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História Lar - Koriand'r


Escrita por: MJthequeen

Notas do Autor


Oi gente!!

É, eu sei, os capítulos só ficam maiores e maiores haha sobre isso:

- eu não vou diminuir os capítulos pq alguns leitores tem preguiça de ler kk gente, eu gosto de acrescentar muitos detalhes e odeio sentir que não coloquei algo que queria colocar! Então me desculpem quem não gosta e, quem gosta da fic, mas não gosta de caps longos, eu sugiro ler uma "quebra" de cada vez ;] quebras são esses espaços em branco em que eu pulo tempo. Vc pode ler duas, pausar, ler mais duas outro dia. Elas tem relativamente o mesmo tamanho!!

- ninguém perguntou, mas a idade dos personagens: Cy 19 para fazer 20 esse ano, Dick 17 para fazer 18 esse ano, Kori 17 para fazer 18 esse ano, Rae 17 para fazer 18, Barbs 17 recém completados, BB 17 recém completados.

Ah, eu percebi que vcs preferem os capítulos do Robin, né?? hahaha eles tem mais leituras. Segredo: eu prefiro também :P adoro quando ele fica pensando sobre o Batman, ou Gotham, ou crimes kk

É isso~

Capítulo 8 - Koriand'r


Fanfic / Fanfiction Lar - Koriand'r

Lar

Estou absorvida nos olhos cinzentos, quase lilases, da minha melhor amiga. Por um segundo, uma breve respiração, encaro a pedra no seu chacra frontal. Estou com as costas das mãos sobre as palmas de suas mãos, sobre seu joelho; ambas sentadas em borboleta, uma de frente para a outra.

— Se sente melhor? – murmura, procurando meu olhar, que sai automaticamente de seu ajnã

Concordo com a cabeça. Certamente, me sinto mais leve. A angustia ainda está aqui, mas abrandou um pouco. Depois de tentar juntar meus pedaços com palavras amorosas e não ter o resultado esperado, ofereceu seus poderes. Ela tinha mascarado todas as sensações ruins, enganado-as de forma que pensassem que são boas. Não é definitivo, sua voz soa como uma lembrança na minha mente, mas você vai conseguir ficar tranquila por um tempo

— Muito, Ravena. Eu não posso dizer o quanto estou grata. – Eu desviro minha mão e enrosco nossos dedos, tentando sorrir. Sinto-me como quando estou voando sobre as nuvens e a minha visão está turva; é como se uma grande névoa cobrisse meus olhos e pensamentos. Impedindo-me de ir muito fundo neles. É um efeito interessante, esse poder da Ravena.

As lágrimas somem dos meus olhos e a tristeza me deixa de um lado um pouco.

— Fico feliz – responde, ainda baixinho, e nós nos encaramos por um momento. — Você quer falar disso, não quer...? – Levanta uma das sobrancelhas. Seus poderes encobriram meus sentimentos até mesmo para ela. Eu balanço a cabeça de cima para baixo, mesmo que sua voz tenha sido levemente relutante.

— Sobre Dick, sim, eu quero – a voz soa de uma vez só e não posso me controlar. Rae suspira.

— Star, não é tão simples. Eu não posso invadir a privacidade dele te contando qualquer algo... – Ravena aperta meus dedos. – Você é como minha irmã. Mas ele também é.

Eu mordo o lábio inferior. Sei disso.

— Eu só... Ravena, eu estou tão confusa. Eu achei que eu conhecia o Robin todo esse tempo, mas existe tanto que eu não sei sobre ele... Mesmo que Robin continue sendo o mesmo depois disso, quem é ele debaixo da máscara?

Ravena me encara em silêncio. Finalmente, depois de segundos que parecem anos, ela responde, e seu olhar está firme no meu.

— Eu preciso que você preste atenção em mim. Todos nós temos problemas, Star. Cada um de nós passou por coisas ruins. Não é diferente com Dick. Eu tive experiências o suficiente para te dizer que não existem mentes boas ou ruins; existem pessoas mais machucadas e jeitos diferentes de lidar com a dor. Richard tem muito em suas costas. Não que ele realmente tenha um reino, como você tem, mas é necessário que você entenda toda a importância que ele coloca nas pequenas coisas e como isso o consome constantemente. Estelar, ele é só humano e, como todo humano, tem coisas ambíguas em sua mente. Você tem certeza que... – ela respira fundo e outro suspiro vem do fundo da sua garganta. – Você tem certeza que não idealizou algo que não existe? Você tem certeza que não idealizou o herói por 24 horas?

O silêncio me tortura. Balanço a cabeça. Talvez eu não quisesse tanto falar do Robin quanto eu pensava. A névoa fica intensa na minha mente. Os minutos passam sem que Ravena me cobre uma resposta; a página do jornal que ela abandonou voa pelo ar com a brisa fresca, quase fria. Eu assisto. O outro problema vem na minha mente. Junto minhas sobrancelhas.

— Eu nunca me senti assim na Terra antes. Eu nunca tinha... – Eu olho através do seu ombro, o céu é azul, muito azul. O jornal vai sumindo. – Eu nunca tinha ouvido essas coisas, lido essas coisas... Não entendo. Eu nunca fiz nada, Ravena. Eu tento me comportar o mais humanamente possível... Eu juro que tento – e coloco uma mecha do cabelo para trás da orelha. É inacreditável o jeito como essa força dela dentro de mim faz eu me sentir. Eu falo todas essas coisas e elas machucam de verdade, porém eu mal as sinto.

Ela chacoalha a cabeça e seu cabelo a acompanha.

— Você não fez nada, Star. As coisas são... complicadas na Terra. Falar todas aquelas coisas de você, criar uma competição imaginária entre você e Batgirl... Isso atrai os leitores. As pessoas gostam de ver discussões e quanto mais ácidas as palavras... – a voz dela some e ela mexe os ombros. Parece brava com isso tudo, apesar de seu tom ainda monótono. Finalmente solto suas mãos e volto a abraçar meus ombros.

Eu entendo tudo isso que ela me falou, entendo mesmo. Contudo, não diminui essa sensação debaixo do meu umbigo, sensação que encontra o fogo e o atiça. Essas pessoas não são como eu. Essas pessoas tem visões diferentes das que eu tenho e seus desejos são outros desejos, que não são meus. Eu estou aqui por dois anos, dois ciclos solares completos. E se eu me achava mais humana por usar garfos, ou por usar jeans, ou por assistir filmes repetidos a cada mês, na televisão...

A sensação de névoa dentro de mim aumenta, parece tentar subjulgar as outras lástimas. Ravena ergue o braço, ainda sem usar a capa, e coloca a mão sobre meu ombro. Tem um olhar de compreensão.

— Quer saber o que sinto vindo de você agora? – ela murmura, como se fosse me contar um segredo. Eu concordo com a cabeça, como uma criança. – Saudades.

 

 

Ravena propõe que passemos a tarde juntas, ao mesmo tempo em que veste sua capa no lugar, como se nunca a tivesse tirado. Eu aceito rapidamente. Não é raro que fiquemos juntas sozinhas por algumas horas, já que nas poucas vezes que visitei o shopping ou outros locais da cidade foi com ela, mas é raro que Ravena convide. Geralmente sou sempre eu.

