-Nosso vôo sairia de 15:30. - confirmou olhando a passagem e eu me joguei na cadeira em que estava sentada.
Eram exatamente 16:15, quando foi anunciado o atraso do nosso vôo por conta da chuva. Tudo bem, acho que qualquer um ali teria chegado a essa conclusão depois de 45 minutos de atraso, mas mesmo assim, ouvir o aviso me tirou qualquer esperança de embarcar logo.
-Oppa, isso é um sinal dos céus dizendo pra gente não ir.
-Nada disso, a maioria dos vôos atrasam, isso é só coincidência.
-Eu quero ir pra casa - falei cansada, apoiando a cabeça no ombro dele.
-E eu quero que você pare de reclamar.
-Mas eu tô cansada.
-Pode dormir no meu ombro, quando chamarem o nosso vôo eu te acordo.
-Eu te odeio - resmunguei apertando o braço dele e me aconcheguei em seu ombro.
-Eu também te amo - disse rindo e beijou minha cabeça.
Não, eu não dormi. Tudo bem que às vezes o sono é mais forte, mas eu realmente não acredito que alguém consiga dormir em uma cadeira tão dura quanto essa. Mas isso não significa que eu saí da minha posição que usava o braço dele como o bom e velho travesseiro.
-Sabe o que a gente podia fazer quando chegasse lá? - perguntei enquanto mexia nos dedos dele e o vi desviar o olhar do celular.
-O que?
-Comer Yakisoba.
-Sério?
-Sim, eu quero saber se tem o mesmo gosto dos que já comi.
-Provavelmente sim.
-Mas eu quero provar um Yakisoba chinês.
-De tudo que eu falei das comidas, a única coisa que você quer provar, é uma comida que vocês já sentiu o gosto?
-Sim.
-Você não é nem um pouco aventureira.
-Não quero comer nada estranho - disse finalmente desviando o olhar da mão dele para seu rosto, vendo um sorriso pequeno em seus lábios.
-Novas experiências jagi, novas experiências.
-Depois eu penso no seu caso - brinquei dando um beijo rápido nele, e então voltei a posição de antes.
-Você nunca tocou violão pra mim.
-Você tá bem aleatória hoje hein?
-É que eu lembrei de quando você foi comprar o violão.
-Era só você ter pedido, eu não ia saber que você queria adivinhando do nada.
-Que tipo de garota não gostaria de ouvir o namorado tocando violão pra ela?
-Talvez você?
-Claro que não né!
-Quando a gente voltar eu prometo que passo um dia todo tocando pra você.
-Ai já é abusar da boa vontade - falei levantando minha cabeça e ele deu uma risada.
-Certo, então 2 músicas.
-3.
-4 e não se fala mais nisso.
-Combinado - estendi a mão e ele a apertou - Eu vou cobrar viu?
-Pode cobrar. - sorriu dando um beijo na minha testa.
Tirei o celular do bolso da saia e me aconcheguei melhor em meu casaco. Um silêncio agradável se instaurou, e ficamos apenas de mãos dadas enquanto ele massageava a minha com o polegar. Mais um bom tempo passou até que finalmente nosso vôo foi chamado, depois de quase 2 horas finalmente embarcamos.
-Agora é só esperar e você vai poder comer quanto Yakisoba quiser.
-Hahaha.
-Agora eu quero dormir.
Assim que ele apoiou a cabeça no meu ombro, minha mão passou a mexer em seu cabelo e assim, eu também dormi.
Xxx
-Que viagem longa! - resmunguei me jogando na cama king size que tinha no quarto do hotel que ele reservou.
-Você tirou o dia pra reclamar pelo visto.
-Você que não aguenta críticas - brinquei me sentando em minhas pernas e passei os braços pelas costas dele.
-Não o tempo todo. - falou sentando na beirada da cama enquanto tirava o sapato, e pelo tom de voz, percebi que ele não estava brincando.
