russel e, logo em seguida, olhou para mim e soltou um sorriso. Ele pulou na esfera de luz e dela, saíram inúmeros raios, que me fizeram ficar apavorado. Bertrand seguiu o exemplo do filho e mais raios voltaram a sair.

- Vamos, Jimmy! – disse Phil, estendendo-me a mão.

- Eu não vou entrar aí, por nada nesse mundo, - falei, deixando evidente todo o meu medo. Meu estômago parecia que congelara.

- O portal não vai demorar muito tempo! – ele me avisou.

- Eu não vou! – adverti.

Olhei para Michael, como eu o odiava por não acordar, nem em um momento como este.

- Deixe de ser besta. – falou Phil.

Ele virou, completamente, na minha direção e deu um pulo para trás. Antes que o portal o absorvesse, ele fez um gesto com a mão, como se puxasse alguma coisa. Inacreditavelmente, algo me puxou na direção do túnel, tentei me segurar na cama, mas sem sucesso. Meus pés já começavam a entrar na esfera, estava segurando na perna da cama.

- Michael. – gritei, antes que o vento me vencesse e me jogasse no portal.

Por dentro, o portal era ainda maior. Eu começava a cair por ele, numa velocidade assustadora. Raios saiam das suas paredes, alguns se chocavam e produziam explosões fantásticas. Ao longe, vi uma abertura negra no túnel, que chegava, cada vez mais, perto. Procurei por Phil ou qualquer outro duende, mas nenhum deles estava por perto. Finalmente, passei pelo buraco e caí num chão, cheio de plantas.

Levantei, estava tudo escuro, olhei para cima e vi muitas árvores. Com certeza, estava na floresta, só não sabia o quão distante da casa. Meu pijama estava imundo. Fiquei espantado, quando vi no meu tornozelo direito, algo que parecia ser uma palavra, mas numa língua que eu não conhecia, não era muito grande, cada letra, convencionei, era um pouco maior que um centímetro.

Parecia que tinham sido feitas com fogo. Apesar de tudo, decidi que não iria me preocupar, afinal eu estava só sonhando. Certo? Dei mais uma olhada ao redor, a floresta era densa, a luz da lua cheia entrava pelas folhagens, iluminando, somente, algumas partes da floresta com seus raios, era aterrorizante. Uma brisa passeava pelos galhos das árvores, fazendo-os dançar, lentamente, folhas se arrastavam pelos meus pés. Estava descalço, com muito frio, essa parte do sonho era bem real.

- Você está aí! – dei um pulo para trás, meu coração quase saiu pela boca. Era Bertrand, e os outros duendes. – Pensamos que você tinha se perdido ou então, tinha sido engolido por algum monumrow.  

- Vocês estão aí! – falei com ódio, embora estivesse feliz por tê-los encontrado. – eu poderia ter morrido.

Eles começaram a mangar do meu estado, mas o que eu poderia fazer? Decidi não perguntar nada sobre a tal inscrição, certamente usariam a minha ignorância para se divertirem. Mas insisti em outra pergunta:

- O que são monunrows? – eu, quase, não consegui pronunciar a palavra.

- Você nunca viu um? – Russel perguntou-me, como se fosse a coisa mais estranha do mundo.

- Nunca! – respondi.

- Eles são animais esqueléticos, quadrúpedes, assemelham-se com alguns cachorros que já vimos no vilarejo, mas, extremamente, horríveis, possuem chifres em cima do corpo e uma espécie de papo enorme, que suga uma grande porção de ar, quando eles veem alguma presa. – Phil descrevia, calmamente, já eu, confesso que fiquei, um pouco, aterrorizado.

Até pensei, por um momento, que talvez, eu estivesse sonhado com um monumrow na primeira vez, pois era tudo sonho, mas não me lembro de ter sentido algo me sugando.

- Bom, eu acho que não quero ter o desprazer de conhecê-los! – confessei.

- Temos certeza que não. – Phil falou, fazendo os outros anões recomeçarem a rir. Tenho que admitir, que fiquei com saudade daquelas risadas, enquanto estava no portal.

- Vamos atrás dos unicórnios. – sugeriu Bertrand.

Adentramos a floresta, era impressionante. Russel ia à frente, com a mão estendida para frente, suas unhas ascendiam uma luz brilhosa, fazendo com que os galhos e qualquer tipo de planta abrissem caminho para nós. Apesar disso, eu ficava em desvantagem, pois a minha altura era, praticamente, o dobro da deles, alguns galhos castigavam, ainda mais, o meu pijama, deixando-o com alguns rasgões. Estava bastante frio. Olhei para cima e pude ver a lua cheia, passando por algumas frestas entre os galhos. Ao nosso redor, a floresta dormia, sombriamente. Não conseguia enxergar a mais de um metro ao meu redor. O silêncio profundo me dava arrepios. Pude perceber que caminhávamos rumo à uma grande área, parecia um campo aberto, onde a luz da lua iluminava, fortemente.

