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História Jimmy Stuart e o Livro dos Anos - Quente e Frio


Escrita por: LBSantana

Notas do Autor


Mais um capítulo. Espero que gostem. ;)

Capítulo 6 - Quente e Frio


6. Quente e frio.

Ao longe, já podíamos ver a escola e, na frente dela, um ônibus amarelo, bem grande, seria nele que iríamos à Londres. Alguns alunos o cercavam, outros já estavam dentro. Chegamos ao colégio. Michael se despediu nas escadas, pois não havia necessidade de irmos para a sala. Olhei ao meu redor, alguns alunos reunidos em grupos de colegas, Adam e Melanie entregavam seus bilhetes ao professor de artes, mas nem sinal de Kevin. Não podia imaginar que ele não veio, seria o fim do meu dia, ele prometera que viria se eu fosse. Tentei recapitular as suas ordens, quanto à decisão da Sra. Carmem.  Tenho certeza, que ele disse para eu ligar, somente, se eu não fosse. Pensei em ligar para confirmar a sua presença, entretanto, se ele não estava aqui, eu não faria papel de bobo!

 - Jimmy, - Adam se aproximava – o professor está chamando, iremos partir.

Caminhei em direção ao ônibus, não era possível que ele faltara, entreguei o bilhete, o qual a Sra. Carmem assinara, e entrei no automóvel. Melanie e seu namorado já tinham sentado. Havia apenas dois bancos, no final do ônibus, me dirigi até eles; agora, eu estava mais sozinho do que nunca. Sentei, a janela estava meio embaçada, esfreguei a manga da camisa, ele não apareceu, o motor do carro começou a ranger, consequentemente, perdi as esperanças.

 - Espere, espere. – alguém bateu na lateral oposta à que eu estava.

As minhas orelhas começaram a queimar com a possibilidade de ser Kevin.  Pareciam que elas sentiram a sua presença, pois ele entrou no ônibus, ofegante, procurou por mim e, quando me viu, veio sentar-se ao meu lado.

 - Perdoe-me pela demora. – seus olhos traduziam o seu pedido.

Kevin estava com um arranhão que saltava da sua camisa e subia próximo ao seu pescoço.

 - Aconteceu alguma coisa? – toquei em seu pescoço, ele sentiu o ardor – Desculpe.

 - Um acidente na floresta. – ele respondeu, abaixando os olhos, parecia querer esconder algo. – Provavelmente amanhã já estará melhor.

A sua resposta, curta, não matou a minha curiosidade, também não entendi o que ele quis dizer com: “Provavelmente amanhã já estará melhor”, porém não me atrevi a perguntar os detalhes. O ônibus voltou a ranger, aos poucos, atravessávamos o vilarejo, as casas desapareceram.

 - Você, provavelmente, não me perdoaria se eu faltasse, estou certo? – ele levantou uma de suas sobrancelhas.

 - É claro que eu perdoaria. – virei o rosto para a janela, não queria que ele me desmascarasse.

 - Tem certeza? – ele me fez olhá-lo.

Minhas orelhas estavam para explodir, não poderia insistir.

 - Está bem, - fiquei envergonhado – eu ficaria muito chateado, é verdade.  Sabe, eu costumo ser orgulhoso, todavia algo me diz que eu não conseguiria ficar sem falar com você.

Ele sorriu e começou a importunar minha orelha.

 - Eu correria atrás do ônibus, até Londres, se fosse preciso, - ele encarou, profundamente, meus olhos. – mas não deixaria você sozinho. – sorriu com ironia.

Suas palavras me faziam sentir um conforto incrível, era fantástica a atração que eu sentia pela presença de Kevin. Aquela impressão que eu tive, quando o vira pela primeira vez, de que ele representava perigo, continuava. No entanto, eu não me sentia desconfortável com ela.

 Pela janela, as árvores passavam, velozmente, as nuvens faziam desenhos no céu, o vento entrava furioso, devido a velocidade do automóvel. Em minha cabeça, eu ainda tentava descobrir o motivo pelo qual eu gostava tanto de Kevin. Eu não conseguia imaginar nada sem ele, parecia um vício. Agora, com suas palavras, eu acreditava que esse sentimento era mútuo.  Possivelmente, ele sabia o que estava acontecendo, mas eu precisaria de uma coragem, muito além da que eu possuo para comentar isso com ele.

 - Você tem muita saudade do Brasil?

 - O Brasil é um lugar maravilhoso. O melhor e o pior de tudo são as pessoas. – comentou e, antes que eu demonstrasse minha incompreensão, ele continuou – Melhor, porque são de uma generosidade descomunal, super-humildes e acolhedoras. E pior, pelo fato de, muitas, serem corruptas, exploradoras da maioria miserável do país. Mais é muito bonito, você adoraria.

 - Mas você não respondeu a minha resposta! – decidi cobrar.

 - Sabe, eu, antigamente, tinha saudades, não é fácil abandonar um lugar que você já vive há certo tempo, você se acostuma ao ritmo de vida que você levava. Porém, depois que nos conhecemos a saudade foi embora.

