Não havia som em sua mente, mas a xícara partiu-se aos mil cacos no piso lanóleo da sala de jantar e espalhou o conteúdo por tudo. Até então Sakura estava descrente do que estava ocorrendo ali agora, exceto pela dor que ela estava sentindo, como se fosse uma premonição.
- Eu não posso - Gaara repetia a ilusão de uma Matsuri decepcionada. Era ilusão, mas parecia tão real, os olhos marejados, o jeito que ela colocava o cabelo atrás da orelha quando estava nervosa.
- Eu estou na sua consciência Gaara, lembre-se de mim, não fui enterrada a muito, não me apague do seu coração.
- Nunca faria algo assim, você sabe...
- Você não pode amar outra mulher na sua vida.
- Eu não amo nenhuma outra...
- Prometa a mim Gaara, nunca terei paz sabendo que seu coração já não me pertence.
- Eu... Eu prometo.
- Acorde Gaara - a voz de Naruto o despertou e ele olhou envergonhado ao redor.
- Desculpe - o ruivo abaixou a cabeça.
- Essas ilusões são muito fortes, não é de se admirar que ficar nelas faz quase nosso cérebro se matar.
- Realmente - Vamos prosseguir.
Desceram ao último andar do templo, mas não havia vestígios exceto de que estavam reunidos a pouco no local.
- Merda - o loiro grunhiu - Fugiram como?
- Nem consigo imaginar, talvez os outros tenham tido mais sorte.
Mas estavam plenamente enganados. Os outros Kages não encontraram nada e Naruto grunhia irritado.
- Depois de tudo, saíremos de mãos vazias?
- Deve ter alguma explicação plausível para isso - o Mizukage comentou cansado.
- Mais uma peça nesse quebra cabeças infinito - dessa vez a Tsuchikage se manifestou.
- Vamos dar um tempo, eles não irão retornar ao templo correndo, provavelmente procurarão um novo local - o Raikage disse erguendo-se e dando as costas - Manteremos contato.
Sakura tentou limpar o piso enquanto voltava ao normal, após um período de completo choque, mesmo Matsuki insistindo, ela continuava preocupada com Gaara, já que a missão era extremamente perigosa. Matsuki então serviu-lhe outra xícara acompanhada de um pedaço de bolo que a rosada comeu enquanto tentava se recuperar.
- Senhor! - Matsuki chamou a atenção da rosada que ergueu-se a analisar o ruivo em sua frente. Não havia sequer um grão de poeira em sua roupa, como se ele tivesse saído de casa passear, talvez a preocupação dela tenha sido em vão.
- Está tudo bem? - Ela o encarou, mas notou imediatamente que havia algo errado quando ele desviou o olhar para ela.
- Sim, vou para o escritório, não me esperem.
- Certo - ela assentiu voltando-se a Matsuki.
Foi apenas uma ilusão ele repetia a si mesmo mentalmente, mas foi suficientemente cruel. Talvez algo do eu inconsciente claro, mas ele não podia negar que ficou abalado.
Talvez em sua mente ele estivesse sendo até legal demais com Sakura, mas não ao ponto de esquecer Matsuri. Claro que houvera o incidente do abraço e das mãos, mas ele não estava apaixonado, certo?
Estava tudo tão confuso que ao menos ele pudesse pensar no trabalho... O embaralho dos pensamentos por causa da rosada estava lhe causando dor no estômago. Alem de Matsuri ele nunca havia tocado em outra mulher, nem sequer sabia se queria abrir-se de novo. Mas haveria uma forma de resolver aquilo e pensar melhor sobre sozinho.
Fechou-se no escritório e não retornou para casa. Tarde da noite dois dias depois do ocorrido Sakura se perguntava se o ruivo estava com algum problema, mas não iria ser tão intrometida ao ponto de perguntar. Continuou sua rotina com as aulas normalmente.
(...)
