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História Kingdom Of Starshine - A Princesa Perdida - Capítulo VII - Nashira


Escrita por: reverie49

Capítulo 7 - Capítulo VII - Nashira


Definitivamente odiava vestido! Odiava ter que usá-los em momentos de confraternização... Qual o problema com as minhas calças e blusas de mangas longas? Elas me fazem sentir-se tão bem e confortável. É como estar nas nuvens se empantufando de algodão doce. E sobre aquele vento por baixo? Maldito de uma porcaria! Esse vento frio nas pernas é tão mais desconfortável quanto esses sapatos pretos e fechados que parecem querer engolir meus dedos. Por que as pessoas ainda não entenderam que nem todas as garotas usam sapatos com o tamanho menor que 37? Mas não podia reclamar, era melhor ter meus dedos amassados por um projeto de sapato de número 36, do que andar pelo castelo de Garnen Star usando saltos de quinze centímetros.

A vida no reino não é pra mim, definitivamente, não. Não e não! Nem um pouco! E é nesse momento, enquanto tento arrumar a manga de babados que pinicava no meu braço, com a ajuda de apenas uma mão – já que a outra segurava uma travessa cheia de doces, que se caso fossem visitar o chão, minha cabeça rolaria na montanha do castelo a baixo –, que meu respeito cresce ainda mais pelas mulheres da realeza. Sei que usar vestidos que são extremamente apertados na cintura e saltos muitas vezes desconfortáveis, pode ser fichinha comparado a tudo que precisa passar quando se tem o sangue azul. Mas pra mim, o simples ato de ficar reta e de nariz empinado enquanto ando com um salto de cinco
centímetros é uma luta e tanto. É como querer vencer a luta contra um leão. Ok, não é tão difícil assim, mas prefiro sapatos baixos à futuramente ter que lidar com um problema sério na coluna.

Pousei a travessa com os doces sobre a extensa mesa cheia das mais diversificadas guloseimas e voltei às pressas para a cozinha, tendo o minucioso cuidado de não pisar na barra do vestido preto e ir de encontro ao chão brilhoso do castelo.

- Meu Deus, onde você estava? Subindo a montanha correndo? – Mérope falou de olhos arregalados, segurando o vestido para não pisar na barra e vindo em minha direção.

- Demorei? – perguntei, franzindo o cenho.

- Não! – respondeu de imediato. – Seu cabelo esta idêntico a um ninho de pombo.

- Não seja exagerada. – pressionei os olhos soltando um leve murmúrio de desdém e peguei a travessa prata que mais se assemelhava a um espelho que estava sobre a mesa, junto a tantas outras travessas. – Droga! – pronunciei horrorizada, ao ver meu estado.

Mérope realmente não estava exagerando, meu cabelo estava idêntico a um ninho de pombo, por mais que não saiba como é um ninho de pombo, suponho que seja uma bagunça para ela ser capaz de fazer tal semelhança. Corri para frente de um dos armários, procurando uma forma de arrumar meus cabelos. Nunca fico bem de coque, nunca!

- Você não vai soltar esse cabelo agora, vai? – Mérope perguntou, se posicionando ao meu lado.

- Não posso aparecer assim para os convidados da princesa. – falei, já soltando a liga que segurava o coque e bagunçando os cabelos. – Que com certeza são pessoas muito importantes. – coloquei a tiara branca de bordado entre os dentes, mas Mérope ligeiramente a segurou, me olhando de uma forma que poderia até me assustar se não fosse meu desespero em arrumar o cabelo. – Obrigada.

- Verdade. Por hoje, você é apenas uma contratada para auxiliar nos afazeres da festa da princesa Adhara, e se quiser oficialmente um emprego aqui, terá que ter um visual, no mínimo, agradável. E de maneira alguma a rainha contrataria alguém com um ninho de pombo na cabeça. – ela sorriu, percebi que a garota estava mais calma, ela tinha razão com toda sua preocupação com meu visual, eu precisava desse emprego tanto quanto precisava arrumar logo esse cabelo.

