(Londres – Sexta-feira, 15/05/15)
– Você tem certeza disso? Ele não está de olho no Louis, né? – Harry perguntou a Zayn durante a ligação. Assim que amanheceu, o Malik ligou para ele apenas para informa-lo do que faria durante o dia e os lugares que frequentaria com Nick para que ele nem mesmo pensasse em passar pelo lugar. Harry agradecia muito ao amigo por estar fazendo aquilo por ele, mas ele se importava com Louis e se Nick estivesse de olho nele também, acabaria descobrindo onde ele estava morando.
– Tenho, ele não desconfia do Louis. Olha, eu tenho que desligar, tome cuidado. Apenas uma última coisa, eu te amo. – Murmurou com a voz cheia de doçura e carinho.
– Não, você não ama ele, você me ama. – Ouviu a voz divertida de Liam ao fundo. Harry sorriu, estava com saudade das loucuras dos amigos e, principalmente, de Cara. Ele precisava falar com ela depois.
– Eu também amo vocês. – Murmurou antes de desligar.
Era hoje... Louis viria em seu apartamento para que ele pudesse continuar a história. Ele realmente precisava arrumar tudo antes que o garoto aparecesse. Não é como se ele tivesse algo a esconder, como um quarto vermelho ou algo assim, mas ele queria dar uma boa primeira impressão.
Primeiro ele tirou a poeira de todos os móveis e depois varreu o apartamento inteiro. Ele não era tão grande e por isso não deu muito trabalho. Arrumou todos os livros de sua estante, os CD’s e discos de vinil, os quadros que havia colecionado, os objetos e guardou tudo aquilo que poderia ser comprometedor – como alguns quadros que tinha Niall, Cara, Liam e Zayn. Para não passar a imagem de alcoólatra, ele pegou todas as suas bebidas e guardou dentro de seu quarto. Tudo aquilo que estava ligado ao BDSM estava devidamente guardado dentro de uma caixa no interior de seu closet.
Louis lhe falou que sairia mais cedo para que pudesse passar em seu apartamento e não especificou um horário, isso estava deixando o cacheado ansioso e ele não conseguia ficar quieto em um canto, tinha que fazer algo para ver se a ansiedade acabava, mas estava sendo difícil.
Para passar o tempo, Harry pegou um disco de vinil do álbum AM e colocou para tocar. A primeira música, obviamente, era a mais sensual e fazia Harry pensar em William na parte: Talvez eu esteja muito ocupado sendo seu para me apaixonar por um novo alguém.
– O que eu vou contar para ele hoje mesmo? – Se perguntou enquanto andava pela sala e escutava a música sensual que tocava. – Deixe-me ver... Eu parei na parte em que eu e o William ficamos na floresta... Depois disso acontece mais algumas coisas no vilarejo e então... É, depois disso eu me encontro com o Nick pela primeira vez. – Murmurou para si mesmo.
Ao olhar ao redor, Harry lembrou-se de algo muito precioso que estava guardado naquele apartamento. Em um piso, mais especificamente embaixo da estante, estava guardado o elixir. Aquele elixir deveria ser guardado com muito cuidado e que não poderia ser encontrado se Nick o achasse. Seu castigo deveria ser pior pelo simples fato de ter roubado um dos frascos de elixir que ele possuía.
Harry arrastou a estante – tomando cuidado para não derrubar nada – e retirou o piso de madeira que estava solto. Dentro do piso havia uma pequena caixinha negra, Harry a retirou e a abriu, por dentro ela tinha um tecido de veludo avermelhado e o pequeno frasco de elixir repouso cuidadosamente. Aquele líquido incolor que parecia ser indefeso era poderoso e tinha o poder de lhe conceder a imortalidade, quando Harry pegou naquele frasco pela primeira vez não sabia desse poder, mas agora que sabe, apenas de tocar naquele elixir já lhe fazia sentir tal poder a ponto de fazê-lo se arrepiar e marejar os seus olhos. Guardou novamente o elixir debaixo do piso e colocou a estante em seu lugar. Ninguém podia saber da existência daquele elixir.