Quinze dias e Gaara sequer havia aparecido na casa. Algo que ela disse? Matsuki então informou que ele não estava dormindo mais ali fazia alguns dias pois estava ficando apenas no escritório.
- Talvez eu devesse ver o que está acontecendo...
Seguiu para o prédio e bateu na porta, recebendo um entre como resposta. Ele a olhou como se estivesse vendo um fantasma, o rosto empalideceu e obviamente ele não foi capaz de disfarçar.
- Desculpe, vim ver se precisava de alguma coisa já que parece estar bem atarefado.
- Não - ele falou duro - Eu estou dando conta de tudo.
- Entendo. Bem se precisar de algo me avise.
- Ok - respondeu sem ao menos olhar nos seus olhos, não retirando-os do papel que estava lendo.
Ela saiu passo a passo da sala e ficou confusa com a frieza que ele a tratou. Talvez estivesse cheio de trabalho e problemas e não quisesse ser incomodado. Gaara entretanto, colocou a mão na cabeça tentando entender seus sentimentos.
- Nem eu sei mais o que acontece comigo. Não tem porque eu estar evitando contato com ela, mas... Melhor eu pedir desculpas.
Sakura finalizou a aula mais cedo aquele dia, já que por conveniência, foi pedido que ela fizesse o pré natal dentro da própria aldeia. Ela só não esperava que um de seus alunos fosse atendê-la.
- Sensei - O jovem cumprimentou ela cordialmente - É um prazer vê-la aqui.
- Doutor Füjin, não me contou que era especializado em ginecologia.
- Desculpe - ele coçou a nuca presa no turbante que usava - É que mal dá tempo de respirar com o trabalho aqui e as aulas.
- Entendo. Mas por que de seu interesse na pediatria? Pretende trabalhar na clínica?
- Pretendo amplificar meu trabalho aqui e na cliníca, adoro crianças!
- Que bom - ela sorriu - Acredito que esteja tudo bem com o bebê.
- É provável - ele colocou as luvas e tratou de fazer os exames prévios. Assim que finalizou abriu um sorriso sicero - Eu disse, está tudo ótimo. Seu marido é um homem de sorte - comentou e a rosada virou o rosto.
- Ah, eu não sou casada...
- Entendo, perdão pela intromissão.
- Sem problemas, obrigada pela ajuda.
- Sensei - ele a chamou - Sei que não dá aulas particulares, mas eu realmente senti dúvidas, queria saber se poderia esclarecer algumas coisas.
- Claro - ela olhou gentil - O que você ficou em dúvida?
- Eu preferia conversar na cantina do hospital, já que a sala de atendimentos é revezada, sabe...
- Perdão, eu me esqueci, claro eu posso te ajudar!
Gaara então seguiu para o hospital, sabendo que era o único local restante onde encontrá-la e revendo em sua mente uma desculpa sincera pelo seu comportamento. Mentir era algo fora de questão, mas não iria ir tão fundo a ponto de contar o que houvera no templo.
Sakura estava comendo enquanto Füjin falava sem parar sobre as aulas, ele parecia tão entusiasmado que com certeza seria uma aquisição preciosa para a clínica de cuidados mentais para crianças de Suna.
- Então os traumas familiares internos podem ser de certa forma piores que os efeitos de uma guerra?
- Não há como medir a dor de uma criança, mas traumas internos entre membros da família constroem indíviduos desconfiados para com os outros, pessoas em geral. Eles se tornam reclusos e constantemente tem pensamentos violentos.
- E qual a nossa participação com relação a isso?
- Temos que abrir a mente e mostrar que existem coisas boas no mundo. Não quero criar o ser perfeito, mas alguém que pratique o bem para com o próximo e entenda ao mesmo tempo que o mundo não é apenas um campo florido de primavera, aliás - O médico desviou sua atenção para a boca da rosada que ficou paralisada e sentiu-se vermelha e quente.
Gaara foi indicado a seguir pelo corredor e chegar a cantina no hospital, mas quando ele viu a cena, sentiu seu estômago revirar. Sakura estava a milímetros dos lábios do médico que se esticava pela mesa praticamente em cima dela.