Fiz apenas um rabo de cavalo não muito apertado, podendo deixar algumas mexas soltas e coloquei a tiara branca. Fiquei razoavelmente apresentável, poderia ganhar um emprego hoje, e, bom, todo esforço era válido, até usar salto de cinco centímetros. Olhei-me mais atenta no reflexo no vidro do armário, manuseando se não havia nada fora do lugar. A maquiagem leve que Mérope havia passado em meu rosto escondia cada imperfeição, menos a cicatriz média na bochecha esquerda que havia adquirido quando tentei passar por uma cerca e acabei caindo no arame farpado, mamãe disse que eu tive sorte de não ter furado o olho. Muita sorte, caso contrário estaria usando um tapa-olho.

Sempre fui uma criança muito energética, não conseguia ficar quieta em um lugar sem estar mexendo as mãos, cantarolando músicas ou balançando os pés como se estivesse em um balanço. Com o tempo, essa energia acabou desaparecendo, talvez fosse à vida se fazendo com detalhes em minha cabeça, ou simplesmente a preguiça de querer sair correndo pela floresta como se estivesse fugindo de um urso. Quanto mais velhos ficamos, mas a vida parece ser chata, e acabamos por querer simplesmente sentar no canto do quarto e imaginar todo aquele paraíso que existia em nossa cabeça de criança inocente e ingênua.

- Nashira. – escutei uma voz grave, porém feminina chamar pelo meu nome. Eu e Mérope viramos a cabeça no mesmo segundo. – Quero que acompanhe as outras garotas, os convidados já estão chegando e precisamos começar a servir os aperitivos. – era Alma, ela era a chefe da cozinha, a general, como Mérope mesmo me disse quando estávamos a caminho do castelo. Nada podia sair ou entrar na cozinha caso não tivesse sua autorização.

Assenti com a cabeça, e fui até a mesa, pegando a travessa prata com algumas comidas que não sabia bem do que eram feitas, mas me pareciam sofisticadas e bastante deliciosas a meu ver. Em fileira, como Alma nos ordenou, eu e mais nove garotas seguimos até o Salão Real levando travessas, cada uma com um tipo de comida diferente e taças com bebidas. Chegando ao salão, nos separamos e nos infiltramos no meio dos convidados.

Esforcei-me ao máximo para conseguir deixar um sorriso apresentável no rosto, não era nada agradável ter quase metade daquelas pessoas que se dizem "etiquetadas" te olhando como se você fosse uma Maria-ninguém. Sei que comparada a eles, realmente não sou ninguém além de uma garota qualquer servindo comida, mas de todo modo, ainda sou um ser humano que precisa ser respeitado não importa sua posição social.

- Licença. – senti unhas pontudas cutucarem meu pescoço, me fazendo ter leves arrepios na região. Virei rapidamente, vendo uma garota sorrir para mim.

- Pois não? – fiz uma leve saudação, o que acarretou em uma risada de sua parte e um cenho franzido da minha. Não entendi o porquê dos risos, não fiz nada de engraçado.

- Saberia informar onde fica o banheiro? – perguntou com a voz baixa, com o rosto próximo para que apenas eu pudesse ouvir. Ela cheirava a amoras. Era como se estivesse me contado um segredo, aquilo foi bem cômico, não resisti e ri enquanto lhe ensinava o caminho.

- Sobe a escada, vira a esquerda e depois a direta. É a quarta porta. – ela balançou a cabeça para os lados enquanto seu sorriso crescia.

- Muito obrigada. – agradeceu, agarrando seu longo vestido violeta e saindo quase que correndo em direção à escada.

- De nada. – murmurei, mesmo sabendo que ela não iria ouvir por conta da distância.

Ela me pareceu legal, e totalmente contrária de todas as pessoas desse salão, calma, não posso generalizar tanto, nem todos são iguais, alguns são apenas muito sérios, isso não vem a dizer que sejam mesquinhos ou arrogantes, é apenas seu jeito.