-Desculpa - pedi deixando um beijo rápido no pescoço dele - É que eu tô com medo dos seus pais.
-Caso eles não gostem de você, coisa que eu considero impossível, foi triste. Mas é a opinião deles, e não a minha, não vou simplesmente ignorar tudo o que eu sinto pelo o que eles acham.
-Xièxiè¹ - tentei falar o mais fluente que consegui e ele deu uma risada.
-Eu podia te ouvir falar mandarim pra sempre.
-Coreano já foi uma coisa quase impossível, não quero aprender mais nada fluente.
-Mas você precisa reconhecer que seu sotaque é lindo.
-Bù² - apoiei meu queixo na curva do pescoço dele e o envolvi com meus braços.
-Você tá fazendo de propósito né?
-Shénme³? - perguntei
-Shénme? - repetiu me olhando e então virou de lado, sentando com as pernas dobradas na cama - Nǐ zhīdào nǐ zài zuò shénme⁴.
Eu simplesmente fiquei o encarando por alguns segundos, a frase tinha soado como ele perguntou o que era algo, mas não, eu realmente não sabia de que ele falava.
-Você também não sabe brincar - falei me levantando e peguei o celular na bolsa.
-Você precisa descansar - ele disse depois de rir, pegando meu celular - Então me dá isso.
-Nãããooo.
-Simmmm, mais tarde a gente vai comer o seu Yakisoba chinês, então descansa.
-Me dá - pulei e ele levantou o braço.
-Shhhhh, dorme - sussurrou contra meus lábios, e guardou o celular no bolso da calça.
-Você é bem irritante - tentei me soltar mas ele me segurou forte.
-E por isso você me ama
-Uhum - passei as mãos pelos ombros dele e o beijei o mais calmo que consegui.
Assim que as mãos dele passaram a acariciar minha cintura, desci as minhas por suas costas e peguei meu celular.
-Você é muito fácil de enganar - mordi seu lábio inferior e me soltei dele.
Fingi não notar o olhar fixo dele sobre mim, e continuei olhando a tela do celular, lendo as mensagens que tinham chegado.
-Devia te deixar com fome depois disso - falou enquanto tirava o cinto e deitou ao meu lado.
-Mas como você já disse outras vezes, você é um namorado muito legal - o olhei de relance e ele se curvou, deitando a cabeça em minha barriga.
-Uhum - grunhiu balançando a cabeça quando minhas unhas passaram a arranhar sua nuca.
Mais uma vez, como dois preguiçosos que descobri que somos, acabamos dormindo mais uma vez, dessa vez mais relaxados e confortáveis, o que tornou a tarefa de acordar mais difícil.
-Jagiya - acordei com um peso extra no meu ombro e o vi me olhando com os olhos meio fechados meio abertos.
-Que?
-Já tá de noite, vamos jantar.
-Uhum - concordei virando de costas pra ele e apertei um dos 6 travesseiros que ficavam na cama.
-Vai, levanta jagi.
-Você é mais legal calado oppa - resmunguei enquanto me sentava depois dele insistentemente sacudir meu braço.
-Você que quis comer Yakisoba chinês.
-Taaaaaa, todos nós entendemos que eu que sugeri o Yakisoba - falei enquanto calçava minha bota sem salto - Vem logo!
-Calma, você pretende pagar com um sorriso? - perguntou pegando a carteira em cima de uma mesinha de cabeceira e eu me encostei na porta
-Não.
-O restaurante fica a uns 10 minutos daqui, você se importa de ir a pé? - perguntou assim que saímos do quarto e eu só neguei com a cabeça.
-Amanhã a gente vai num lugar que eu acho que você vai gostar muito.
-E qual é?
-Surpresa.
-Não oppa, que coisa chata!
-Você não vai precisar conhecer ninguém, nem falar com qualquer pessoa, nem comigo, então não se preocupa.
-Mas você não vai comigo? - parei de andar e ele me olhou com um princípio de sorriso.
