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História Contos de um Caçador - Introdução


Escrita por: GailAlesci

Notas do Autor


Agora eu tenho uma revisora, então editei bastante a história e tô postando de novo.

Aviso para o leitor: muito mistério, investigação, crises de personalidade, violência e sexo rude, que pode (ou não) ter conteúdo gore.

On y va?

Capítulo 1 - Introdução


Fanfic / Fanfiction Contos de um Caçador - Introdução

"Trinta anos depois, caçar contigo,

e sempre conversando e à chalaça...

Mais que perdizes, hoje, melhor caça

É matar fomes do caçar antigo."

- Tomaz de Figueiredo, trecho de Posfácio à Toca do Lobo.

---

Creed enrolava o dedo indicador no fio grosso do telefone público e sentia seu coração se torturar contra as paredes do peito. Caixa postal de novo, voz irritante da secretária eletrônica e ruído agudo do início da mensagem. E agora, uma mensagem de amor ou a honestidade?

***

Aaron Melili viu o companheiro desligar o telefone impaciente e respirar fundo antes de sair da cabine direto para a rua gelada, aquela noite era uma das primeiras que não nevava, mas os intervalos entre as nevadas costumavam ser os mais frios.

Ele caminhou até o carro e foi recebido com expressão de desaprovação de Melili pela demora absurda dentro daquela cabine. O inspetor-chefe ainda acendeu um cigarro antes de fechar a porta.

- Ah, sério? – O Agente Aaron era esquálido e seu cabelo cacheado causava agonia em Creed.

- Vamos começar pela estrada sul? – Perguntou o inspetor, com desinteresse na voz.

- Não, não. O diretor quer que a gente revise a área 3 da floresta, um viajante ligou e disse que viu algumas luzes estranhas lá.

- Ah é? Você tem casaco extra?

- Eu trouxe o seu set, você sempre vem sem – Aaron bufou.

Creed assoprou um riso baixo pelo nariz e balançou a cabeça.

Aaron Melili havia se tornado sua dupla constante de trabalho desde que foi promovido a inspetor-chefe na delegacia, mas não havia muito o que fazer como policial ali, então trabalhavam dando apoio aos guardas florestais para cobrir a área. Daster era uma cidade de porte médio, mas muito, muito afastada de tudo e todos, as pessoas moravam ali mais pela tradição estranha de cuidar da casa feia e dos trabalhos simples das gerações que vieram antes, quase todos vindos das gigantescas áreas de florestas coníferas e das minas.

Melili se irritou quando viu o olhar perdido que o parceiro tinha sobre si.

- O que está olhando?

- Seu cabelo esquisito.

- Creed, eu não sou pago para te aturar falando merda toda hora.

- Diz isso porque não tem que olhar para isso toda hora – tirou sarro, vendo a placa do quilometro 22 passar.

- Aqui perto tem uma entrada para onde o cara falou.

O carro virou poucos segundos depois e iluminou o atalho entre as coníferas. Andaram por ali mais quase 25 quilômetros com um Motown irritante tocando em um rádio de péssima qualidade, pararam quando não havia mais estrada.

Mesmo vestindo o set de calças grossas de brim por cima de roupas térmicas, botas pretas pesadas de camurça e cardigãs por baixo dos casacos, o frio ainda era cortante.

- Para lá? – Aaron tentou ver no mapa no celular e apontou a lanterna para a estrada - acho que é.

Começaram a andar em direção às árvores. Já escurecia e mal eram cinco da tarde, a caminhada durou até às seis e logo tudo estava um breu completo.

- Aha! Não tem nada aqui. – Disse Creed, suspirando, já eram quase sete e meia – Vamos voltar pelo outro lado, já está escuro demais.

O companheiro concordou e jogou a luz na cara do outro – Devia ter sido um fantasma! – Brincou, ia continuar mas reparou no parceiro uma expressão estranha. Ele iluminou sem querer um ponto na neve – O que é aquilo?

Aaron prontamente iluminou o que parecia ser um pedaço de roupa na neve. Se aproximou e agarrou o tecido, dando dois passos desajeitados para trás – C-Creed...