As suas palavras me deixavam tímido, ficava difícil olhar em seus olhos.

 - Você também é importante para mim, - confessei – para falar a verdade, eu nunca me senti tão bem com uma pessoa, exceto meu irmão. Não havia muitas pessoas no internato, e pessoas amigáveis menos ainda.

Ele sorriu, meio envergonhado, era a prova que o que eu sentia era recíproco. O céu estava ainda menos nublado, o sol já estava bem perceptível, algumas casas foram surgindo, estávamos chegando à Londres. Os casarões reais contrastavam com os prédios modernos, a cidade parecia brilhar ao sol, os parques, cada vez mais lindos, era tudo magnífico. O ônibus percorreu boa parte da cidade, até chegar ao lindo museu londrino. Os alunos começaram a descer e se aglomerar em frente ao museu. Melanie nos obrigou a tirar uma foto em frente a ele. Não sabia se ficava mais envergonhado por Melanie ter, praticamente, forçado Kevin a nos acompanhar na foto ou por ele ter olhado como eu fiquei na foto depois.

O professor reuniu todos, com dificuldade, muitos alunos nunca estiveram em Londres. O guia nos incitou a apenas olhar as obras, sem tocá-las. Este era um homem alto, magricela, usava óculos redondos, tinha uma aparência meio seca, parecia que os anos no museu tinham sugado a sua vitalidade.

 - Fiquem por perto, para não se perderem de nós. – Adam lembrou.

Por dentro, o museu era ainda mais bonito, alguns tons de ouro percorriam as suas paredes e teto, as obras eram todas muito bem conservadas, era tudo maravilhoso. Sempre tive um forte apresso pela arte, ela me despertava sentimentos diversos, desde os desenhos que eu pintava, quando pequeno, sem nenhum valor comercial, mas que eram frutos das minhas emoções. Esta, não era a primeira vez que eu passeava pelo museu. O guia iniciou a expedição, cada obra era mais linda que a outra, muitas de autores consagrados, outras de autores menos populares, mas todas eram muito bonitas.

Kevin olhava os quadros, atenciosamente, enquanto o guia fazia um relato histórico sobre a vida do autor, seus olhos brilhavam. Por mais interessante que pudesse ser o museu, eu não conseguia prestar atenção em nada, apenas ficava observando Kevin em cada estação. Ele, às vezes, parava e sorria, como se tivesse descoberto um novo mundo, não hesitava em me puxar para perto de si.

 - Você não está gostando do passeio, Jimmy? – ele percebeu que eu estava meditando, intensamente.

 - Estou sim, - respondi – só estou refletindo sobre algumas coisas.

 - Algo sério? – ele perguntou.

 - Não, - falei – pode ficar despreocupado.

Ele voltou a prestar atenção na aula e eu, continuei analisando-o. Seus cabelos davam certo charme ao seu rosto, levemente, bronzeado, seus olhos, mais negros que uma noite sem estrelas, eram capazes de hipnotizar qualquer pessoa. Queria muito entender o que acontecia comigo, o que me fazia querer tanto estar ao lado de Kevin, embora eu não obtivesse as respostas, não deixava de estudá-lo. Melanie e Adam andavam abraçados, mal escutavam o professor falar, na verdade, eles estavam curtindo o lugar para namorar, não muito diferente de outras pessoas. Meu coração batia, cada vez mais rápido, de tanto olhar Kevin. Era como olhar algo, totalmente, desconectado do que eu conheço que me excitava a desvendar.

Caminhamos todo o museu, olhando obra por obra, era bastante cansativo. Por mais instigante que fosse, os alunos começavam a conversar, esquecendo o guia, deixando o professor impaciente.

 - Agora, vamos fazer um lanche em um café, aqui perto. – anunciou o professor.

Melanie nos chamou para tirar mais fotos, agora, dentro do museu, perto de um Picasso cubista.

 - Jimmy, - Melanie falou – está tudo bem? Você parece tão sério.

 - Só estou com um pouco de fome, - menti, não queria deixar ninguém me observando.

Kevin me analisava. Percebi que ele começava a duvidar do que eu dizia, tentei aparentar mais entusiasmo, ele achou melhor não tirar a prova. Fomos para uma lanchonete, próxima ao rio Tamisa. A cidade estava alegre, era um dia de sol, as pessoas caminhavam agitadas, falando nos celulares, outras faziam corrida ou andavam de bicicleta. Sentei-me à mesa, ao lado do rio, Kevin ao meu lado e Adam e Melanie na nossa frente, o sol iluminava o rio de águas escuras. Pedimos sanduíches, como estava com saudade deles, não que a comida da Sra. Carmem fosse ruim, longe disso, mas já era tradicional eu comer aqueles sanduíches em Londres. Acredito que, dessa parte, Michael tinha mais saudades.