– Será que o Louis vai vir só de tarde? Se for assim, acho que vou passar o dia lendo... Ou será que eu fico apenas escutando música? – Harry dá de ombros e aumenta o volume da música, como não tinha nada para fazer, ele decidiu organizar o seu quarto.
Antes de ir para o seu quarto, Harry passou pelo enorme piano de calda branco que havia no canto de sua sala e sorriu. Aquele piano lhe contava muitas histórias tristes, mas ele lhe proporcionava grande alegria. Aquele piano limpo e brilhante era simplesmente lindo, Harry gostaria de sentar-se e tocar um pouco, mas agora não... Ele tinha pouco tempo – ou muito, não se sabe – para arrumar seu quarto e ele estava uma bagunça. Ao adentrar o cômodo, viu a sua cama bagunçada, as caixas em que havia colocado as bebidas estavam em cima da cama, o closet aberto e várias roupas espalhadas. Agora, ele se perguntava como isso havia acontecido, até porque se lembrava de ter arrumado seu quarto ontem.
Com um suspiro alto, Harry pegou todas as roupas e as arrumou dentro de seu closet, pegou as caixas com bebidas e colocou em baixo de sua cama, arrumou a grande cama e então começou a pegar os livros que estavam em seu quarto para coloca-los na estante. Quando Harry estava na sala arrumando os livros, um ritmo já conhecido começou a tocar e ele instantaneamente suspirou e se deitou no chão. Aquela música lhe deixava muito triste, o fazia lembrar de muitas coisas, principalmente as músicas de finais de festas que sempre tem o ritmo mais lento e romântico. No.1 Party Anthem definitivamente era a sua música favorita, o ritmo lento o dava vontade de pegar alguém para dançar de forma lenta e abraçados, apenas para sentir a presença um do outro e já sentir-se feliz.
– Cadê o Louis quando se precisa? Ah, eu preciso parar de falar sozinho. – Resmungou. Quando enfim a música parou de tocar e pulou para a outra, ele se levantou e continuou a organizar os livros na prateleira. – Eu não tinha percebido que a minha vida era tão chata até hoje. Estou entediado. – Murmurou enquanto jogava-se no chão e fechava os olhos. O que será que Louis estava fazendo? Harry quase conseguia ver o pequeno debruçado sobre a bancada e lendo algum livro, ele ficava simplesmente adorável daquele jeito, ainda mais quando ele estava com seus óculos de leitura.
Harry então se pôs a pensar sobre Nick. Havia se passado décadas desde que saiu da vida dele e tem certeza de que não quer voltar. Ele acha que se o Grimshaw não tivesse sido educado pelo verdadeiro Duque daquele jeito, ele poderia ser uma pessoa bondosa e divertida, não esse homem arrogante e sarcástico. O cacheado pode estar contando a sua história para Louis agora, ela pode ser trágica e triste, mas a história de Nick e Liam são piores, ele pensa seriamente em não contar detalhadamente para Louis apenas porque ela é muito pesada. Ele entende o motivo para que Nick seja desse jeito, mas Liam foi tratado de forma pior e mesmo assim ele é uma ótima pessoa.
– Okay AM, a próxima música que tocar vai ser o que eu vou decidir fazer pelo Louis. – Harry falou convicto. Mas ele sabia que música tocaria a seguir, ele reconheceu os primeiros segundos da música e um sorriso enorme se abriu em seu rosto quando a música I Wanna Be Yours começou a tocar.
Estava decidido, Harry seria de Louis e Louis seria dele. Não importa quem tentaria interferir, não importa se for a Danielle, não importa se for o Nick... Apenas... Não conseguiriam.
(x)
Lá pelas três da tarde, Louis lhe mandou uma mensagem avisando que estava saindo do trabalho e que estava indo para o seu apartamento. Harry estava mais nervoso ainda, para ele seu apartamento estava todo imundo novamente – mesmo que não tivesse nem uma poeira em lugar nenhum – e ele tinha que arrumar, mas conteve-se e apenas ficou tocando notas aleatórias no piano enquanto esperava pelo menor.