Quando descemos para a sala de estar, ela está completamente vazia. Não é tão estranho assim, já faz 2 horas desde que sai para voar pela cidade. Eu olho para os ombros de Ravena, agora que já não estou tão triste – os poderes dela trabalhando bravamente – não sei muito bem o que podemos fazer juntas. Talvez ela me convide para meditar? Isso seria muito bem vindo.

Ela afasta o capuz do rosto e ergue a mãos, os dedos dobrados de forma estranha. Nesse momento ouço e vejo alguns armários da cozinha se abrindo, os puxadores cobertos por energia negra.

— Por que não cozinhamos? – sugere, a voz baixa que ecoa pelas paredes vazias. Eu sorrio, juntando as mãos, balançando a cabeça de cima para baixo de forma contente. Ravena sorri também, parecendo aliviada. – Eu vou te ensinar a fazer uma torta de cereja.

É Ravena quem faz o recheio, mas ela me deixa responsável pela massa. É necessário fazer na mão e não é um processo simples, mas eu já cozinhei tantos ghydös, que me sinto o capaz suficiente dessa tarefa. Nós conversamos sobre banalidades e é engraçado vê-la cozinhando: Ravena flutua pela cozinha, sentada no ar, e mal mexe nos talheres ou panelas, ela usa seus poderes para quase tudo. Entre discussões sobre alguma noticia, personagens de uma série sobrenatural que vemos juntas, tempo, música, videoclipes novos de artistas famosos, ela vai me mostrando o que fazer. Eu só consigo imaginar como essa torta ficaria boa feita de zorkaberry.

A torta fica pronta depois de três horas, porque precisamos deixar a massa por 1 hora na geladeira; a parte mais legal de fazer tinha sido criar o formato de retalho por cima.  Nós nos sentamos sobre o balcão, sujo com um pouco de farinha que espalhei sem querer, e finalmente provamos a sobremesa. O recheio literalmente derrete na sua boca e eu sorrio.

— Eu precisei pensar muito sobre isso – digo, pegando outro pedaço – mas acho que minha parte preferida da Terra é, definitivamente, a comida.

— Achei que você tinha levado um tempo para se acostumar.

— Levei. Mas é tão interessante como um único planeta tem tantos gostos peculiares.

Ravena sorri.

— Fico feliz que tenha gostado. – outro pedaço flutua até ela e Ravena o mexe com o garfo, sem me olhar. – Podemos fazer algo do seu planeta, um dia desses.

Eu a olho de canto, o garfo pendurado na minha língua. Coloco-o sobre o prato por um momento, mas não respondo. Sei que a aparência e o sabor não são agradáveis para nenhum dos Titãs. Talvez, para poucos na Terra. Mexo os ombros e volto a levar o garfo até minha boca.

— Podemos.

Nós mudamos de assunto enquanto ainda comemos e pouco depois Cy e BB entram na sala de estar. Parece que Mutano não vê uma torta há décadas, pois quase pula em cima dela e murmura o quanto Rae cozinha bem e que ela é maravilhosa. Eu controlo a risada e olho dele para ela, às vezes sinto que Mutano já não a incomoda tanto quanto no começo do time. Como se Rae tivesse simplesmente se acostumado com ele.

Ciborgue se aproxima de mim enquanto o garoto verde continua perguntando para Rae o que ela bota nas suas tortas para ficarem tão boas.

 — Ei, você está bem? – pergunta, colocando toda a louça suja dentro da pia. Deve estar se referindo a mais cedo, quando fui para o terraço sem mais explicações. Eu gosto tanto de Ciborgue. Só de lembrar que ele já praticamente saiu do time para se juntar aos Titãs do Leste, algo dentro de mim se quebra. – Deixem a louça para mim e o BB – Rae parece ouvir essa parte e agradece com os olhos; eu também.

— Estou. Acho que vocês chamariam isso de “coisas de garota” – Eu ouvi essa expressão numa série após a protagonista mudar repentinamente de personalidade, mas não entendi o que exatamente isso tinha a ver com ela ser uma menina.

Ciborgue arqueia a sobrancelha.

— Você sabe o que isso quer dizer?

— Na verdade, não. Mas pareceu uma boa desculpa – sorrio.

Ele ri abertamente, mexendo a cabeça.

— Com certeza é a mais usada – ele assovia e eu ainda sorrio, mesmo sem entender muito bem. Melhor eu perguntar para Rae outro dia. Já reparei que, aqui na Terra, existem assuntos que garotas estão mais acostumadas a falar com garotas e garotos com garotos. Não me importo com isso, mas Cy, BB e Robin sempre parecem encabulados. Ele fica sério. – Star, você sabe que não precisa se preocupar sobre Robin, não sabe? – Encaro o chão, temendo responder sim. – Ele não nos trocaria por nenhuma Batgirl – garante.

— Por duas, talvez? – Brinco, ainda sorrindo. Cy dá de ombros e sorri também.

— Acho que até a Ravena trocaria o time por duas Batgirls.

 

 

— Você não quer mesmo meditar comigo? – Rae pergunta novamente, me encarando fixamente. Sei que quer passar um tempo comigo, mas ela precisa meditar. Ainda mais agora; eu sei que ela não dormiu noite passada e sua mente deve estar cansada. Ter me “curado” com seus poderes não pareceu nada fácil, também.

Está de pé bem atrás do sofá, onde estou sentada, e sua capa fechada não me deixa nem mesmo ver seus pés.

Eu sacudo a cabeça, trocando de canal.

— Está tudo bem, Rae, acho que vou assistir um pouco de TV.

Sua mão estica e ela faz um circulo no ar, que se revela num portal instantes depois.

— É só me chamar se precisar.

Concordo com um sorriso e ela desaparece no círculo negro. Ainda é um pouco curioso vê-la fazendo isso e eu me lembro da sensação de atravessar seus poderes, exatamente como água fria. Volto confortavelmente para o sofá, depois de ter tirado minhas botas, e aproveito o silêncio da sala de estar. Cy e BB estão na garagem, Robin deve estar em seu quarto – talvez na sala de investigação?

Acho que fui muito grossa com ele. Finalmente encontro um filme interessante e deixo no canal; está legendado, por ser Alemão, mas eu consigo facilmente entender tudo o que dizem. Dick me disse, depois de me perguntar com vergonha porque eu tinha o beijado, que falava mais de um idioma. Considerando a infinidade de povos na Terra, por mim tudo bem.

Estou verdadeiramente envolvida na história, que é sobre um anjo que deseja se tornar humano, após se apaixonar por uma. Ainda não entendo o conceito de “anjo”, mas eles vêm do céu – ou pelo menos alguns humanos acreditam que sim. A história é estranhamente familiar e eu espero ansiosa pelo final.

É nesse momento que eu me sinto... exausta? Sim, estou cansada, muito cansada. Não sei dizer o porquê, mas algo me diz que tem a ver com os poderes de Ravena. Talvez com os meus. Nós lutamos contra Dr. Luz pela manhã e pouco depois eu sobrevoei a cidade por tempo demais. Coço os olhos, tentando fazer o sono passar, mas não adianta.

Não adianta mesmo. Tudo fica escuro e confortável devagarzinho...

E então acordo. Parece que dormi por uns dois minutos, mas a sala de estar está completamente escura. Coço os olhos, tentando me acostumar com a falta da claridade. Um segundo atrás, praticamente, o sol estava forte. Dormi por 2 horas? Ou 3? Acho que nenhum dos Titãs passou pela sala, ou talvez não me viram ou não quiseram me acordar.