Aquilo era demais para olhar, mas ele ainda não sabia o porquê. Desvirou-se e deu meia volta, sem falar nada e voltou para o escritório.
- Estava sujo - o médico disse erguendo um guardanapo e limpando a boca dela.
- Me desculpe - ela ficou sem jeito - A comida estava deliciosa.Obrigada pela refeição.
- Sim, eu me lambuzo de vez em quando também. Meu esposo sempre diz isso quando ele faz sopa de missô.
- Parece ótimo!
- Eu irei convidá-la qualquer dia para jantar conosco.
- Irei com prazer - ela assentiu erguendo-se - Melhor eu voltar para casa preciso preparar a aula de amanhã. Se tiver mais alguma dúvida, me chame.
- Claro sensei, tenha boa noite!
Sakura voltou para casa onde encontrou sua escrivaninha e preparava sua aula para amanhã. Ouviu o burbúrio de vozes na cozinha e abriu a frestra da porta para sondar.
- Espero que esteja do seu agrado senhor - Matuski disse servindo.
- Sempre está. Obrigado.
- Obrigada senhor.
- Esqueça a formalidade, disponha.
- Gaara - a rosada o chamou, mas ele ainda estava anestesiado pelo que viu a tarde, talvez sua ‘consciência’ estivesse correta e ele não devesse nem ao menos ser gentil com outras mulheres - Gaara - ela repetiu.
- Sim - ele falou frio.
- Eu precisava rever alguns horários das aulas, por conta do hospital, tem alunos que não conseguem ir em 100% então eu estava pensando.
- Kankuro pode resolver isso - ele a cortou.
- Tudo bem, eu vou falar com ele.
Ela ficou chateada, enganou-se completamente... Onde estava aquele homem gentil e doce que até deu o casaco para ela dias atrás? Se sentiu uma completa boba.
- Eu sempre voltando a me enganar com os outros.
(...)
Após chegar a um acordo com Kankuro, ficou decidido que ela iria dobrar as aulas para ficar mais flexível e mesmo ele tentando discordar, não resolveria muito.
A aula da tarde acabou e a noite pelo menos ela estaria livre para descansar e evitar um pouco Gaara, já que ele parecia distante e mal humorado ultimamente.
- Sensei - Füjin a chamou - Quer ir jantar lá em casa?
- Não tem problema? - ela pensou que até seria melhor, assim evitaria a frieza do ruivo que a estava deixando para baixo ultimamente.
- Nenhum, vamos lá!
- Só posso passar antes em casa tomar um banho? Estou suando, não quero ir assim...
- Claro, irei com você!
Sakura escolheu um vestido simples e arrumou o cabelo antes de sair. Deu uma última olhada no espelho e resolveu se apressar visto que o médico estava a sua espera a algum tempinho. Ao abrir a porta bateu em quem ela estava tentando evitar aqueles últimos dias, já que Gaara passou a falar monossílabicamente. Ele olhou seus trajes e concluiu que ela estava de saída, estava diferente com as bochechas mais coradas e os lábios levemente coloridos, estava bonita como se estivesse indo num encontro.
- Boa noite - foi o que ela murmurou saindo e dando espaço a ele que nada respondeu.
Quando ele olhou a janela percebeu que Füjin a esperava frente a casa. Seu sangue lhe ferveu e ele decidiu que era melhor ir para o escritório e voltar apenas para dormir mais tarde.
Sakura se divertiu na casa de Füjin e apreciou a deliciosa sopa feita por seu esposo Mizuko. Ele cordialmente deu a ela um pote de sopa para ver se “curava” o mal humor de Gaara. Conversando tanto, ela não se atentou ao horário e quando retornou notou que já deveria passar da meia noite. Entrou rindo sozinha em casa pelas conversas alegres e divertidas. Já fazia tempo que não saía daquela maneira. Era até nostálgico, pois sempre saía com suas amigas assim.