Não demorou nem meia hora até que Louis chegasse. Antes de abrir a porta, Harry se olhou e não viu nada demais em sua calça moletom cinza e em sua camisa branca, estava apresentável. Ao abrir a porta e avistar Louis, ele percebeu que estava um lixo porque o pequeno estava simplesmente lindo. É na simplicidade que vemos a beleza, isso estava evidente com o que Louis estava usando: uma simples regata branca meio transparente – dava para ver algumas tatuagens em seu peito e Harry adorou isso –, bermuda jeans e tênis da Adidas branco.
– Oi Lou... – Falou tímido, sua voz saindo mais grave e como se fosse um suspiro. O menor sorriu com as ruguinhas em seus olhos e Harry respirou fundo, aquele garoto era simplesmente adorável.
– Hey Harold. – O cacheado deu um passo para trás e o deixou entrar, os olhos curiosos de Louis olhando toda a sua sala e reparando em todos os móveis. O menor deixou a sua mochila no canto da sala e se virou para Harry, o olhando com expectativa. Depois de trancar a porta, com um grande suspiro, o cacheado se aproximou de Louis.
– Eu sei que você quer olhar tudo. Fique à vontade, pode olhar. – Tomlinson gargalhou e então se encaminhou para a estante, passando os dedos gordinhos pelos livros e lendo o título de cada um. Havia vários que ele já havia lido e alguns tão antigos que parecia pertencer a outro século. O cheiro de livro velho misturava-se com o de livro novo, mas para um amante de livros como o pequeno, aquele era o aroma mais delicioso do mundo. Todo o apartamento de Harry tinha um toque meio rústico e os móveis em cores neutras, Louis achou lindo.
– Seu apartamento é muito bonito. Mas, tudo parece tão caro, como conseguiu tudo isso? Trabalha de que? – Falou afobado, ainda olhando para tudo. Seus olhos se caíram em especial pelo console de vídeo game que estava no rack e a televisão de tela plana que deveria ter 50 polegadas. Louis queria tanto jogar naquele PS4.
– Eu... Er... eu venho de uma família rica, não trabalho com nada por enquanto. – Inventou a desculpa de última hora, não seria muito apropriado falar que pegou parte do dinheiro de Nick.
– Nossa, olha quantos CDs e discos você tem! – Falou animado enquanto se sentava no chão para ver analisar os CDs que ficavam embaixo dos livros. – Eu acho que se diz muito do gosto música de uma pessoa, se quer conhecer alguém de verdade, então veja a playlist dela. – Contou risonho enquanto analisava cada CD minuciosamente.
– Porque acha isso? – Sentou-se ao lado do menor.
– Não sei. Eu não costumo julgar um livro pela capa, então não julgo alguém por seu gosto musical, mas as músicas que ela gosta lhe diz muito. É tipo aquelas pessoas que acreditam em astrologia e já entendem a forma como uma pessoa é apenas por falar seu signo, eu entendo a forma que uma pessoa é apenas por seu gosto musical.
– Então me diga como eu sou.
– Eu não sei o que julgar de você, até porque tem de tudo aqui, você é bem eclético. Mas, eu diria que é uma pessoa bem experiente em um corpo jovem, há músicas clássicas e músicas da atualidade. Ou você é uma pessoa que foi criada por pais com ótimo gosto musical, ou é aquele que busca o conhecimento em tudo, então procura achá-lo também na música. – Harry teve que concordar que Louis tinha uma visão ótima e estava impressionado com as suas palavras. Pode-se dizer que sim, ele estava certo, mas não exatamente. Harry não cresceu com pais que gostavam de música porque naquela época não tinha rádio ou algo assim, eles escutavam música apenas durante as comemorações. Claro, ele estava certo por falar que Harry era uma pessoa experiente em um corpo jovem, tinha 221 anos de experiência. E estava completamente certo em falar que ele procurava conhecimento até nas músicas.
– Você está certo em algumas partes. Eu busco conhecimento na música, mas sabe porquê? Porque cada um interpreta uma letra de sua forma, para alguns a letra pode ser feliz e para outros pode ser triste. Por exemplo, um amigo seu pode gostar muito de uma música e você acaba perdendo ele, então essa música fará você se lembrar dele sempre, sendo ela de forma triste ou alegre. As letras podem ter ambiguidade, algumas você tem que pensar bem para entender o significado e em outras você só entende se alguém te explicar, mas, cada um vê uma letra de sua forma.
