-A gente não pode sentar nem por 10 minutos? - perguntei balançando o braço dele.
Tínhamos saído do hotel perto das 10:00, e já passava das 16:00 e não paramos para sentar por nem 5 minutos.
-Eu disse pra você descansar muito bem ontem, mas não, você preferiu ficar mexendo no celular até tarde.
-Isso é tortura.
-Nada disso, é turismo. - falou sério e eu acabei rindo.
-A gente pode tomar sorvete. É turismo.
-Sorvete tem em todo lugar.
-Mas ele foi inventado na China, então deve ser diferente, assim como o Yakisoba. - pedi a ele balançando o seu braço várias vezes.
-Aish, preciso manter minhas decisões com você - resmungou antes de me arrastar até uma sorveteria próxima, que destoava do nosso caminho original.
Depois de alguns minutos provando a imensa variedade de sabores que a sorveteria tinha, optei por alguns mais conhecidos e nós dois fomos sentar em uma mesinha que ficava do lado de fora.
-Você não vai realmente me deixar sozinha né? - perguntei depois de apoiar meus cotovelos verticalmente na mesa, usando as mãos para repousar meu queixo.
-Parece que alguém levou bem ao pé da letra o que eu disse sobre não precisar falar comigo.
-Não é isso… - falei mexendo no meu sorvete e ele deu uma risada.
-O que eu quis dizer é que você não ia necessariamente ter que falar comigo no sentido de que não ia precisar traduzir nada, não que eu ia te largar em um lugar que você não conhece em um país totalmente estranho pra você.
-Hum…
-Eu já disse que não ia te deixar sozinha lembra? - concordei e ele sorriu - E eu gosto de promessas cumpridas.
-Para com isso! - reclamei depois dele me encarar por alguns segundos longos com um sorriso.
-Termina logo que a gente pode voltar pra o hotel e você poder descansar. - disse rindo da minha reação e jogou o copo, agora vazio, do seu sorvete no lixo ao lado da mesa.
-Verdade? - perguntei esperançosa e ele concordou, me fazendo terminar mais rápido do que terminaria em outras circunstâncias.
Assim que acabei, pegamos um táxi e voltamos direto para o hotel, onde eu finalmente pude realizar o desejo da minha coluna e deitei naquela cama confortável.
-Meu deus, eu vou comprar uma cama dessas, agora é definitivo - resmunguei assim que cai exatamente no meio dela, ocupando parte do espaço.
-Você entra em coma se comprar uma dessas.
-Uhumm - concordei abraçando um travesseiro e me curvei.
-Oppa, você não quer me dar nenhuma dica do que a gente vai fazer mais tarde?
-Não. - respondeu direto enquanto deitava ao meu lado.
-Me diz só uma coisa, um detalhe, qualquer coisa.
-_________, a graça de uma surpresa é justamente a parte em que a pessoa se surpreende, então não vai ter graça se eu disser alguma coisa.
-Você já ouviu falar em spoiler? - perguntei me virando e ele concordou - Então o que custa dar um spoiler pra sua namorada sobre o que você quer fazer?
-Eu não curto muito spoiler - disse com um sorriso de canto e eu revirei os olhos.
-Você precisa ser uma pessoa mais paciente jagi - disse passando a mão na minha cintura e me puxou pra perto - Nós vamos sair de noite, não falta muito, então descansa bem e eu prometo que você vai se divertir.
-Tá - falei derrotada e ele sorriu vitorioso - me diz pelo o menos se eu preciso vestir algo caro e arrumado.
-Não, quer dizer, se você quiser pode, mas eu sugiro algo confortável e que te mantenha aquecida.
-Ahhhhh, você não tá planejando me levar em nenhuma jornada louca pra escalar coisas certo? - o olhei assustada e ele deu uma gargalhada.
-Claro que eu ia levar você, a garota que já preferiu dormir ao invés mastigar, mesmo com fome, porque tava cansada; pra passear em uma trilha no inverno.
-Eu já disse, você tem umas ideias estranhas sobre o mundo, sabe-se lá se você não decidiu fazer isso.
-Não, eu realmente quero fazer algo que você goste.
-Já sei! Você vai comprar comida e a gente vai ficar aqui nessa cama?
-Sério _______?
-Eu ia gostar muito disso.
-Dorme ok? Acho que você tá delirando pelo esforço que fez hoje cedo, andando - disse segurando meu rosto e me deu um beijo rápido.