Quando estou me espreguiçando, pensando em perguntar para Rae se vou ficar cansada assim por muito tempo, ouço barulho de água na cozinha. Pensando se a pia está aberta, me viro rapidamente. Vejo, sem dúvidas, uma silhueta humana. Não qualquer um, para o meu azar. Antes que eu fique nervosa, o poder de Ravena me encoberta mais uma vez. Então Robin, depois de já ter enchido sua garrafa, vem na minha direção e se senta na ponta do sofá. Longe de mim.

Deve ter medido um espaço seguro.

— Você não costuma dormir no sofá – ele murmura, mas sua voz para mim é aço.

Encaro a TV, desejando ter ficado acordada.

— Eu estava assistindo um filme, Der Himmel über Berlin. Acho que peguei no sono, não consegui ver o final – explico, colocando parte do meu cabelo para trás. Não estou brava com ele, ou pelo menos a névoa não me deixa ficar.

— Asas do Desejo, é um ótimo filme. Eu posso colocar para você ver amanhã, se quiser – oferece, sorrindo. Existe uma pausa, onde ele parece pensar algo. – Nós podemos assistir juntos.

Ele realmente não seria o Robin que conheço se não oferecesse, seria? Eu tento me animar, mas continuo impassível.

— Você já assistiu. Não acho que será divertido para você – explico, não querendo parecer rude. É a verdade, afinal. Que graça tem se ele já sabe o que acontece? Robin mexe a cabeça, discordando. 

— Qualquer coisa que eu fizer com você vai ser divertido, Star.

Robin, eu sei que você está falando a verdade. Eu sei, mesmo. Eu acredito em você do fundo do meu coração, mas se você pensa assim, se realmente pensa assim, por que não estamos...? Por que você passa tempo comigo e me diz essas coisas, mas não estamos juntos como essas revistas gostam de dizer?! No começo, eu achei que talvez fosse a cultura da Terra.

Em Tamaran, eu nunca passaria muito tempo com meu prometido, ele só estaria lá quando achassem que é a hora de eu me casar. Talvez eu conhecesse de reuniões interplanetárias. Provavelmente um grande guerreiro de quem ouvi falar muitas vezes, um homem muito rico, possivelmente não rico de sentimentos. Eu cresci com essa ideia e ela é boa para mim.

Mas as coisas mudam toda vez que Robin me apresenta alguma coisa nova na Terra e me faz me sentir parte dela. As coisas mudam quando estou perto dele e quando ele está voando comigo, segurando em meus pulsos. As coisas mudam porque agora eu sei como os casais funcionam na Terra e fico me perguntando se ele e Batgirl já foram um casal. As coisas mudam quando quero beijar sua boca para muito mais do que só absorver linguagem. Tudo muda quando eu sei que minha digital está na porta do seu quarto e eu poderia entrar na hora que eu quisesse, mas não entro. 

As coisas realmente mudam quando eu sei que seus olhos são perfeitamente azuis.

Azuis como as fontes termais perto das alas comerciais de Tamaran. Trago as pernas para o sofá e as abraço, encostando o queixo no joelho. Estou pensando sobre Tamaran mais uma vez. Ravena tinha dito saudades. Eu me lembro dela oferecendo que fizéssemos uma comida do meu planeta. Também me lembro do jornal, mas duvido que ele saiba disso. Consigo ouvir Robin tomando um gole d’água.

— Você acha que meus costumes são estranhos? – pergunto e Robin parece surpreso.

— Eles são diferentes. Mas isso não é estranho. Aqui na Terra nós temos muitos países com culturas totalmente diferentes. Por exemplo na Índia, a religião deles tem mais de... – mesmo sem querer, eu interrompo. Ele vai desviar o assunto, não quero que desvie e falo a primeira coisa que passa pela minha mente.

— Quando você visitou Tamaran, não comeu nossa comida.

E o silêncio cai como uma manta. Robin abre e fecha a boca diversas vezes. Acho que eu não disse a coisa correta. Mal consigo olhá-lo. Robin se aproxima de mim, sem se importar em sentar exatamente do meu lado.

— Eu não... – Ele tenta, sem sucesso. – Star, me desculpa. Eu não tinha ideia... Eu não queria ter te ofendido – sua voz é tão insegura que me quebra por dentro. Sinto a presença de Ravena dentro de mim e é como se ela curasse os ferimentos rapidamente com bandaids estratégicos. 

Estou frustrada e balanço a cabeça negativamente, tentando fazê-lo entender o que sinto. X’hal.

— Não, Robin, não, você não me ofendeu – murmuro, agoniada. Num momento, estou prestes a chorar e no outro estou bem, apenas levemente chateada. Ravena é tão forte. Estico minha mão, para tocá-lo, penso em tirar sua máscara. A vontade some quando encosto minhas digitais em sua bochecha fria, então me afasto. – Me desculpa, eu acho que comecei a pensar demais em Tamaran desde que... você me falou como Gotham é importante.

— Star, eu não acho que sua cultura é ruim ou esquisita. Eu só não estou acostumado com diversos aspectos de Tamaran, me desculpe. Eu prometo que isso nunca mais vai acontecer de novo.

Eu aceito, mas não quero ouvir todas as desculpas dele. Nesse momento eu não me sinto eu mesma, a garota que estaria chorando e frustrada. Não quero conversar com Robin assim. Ele merece a verdadeira eu.  

Me levanto, achando minhas botas e colocando-as debaixo do braço. Estou só com as meias, mas só penso em ir para meu quarto e me deitar de vez; colocar as botas agora é esforço desnecessário.

— Eu vou estar no que meu quarto. Um ótimo shlorvax, Robin – digo, parecendo calma. Coloco uma mecha para trás da orelha e penso que, apesar de estar muito agradecida por Ravena me ajudar, é estranho ter ela me contendo. Talvez eu recuse da próxima vez.  

Antes que eu vá embora, Robin segura meu pulso e eu paro.

 — Star?

Eu me viro, em silêncio, encarando a máscara.

— Sim, Robin?

— Estamos bem? – ele está procurando a resposta em minhas ações, mas Rae as lavou todas.

— O quão bem podemos estar.

Do momento em que acordei e sai da sala de estar, eu não consegui chamá-lo de Dick nenhuma vez, mesmo sabendo que esse é seu nome.

 

 

 

A porta se fecha sozinha atrás de mim, quando entro no quarto. Não sei se Rae está me sentindo, mas a névoa vai embora outra vez e me sinto mais leve. Deixo as botas de lado e acendo a luz do meu quarto, sentando. Eu vim da sala até aqui em silêncio. Estava pensando outra vez sobre Robin, sobre Ravena, sobre Gotham. Sobre Tamaran.

Os dias que Robin vai ficar em Gotham... quantos são? Uma perturbação fica indo e voltando na minha mente. Eu finalmente entendi o que Ravena tinha sugerido com saudades. Ela estava me dizendo para ir, se eu quisesse ir. Mordo o lábio inferior e olho para a cômoda, que fica logo do lado da minha cama.  