-Não precisa ficar assim, eu prometi que não ia te deixar só lembra? - perguntou apertando minha mão já entrelaçada a dele.
-Sim.
-E eu não gosto de descumprir promessas - concluiu pressionando o indicador na ponta do meu nariz.
-Oppa! - reclamei rindo e bati a mão na dele.
-Vem - riu e voltou a caminhar até o restaurante.
Assim que chegamos, demorou um pouco até uma mesa finalmente ficar vaga e nós dois conseguirmos entrar de verdade.
-Vai querer só o Yakisoba?
-Não! - falei olhando o cardápio que magicamente tinha coisas em inglês, facilitando minha compreensão.
-E o que você quer mais?
-Rolinho primavera! E…
-Yixing? - uma voz de mulher disse o nome dele, me interrompendo e atraindo a atenção dele. Pela pronúncia, essa mulher era nativa.
-Mǔqīn, fùqīn? - perguntou espantado e meu corpo gelou quando entendi o que ele tinha dito.
Mãe e pai.
-Wǒ hái yǐwéi nǐ zàixià zhōu dàolái¹¹ - ela disse e meu cérebro começou a buscar desesperadamente qualquer palavra que eu conhecesse no que ela disse. Ela estava atrás de mim, mas eu não me atrevi a virar e olha-la.
-Wǒ xīwàng tíchū yīgèrén gěi nǐ¹². - ele levantou e olhou minha cara desesperada.
Logo ele andou até mim, e me segurou.
-Oppa… - sussurrei assustada e ele deu um sorriso de canto.
-Zhè shì wǒ de nǚ péngyǒu,________¹³.
Ai meu deus, eu vou ter que me apresentar.
-Hěn gāoxìng jiàn dào nǐ¹⁴ - falei sentindo minha voz sair trêmula, piorando a pronúncia.
Eles dois ficaram me olhando por alguns segundos que custaram uma possível vermelhidão no meu rosto, até que a mãe dele deu um sorriso.
-Nǐ huì shuō pǔtōnghuà ma²²? - perguntou me olhando com um sorriso, mas eu infelizmente não entendi nada.
-Tā zhǐ zhīdào, wǒ jiào de zuìhòu yī fēnzhōng jǐ jiàn shìqíng. - ele respondeu por mim e minha mente divagava completamente em o que eles poderiam estar falando.
-Ela perguntou se você sabia falar mandarim, e eu respondi que só algumas coisas que eu ensinei de última hora. - sussurrou no meu ouvido e eu concordei com a cabeça.
-Nǐ xiǎng wǒmen yīqǐ chī wǎnfàn? - perguntou sinalizando as outras cadeiras vagas na ponta oposta a nossa na mesa, e eu deduzi que ele tinha perguntado se eles queriam jantar com a gente.
-Shì de - respondeu o pai dele com um sorriso parecido com o dele, claro que bem mais envelhecido, e os dois se sentaram à mesa conosco.
E assim passamos a noite, com um diálogo que eu pouco entendia, e com pouco quero dizer quase nada, e só me situava quando Yixing tinha a nobre atitude de traduzir.
-Shì yīgè hěn gāoxìng jiàn dào nǐ______. - os dois disseram em uníssono e eu entendi, o que foi um milagre, que ficaram feliz em me conhecer.
-Kuàigǎn shì suǒyǒu dìléi - dei o melhor de mim para pronunciar um “o prazer foi todo meu” e os dois deram um sorriso simpático.
-Zhè shì hǎoshì, kàn dào tā zhōngwū fāxiàn yǒurén shuí zàihū zìjǐ de wénhuà, nǔlì xuéxí ba. - o pai dele disse com um tom feliz, e senti a mão do Yixing se entrelaçar à minha.
-Ele disse que é bom saber que eu finalmente achei alguém que se preocupe em aprender minha cultura.