Enquanto servia duas crianças, que seguravam meu vestido, obrigando-me a ficar ali até que elas devorassem os aperitivos, escutei um som soar por todo o salão, parecia uma corneta. Cornetas normalmente são usadas quando estão prestes a apresentar alguém da realeza.

- Coloquem a comida dentro dos bolsos e se escondam! - sussurrei para os dois garotinhos que vestiam ternos pretos e gravatas borboletas que combinavam. Os dois riram, pegaram o máximo que podiam, colocaram nos bolsos e correram para debaixo da mesa, onde se encontrava uma enorme cascata de chocolate.

Quando voltei a me endireitar, ainda sorrindo com o que havia feito com as duas crianças, me deparei com a mesma garota de minutos antes me encarando com o mesmo sorriso branco e braços cruzados.

- Não devia ter feito isso. - deu mais alguns passos em minha direção, cruzando os braços para trás das costas. Sentia cada vez mais minhas pernas congelarem e não era pelo vento frio.

- Des-desculpa senhorita. Des-desculpa... - gaguejo desesperada, quase me vi engasgando com a própria saliva. Estava arruinada!

Já podia escutar os gritos de Mérope falando o quão irresponsável sou e que agora tudo está arruinado. A única vontade que tinha era chorar como uma criança que acabou de levar uma chinelada na bunda.

- Ei. - ela riu jogando a cabeça para o lado ainda me observando com serenidade. Seus olhos eram de um azul quase cinza de tão claros. - Não vou te dedurar. - alguém mais sentiu a pressão do salão cair? - Os dois pirralhos são meus irmãos. Ah, e obrigada novamente por me informar onde ficava o banheiro, estava com sérios problemas com a bexiga.

- Não precisa agradecer. - respirei um pouco, agora podia sentir o quão bom é poder respirar tranquilamente. - Preciso ir, não posso conversar em serviço. - mostrei um breve sorriso que foi respondido com um simples aceno de cabeça de sua parte.

- Entendo. - simplesmente disse, virou-se e saiu para encontrar os irmãos debaixo da mesa. Continuei a olhando, cabelos dourados com cachos nas pontas que iam até abaixo da cintura, pele bronzeada.

Ela me pareceu triste, não triste, mas desapontada quando lhe disse que não podia conversar, talvez fosse só coisa da minha cabeça, até porque ela tem várias outras pessoas para conversar e eu sou apenas uma das várias serviçais do castelo. Mas admito ter ficado um pouco mexida, ela foi a única que falou comigo desde que estou servindo os convidados, sem mencionar que aparenta ser a mais legal. Mas não posso correr o risco de tropeçar e perder a única chance de emprego que tenho em ganhar.

Pisquei algumas vezes, percebendo que ainda a observava e ela olhava de volta. Apressei-me em voltar para cozinha e pegar mais comida. Enquanto fazia meu caminho, podia ouvir a voz grave do apresentador real, o senhor Lautner, apresentar a família real, por último chamando a princesa Adhara, que foi recebida com uma salva de palmas.

Dezoito anos fazia a princesa Adhara, e por uma tacada do destino, ou como um sorteio de bingo, acabamos nascendo no mesmo dia, do mesmo ano. Como o país é pequeno, encontramos poucas pessoas que tem essa coincidência, a verdade é que até hoje nunca encontrei duas pessoas que façam aniversário no mesmo dia que não seja eu e Adhara. Mamãe contou que quase nasci no dia seguinte, mas acabei me apressando e chutando forte demais a bolsa, acabando por furar e a fazendo correr as pressas para o hospital junto com o papai. Mérope tinha quase dois anos, ela diz que não se lembra disso, era pequena demais para lembrar-se de tal coisa.