Me levanto num pulo, prendendo os cabelos num coque desajeitado e puxando a sexta e última gaveta. Tem alguns objetos de Tamaran lá, mas o que eu pego é muito parecido com um celular, mas menor e sem nenhum tipo de botão. Sua lateral é roxa com pequenos detalhes dourados. Volto a me sentar na cama e puxo alguns travesseiros para por nas minhas costas. Finalmente, deslizo o dedo sobre a tela apagada e ela projeta um menu azul na altura dos meus olhos, então posso tocá-lo no ar, como se realmente houvesse algo ali.

A tecnologia de Tamaran não é tão avançada quanto a de outros planetas do Sistema Vegas, uma vez que nós estivemos em guerra por muitos anos e toda e qualquer pesquisa era totalmente vinculada à proteger o reino ou evoluir nossas armas. Ainda assim, nós temos um sistema de comunicação que nos permite conversar mesmo através de galáxias, como muitas outras raças tem também. Sei que um dos Lanternas Verdes trouxe essa mesma tecnologia para Terra e é assim que a Torre de Vigilância consegue entrar em contato com qualquer planeta sobre a proteção da Tropa. Não acho que a Liga use-a, já que o maior interesse deles é proteger esse único planeta.

O menu é azul, simples, mas está todo em alfabeto Tamaraneano. Ele tem proteção de digital, então nenhum terráqueo teria acesso e, mesmo se conseguisse, nossa grafia é complicada demais para a maioria deles. Alguém como Robin levaria dias para decodificar algo. Eu tenho acesso a pessoas especiais do reino, como os que providenciam as armas, minhas roupas, uma médica especial – que Galfore me deu o contato depois da confusão que foi minha Transformação. Observo a lista de contatos por um minuto. Meus olhos param quando vejo Komand’r no topo.

Eu costumava falar com ela quase todos os dias, antes de saber que tinha sido ela quem planejou me entregar aos Gordanianos. Antes de ela trazer policais intergalácticos para a Terra e tentar fazer com que eu pagasse por seus crimes. Antes de ela tomar o trono antes da idade adequada e tentar fazer com que eu me casasse. Suspiro e clico em Galfore assim que vejo. 

 A tela entra em carregamento por um minuto, até que o rosto do meu K’Norfka finalmente aparece. Galfore está exatamente como eu o vi quando visitamos Tamaran, há quase um ano, exceto que ele permanece com a coroa sobre seu rosto. Um grande sorriso ilumina suas feições quando me vê.

— Princesa – ela bate com a mão fechada no peito e eu solto um sorriso. Está falando Tamaraneano e é reconfortante conversar assim.

— Grande Governante Galfore – eu também bato com a mão fechada no peito. Acredito que sou eu quem lhe deve respeito, não o contrário. Infelizmente, em Tamaran o sangue é muito importante. Mesmo que agora ele seja o Grande Governante, minha palavra pode se impor a sua, uma vez que sou da família real.

— Fazia tempo que você não me contatava, Koriand’r, está tudo bem?

Eu pisco, arrependida.

— Não estou atrapalhando, estou? – Ele acena a cabeça em negativa. Ótimo, eu estava com medo de ligar no meio de algum assunto político. – Me desculpe, Galfore. As coisas não mudaram muito na Terra, então não achei que deveria te perturbar com isso. Ser Grande Governante não deve ser fácil.

Ele sorri verdadeiramente para mim, como se agradecesse.

— Não, não é, pequena. Mas estou cuidando o melhor que posso do seu reino. Até que você decida voltar ou eleger um novo rei ou rainha – Eu aceno com a cabeça. Ele fica sério de repente. – Você me parece diferente, princesa. E se me ligou agora, então algo incomum aconteceu. Não respondeu minha pergunta; você está bem?

Suspiro, desviando os olhos do projetado por um momento.

— Sim, Galfore, está tudo bem. Depois de amanhã, nós vamos comemorar dois ciclos solares dos Titãs. Faz dois anos que estou na Terra.

Não sei se Galfore entende quanto “dois anos” equivale, mas ele não pergunta.

— Então os terráqueos também comemoram os ciclos, hein?

— De um jeito diferente. Cada um comemora o seu individual, é chamado de “aniversário” – explico, ainda sorrindo. Galfore parece que tem um grande ponto de interrogação na cabeça e eu rio. Foi exatamente como fiquei. – É a partir do nascimento de algo, então esperam que a Terra faça uma volta completa no grande Sol, até que retorne ao dia em que começou.

Ele estreita os olhos.

— É uma comemoração, certo? Feliz?

Eu concordo.

— É costumeiro que se diga “parabéns”, inclusive.

— Parabéns a você e aos Titãs, princesa – ele diz, respeitosamente, mas tem um pequeno riso no canto dos lábios, como se achasse isso esquisito. – Mas você não me parece tão feliz quanto a data pede, Kori.

Eu deixo de olhar em seus olhos e suspiro mais uma vez.

— Eu te liguei para que você anuncie com antecedência para os conselheiros e para a população. Sei que não seria bem visto uma chegada minha de surpresa, por isso decidi te avisar. Eu estou indo para Tamaran, Galfore. Sozinha. Estou com saudades de casa.

 

 

A pulseira está firme, por cima do meu protetor de pulso, entretanto eu ainda posso sentir seu peso. Encaro o objeto, as costas apoiadas na parede, meu cabelo preso firme no topo da minha cabeça. Não consigo nem mesmo ativar uma starbolt, é um equipamento assustador. Robin está de costas para mim, alguns passos na minha frente e de pé, encarando o treino de Ravena e Cy, que acabaram de se movimentar pelo tatame.

Seus ombros estão mais largos. Todos os músculos das suas costas demarcados pela camiseta branca apertada, que deve lembrá-lo de se uniforme, chamam minha atenção. Isso definitivamente distrai minha mente, agora livre dos poderes de Rae – ela me disse que eles não duram muito mais que 12 horas – e eu mordo o lábio inferior. Como eu agradeço que ele não esteja usando uma camiseta normal. Robin deveria tentar usar mais branco, combina tanto com seus cabelos negros. Ele não pode me ver, então aproveito para descer o olhar até seu quadril e a parte que normalmente sua capa cobre. Cy e BB devem brincar por costume, por que Robin definitivamente não é magro. Você quase pode sentir todas as horas de treino só de olhá-lo um pouco. Não é mistério que ele seja o preferido das garotas... Vê-lo em roupas de esporte me deixa estranhamente feliz.

— Hã... Star? Sobre o que aconteceu... – Ouço a voz de BB, que me transporta para a realidade e para longe dos glúteos de Robin. Eu pisco. Ele está com a mão na nuca e as bochechas coradas, um olhar arrependido e triste. – Eu... Olha, me desculpa. Eu realmente não queria ter dito aquilo!

Coloco a mão sobre seu ombro. Tinha ficado muito afetada quando BB usou a palavra “selvagem”, alguns minutos atrás, mas não era culpa dele. Eu entendi que ele tinha usado uma gíria. Só foi... desconfortável na hora.

— Eu te disse, Mutano, está tudo bem. Não foi sua intenção.

Ele coloca a mão sobre a minha e está sério. É tão esquisito ver Mutano assim, ele geralmente é o mais divertido de nós 4. Eu só o vi assim quando... Tento não pensar nisso, eu sei que BB captaria na hora que Terra passou na minha cabeça.