-Idiota - resmunguei tirando a mão dele da minha cintura e virei de costas, mas mesmo assim, ele voltou a me abraçar por trás.
Xxx
Acordei por vontade própria, coisa rara no meu mundo, e percebi que dormia sozinha na cama. Deduzi que ele tomava banho, já que a porta do banheiro estava fechada e eu podia ouvir o chuveiro ligado.
-Acordou sozinha - comentou irônico ao sair do banheiro enquanto secava o cabelo.
-Veste uma roupa antes de fazer piada comigo - falei séria e ele olhou para o próprio corpo, coberto apenas pela cueca.
-Achei que você gostasse.
-Nossa!- falei alto cobrindo meu rosto com o travesseiro e ele começou a rir.
-Você quer comer alguma coisa antes da gente ir? - perguntou tirando o travesseiro do meu rosto.
-Não vai ter comida lá?
-Acho que vai.
-Como assim acha?
-Esquece, vai ter mas não vai ter nada realmente refeição.
-Yixing, eu juro que se você me levar pra alguma coisa que eu tenha que ficar no meio do mato, nunca mais eu olho na sua cara.
-Eu não vou me aventurar pelo mato com você ________ - falou rindo enquanto ficava por cima de mim.
-Então por que não vai ter nenhuma comida de refeição?
-Você pode se arrumar e aí sim, vai poder descobrir. - disse ao meu ouvido enquanto circulava minha cintura por cima da blusa que vestia.
-Eu te odeio muito, de verdade - falei enquanto passava as mãos nos ombros dele.
-E eu tenho consciência disso - falou selando nossos lábios demoradamente.
-Lembra que eu tenho que ir me arrumar?
-Lembro.
-Então você precisa sair de cima de mim.
-Uhum - resmungou mordendo minha orelha.
-Vai, sai - falei batendo no braço dele.
-Só mais um pouquinho.
-Nada disso - uni forças e consegui empurrá-lo de cima de mim - Como você mesmo disso, eu sou curiosa demais. - falei sorrindo e ele se jogou de bruços na cama.
Peguei uma roupa que se encaixasse no que ele disse , quente e confortável, e fui me arrumar. Como ele disse que não era nada muito chique, não passei nenhuma maquiagem além de uma base e um pouco de um batom claro e deixei o cabelo solto.
-Vamos logo!
-Calma.
-Vem, vem!
-Você quer que eu saia só de calça?
-Sim, vem logo!
-Calma _______ - pediu vestindo a camisa e eu peguei um casaco pra ele.
-Pronto, toma - joguei o casaco e abri a porta.
-Eu quero que você saiba que não é nada muito glamouroso. - comentou depois de um tempo que andávamos em silêncio.
-Eu não me importo. - o olhei rápido e dei um sorriso.
-Eu acho que fiz você criar muita expectativa.
-Você tá nervoso? Sua mão da suando.
-O que? Não - falou, deixando claro o nervosismo transparecer no tom da sua voz, e soltou minha mão para secar a própria na calça.
-Você tá nervoso!
-Aish, eu já disse que não.
-Você é tão fofo! - falei rindo, enquanto apertava as bochechas dele.
-Para, tem gente olhando. - falou visivelmente vermelho, e eu apertei mais uma vez, ficando na ponta dos pés para dar um selinho nele.
-Vem logo - segurou minha mão e voltou a andar.
Passaram cerca de mais 5 minutos, até que chegamos a um parque que se encaixava perfeitamente na imagem que os filmes passavam sobre a China, um lugar com muitas pessoas, decorado com alguns balões chineses nas cores amarela e vermelha.
-Lembra aquele dia que o presidente escolheu nós dois como os responsáveis por aquele contrato com o cara que falava com mais sotaque que nós dois juntos?
-Lembro.
*Flashback*
-Devia ter seguido o conselho da minha mãe e ter procurado outro emprego - reclamei me jogando na cadeira dele.
-E por que você faria isso?
-Esse cara já tá abusando do poder de presidente da empresa.
-Falando assim, até parece que você não gosta de passar um tempo comigo - falou piscando e eu revirei os olhos.
-Meu Deus, você consegue ser bem ridículo quando quer.
-São seus olhos.
-Me diz por favor que essas tentativas de flertar não funcionam com ninguém.
-Algumas garotas gostam de bom-humor, acham… sexy.
-Bom-humor é diferente de mau gosto.
-Certo certo - disse rindo até que o celular dele começou a tocar.
-A comida chegou.
-Você não tá esperando que eu me ofereça pra ir buscar certo?