Chegando a cozinha, acabei por ficar, já que Alma mandou lavar a louça que cobria a pia. Olhando para aquela montanha de pratos enquanto vestia o avental e colocava as luvas amarelas, torci disfarçadamente o nariz, me alto encorajando para começar a lavar. Nunca gostei de lavar louça, sempre era Mérope que lavava e eu enxugava. Mas quando estamos prestes a ganhar um emprego precisamos fazer de tudo para conseguir. Um tudo que esteja em nosso alcance.

Mérope não se encontrava na cozinha, poucas eram as serviçais que permaneciam no local enquanto quase quinhentas pessoas precisavam ser servidas no Salão. Era um entra e sai constante, tudo que conseguia ouvir enquanto tirava a gordura das panelas, era a voz grave de Alma dando ordens e sendo respondia sempre com um "sim, senhora... sim, senhora... sim senhora". Ela era realmente uma figura de poder na cozinha. Quando fiquei sozinha no lugar, alguns guardas do castelo entraram para beber um pouco de água, alguns até tentaram conversar, perguntando meu nome e se começaria a trabalhar por aqui, mas tudo que respondi foi meu nome por gentileza e dei um sorriso curto, voltando a fazer minha tarefa.

Não é que não goste de homens, mas é que eles não são a prioridade maior para minha vida amorosa e senti que alguns deles tinham segundas intensões com suas perguntas, então o melhor que tenho a fazer é cortar o barato deles o quanto antes. Não posso dizer que todos os homens são iguais, porque sei que alguns têm lá suas diferenças, no entanto algo que a maioria tem em comum e que sei, por experiência própria, é que eles são como um relógio de corda, quando a corda é dada, ele não para enquanto não girarmos a chave para interromper, é assim que boa parte dos homens age em relação às mulheres.

Já passava das onze da noite, a música tocava alta no salão real, o parabéns já foi cantado e o bolo cortado, com isso mais louça apareceu para lavar, mas por sorte, ou porque Alma realmente percebeu que estava quase que morrendo ao lavar aquela montanha de louças gordurosas, ordenou que mais outras três serviçais me ajudassem. Duas lavavam e duas enxugavam. Com esse "recrutamento", terminamos em menos de meia hora.

Meu corpo foi jogado, caindo como um pedaço de geleia de morango mole na cadeira, estirei as pernas, tentando mexer os dedos dentro daquele mini projeto de sapato, mas tudo que consegui foi arranjar um calo maior no dedo mindinho do pé esquerdo. Não sei por que havia sentado, é claro que teria mais trabalho por vir, o pensamento de que agora estaria livre me fez ter esperanças, mas assim que ouvi a voz de Alma, toda minha esperança desceu pelo ralo da pia junto com toda a gordura que possuía nos pratos.

- Estão precisando de mais canapés. – disse, e sem ao menos olhar, me entregou uma travessa prata cheia de canapés.

- Sim, senhora. – passei as costas da mão na testa, secando o suor que ameaçava cair.

Assim que cheguei ao salão, me surpreendi pelo número de convidados terem diminuído, muitos haviam ido embora, e agora poucos ainda perambulavam pelo ambiente. As crianças corriam de um lado para o outro, ainda pude ver de relance os dois garotos que pegaram os doces, os irmãos da garota de olhos cinza, admito ter olhado para os lugares a sua procura, mas não a encontrei, então voltei a organizar os canapés na mesa. De soslaio, observei parte da família real sentada em uma extensa mesa quase no meio do salão ganhando um enorme destaque.

A princesa Adhara não parecia tão feliz quanto deveria estar, visto que hoje era seu aniversário e estava sendo comemorado com uma festa gigantesca com todas as pessoas que ela mais desejava por perto. Seu irmão, príncipe Deneb, estava ao seu lado de braços cruzados, o cabelo loiro arrumado com gel brilhava sobre a luz do lustre de cristais autênticos no teto. Sua expressão não era das melhores, parecia tão pensativo, perdido no próprio mundo. Olhar para ele me fez lembrar-se do episódio que aconteceu logo cedo e que me foi bastante constrangedor, sinceramente, não vou esquecer. Ainda posso sentir meu coração disparar como se fosse um foguete em destino à lua.