— Não, mas Rae tem razão. Olha, eu falo e ajo sem pensar, mas não sou idiota. Quer dizer, não tanto assim... – ele olha para cima, pensando, eu rio sem querer. Mutano sorri, como se tivesse concluído um objetivo. – Eu sei que é sobre aquele noticiário de ontem, ou Batgirl, enfim. Você é de outro planeta, mas isso não quer dizer nada! Você é incrível, Star. E sei que isso não significa muito, mas é uma das pessoas mais corajosas que eu já conheci. E, tudo bem, eu sou verde, mas pra mim você é linda! Mesmo sendo laranja. Hã... Quer dizer, ser laranja não é ruim, eu falei assim por falar, tipo...

Eu o calo dando um abraço nele e rindo no seu ombro.

— Ah, BB, você é o melhor!

Ele me abraça também rindo e, de repente, se transforma num gato verde muito fofinho. Fica nas patas traseiras e coloca as frontais no meu rosto, lambendo meu nariz. Eu adoro gatinhos! Ele só volta à forma humana depois que eu o apertei e fiz miados o suficiente para uma semana. Nós dois ainda estamos rindo, sem perceber que a luta de Rae e Cy já acabou e nem reparamos no que aconteceu.

Ravena vem atrás de uma garrafa d’água depois de Robin dizer algo para ela e Cy, alguma instrução sobre seus movimentos. Provavelmente foi Ciborgue quem ganhou, uma vez que Rae é pouco hábil no combate corpo a corpo. Robin se vira para nós dois e só ai que eu lembro que estava reparando nos músculos dele poucos minutos atrás.

A camiseta também marca seu peitoral e o abdômen. E eu controlo um suspiro no fundo da garganta quando ele cruza os braços. Eu vou sentir falta da Torre e dos outros Titãs, mas muita mais dele... Ainda preciso falar com Rae sobre a decisão que tomei noite passada, voltando para meu quarto.

— Star e BB, por favor. – Ele nos chama, voz de comando e olhar autoritário. Eu gosto quando Robin está assim. Ele definitivamente é um líder natural.

Eu e Mutano nos levantamos rapidamente, ficando um de frente para o outro no tatame. Estamos sorrindo cúmplices e aposto que tanto Rae, quanto Cy e Robin perceberam isso.

— Hey, ruiva, pronta para ser derrubada? – Mutano faz umas poses estranhas, que eu não reconheço de nenhuma arte marcial que já vi Robin usando. Hm, devo ter visto algo parecido em um filme sobre lutas. Será que era para me assustar?

— Vai, BB! – Cy grita, balançando a mão no ar. – Uh, Uh, Uh – Eu tento não rir dos sons que ele faz, já que está torcendo contra mim. Ele e Mutano fazem isso em todo treino e quase sinto Ravena revirando os olhos.  

Eu abro as pernas e levanto os punhos quase na altura do rosto, flexionando meus joelhos para frente. É o movimento inicial que os

— Pronta para te mostrar quem é o selvagem, terráqueo.

Consigo exatamente o efeito que eu queria com essa frase; ele se distrai com a surpresa. Eu começo atacando e a vantagem é totalmente minha. Apesar de Mutano ser um adversário formidável, eu sou mais velha e já tive um treinamento totalmente diferente das artes marciais da Terra. Depois de alguns minutos entre golpes e defesas, ele abre muito sua guarda e tenta me socar, porém eu seguro seu punho com essa facilidade e golpeio seu nariz; ele cai com as costas no chão.

— Ah, qual é, BB, você envergonha a raça masculina! – Cy solta, rindo. Eu olho ofegante e sorrindo para os dois, e vejo Rae com uma leve expressão de satisfação.  

Eu vejo Mutano murmurando xingamentos no chão e dou minha mão para ele se levantar, rindo de sua cara mal humorada.

— Não vale, a Estelar treinou com os Lordes das Lutas lá em Okiara – reclama, quando Robin finalmente chega perto de nós dois.

— São os Lordes da Guerra, Mutano – explico, achando engraçado o jeito como ele trocou tudo. BB é (quase) sempre ótimo.

— E é Okaara; eu não acho que Okiara exista – Ouço a minha voz preferida já completando. Mutano murmura algo como “foi isso que eu disse”, mas não estou prestando atenção. É tão importante para mim como Robin sempre presta atenção em tudo o que falo sobre minha história. Eu agradeço com os olhos e ele sorri para mim, como se dissesse que está tudo bem. Eu vou sentir muita falta dele, mesmo que sejam só alguns dias (ou pelo menos espero que sim). – Ok, Mutano, você e Ravena vão lutar agora. Star e Cy, vocês estão juntos também. – Continua e os outros dois se aproximam. Adoro lutar com Ciborgue, ele nunca se segura. – Mas vai ter algo diferente. – Robin se aproxima dos armários onde guardamos equipamentos e, quando volta, tem faixas negras nas mãos.  

Ouço Rae suspirar, mas eu sorrio. Esse tipo de exercício é muito legal.  

— Quando eu treinava com Batman – Robin começa a distribuir as faixas para nós, mas eu só percebo como ele fala do Batman. Nunca citou o herói antes, mas agora que já sei, não consegue se segurar. Ele realmente fazia um esforço para eu não associá-lo a Batman? – Ele me dizia para não confiar nos meus olhos. Uma batalha depende muito mais do que você não pode ver, do que pode – ele me entrega a faixa, mas não solta a outra ponta. Eu tento não vacilar sob sua máscara. – Vocês tem outros 4 sentidos para lhe ajudarem. Façam bom proveito deles.

 

 

 

Meu peito ainda sobe e desce enquanto arfo. Eu e Cy estávamos treinando com um saco de areia, ver quem conseguia empurrá-lo mais longe com um soco, até que Robin deu por encerrada a sessão de treinamento. Eu tirei a pulseira me sentindo leve por ter meus poderes de volta. 

 Sinto gotinhas de suor escorrendo por minha barriga até chegar ao cós da calça. Meu olhar está preso nesse equipamento que já vi Robin usando algumas vezes – ultimamente, pouquíssimas. São duas argolas penduradas, separadas por menos de um metro. Seu rosto é sempre tão sério quando ele está lá em cima, os olhos quase sempre fechados. Entretanto, todos seus movimentos são quase naturais. Não pensa muito para fazê-los. 

Sinto alguém atrás de mim e olho, levantando a sobrancelha. É Robin. Percebo finalmente que todos já foram e estamos sozinhos. Não digo nada e ele está rapidamente ao meu lado.

— O que está pensando?

— Parece difícil. – Murmuro, ainda encarando as argolas. Já não estou mais pensando sobre elas e sim sobre ele. Quero dizê-lo que resolvi ir para Tamaran. Quero muito, mas as palavras se perdem na minha boca.

— É, um pouco. – e dá de ombros, como se não fosse nada demais.  

Olho para suas mãos e vejo que ele está segurando as quatro faixas, não guardou nenhuma ainda. Não quero ir embora agora e uma ideia ilumina minha mente. Mordo o lábio inferior, olhando para seu rosto impassível.

— Você não lutou nenhuma vez – ergo minha mão e puxo só uma das vendas. A ideia é ótima e eu sorrio, me sentindo surpreendentemente travessa. Ele levanta uma sobrancelha, confuso. Há algo que quero fazer antes de ter que ir.  