– Por exemplo...?
– Por exemplo... – Harry olhou para as capas de CDs e pegou um em especial, era o álbum Froot de Marina and The Diamonds. Louis olhou curioso para a capa colorida do álbum e ficou olhando para o cacheado que andava até o aparelho de som e colocava o CD para tocar. Harry colocou na faixa 8, a música Solitaire. – Escute essa música atentamente e depois me explique o que entendeu dela.
Os dois ficaram sentados quietos e escutando a melodia lenta enquanto a voz de Marina cantava a letra. Louis olhava para o nada, apenas absorvendo a letra e estudando ela. Harry olhava para o pequeno sentado de pernas cruzadas, as coxas ficavam grossas no tecido claro da bermuda e dava para ver tatuagens nas suas pernas, os braços definidos eram tão bonitos e suas tatuagens se destacavam. Harry se via cada vez mais encantado pelo pequeno a sua frente, como a música que ele ouvira mais cedo mesmo dizia, ele apenas queria ser seu. Quando a música acabou, o moreno passou uns bons segundos apenas olhando para o nada enquanto e Harry passava as músicas até a penúltima, queria que Louis escutasse a última.
– E então?
– Eu não sei... – Falou frustrado – Me explica.
– Pode-se dizer que daqui para frente você verá essa música como sendo a música tema do Niall. Essa música declara o sentimento de perda, que sem a pessoa ela apenas fica sem sentimentos, duro como uma roca, frio como uma pedra. Também fala que ela fica solitária. Mas, o mais importante, que tudo o que ela quer fazer é ficar bêbada e em silêncio. Quando eu chegar a parte da mansão, você entenderá perfeitamente essa letra, mas, lembre-se, essa é o meu ponto de vista e você tem que ter o seu. Um livro pode ser interpretado de muitas formas, mas uma música... Ela é diferente...
– Você fala com tanta paixão... Gosta tanto assim de músicas? – O sorriso no rosto de Louis apenas aqueceu mais o seu coração, fazendo com que ele concordasse.
– Apenas pela música você consegue demonstrar suas emoções. Uma música pode ser perfeita para um exato momento, como aquela música que se encaixa perfeitamente no seu momento triste, ou aquela música que sempre o deixa feliz... Com os livros não tem isso, mas, com uma simples letra de uma música, você pode se declarar para uma pessoa.
Como se estivesse apenas esperando que ele parasse de falar, a música que Harry esperava começou a tocar. Louis pareceu reconhecer a música e sorriu, mas ele não entendia o motivo por trás daquela música em especial, ela falava uma coisa que Harry não tinha coragem de falar:
(...)
Mas, se a terra acabar em chamas
E os mares congelarem no tempo
Haverá apenas um sobrevivente
A memória de que eu era sua e você era meu
(...)
Então, me mantenha viva
(Região de Northumberland – 1812)
Após aquele incidente na floresta, Harry e William não conseguiram se ver por uma semana. Pela neve ter ficado muito alta, a igreja não abriu e ninguém ousava sair de suas residências. Harry pedia todos os dias a Deus para que a neve descongelasse e ele pudesse ver seu amado. Mas, então, ele lembrava-se que Deus não amava ele, aos olhos de Deus ele era um imundo pecador e nunca seria aceito no paraíso. Será que Deus estava o mandando ficar longe de William e por isso que a neve continuava a cair e não derretia? Aquelas perguntas apenas o deixava mais triste, fazendo-o apenas ficar em seu quarto o dia todo, as vezes chorando enquanto olhava pela janela e percebia que a neve continuava a cair e as vezes apenas sentado em um canto pensando seriamente em se matar por ser um pecador.