Mérope agarrou meu braço como se estivesse segurando um peixe se debatendo pra fugir.

- Foi por um fio Nashira. – murmurou perto do meu ouvido enquanto me carregava à força para longe de todos os outros empregados.

- Meu coração estava tão acelerado. Eu e minha boca de meia tigela. Ah! – soltei um leve grito, querendo apenas esquecer esse maldito e vergonhoso episódio.

- Você teve sorte de ter se esbarrado no príncipe Deneb, sinta-se a ganhadora da loteria. Se fosse Adhara, não lhe sobraria nem os ossos.

- Ela não pode ser... – tentei falar, mas seu olhar caiu sobre mim como uma bomba atômica. Automaticamente me calei abaixando a cabeça em seguida. – Ele foi um doce. – comentei ao me lembrar de segundos antes.

- Deneb é um doce. Mas esse garoto doce não vai arrumar os quartos, então vamos apressar o passo antes que Alma nos pegue vagando pelo corredor fazendo nada.

Seus pais estavam no meio das pessoas, abraçados, dançando para um lado e para o outro de forma calma, mesmo que a música que toque pelo lugar seja agitada. Os dois pareciam tão apaixonados, se assemelhavam a um recém casal de namorados, princesa Maia tinha a cabeça deitada no peito do marido e seus olhos estavam levemente fechados, pode ter sido coisa da minha cabeça, mas podia jurar de pé junto que a princesa Maia estava chorando.

Engoli em seco com o pensamento. Balancei a cabeça para os lados, voltando para a cozinha cabisbaixa e de passos rápidos. Mesmo não querendo, o rosto triste da princesa Maia não saiu de minha mente, ela é tão doce, prestativa, e amorosa com seu povo, pelo menos eu sentia isso vindo dela, de todas as vezes em que visitou pessoalmente as escolas públicas, o hospital, as clínicas... ela é uma verdadeira princesa, e perceber que algo pode estar afligindo seu coração, me deixa realmente mexida. Sou muito emotiva e ver qualquer pessoa triste, faz um sentimento de aflição crescer em meu peito.

Coloquei a travessa sobre a mesa, caminhei até a porta da cozinha que dava acesso ao jardim e me encostei à soleira, massageando o peito sentindo o mesmo queimar, e dar palpitações negativas. O que é isso? - perguntei-me mentalmente. Fechei os olhos e deixei que o vento gélido me acalmasse um pouco. Mas acalmar exatamente o quê?

- O que está acontecendo com você Nashira? - perguntei em um tom baixo, encarando o enorme chafariz que embelezava a parte central do jardim colorido. - Não pode ser gazes... elas não se acumulam no peito... não é? - franzi o cenho, confusa. - Então... o que foi?

- Aconteceu que você esta falando muito sozinha. - Mérope me assustou ao por as mãos em meus ombros e apertar com força, me fazendo quase cair no chão. Ela tinha uma mania idiota de apertar os dedos com tamanha força, que acabava me dando câimbras. - E, eu não esqueci seu aniversário, ok? - sorri fraco. Ela pareceu perceber que não estava muito energética para falar sobre tal coisa. - Vamos, o que esta acontecendo com você Nashira? - incentivou, apertando meu ombro.

Fiquei cabisbaixa por um tempo, pensando, relutando, remoendo cada pedacinho empoeirado da minha cabeça, a procura de um motivo para estar agindo dessa forma. Mas não conseguia encontrar nada. Eu só me sentia dessa forma. Incompleta.

Suspirei. Não podia lhe responder se nem para mim mesma conseguia encontrar respostas. Então, apenas sorri e segurei seus ombros.

- Estarei esperando meu presente.

- Espere sentada. - brincou, me fazendo gargalhar. - É sério, espere sentada, porque eu não comprei nada. - disse em um tom sério, tão sério que por segundos cheguei a acreditar. Mas não ligava muito para presentes materiais, o mais importante para mim, era ter minha família comigo, apenas.