— Eu precisava supervisionar vocês. – Eu ignoro sua resposta, colocando a faixa que já tinha pegado na mão dele e tirando as outras três.

— Não há mais ninguém para supervisionar aqui – sussurro e dois dos três tecidos deslizam das minhas mãos até meus pés. O que Robin deve estar pensando? Será que está tentando desvendar o que quero dizer? Será que já sabe o que vou fazer? Seus ombros estão tensos. Não, ele não tem ideia. Eu deslizo a língua sobre o céu da minha boca, me sentindo como... uma mulher. Parece que minha transformação foi há tanto tempo. — Me pega.

A voz que eu mal reconheço sai de mim. Eu sei o duplo sentido. Essa expressão eu entendo completamente. Eu subo minhas mãos, passando a ponta do dedos devagar pelo meu pescoço, até que finalmente amarro a faixa pouco abaixo do meu rabo-de-cavalo, tampando totalmente minha visão. Atiçando totalmente meus outros sentidos. Sentindo seu cheiro descer pela minha garganta, subir na minha mente. Estou em posição de luta, encarando o breu, e estou o esperando.

Ouço-o fazer o mesmo, dar o nó, tampar sua máscara com o tecido por cima desta. Então deslizo para o lado, tentando imaginar em que posição seu corpo está. Robin deve ser melhor nisso do que eu, mas sua respiração está ofegante e eu sei exatamente onde ele está; golpeio-o com o um soco no maxilar, controlando minha força para que seja parecida com a dele, e isso surpreendentemente o acerta. Certo, por essa eu não esperava. Achei que Dick desviaria facilmente. Onde sua mente está?

Continuo girando ao redor dele, tentando fazer menos barulho quanto possível, mas sem trapacear voando, trancando minha respiração. Estou procurando a melhor hora para atacar outra vez. É nesse momento em que ele, silencioso, acerta meu ombro e minha barriga, golpes fortes demais. Não é dor que eu sinto, uma vez que meu corpo é muito mais resistente que o dele, mas é muito irritante. Sinto que ele vai me chutar e na hora consigo bloqueá-lo com meu antebraço e acerto uma cotovelada em seu peito, tentando empurrá-lo para trás.

Ele grunhe, mas segura meu cotovelo e eu não tenho tempo para pensar em nada – num movimento só, ele me girou com facilidade e passou meu e seu braço pelo meu pescoço, trancando-me num mata leão muito seguro. X’hal, eu calculei isso muito, muito mal. Assustada, eu dou um passo para trás e Robin minha acompanha, ainda sem me soltar. Consigo sentir sua respiração diretamente contra minha nuca. Minhas mãos percorrem seu braço e, quase que automaticamente, eu cravo minhas unhas em sua pele quando ele respira outra vez no pé do meu ouvido. Isso é bom. Tê-lo ali, me segurando por trás, quase parece certo.

Eu luto contra essa sensação ao mesmo tempo em que luto contra ele, e me mexo, tentando me soltar, mas só fica mais apertado. Não desisto, sentindo minhas costas contra seu peito, movendo minhas pernas. Não sei o que aconteceu, mas em algum momento durante essa minha movimentação, a respiração dele fica mais forte e seu braço mais fraco. Robin bate os dentes. É minha chance.  

Eu o seguro e impulsiono nós dois para frente, levando ambos para o chão num baque violento contra suas costas. Espero que não tenha sido demais, mas não posso pensar nisso. Estou sentada sobre seu abdômen, sinto que de costas para sua cabeça. Eu me desviro antes que ele tenha chance de se recuperar e vou tateando seu peitoral, tentando não pensar no que raios estou fazendo. Estou mesmo passando a mão por seu tronco? X’hal. Eu finalmente acho suas mãos e, numa respiração, seguro seus pulsos e os ergo para cima de sua cabeça, ele solta uma exclamação de surpresa.

E então eu me acalmo. Para segurar seus pulsos tão alto, precisei me curvar e sinto sua respiração quente batendo no meu decote, gelado contra meu suor. Estou sentada sobre sua barriga. O moletom é quase fino demais e eu sinto seu tanquinho sob minhas coxas. Sob o meio das minhas pernas... Eu prendo a respiração. 

— Parece... – ofego, tentando controlar aquela sensação e sorrir vitoriosa. Isso é tão bom. Ganhar, quero dizer. Mas estar sentada sobre ele é bom também. – Parece que eu ganhei.

Vitoriosa e distraída, eu não espero pelo que vem a seguir. Ele me empurra com seu quadril e nós dois rolamos para o lado, até que ele pare o movimento com o joelho. É ele quem está em cima de agora, entre minhas pernas, e eu suspiro impressionada.  

Queria saber o que ele está pensando. Meu coração bate como nunca no meu peito e eu solto seu pulso devagar, controlando minha respiração como uma ditadora. Robin está ofegante, mas não consegue esconder isso. Na minha nua da barriga, eu quase posso sentir seu suor através da camiseta. Finalmente, eu levanto as mãos e alcanço seus cabelos, levemente úmidos. Eu mergulho os dedos nos fios e acho o que estou procurando: o nó. Puxo o tecido de uma vez e ele cai entre nós dois, sob meu peito. Permaneço de olhos fechados, mesmo sob minha venda. Sei que ele pode me ver. Eu sei, eu o sinto completamente sobre mim. Comigo.

Ignoro seu hálito de menta que bate nas minhas bochechas, e desço outra vez meus dedos com cuidado, para seu rosto pálido e limpo. Há algo que quero fazer. Há algo que quero dá-lo. Mas não é Robin quem deve ganhar. Não é dele que eu duvido; eu nunca duvidei do Robin. É do garoto lindo por baixo da máscara, é dele que tenho medo. Eu puxo sua máscara de uma só vez e a jogo em qualquer lugar. Aqueles olhos estão lá, eu sei que estão.

 Permaneço com o a mão sobre seu rosto quente, pensando no que devo fazer agora. Eu sei exatamente.

Antes que aconteça, Dick leva sua mão para minha nuca e eu me arrepio com o toque. Ele tenta achar o nó, mas eu o impeço com a mão livre, apertando seus dedos entre os meus. A confusão dele praticamente transpira por seus poros. 

— Eu não quero ver seus olhos – murmuro, receosa de dizer isso para ele. Mas eu não posso mentir para Robin... Richard. Não posso. – Eu... Eu tenho medo deles, Dick – confesso, como um segredo só nosso.

Ele se move por cima de mim, junta mais nossos corpos.

— Star, sou só eu. Eu juro que sou só eu – sussurra, me promete, e beija minha testa docemente diversas vezes, aperta meus dedos com carinho. Estou tão quente e tão feliz, que acho que poderia flutuar a qualquer momento. Me esforço para ficar no chão. Me esforço para não ser tão Tamaraneana, só agora.

Eu mordo o lábio inferior, acreditando nele com todas minhas forças. Me solto de sua mão com muito cuidado e volto a segurar seu rosto outra vez; ele está tão quente. Finalmente eu digo o que tenho que dizer.

— Eu só queria ter certeza de que é Richard quem vai receber isso, não o Robin.