Na semana seguinte a neve parou de cair, mas ainda estava acumulada e demoraria até que derretesse. Des e Harry aproveitaram a pequena trégua para ver se os animais continuavam aquecidos dentro do celeiro e colocar mais água e comida. Os seus vizinhos, os Horan, foram convidados para passar o dia com eles porque estava começando a ser muito entediante apenas os três Styles naquela casa – o que na verdade era um pretexto para ver se Harry melhorava, ele parecia tão triste que apenas a presença do amigo irlandês melhoraria o seu humor.
– Harry, o que houve? Está assim desde... Desde... Aquele dia. – Niall perguntou com o rosto mais pálido. O moreno havia mudado desde que havia visto o corpo de Briana naquele lago, ele ficou horas apenas sentado e olhando para o nada enquanto repetia que tudo ficaria bem, o trauma foi tão forte que apareceram alguns fios brancos em seu cabelo escuro. Até hoje, depois de uma semana, o irlandês não conseguia falar a palavra “morte”.
– Nada, é coisa minha. Você não conseguiria entender. – Os dois adolescentes estavam deitados na cama do cacheado, o quarto estava com a porta fechada para que as suas conversas não pudessem ser ouvidas. Logo depois que os Horan chegaram na casa dos Styles, a neve começou a cair novamente e aquilo fez com que Harry suspirasse alto e então percebesse que Deus não estava mesmo querendo que ele visse William. Os Horan passariam a noite em sua casa, Niall dormiria em seu quarto e os pais dele no antigo quarto de Gemma. Aquilo fez com que Niall ficasse feliz, até porque, há algumas semanas, ele escondeu algumas bebidas no quarto de Harry e havia esquecido lá, enfim ele poderia bebe-las.
– Então me faça entender. – Niall insistiu. Harry gostaria de contar a seu amigo sobre o que anda acontecendo em sua vida, mas o que ele falaria? Ele não sabe bem qual seria a sua reação, mas tinha certeza de que ficaria horrorizado, poderia xingá-lo e contar tudo para o padre. Harry faria qualquer coisa para William, se fosse para ele ser torturado e morto em seu lugar, ele seria e nunca contaria a ninguém o que aconteceu entre os dois. Harry o amava demais para fazê-lo sofrer também.
– Não é nada, Niall. Você não ia beber? Então beba! – Niall resmungou algo antes de se levantar na cama e andar até o baú de roupas do amigo. O irlandês arrastou o baú e colocou a mão dentro do pequeno buraco que havia feito na parede, retirou de lá duas garrafas que continham whisky. Harry achou muito inteligente da parte do irlandês de fazer um buraco na parede para esconder coisas, com certeza ele não pensaria nisso se tivesse que esconder algo, mas agora ele faria isso.
– Ainda não entendo porque gosta tanto de beber.
– Está no meu sangue. E também, eu preciso esquecer de tudo de ruim que anda acontecendo comigo, estou sobrecarregado e preciso tirar a imagem da Briana da minha mente. Eu não consigo dormi desde que vi o corpo dela boiando naquele lago, a imagem dela surgi na minha frente toda vez que eu fecho os meus olhos e o barulho dos gritos do Oli são escutados toda vez que eu me deito. Eu estou desesperado. Meus cabelos estão ficando brancos de tanto estresse. – Niall murmurava enquanto olhava para o nada, era como se a imagem da mulher ainda estivesse em seus pensamentos. De forma quase automática, ele continuou a olhar para o nada, abriu a garrafa de bebida e virou.
Harry poderia sentir-se culpado pelo sofrimento do amigo, ele era o responsável pela morte de Briana. A mulher havia se suicidado por sua culpa, ela resolveu escapar desse mundo pela forma mais fácil depois de ter ouvido tudo aquilo, não conseguiu suportar a ideia de que aquele que amava tanto poderia ter um caso com ele – o que, naquele momento, era uma mentira que mais tarde tornou-se uma verdade. Ela deveria ter feito o que Harry lhe disse, continuasse casada com Oli, vivesse ao seu lado e falasse que o filho era dele.
Harry queria se sentir culpado.
É, mas fazer o que?