- Estamos nos aproximando de alguns. – anunciou Bertrand.

- Você está parecendo com os gatos, depois que brincamos com eles! – Russel teve a indelicadeza de lembrar-me. Apenas sorri, falsamente, para ele.

- Você quer que eu o melhore? – Phil perguntou, fazendo uma cara de quem é um especialista em matémática.

- Por que não? – autorizei.

Phil puxou a ponta de sua orelha direita e, instantaneamente, minha roupa começou a refazer-se, como se tivesse se costurando sozinha. E minha roupa estava novinha, como se eu tivesse acabado de comprá-la.

Estava, incrivelmente, curioso para saber como era estar diante de um unicórnio, mesmo que não fosse real (nossa, a que ponto eu cheguei!) Russel parou de andar e, descrevendo um meio circulo com a mão, fez com que as suas unhas parassem de brilhar. Ele penetrou por entre as plantas, sem fazer muito barulho. Os outros o seguiram. Tentei fazer o mesmo, no entanto, se era difícil andar na floresta com a ajuda de Russel, sem ela, era quase impossível.

Os duendes chegaram próximo ao campo e ficaram imóveis, fitando-o, silenciosamente. Quando os alcancei, resolvi me abaixar, pois as plantas já não eram tão altas, olhei ao longo do campo e, não muito longe, estavam cerca de dez unicórnios. Aparentavam serem um pouco maiores do que um cavalo comum, a sua pele branca refletia a luz da lua, graciosamente, sua crina era tão lisa e sedosa, que poderia fazer inveja a qualquer humano. Os seus chifres, eram bem alongados, alguns tinham, mais ou menos, o tamanho do meu antebraço.

- Eles são maravilhosos. – comentei.

- Chhhiiiiiii! – fez Phil. – não podemos espantá-los. - eles pareciam bastante concentrados no que faziam, podia ver nos seus rostos, sérios, o quanto aquilo era importante para eles.

Não acredito que tenha falado alto o bastante, para que os unicórnios tenham ouvido, entretanto, um deles olhou em nossa direção, por algum momento, e depois, voltou a pastar.

- Como vamos fazer para atraí-los? – perguntei, tão baixo, que talvez, os duendes não tenham escutado.

Eles continuaram em silêncio. Phil olhou, fixamente, para mim, estendeu a mão para a vegetação ao seu lado, mal podia ver seus dedos no escuro. Quando ele trouxe a mão, novamente, para perto de si, ela segurava um objeto branco, que refletia a luz da lua, como a pele dos unicórnios, parecia ser uma flauta, por ela, alguns ramos esbranquiçados se enrolavam. Eu não sabia como ele trouxera aquela flauta, mas estava começando a gostar dos misteriosos duendes.

- Atenção, - advertiu Phil, demonstrando seriedade – quando eu tocar a flauta, quero que me siga e monte em um dos unicórnios.

- Como? – perguntei, espantado.

- Apenas faça o que eu digo. – ele falou, imperativamente.

Ele começou a tocar a flauta, uma doce canção começou a soar, parecia canção de ninar. Achei a música tão bonita, que fiquei meio hipnotizado, olhando Phil tocar. Assustei-me, quando percebi que os unicórnios já estavam bem próximos de nós, de perto, pareciam tão serenos, quanto um anjo deve ser. Os duendes levantaram-se, Phil continuou tocando. Eles foram até os unicórnios, cada um ficou ao lado de um animal. Phil então, começou a tocar a musica mais intensamente, o que fez com que os unicórnios se curvassem, como uma reverência, permitindo que os duendes subissem. Fui até um dos unicórnios, eles eram inacreditáveis e passei a mão em sua cabeça. Os seus olhos eram azuis, como o céu em dias ensolarados, sem nuvens.

- Jimmy, rápido, - falou Russel. Eles já estavam em cima dos unicórnios.

Não dei importância para ele, continuei a acariciar o unicórnio, o qual parecia gostar, pois não se movia um centímetro.

- JIMMY. – Bertrand gritou.

O unicórnio, na minha frente, levantou-se, fazendo-me cair no chão, assustado, as suas patas iriam descer na minha cabeça, quando senti meu corpo afastando-se sozinho para trás. Os unicórnios saíram correndo, em direção ao centro do campo.

- A música já perdeu o efeito - gritou Phil.