O tom de voz de Aaron era tenso. O que ele viu não era só um pedaço de roupa, a voz que ele soltou era ríspida, aterrorizada e estava carregava por um medo e nervosismo intenso, ainda que tivesse dito só uma palavra. Primeiro ele iluminou um pedaço de tecido, então se aproximou e iluminou de perto um pedaço de pele e finalmente puxou o pano e viu parte de um braço. E não havia nada mais, era um braço decepado com um corte limpo.

Aaron respirava fundo e cada vez mais rápido, caminhava nervosamente em volta do local. A cada parte de corpo que encontravam na neve sentia que seu estômago ia sair pela boca e que ia perder o controle de suas pernas. O silêncio pesado fazia aquele cemitério macabro parecer um pesadelo.

- Tem mais de três pares de braços aqui... – Creed comentou, discretamente animado com a situação. Algo no meio daquela chacina tinha um certo apelo para ele. Mas o ânimo desapareceu quando ele lembrou de que tinha alguém ali na noite passada, nenhum dos dois traziam armas. Em Dasper, onde nada nunca acontecia, agora uma 9mm seria extremamente bem-vinda.

Ele agarrou o braço do outro, que estava branco como mármore, e o puxou em direção ao carro – Vamos voltar, precisamos de uma perícia aqui o mais rápido possível, talvez quem veio aqui ontem tenha deixado alguma marca que ainda não foi coberta pela neve.

- Q-q-que foi isso? Creed, devem ter pelo menos seis corpos ali!!

O outro parou por alguns segundos ao sentir as mãos trêmulas do parceiro, ou seriam as suas próprias?

- Respira, respira Melili.

Melili respirou, e várias vezes. Ele sentiu cheiro de podre e estavam em quase -30C, não tinha cheiro nenhum vindo de qualquer um daqueles corpos. “O inconsciente é uma merda”, pensou. Mesmo assim vomitou duas vezes durante o caminho até o carro.

Só ali Creed agarrou o rádio e esperou sério até a atendente com voz arrastada responder.

- Polícia.

- Código 31 na área 3 – a voz era agitada – preciso de quatro viaturas equipadas e um pedido de perícia de SouthBridge para, no mínimo, seis corpos. Talvez mais.

A moça chegou a engasgar – Corpos?! – 31 era o código de quando encontram um cadáver, era raramente utilizado de forma séria, mas muitas vezes como piada entre os policiais que chegavam tarde para as camas de suas esposas na sexta-feira à noite.

Agora era só entrar no carro e esperar, despreparada como era a polícia de Daster, chegariam ali só em três horas ou mais.

Aaron batalhou para se recompor. Sempre gostou de dramas policiais, mistérios que desvendavam romanticamente uma morte para chegar na verdade íntima do executor. Não era bem assim, em sua fantasia de polícia e ladrão esperava que ele seria mais forte e resistente, e agora estava prestes a chorar como uma criança. Levou um tempo para que reparasse no quanto Creed também parecia nervoso e agitado, aquela noite não seria fácil para nenhum policial de Daster.

Quando chegaram as viaturas foi Creed quem se levantou para acompanhar, e no caminho parecia frio e deu ordens diretas com uma segurança excepcional na voz. Disse para que nada fosse tocado, para que o local fosse iluminado e cercado para quando a perícia chegasse. E que, obviamente, qualquer pessoa nos arredores deveria ser levada para a delegacia para prestar depoimento.

O dano era maior do que eles imaginavam. A perícia levou quase 8 horas para chegar em Daster, naquele intervalo de tempo foram encontrados dezesseis corpos. Dezesseis rapazes desmembrados entre 13 e 18 anos de idade, todos que ainda tinham tecido no corpo eram magros de cabelos escuros, jogados na neve com suas partes espalhadas por toda a montanha em um raio de 4 quilômetros.

O diretor John Westrill era um homem alto e largo, que agora também era calvo. Chegou incrédulo e saiu logo para começar a ligar para os órgãos que certamente iam ser envolvidos naquele incidente pelos próximos meses. Saiu acompanhando o Inspetor Creed, eram quase três da manhã, e só seguiu para a delegacia quando o viu entrar em casa.


Notas Finais


Deixo aqui um link para um BGM legal pros próximos capítulos: https://www.youtube.com/watch?v=PEI2zet48Uc


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