O London Eye’s, estava há alguns quarteirões em nossa frente, girando sem pressa, não podia perder a oportunidade de andar naquela roda gigante, mais uma vez. Kevin olhava os prédios, admirado. Eu me sentia magnetizado, eu o queria, de alguma forma, que nunca quis ninguém antes. Fixei o olhar nele, meu coração acelerava, minhas orelhas esquentavam, eu estava enlouquecendo sem entender os meus sentimentos. Isso me mortificava, como um pássaro que, ainda no ninho, deslumbra a imensidão, sem saber voar. Na minha frente, Adam entregava um colar para Melanie, o brilho no olhar dela, era contagiante, ele jurava amor a ela e a beijava, apaixonado. Aquela cena, me prendeu a atenção por um bom tempo.

O meu corpo, que estava tão quente por causa de Kevin, começou a esfriar, bruscamente, um suor começava a descer pelo meu corpo, já não sentia mais meu coração batendo. - acho que iria morrer. Então, a minha mente ficou clara, parecia que encontrara a luz, depois de anos de cegueira. Eu estava apaixonado por Kevin. Era essa a resposta, estava, o tempo todo, bem claro, só não conseguia enxergar, essa era a explicação para eu desejá-lo tanto. Eu o amava, meu corpo tremia com essa afirmação, senti o meu coração bater, desesperado, um calor começou a subir pelo meu corpo, não conseguia escutar nada, meu olhar parecia ter se perdido no rio. Estava anestesiado pelas emoções. E agora, o que eu faria para conviver com Kevin? Acho que ele não gosta de mim tanto assim, pensei.

Estava tão feliz, por saber o que se passava dentro de mim, mas, por outro lado, amargurado por não saber lidar com esse sentimento, era tão complicado. Como todos reagiriam, ao saber que eu sou apaixonado por outro garoto? Existem tantas pessoas preconceituosas. Já vi, tantas vezes, homossexuais agredidos, serem noticiados nos jornais, sem explicação, provavelmente, vítimas de maníacos ignorantes. Como Michael reagiria, quando soubesse que o irmão, que ele tanto ama, é homossexual - comecei a ficar com medo da sua reação. Jurei contar a ele o que estava acontecendo quando soubesse e essa, era uma das coisas das quais me infernizava a mente, não poderia fugir do meu juramento, principalmente, quando se trata do meu irmão. E a Sra. Carmem, junto com Melanie, rejeitariam um gay na “família”? Elas poderiam me abandonar e não querer, nunca mais, me ver. Kevin me odiaria, por não contar, desde o início, que eu era gay, ele vai achar que eu estava me aproveitando dele, com segundas intenções. Não queria perder Kevin, ele é a primeira pessoa pela qual eu me apaixonei. Ficar sem ele, estava fora de cogitação, comecei a ficar ofegante só em pensar.

 - Jimmy, você está bem? - Kevin perguntou – Está suando frio. - Ele tocou em meu braço.

Apenas fiquei olhando-o, as palavras se embolaram em minha garganta, estavam travadas. Minha respiração ficava, cada vez mais, ofegante.

 - Jimmy! - Kevin sacudiu-me pelo braço.

 - É... é, somente, uma queda de pressão. – menti.

Melanie se apressou em chamar o garçom e pedir-lhe um pouco de sal. Ele foi correndo à cozinha, parecia até, que eu estava enfartando, ele voltou com um pratinho, uma pequena colher com sal e um copo de água. Kevin empurrou-me uma colher com um pouco de sal, seguida pela água, ele estava bem nervoso. Imaginei a reação de Michael, se ele também estivesse aqui. Michael era tudo o que eu mais queria agora, precisava dormir, embalado pelos cafunés que, apenas, ele sabia fazer.

 - Você quer dar uma volta, para respirar melhor? – Kevin era tão bonito preocupado, sua boca, avermelhada, estava trêmula.

 - Quero dar uma volta na roda gigante, antes de ir embora. – confessei.

 - Vamos com vocês. - Melanie anunciou.

Saímos da mesa, por sorte, o professor não nos repreendeu, fomos até a roda gigante, era enorme. Melanie não perdeu a oportunidade de tirar mais fotos. Subimos em uma cabine, fiquei com Kevin, Adam, Melanie e mais algumas pessoas. Estava, totalmente, sem jeito ao lado de Kevin, não conseguia olhá-lo, com medo de denunciar, por meio de algum gesto, o que eu sentia. Quando a cabine chegava ao ápice, era possível ver toda a cidade, o rio serpenteando brilhava, intensamente, com a luz do sol.

 - Por que você ficou tão estranho de uma hora para outra, - os olhos de Kevin me massacravam. Como eu queria beijá-lo. – não está tentando me evitar, de novo, está?

Kevin era maravilhoso naquela paisagem, era um convite, enlouquecedor, aos meus desejos.

 - Não estou, - falei a verdade – é só impressão sua.

 - Você tem alguma coisa, que está escondendo de mim? Algo que tenha medo de me contar? – ele me torturava.

O hálito de Kevin era tão perfumado, me fez aproximar-me, automaticamente, em direção a ele. Percebi que o mesmo acontecia a ele, os nossos rostos estavam mais próximos, sua respiração era perceptível, não consegui pensar em nada, apenas deixei meu corpo agir, de acordo com o estímulo. Antes que nossos lábios se tocassem, porém, alguém abriu a porta da cabine, a qual descera, sem eu perceber.


Notas Finais


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