- Ai ai ai - ela sorriu enquanto guardava o pote dentro da geladeira.
- Demorou - Sua espinha gelou ao ouvir a voz fria e arrastada do Kazekage que estava acordado ainda para sua surpresa.
- Gaara - ela o chamou - Eu trouxe sopa de missô.
- Eu a convidei para ficar aqui porque seus serviços são necessários na aldeia, mas não posso aceitar desrespeito aqui.
- Desrespeito? - ela indagou confusa.
- Não posso aceitar que fique saindo em encontros com os shinobis e médicos da aldeia, esse tipo de comportamento não posso admitir.
- Mas eu não fiz nada, aliás, por que dessa regra? Achei que todos eram livres...
- E-eu não preciso dos seus serviços - ela sentiu seu coração despedaçar.
- O-o que? - Seus olhos tremeram ao encarar a face séria e sem expressão do Kage.
- Amanhã pode deixar as aulas, já foi mais que suficiente.
- Entendo - Ela se virou e deixou as lágrimas rolarem pelo seu rosto intermitentes.
- Obrigado - Ele falou saindo da sala.
Sakura por sua vez, estava sem reação. Ela já tinha feito amigos, conquistado tanto pelos médicos da aldeia, e simplesmente era expulsa dali praticamente. Ela não sabia porque ele estava agindo daquela forma tão estranha, mas secou as lágrimas e voltou para o quarto fazer as malas e sair depressa dali. Nunca mais pisaria ali, falou a si mesma. Que se danasse a ideia da cliníca, ela não queria mais pensar nisso, nem pensar em Gaara, por que ele tinha que ser tão bipolar daquele jeito?
A alguns dias ele retribuiu o abraço dado por ela e até cedeu seu casaco. Aquele casaco que ela ainda nem tinha devolvido. Recostou a manga sobre seu nariz retirando-o da cadeira. Ainda tinha o cheiro dele, forte, amadeirado que ardia suas vias aéreas. E então o soluço veio acompanhado pelas amargas lágrimas. Ela não deveria ter se explicado? Parecia que o cansaço pela sua frieza a fazia ter medo de algo que ela desconhecia. Aprontou as malas e resolveu descansar num hotel antes de partir pela manhã seguinte.
Ele a viu sair com as malas, e sentiu seu coração doer. Mas não. Prometeu a si mesmo desde o incidente do templo que não ousaria a ser algo além de um líder, sem envolver sentimentos que não fossem amizade por ninguém. Mas ela não era apenas sua amiga? Bateu a cabeça na parede, já estava totalmente enlouquecido apenas com a presença dela.
- Gaara - Kankuro o chamou - Posso saber o que está acontecendo com você?
- Isso não é da sua conta.
- Ora, me parece ranzinza como antigamente - ele sentiu o gosto amargo. Se havia algo que odiava, era se lembrar de como era no passado.
- Não tem nada com você.
- Você a expulsou de casa por ciúmes.
- Não diga asneiras Kankuro, apenas quero seriedade com relação ao trabalho.
- Então ela fica manhã e tarde ensinando os médicos, e eu já vi, é uma chatice , prepara aula a noite e não está fazendo um ótimo trabalho?
- Não me refiro a isso.
- Você é um grande homem, mas com ciúmes é um completo imbecil - o ruivo desvirou-se irritado.
- Por que não some da minha frente?
- Porque você está cometendo uma injustiça por estar cego de ciúmes! - o irmão mais velho gritou perdendo a postura.
- Cale a boca! Eu não vou tolerar isso- o ruivo bradou erguendo mais o tom de voz.
- Füjin é um homem casado! - O ruivo parou encarando Kankuro que estava tremendamente sério - Sakura me disse que ia jantar e conhecer o marido dele, que fazia uma sopa muito boa. Eu nunca pensei que ia dizer isso - ele olhou magoado - Estou decepcionado com você como líder de nossa aldeia.
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