-To sim.
-Então espera sentado, e liga pra o cara da entrega e manda ele voltar - pendi minha cabeça pra trás e fechei os olhos.
-Você é muito chata, por isso não tem namorado. - falou enquanto andava até a porta.
-Engraçado, você nunca me apresentou a sua namorada - falei no mesmo tom e ele fechou a porta um pouco mais forte, me fazendo rir.
Enquanto ele não chegava, resolvi dar uma olhada na sala dele, então levantei, deixando o salto perto da cadeira, e fui até um dos janelões de vidro que iam do teto ao chão. A vista era simplesmente linda, a minha sala não tinha uma visão tão bonita do céu de Seul, era possível ver todos os prédios altos, com as luzes acesas, e as estrelas que faziam o papel das janelas dos prédios, no céu.
Mesmo cansada, de saco cheio dessa empresa, de saco cheio desse contrato e de saco cheio de tudo, essa vista simples e ao mesmo tempo complexa, pareceu me relaxar por completo, como se nada pudesse me incomodar.
Estava tão imersa no meu mundo, olhando todas aquelas luzes contrastando perfeitamente no céu escuro, que só percebi que ele chegou quando a maturidade dele se mostrou existente e ele me deu um pequeno empurrão.
-Seu idiota! Você quer me matar de susto seu imbecil!! - comecei a bater nele freneticamente enquanto ele apenas ria.
-Você tinha que ver sua cara, foi hilária.
-Eu não tô vendo a menor graça nessa palhaçada.
-Certo, desculpa - pediu enquanto respirava pesado por conta da risada e enxugou o canto dos olhos.
-Você é muito babaca Yixing.
-Volta aqui - pediu segurando meu braço e me trouxe para posição de antes - O que você tava pensando?
-Antes de você agir como uma criança de 8 anos? - o olhei séria e ele deu uma risada antes de concordar - Essa vista é muito bonita, é relaxante.
-Ela lembra uma praça que tem lá na cidade em que eu morava na China, eu sempre ia lá quando tava cansado ou com algum problema.
-É difícil achar uma coisa assim na cidade. Eu realmente gosto dessas coisas.
-Você não pretende vir aqui ficar vendo minha vista pretende?
-Aish, a comida vai esfriar - me afastei dele e fui até a mesa.
-Pois é, antes que essa conversa ficasse muito romântica.
*Flashback*
-Essa é a praça que eu falei, e aqui é onde eu ficava quando tava mal - disse me arrastando até um lugar mais reservado.
Nesse espaço era possível ver um céu mais livre, repleto de estrelas que constavam perfeitamente com a cor escura dele. Como não tinham prédios, era possível ver claramente o brilho natural do céu.
-Isso é lindo!
-Eu lembro que você disse que gostava muito disso, e aí pensei que seria legal te trazer aqui. - disse colocando as mãos no bolso do sobretudo preto.
-Agora eu entendo porque você disse que aqui era relaxante - falei ainda olhando o céu, enquanto me sentava em um banco.
-As vezes, quando eu sentia falta de casa, eu ficava na empresa até tarde, só pra poder ficar vendo em paz à vista, era relaxante. Mas aí eu te conheci, e mesmo sendo um começo meio estranho, eu me sentia bem com você.
Enquanto ele falava, eu apenas fiquei olhando meus pés e sentia meu corpo começar a se aquecer não só pelo casaco, mas por um sentimento que supus ser felicidade.
-E quando eu percebi que talvez você fosse a pessoa que eu sempre procurei, ficar com você ficou tão relaxante quanto ficar aqui, só que sem uma passagem aérea toda vez que precisasse esquecer o mundo ao meu redor.
-Você ficou nervoso porque achou que eu não ia gostar disso?
-Sim, eu acho que fiz você criar muita expectativa sobre algo muito chique e sensacional, e na verdade, era só uma praça de noite.
-Não é só isso, é um lugar especial pra você então é mais romântico do que um buquê de rosas num restaurante caro.
-Geralmente as mulheres gostam de coisas românticas de filme, não só isso.
-Ei - chamei a atenção dele e assim que ele me olhou, segurei seu rosto e aqueci nossos corpos com um beijo cheio de sentimentos - Felizmente, a sua namorada não é dessas garotas.
Um sorriso bobo apareceu no rosto dele, e ele concordou com a testa colada à minha.
-Pois é, felizmente - sorriu mais uma vez e segurou meu rosto, dando início a mais um beijo.
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