-Xièxiè - agradeci sorrindo e senti que parte do peso de conhecer os pais dele tinha sido tirado do meu corpo.
-Gèng hékuàng, nǐ yě hěn piàoliang. - a mãe dele disse, e não entendi a frase completa, mas entendi que ela havia me chamado de bonita.
-Xièxiè - agradeço mais uma vez envergonhada.
-Wǒmen xūyào qù, xià zhōu zàicì jiàn dào nǐ. - o pai dele disse destravando o carro e nós dois nos despedimos, na verdade, eu só imitei o Yixing. Antes de entrar no carro como sua esposa fez antes, ele deu uma última olhada para Yixing - Ér nǐ de nánhái, ná zhège nǚhái zhàogù hǎo.
Mesmo sem entender, eu acabei rindo ao perceber que ele tinha ficado vermelho e seu olhar tinha ido parar no chão.
-Fùqīn de quánlì - disse envergonhado e eu dei mais risada.
Assim que o carro deles saiu do estacionamento, demos meia volta e fomos fazer nossa caminhada de volta.
-O que ele disse que você ficou tão vermelho?
-Disse pra eu cuidar bem de você - disse me olhando de relance e eu dei uma risada.
-É bom você ouvir seu pai!
-Eu prometo.
-Sabe, você foi muito bem.
-Quando você disse mãe e pai, meu coração parou de bater por alguns segundos. Eu pensei que ia ser chutada dali.
-Eu disse que não precisava se preocupar, não tinha como eles não gostarem de você.
-Pelo visto você tava certo.
-Eu sei, eu sou demais.
-Cala a boca! - ri batendo meu ombro nele.
-Sem contar que minha mãe disse que você era linda.
-Não exagera, ela disse que eu era bonita.
-Dá no mesmo. Além do mais, eu te acho linda.
-Você também não é nada mal - brinquei o olhando de cima a baixo.
-Isso é uma honra. - falou com um sorriso estampado no rosto e envolveu minha cintura - E você devia agradecer por poder ficar olhando meu rosto nada mal.
-Idiota - sorri passando meus braços em seus ombros, e logo ele quebrou a distância entre nós dois.
-E então, gostou do Yakisoba chinês ou é a mesma coisa? - perguntou assim que nos separamos e voltou a segurar minha mão enquanto andávamos até o hotel.
-É mais gostoso, tem gosto de caseiro.
-Agora entende porque eu gosto daquele restaurante chinês na Coréia?
-Mas o daqui é bem mais gostoso.
-Mas é o mais perto de um que eu posso ter. Pegar um avião pra vir comer macarrão não é exatamente viável.
-Vem logo que tá frio - o arrastei e ele deu uma risada.
Assim que chegamos, escolhemos no par ou ímpar quem iria tomar banho primeiro, e como a sorte estava ao meu lado, ganhei. Tomei um banho quente e demorado, principalmente pela sensação da água quente no meu corpo, que é ainda mais reconfortante que o normal já que o frio de inverno estava mais intenso que o normal.
-Obrigada por hoje oppa. - falei assim que senti o braço dele envolver minha cintura quando deitou-se ao meu lado.
-Não precisa agradecer, provavelmente você vai me odiar amanhã, então não quero que se arrependa.
-Por que você tá dizendo isso? - perguntei espantada e logo me virei para conseguir olhar bem seu rosto.
-Porque amanhã você vai conhecer muitas coisas por aqui, e não vai ter desculpa de estar cansada.
-Você tá me assustando.
-Eu só quero levar minha namorada pra fazer uma tour pelo meu país, não precisa ter medo. A pior parte, na sua opinião, já aconteceu, que foi conhecer meus pais, agora semana que vem vai ser só conversar.
-Isso tem relação com essa surpresa nova?
-Sim, e não.
-Como assim?
-Shhhhh, não vou falar mais nada - disse me dando um beijo rápido - Boa noite.
-Oppaaa.
-Boa noite jagi.
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