♜♜♜

Me encontrava no corredor principal do castelo, sozinha, ajoelhada e esfregando o chão. O suor escorria pelas minhas têmporas, e era sempre obrigada a tirar as mexas de cabelos que pregava no meu rosto com o antebraço. Meus músculos tremiam com o tamanho esforço que fazia para deixar aquele chão um brilho.

A festa de aniversário acabou a mais ou menos quarenta minutos, era apenas a família real ir para seus respectivos quartos, que os empregados poderiam começar o enorme serviço que iriam ter pela madrugada. Alguns parentes da família real acabaram se hospedando no castelo por alguns dias, por isso pela tarde, eu e Mérope corríamos pelos corredores para arrumar as pressas o quarto, e foi por causa disso que acabei me esbarrando no príncipe Deneb.

- Ah! - murmurei, irritada. - Quando vai tirar isso da cabeça? Ele praticamente nem ligou. - falava comigo mesma em um tom normal, não havia mais ninguém além de mim naquele corredor, não teria o porquê de ficar murmurando pelos cantos. - Mas você se dirigiu ao príncipe como se falasse com qualquer pessoa. - fiz uma voz diferente, quase como a de Mérope, e revirei os olhos frustrada. - Droga! Por que tenho essa boca grande? - coloquei a esponja na água, espremendo sobre o chão em seguida. - Poderia ter apenas pedido desculpas como pessoas normais fazem, mas não, eu tinha que dar uma de mal-educada...

Iria continuar meu diálogo comigo mesma, quando passos pesados e rápidos, acompanhados de soluços começaram a soar pelo corredor. Ergui o rosto, e ligeiramente me pus de pé ao ver a princesa Adhara correr pelo corredor em minha direção, ainda trajando seu lindo e estupendo vestido dourado. Seus cabelos que antes se encontravam perfeitamente arrumados estavam bagunçados, como diria minha irmã, um ninho de pombo. Sorte minha a princesa não conseguir ler mentes.

- Princesa, o chão está molha... - tentei lhe avisar antes que algo pior acontecesse, e de fato, aconteceu, ela derrubou o balde que estava cheio de água e quase levou um tombo terrível, mas consegui segurá-la.

Ainda segurando seus braços, ela me encarava, não friamente, mas como realmente estava se sentindo por dentro. Por trás de toda aquela maquiagem borrada de lágrimas, vi o castanho-claro de seus olhos brilharem de dor. Ela parecia sobrecarregada, a segundos de explodir.

- Me larga, imunda. - ela chacoalhou os braços, rapidamente a soltei, seus pés descalços escorregaram novamente, mas meu reflexo era algo impressionante, talvez seja por isso que consiga pegar tantos peixes.

- Princesa, precisa se acalmar.

- Preciso que me SOLTE! - gritou, cheia de raiva, jogando seu corpo contra o meu, me levando a ir contra a parede. Enquanto tentava me estabilizar, Adhara aproveitou para correr, olhei para ela, quase tropeçando nos próprios pés, amassando o vestido enquanto segurava o mesmo para não pisar e possivelmente vir a cair.

- Você não... - tentei me aconselhar a ficar quieta e voltar ao meu trabalho, mas não me contive, e quando percebi, já estava correndo atrás da princesa.

Ela era rápida, então era difícil alcançá-la correndo com aqueles sapatos apertados. Parei no meio do caminho, ela havia sumido após ter virado o corredor, apoiei as mãos nos joelhos, sentindo-me desgastada, olhei para o lado e vi pela janela algo dourado brilhar sobre a luz do luar ao pé da montanha.

Corri para o jardim, abrindo a enorme porta de madeira real com certa dificuldade. O lugar estava iluminado apenas pela luz da lua crescente, o vento frio soprava calmamente sobre os arbustos com flores, fazendo o doce aroma delas passearem por todo o local.