Saí correndo, em direção a eles, mas os unicórnios eram muito velozes, a cada segundo ficavam mais longe. Bertrand olhou para mim e esticou o braço para trás, puxando-o, logo em seguida, vigorosamente, por cima de sua cabeça. Senti meus pés deixarem o chão, comecei a subir, numa velocidade incrível, em direção a eles, soltei um grito, bem alto, de desespero. Percebi que iria cair em cima de um unicórnio.

Russel virou-se para trás em seu animal e lançou os seus braços em direção ao último unicórnio. A poucos metros de distância do último unicórnio, surgiu uma pequena cerca e, no momento em que ele a pulava, eu caí em cima dele. No início, fiquei escorregando, me segurei na lateral do unicórnio, pela sua crina, o que garantiu que eu soltasse outro grito, depois consegui subir e montar o animal. Os duendes começaram a sorrir, descontroladamente. Fiquei assombrado com o que tinha acabado de acontecer, tudo parecia tão real, mas depois, não resisti e comecei a rir com eles.

 - Sinta isso, Jimmy. – gritou Phil.

O vento, embora gelado, era maravilhoso. O campo era enorme, de um verde meio prateado pela lua. Ao longe, eram admiráveis as três fases formadas pelo campo, as árvores e o céu, incrivelmente, estrelado. Comecei a gritar, não mais de medo e sim, pela emoção que estava sentindo com o que fazia. Os duendes me acompanharam, com as suas vozes meio agudas, o que garantiu outra seção de risos.

- É fantástico! – gritei para eles.

- Olhe só o que posso fazer - falou Bertrand.

O pequeno duende, levantou-se em seu unicórnio e ficou em pé, depois colocou uma das mãos no dorso do animal e suspendeu o corpo, apoiando-se, somente, pela mão.

- Isso não é nada! – gritou Phil.

Ele ficou apoiado pelas duas mãos, depois começou a descer, lentamente, o animal, até o seu rabo, onde Phil segurou-se, apenas, pela ponta. A leveza de Phil impedia o unicórnio de sentir algum efeito.

- Eu vou mostrar para vocês, seus velhacos, o que é diversão. – achei hilário o jeito como Russel chamou os seus familiares, afinal, todos eles eram bastante idosos.

Russel lançou, de sua mão, um pozinho brilhante e seu unicórnio começou a subir, até ficar correndo por cima de nós, a alguns metros de distância.

- E você, Jimmy, o que pode fazer? – questionou Russel.

- Eu? – falei, assustado – não posso fazer nada.

- Deixa de ser besta, você sabe que pode. – disse Phil.

Pensando bem, ele estava certo, já que tudo não passava de um sonho, difícil era saber se o medo me permitiria ou como terminaria esse sonho.

- Tá bem, eu vou tentar alguma coisa. – gritei.

- Vamos lá, eu sei que você consegue. – Phil encorajou-me.

Vagarosamente, ou melhor, medrosamente, comecei a ficar em pé, quase caí na primeira tentativa, mas não me deixei intimidar. Finalmente, consegui ficar em pé, abri as mãos e fiz, com que delas, saíssem duas bolas de fogo, comecei a girá-las, feito um malabarista de circo, estava, completamente, orgulhoso de mim mesmo. Desequilibrei um pouco, fazendo as bolas sumirem, felizmente, consegui me sentar de novo no animal, antes que caísse. Todos começaram a sorrir, comigo não foi diferente. Quando estávamos chegando mais próximo da vegetação, os unicórnios pararam e começaram a relinchar, desesperadamente, eles ficavam levantando as patas dianteiras e batendo-as, com força, no chão.

- O que está acontecendo? – fiquei com medo.

- Os caçadores estão aqui! – falou Phil.

- Caçadores? – indaguei – São os monunrows?

- Muito pior que isso! – um frio subiu a minha espinha com as palavras de Phil. Suas feições, antes sorridentes, estavam agora, incrivelmente, sérias.

- É melhor você voltar para casa. – disse ele, fazendo o mesmo gesto pelo qual abrira o portal da última vez. Um portal abriu-se a poucos metros de distância.

- E vocês? – fiquei preocupado.

- Não se preocupe, - falou Russel, descendo com o cavalo. – nós ficaremos bem.

O meu unicórnio levantou as patas, com força, fazendo-me cair na grama. Quando me levantei, pude perceber vários olhos amarelados, olhando para mim, de dentro da relva.

- JIMMY. – gritou um dos duendes.

Virei para trás e saí correndo, em direção ao portal, foi inevitável que eu não gritasse. Ouvi um rosnado ameaçador atrás de mim. O portal parecia ficar cada vez menor, à medida que eu me aproximava. Pulei no portal e, poucos segundos depois, eu estava na cama, ofegante, suando frio. Olhei para o lado, Michael ainda dormia, pesadamente, com a boca aberta. Deitei na cama e fechei os olhos, na esperança, de que o dia chegasse logo.


Notas Finais


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