E eu o beijo. Roubo seus lábios entre os meus. Puxo sua cabeça em direção a minha, entrelaço meus dedos no seu cabelo, sumo embaixo dele. É como se o mundo todo não existisse, como se fossemos só nós dois num imenso vazio. Eu passo segundos achando que Dick vai me afastar, achando que vou perder seu contato. É quando ele leva uma das mãos para meu quadril e a outra para minha nuca e me puxa e eu sinto seu corpo todo e suspiro entre nosso beijo. Eu sinto suas pernas nas minhas, seu peito no meu, seu quadril contra meu quadril.

É como um choque que leva todo meu corpo quando ele abre minha boca com sua língua e aprofunda nosso beijo. Nós também temos beijo de língua em Tamaran, mas eles são geralmente guardados para depois do casamento, uma vez que o beijo não é um gesto de amor como acontece aqui. Eu não reclamo, não quero reclamar, pois estou perdida nele, no gosto dele, no cheiro dele. E quero marcá-lo como meu. Quero que ele lamba os lábios e se lembre que eu estive ali. Eu quero que Richard se lembre de mim enquanto estiver em Gotham, pois eu vou me lembrar dele todos os dias e todas as noites de Tamaran.

X’hal, que esse beijo o faça voltar para mim. Para nós.

 

 

 

Eu estou segurando esse objeto entre meu polegar e meu dedo indicador, me esforçando para equilibrá-lo como Robin faz. O nome é garfo – não há um equivalente na minha língua materna. O que eu quero dizer é que não há coisas como garfos no meu planeta. Ou facas. O mais próximo é colher, thur’g. É como uma concha pequena que usamos para servir uma sopa de gornoub em datas comemorativas, essas datas são muito poucas. No meu planeta, Tamaran, costumamos comer usando as mãos.

Sei que todos são meus amigos, sei que todos são gentis e que eu não preciso usar esse garfo para comer. Mas não quero ser indelicada. Não, Kori, esse não é o problema... educação não é o problema... Eu encaro o meu prato de arroz e carne. Não dei nenhuma “garfada” ainda, e Mutano já está quase terminando o dele. Engulo em seco.

Ravena ergue os olhos como se sentisse que há algo de errado e olha do meu prato para mim. Sei que não era sua intenção, mas isso chama a atenção de Robin, conversando animadamente com os outros meninos. Ele percebe na hora, conforme o rubor toma conta das minhas bochechas. Larga o garfo de um lado, tira as luvas e, sob as sobrancelhas levantadas dos outros dois, começa simplesmente a comer com as mãos. Depois de Ravena começar a fazer o mesmo, Ciborgue e Mutano se dão conta do que está acontecendo.

De repente, em cima da mesa, temos um cachorro verde fofinho comendo sua comida.

Dois anos depois, agora que aprendi a usar os talheres, essa cena continua se repetindo na minha mente. X’hal. Eu sou tão grata por esses amigos. Por que todos os problemas não podem ser fáceis de ser resolvidos?

Dois anos de Titãs. Estou olhando para o bolo que Ciborgue fez. Tem algumas velas em cima e “Titãs” escrito em glacê cor-de-rosa. No meu planeta, nós não usaríamos velas em cima da comida para comemorar nada. No meu planeta... começo a lembrar a terra queimada de Tamaran, seus rios agora escassos, as pessoas.

 A Terra é o meu planeta agora. É o lugar que eu amo. Não o lugar que escolhi nascer; mas o lugar que escolhi viver. Onde meus amigos estão, minha família de alma.

Então por que lateja essa sensação no fundo da minha garganta? Por que formiga minha barriga cada vez que desço nas ruas e não encontro outros iguais á mim? Não, eu encontro os olhares. As duvidas. Duvidas que são minhas agora.

Robin está servindo um copo com refrigerante no momento em que o olho. Mesmo sem que eu peça, sei que vai trazer um para mim, do outro lado da sala de estar. Por debaixo daquela máscara, agora eu sei, não mais suspeito, há olhos azuis que me desarmam. Eu sei de onde meu desconforto vem, eu sei de onde as duvidas nasceram. Não de garfos, não das mais de 400 palavras em desencontro nas nossas línguas.

Vem do Robin. Do outro lado que não conheci até agora. Vem dos cantos que Ravena me confessou já ter visto na mente dele. Não, Robin não. Robin não é o problema.

Dick é.

O medo que eu tenho de ele nos deixar, é.

Ele finalmente se aproxima e se senta do meu lado, erguendo o copo cheio, exatamente como eu tinha previsto. É domingo. O primeiro dia da semana. Tudo me grita que é hoje que ele vai, mas eu não pressiono ou pergunto. No dia do aniversário dos Titãs...

— Não precisava – murmuro, pegando o copo e bebendo um gole. Refrigerante é muito bom, talvez eu devesse levar uma lata e mostrar para os chefes de Tamaran, ver se eles conseguem fazer algo parecido. Apesar de que eu não tenho a mínima ideia do que aconteceria com a lata no meio do universo...

Não conversamos sobre o beijo. Vejo no seu rosto que ele quer, mas eu não e Robin me respeita. Não contei para ele ainda sobre Tamaran, apenas para Ravena, no fim da tarde passada. Ela me apoiou com um semblante de quem já esperava por isso.

Depois de beber boa parte do líquido, ele deixa o copo de lado e ergue um... chapéu? Sim, um chpaéu que parece um cone e é muito colorido, que estava segurando na mão esquerda. Ele se aproxima de mim e coloca a peça sobre minha cabeça, passando o elástico por baixo do meu queixo. Tento não pensar demais sobre seu toque, a luva é fria.

— Pronto, agora parece que estamos numa festa de aniversário – diz, sorrindo, e pega seu copo de novo. – Você deve ser a única pessoa que não parece idiota com isso – murmura, como um elogio, e tento não enrubescer. Eu olho para cima, tentando ver o chapéu, sem sucesso. Volto a tomar o refrigerante.

— Por que usar tal artefato durante uma festa? É parte de um jogo? – pergunto curiosa. Não faz muito sentido para mim. Mas, outra vez, nem festas de aniversário fazem.

— Hm... Para ser sincero, Star, eu não tenho ideia. Deve haver algum motivo ligado aos festivais dos nossos ancestrais, acredito. – Balbucia, em dúvida, transmitindo confusão. Chacoalho a cabeça. Os terráqueos são engraçados.

— É engraçado como vocês continuam fazendo rituais sem realmente saber o motivo por trás deles – comento, esperando que se soe ofensivo. Tomo mais um pouco do refrigerante e está quase acabando. Ele dá de ombros.

— Bem vinda a Terra – brinca, finalmente terminando sua própria bebida.

Encaramos-nos num silêncio cheio de sussurros. Eu bebo tudo, também, sem desviar o olhar do seu, por baixo da máscara. Ele está esperando alguma coisa; eu também estou. Estou esperando desde que Batgirl veio aqui. Mas o que Robin busca... é minha aprovação? Aceno com a cabeça, lhe dizendo que tudo está bem. Ele acena de volta e então se vira, em direção aos balcões, onde estão os outros três Titãs. Eu coloco meu copo do lado do sofá, sem coragem de ver ninguém. Robin se levanta, mas eu continuo encarando a TV.