(x)
A neve continuava a cair, o sol se pôs há muito tempo e os mais velhos já haviam se recolhido, mas os dois adolescentes continuavam acordados conversando. Estava mais para o cacheado falando sozinho enquanto o irlandês continuava a beber. Ele não havia terminado ainda a primeira garrafa porque depois do primeiro gole, eles tiveram que descer para jantar e passar um tempo com suas famílias. Harry estava deitado na sua cama enquanto que Niall estava sentado no chão e olhando pela janela.
– Será que a Barbara está acordada? – Perguntou de repente.
– Eu não sei. Já está bem escuro, deve ser o meio da noite, porque ela estaria acordada a essa hora?
– Costumávamos ficar acordados até tarde para sairmos escondidos e nos encontrarmos naquela campina que tem atrás da igreja. Ficávamos deitados naquela campina de mãos dadas apenas olhando a lua, as estrelas e imaginando que fugiríamos juntos para longe, quem sabe voltar para a Irlanda ou ir para outro país.... Poderíamos até mesmo atravessar o oceano e ir para a América. – A essa altura, Niall já tinha lágrimas escorrendo por seu rosto e um sorriso triste enquanto olhava para a janela. Harry podia imaginar o amigo junto a amada, podia imaginar quão felizes eles eram.... Mas, tudo foi arrancado dos dois por causa de uma família ambiciosa.
– Se eu te falasse que o mesmo acontecia comigo, mas eu não posso ficar com aquela que amo, você acreditaria?
– Todos acreditariam. Na nossa atual sociedade, não importa o quão bonito você seja, não importa se ama a pessoa tanto a ponto de fazer qualquer coisa por ela, se você não tem dinheiro você não é um bom partido. – Tomou outro gole. Harry se sentou na cama e encostou as costas na parede, olhou para a janela e avistou a lua e as estrelas iluminando o céu escuro. Niall se sentou ao seu lado e lhe entregou a garrafa, Harry acabou pegando e tomando um pequeno gole, uma careta se formou em seu rosto quando sentiu o liquido descer rasgando a sua garganta.
– Como aguenta beber isso como se fosse água?
– Você não sabe como era a minha vida na Irlanda. Eu bebo desde os meus 13 anos e meus pais não desconfiam disso. Digamos que crescer sendo a sombra do seu irmão, vendo as garotas da vila olharem para qualquer um menos você e ser tratado como o filho mais novo que não merece nada, é apenas um inútil, não era fácil.... Quando eu, enfim, consegui passar por isso, foi quando eu comecei a beber. Eu bebo para esquecer das coisas, hoje eu sou tratado de uma forma, mas quando eu era mais novo era totalmente diferente. Você acha que eu sou feliz, Harry? Eu sempre estou sorrindo, brincando, fazendo os outros rirem.... Mas isso é apenas para compensar o grande vazio que sinto no meu peito, eu quero fazer aqueles ao meu redor feliz para que eles não vejam o quão triste estou.
Harry não sabia o que falar, então apenas bebeu outro gole do whisky e tentou não fazer nenhuma careta.
– Eu tento aprender a não amar, a esquecer desse sentimento e seguir em frente porque ele só nos leva a decepção. – Niall respirou fundo antes de olhar para o amigo com os olhos vermelhos e um sorriso triste – Eu queria esquecer desse sentimento, mas eu apenas continuo a amar e amar, sempre gostando de alguém, me aproximando, começando a amar e depois me decepciono. Eu já estou tão cansado disso, mas a única coisa que eu posso fazer é beber para esquecer.
– Já aconteceu alguma coisa com você? Nunca adoeceu por beber tanto?
– Só uma vez, mas eu fui ajudado pelo meu irmão e ele não contou a ninguém. Ele acha que eu parei de beber depois daquilo, mas foi aos meus 16 anos.
– Do jeito que você é, eu sei que achará uma pessoa maravilhosa para ficar ao seu lado e que o amará muito. – O irlandês ficou olhando pela janela por um tempo, pensando. Harry queria saber o que se passa por sua mente, mas pelo seu olhar vago e o sorriso melancólico, provavelmente seria sobre o seu passado que ele explicou de forma tão vaga.