Ela estava de bruços sobre a pequena proteção de tijolos que separava seu corpo á uma queda de mais de noventa e quatro metros montanha abaixo. Me aproximei lentamente, qualquer movimento brusco poderia ser fatal.

- Princesa, por favor, não fique perto... - me aproximava aos poucos.

- Saia daqui... - falou entre dentes.

- Depois que a senhorita se afastar da proteção de tijolos e vir pra cá, eu saio. - ela olhou para trás, por cima dos ombros. Seus olhos estavam vermelhos.

- Sa-ia DAQUI! - gritou a plenos pulmões.

- N-não. - gaguejei, apertei minhas mãos no tecido do vestido sentindo as mesmas soarem.

- Não me importo de meter minhas unhas em seu rosto!

- Também não... - engoli em seco.

O que exatamente eu estava tentando fazer? Ela não precisava de mim ou de qualquer outra pessoa, era nítido isso. Mas por que continuava ali, parada? Era um ser insignificante aos olhos dessa garota, era como um grão de areia na praia. Tenho muito serviço nos corredores do castelo, mas por que cargas d'águas continuava aqui, por ela?

- Que audácia é essa falar com sua princesa de tal forma? - vira-se para mim com chamas nos olhos, recuei, mas voltei à compostura neutra, tentando ao máximo não indicar meu medo.

- A senhorita entendeu errado princesa. - tentei argumentar em meio a minha voz falha, ela semicerrou os olhos, que sobre a penumbra da lua, cintilaram em um tom de rubi. - O que quis dizer, é que não me importa que a senhorita meta minhas unhas na minha... quer dizer... - umedeci os lábios que estavam extremamente ressecados. - As suas unhas, suas, não minhas unhas, suas unhas na minha car-rosto.

Meu peito arfava, sentia o oxigênio ferver dentro de meus pulmões, e consequentemente meu tórax pesar. Essa não era uma das melhores sensações do mundo, porque significava que estava a poucos segundos de surtar. Nunca fui a melhor pessoa a lhe dar com situações sobre pressão, ou acabo chorando feito uma criança, ou começo a rir até chorar, de todas as formas, eu acabava em lágrimas.

- Aah! - Adhara gritou alto, lançou seus braços em minha direção, fazendo-me colocar a cabeça entre os braços como forma de defesa, e aguardei pela dor que possivelmente viria a sentir, mas nada aconteceu.

Entreabri um dos olhos, espreitando entre meus braços a garota caída na grama, sentada sobre o vestido dourado e o rosto entre as mãos, soluçando de tanto chorar. De forma violenta e repentina, começou a arrancar tufos de grama, enquanto murmurava coisas desconectas.

Respirei fundo.

Não tinha nada o que fazer, ela não queria minha ajuda, tão pouco que ficasse ali com ela, mas no fundo - onde meu coração batia acelerado por conta do medo -, sentia que devia ficar aqui, mesmo sendo ignorada e tratada como "nada". A princesa precisava de alguém para ajudá-la, e ficar ao seu lado é algo nítido pra mim, mas primeiro ela teria que passar por cima do próprio orgulho e admitir a si mesma que precisava de ajuda naquele momento.

- Tudo bem, estou indo embora. - me ajoelhei a sua frente, buscando ficar numa distância altamente segura para minha pele.

- O que ainda faz aqui? - perguntou de forma seca, sem olhar para mim.

- Se precisar de ajuda, estarei no corredor.

Ainda cogitei em ficar uns segundos ajoelhada na sua frente, esperando que talvez ela cedesse e aceitasse ser ajudada, mas continuou sentada sobre o vestido dourado que a esse ponto já e encontrava sujo de grama e terra umedecida, suas mãos estavam arranhadas pela violência que usava pra arrancar a grama. Respirei fundo, percebendo que ela realmente não iria voltar atrás, levantei e saí em passos curtos, conseguindo escutar atrás de mim o choro e os murmúrios desoladores da princesa.



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