(x)
No dia seguinte, os dois garotos acordaram com dores de cabeça e Niall se arrastava pela casa, mas ninguém pareceu desconfiar de nada, afinal, aquele era o normal do garoto toda manhã. O dia havia amanhecido com o sol, a neve estava derretendo e aquilo fez o cacheado ficar muito feliz. Mas, o seu pai havia amanhecido doente e era o dia em que deveria se entregar o algodão na propriedade dos Tomlinson – deveria ter sido há dias, mas a neve não deixou ninguém sair e como o dia estava com sol, então todos deveriam entregar o algodão o mais rápido possível.
– Harry, acho que você e o Niall deverão ir à casa dos Tomlinson entregar o algodão, a colheita foi há semanas e temos que entregar eles logo. – Sua mãe lhe falou enquanto entregava um ensopado de batata para o seu pai. – Pegue os sacos de algodão e coloque eles na carroça. Tome essas moedas, os dois podem aproveitar o dia no vilarejo e não voltem muito tarde. – Os dois garotos sorriram com o que Anne falou e rapidamente saíram da casa. Harry quase gemeu quando sentiu o calor do sol aquecer a sua pele e respirou o ar puro novamente.
– Eu estava sentindo tanta falta desse sol. – Murmurou. Os dois não tiveram muito tempo para aproveitar o sol, tiveram que arregaçar as mangas de suas camisas e começar o trabalho de pegar todos os sacos de algodão da colheita para entrega-los ao.... Ao se lembrar que deveria ir à casa dos Tomlinson, a casa de William, Harry sorriu grande enquanto carregava os grandes sacos e colocava na carroça. Ele veria o William, depois de uma semana, ele enfim poderia ver o seu amado.
– Que sorriso enorme é esse? Está feliz pelo sol ou pelo trabalho braçal? Se olhar bem, os seus braços estão ficando com músculos em, com certeza chegará vários pedidos de casamento em breve. – O irlandês brincou.
– Apenas estava sentindo muita falta do William.
– Ata. Já faz muito tempo desde que eu conversei com ele, não dá para esquecer que ele se deitava com a mãe da Barbara. Na verdade, com a maioria do vilarejo. – Harry apenas ignorou aquele comentário e continuou a fazer o trabalho sorridente.
Assim que terminaram de carregar a carroça com dez grades sacos de algodão, os garotos arrumaram os cavalos e subiram na carroça rumo a casa dos Tomlinson. A neve já havia derretido e vários outros vizinhos tinham tido a mesma ideia de levar a colheita para o Sr. Tomlinson. Os dois brincavam durante o caminho, Harry guiava os cavalos e Niall gritava asneiras para os vizinhos que encontravam.
Demorou algumas horas, mas quando enfim chegaram nas terras dos Tomlinson, perceberam que havia muitas pessoas para entregar o algodão também e uma grande fila havia se formado para entregar o algodão e isso fez os dois garotos suspirarem, com certeza o dia de ambos havia sido jogado fora. Harry desceu da carroça e se alongou, passar horas andando naquela carroça o deixou dolorido e teria que passar mais algumas horas esperando.
– Tenho certeza de que passaremos o dia inteiro aqui. Deve haver dez ou mais carroças na nossa frente. – Niall resmungou.
– Não, não deve ser tanto assim. Eu vou checar, me espere aqui. – Harry falou. O sol já havia ficado mais quente e ele começava a suar, arregaçou mais as mangas e abriu alguns botões de sua camisa enquanto andava em frente e contava quantas carroças havia na frente deles. Pelo visto, a colheita havia sido próspera porque muitas carroças possuíam muitos sacos. A colheita dos Styles só não havia sido melhor porque eles plantavam frutas e verduras para todo o vilarejo e não apenas o algodão. Isso fazia eles possuírem muito dinheiro, mas os impostos dos Tomlinson eram muito altos e acabavam ficando com quase nada.
Harry já havia contado seis carroças quando se viu na frente do armazém dos Tomlinson. Na frente dele estava duas pessoas olhando e outras quatro estavam dentro para pegar os sacos e arruma-los. Harry olhou apenas para uma em especial, aquele pequeno homem vestindo uma calça surrada, a camisa marrom com as mangas arregaçadas e as botinas sujas de barro, os cabelos lindos estavam desarrumados e grudados na testa devido ao suor e o rosto corado, ele devia estar trabalhando. O homem olhou ao redor e isso fez com que Harry se escondesse atrás de uma carroça, mas William já havia o visto e um grande sorriso estava em seu rosto, Harry escondia parte de seu rosto e sorria, os grandes olhos esverdeados olhando para o menor com paixão e o sorriso de covinhas direcionado para ele.
Se havia uma coisa que Harry queria muito nesse momento era sair correndo para abraçar o seu amado e enchê-lo de beijos, mas não podia, ele tinha que ficar olhando para ele apenas de longe, mantendo-se distante e sentindo o seu coração se apertando por não poder demonstra-lo a alegria de vê-lo depois de dias. William olhou para os lados e então olhou para Harry, fazendo um sinal com a cabeça que significava para segui-lo e se virou para andar calmamente até a parte de trás do armazém. Depois de um tempinho, Harry o seguiu, mas pelo outro lado e fazendo o possível para que ninguém o visse.
A primeira coisa que Harry faz quando viu o menor esperando por ele nos fundos do armazém, foi abraça-lo o mais apertado possível, sentindo o menor fazendo o mesmo e quase que fundindo os seus corpos. O cheiro característico de William misturado com o suor o deixava mais atraente e isso fez Harry enterrar o seu rosto na curva de seu pescoço e inalar o máximo que podia, gravando aquele cheiro em sua mente. O menor alisava o seu cabelo cacheado com carinho e apertava a sua cintura possessivamente.
– Eu estava sentindo tanto a sua falta. – Tomlinson murmurou sem desfazer o abraço.
– Eu também, estava contando os dias até que pudesse vê-lo. – Sem esperar mais nenhum segundo, Harry empurrou William contra a parede e tomou os seus lábios com fervor. William agarrou a sua cintura e apertou possessivamente, Harry segurava o rosto de Will e o beijava com amor e carinho, mas ao mesmo tempo com força e cheio de saudade.
– Harry... – William suspirou em paixão. Os dois perdiam-se no toque um do outro, derretendo-se nos lábios um do outro e dissipando aquele sentimento de saudade.
– Will... Eu te amo tanto... – Distribuiu vários beijos pelo rosto do menor, enchendo-o de carinho.
– Eu também te amo, Harreh.
(x)
– O que ficou fazendo para demorar tanto? – Niall perguntou. Mas, havia algo em sua voz que parecia que ele estava perturbado com algo, mas não queria falar sobre isso, Harry o conhecia bem o suficiente para perceber quando ele estava escondendo algo.
Os dois garotos estavam em uma taberna, já haviam entregado os sacos de algodão e passaram o dia na campina da igreja apenas deitados e conversando, algumas horas ficavam jogando o pouco de neve que restava um no outro ou ficavam correndo pela campina ainda escorregadia, Niall escorregou e caiu no chão pelo menos duas vezes. Agora durante a noite, Niall pediu para que Harry o acompanhasse até a taberna que conseguia comprar bebidas mesmo não tendo idade, usaria as poucas moedas que havia ganhado da mãe para comprar as bebidas e Harry guardaria as moedas que ganhou, assim como faz com as outras.
– Estava conversando com o Will. – Respondeu de forma vaga enquanto esperava o homem pegar a garrafa de bebida do amigo. Ele fez uma expressão estranha que deixou Harry confuso, mas o perguntaria depois.
– Okay, mas eu gostaria de conversar com você sobre o Sr. Tomlinson mais tarde. Ficaremos acordados até o amanhecer novamente? Me acompanhara na bebida?
– Lhe acompanharei porque estou feliz.
– E qual o motivo dessa felicidade? Estima tanto assim essa amizade com o Sr. Tomlinson? Ele é mais importante do que eu? – De novo a voz soou estranha, aquilo já estava incomodando o cacheado.
– Temos uma amizade muito forte, eu estimo muito essa amizade porque eu o entendo e ele me entende, mas a sua amizade também é muito importante para mim.
– Você também é importante para mim. Nossa amizade será eterna.
– Sim, você será o meu amigo para sempre.
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