— Tem algo que eu preciso falar com vocês – diz, em voz alta, para que todos reparem nele. Num momento, estou sozinha no sofá, e no outro há três pessoas do meu lado; Rae, Cy e BB na outra ponta. Suspiro. É a hora. Não sou a única tensa na sala de estar; Robin parece ansioso, apesar de esconder isso muito bem, e o meio robô e o transmorfo estão tensos. Eu sinto uma onda esquisita, mas familiar, sobre meu corpo e percebo que é Rae usando seus poderes. Ela deve estar me relaxando, pois meus sentimentos devem invadi-la com toda força agora. Tento espelhar gratidão, esperando que ela receba. – Eu menti para vocês. Batgirl não veio só me falar dos problemas de Gotham... Ela veio me buscar. Nós dois praticamente crescemos juntos e temos uma amizade forte que dura até hoje. Ela não acha que minha discussão com Batman tenha sido bom, e, conforme o tempo passa, tampouco eu. Eu preciso resolver as coisas com ele, eu preciso visitar Gotham.

Eu encaro o chão sob suas palavras. Batgirl... Barbs deve saber tanto sobre Robin quanto sobre Dick.  O silêncio é espesso na sala. De repente, ouço a voz de Ciborgue, que soa exatamente como no dia em que criou os anéis holográficos e pôde se ver como um humano normal novamente. Adulto. 

— Robin, você tem que fazer o que seus instintos te dizem para fazer. Os Titãs estão aqui para te apoiar em qualquer decisão que você tenha, nós somos sua família – ele diz, sinceridade flutuando no ar e acho que todos nós concordamos com ele.

— Cy tem razão, Robin. Vá e volte para nós de mente e corações limpos – Ravena completa. Lembra-me um pouco o que ela mesmo me disse. Que eu fosse para Tamaran, porque “a mente deve estar onde o corpo está”.

— Ciborgue, você é quem eu mais confio em liderar o time enquanto eu estiver fora, eu preciso que você me envie relatórios diários se algo acontecer – Ainda estou encarando o chão, respirando fundo, mas sinto uma forte conexão entre os dois. – Mas eu não quero e nem pretendo demorar. Não acho que vou levar duas semanas lá, eu só preciso de um tempo para... para resolver tudo. Eu vou entrar em contato todos os dias que eu puder e ajudar vocês, mas acho que essa última parte não vai ser necessária.

Eu não o olho, não ainda. Duas semanas? Isso é um tempo ok. Não é muito.

— Você tem minha palavra, eu vou liderar o melhor que puder. A cidade não vai nem sentir falta dessa sua calça apertada. – Todos conseguimos identificar uma gota de preocupação no fundo da voz dele.

Ouço uns barulhos estranhos... Deve ser Mutano tentando falar algo. Nosso líder suspira.

— Sim, Mutano, eu te trago um suvenir de Gotham – Mutano tenta falar mais alguma coisa e Robin suspira de novo. – Batman não vai me dar um autografo. Mas eu vou tentar, juro. – Isso parece acalmar Mutano. Ele parece mesmo ser um grande fã do Batman... Esse herói é assim tão inspiracional? Superman é. Durante os segundos de silêncio, sinto um peso sobre meus ombros e sei que estão esperando que eu fale algo. Ravena nem se move do meu lado, seus poderes flutuando sobre meu corpo como um grande escudo. – Acho que podemos voltar para a festa, eu não vou até que esteja de noite.

Eu me levanto agora. 

— Há algo que eu necessito anunciar também, amigos – digo, amena. Robin pisca para mim, atônito. Talvez eu devesse ter dito para ele antes, como ele fez comigo. Agora já é um pouco tarde. – Robin, por favor? – Aponto com o queixo para o sofá, para que ele se sente. Franze o cenho, me olhando de maneira engraçada, mas se senta devagar, sem conseguir relaxar.

Mutano e Ciborgue olham de mim para ele, confusos. Ravena parece ser a única tranquila na sala, mas seu rosto tão sério me assusta um pouco. Sei o que está pensando. Só terão três Titãs. Respiro fundo. Os três meninos estão me encarando cheios de expectativas.

— Esse aniversário dos Titãs me fez lembrar de muitas coisas que vivemos juntos – começo, os poderes de Ravena me ajudando a ficar calma. – Especialmente da noite que vim parar aqui, na Terra. Como vocês sabem, eu sou a menina mais nova do meu pai, e depois do que minha irmã fez, sou a primeira para a coroa. Eu tenho... responsabilidades com Tamaran. Responsabilidades essa que vim negligenciando até agora. Mais do que isso, eu também sinto muita falta do meu planeta. É por isso... – Eu lambo os lábios, quase me arrependendo da minha decisão. – É por isso que eu vou visitar Tamaran por tempo indeterminado.

Ouço três exclamações; a mais alta deve ser de Mutano, mas a mais inconformada é de Robin. Os outros dois olham diretamente para ele, como se esperassem que ele dissesse algo primeiro. Franze os lábios e suas sobrancelhas tensas revelavam uma expressão de raiva. Genuinamente, raiva. Eu não sei como reagir a isso e dou um passo para trás. Ravena não encara nenhum de nós dois, sua expressão fechada para qualquer sentimento.

10 segundos depois, o silêncio fica simplesmente constrangedor e Ciborgue limpa sua garganta. Como fez com Robin, é o primeiro a falar.

— Star... Você tem certeza disso? – pergunta, com cuidado. Deve estar pensando que só quero ir por que Robin vai. Sim, Robin sair da Torre é um dos motivos, mas não é o único. Eu realmente preciso ir para Tamaran. Essas responsabilidades existem, eu não as inventei. Só tinha pensando em ignorá-las por mais tempo... A decisão de Robin foi como um gatilho.

— Absoluta, amigo Ciborgue. Mas, como Robin, eu não pretendo demorar lá. Preciso ver como Galfore está indo como Grande Governante. Preciso garantir o futuro da política de Tamaran, agora que já não estamos em guerra. Como eu já disse, sou a primeira para o trono. E, como princesa, eu...

— Você não quer governar – Robin me interrompe abruptamente. A máscara ainda está naquele formato raivoso; agora quase indignado. Eu tento ignorar seu tom gélido, entretanto isso me machuca.

Quando percebo, as palavras já flutuaram da minha boca também com tom de raiva. E estou o olhando com a mesma expressão dele. Meus olhos quase brilham em assustador verde.

— Eu nunca disse que não queria governar; eu não estava pronta.

— Então você quer? – pergunta, logo depois, sua voz quase cortando meu rosto. Os outros três estão num silêncio mortal. – E está pronta agora?! – insiste, aumentando o tom a um fio de se levantar.

Eu respiro fundo, tudo o que ele fala realmente me atinge. Meus olhos caem para o chão e eu suspiro. Já não estou com tanta raiva, é mais como... tristeza. Houveram muitas vezes em que fiquei triste com a minha posição em Tamaran, uma dessas quando eu não podia ter contato com quase ninguém. Outra quando fui dada para os Gordanianos que não queriam nenhuma outra que não fosse a princesa. Finalmente, esse momento agora.

— Não é questão de querer ou não, Robin, eu sou a princesa. – Eu junto minhas mãos na frente do corpo e levanto o rosto do chão. Estou corajosa, altiva. Não posso ter medo de discutir com ele. – Eu já te disse outra vez. É a cultura do meu povo. Se você não está pronto para aceitar isso, não está pronto para ter minha amizade ou qualquer coisa além.

Estou me referindo ao dia em que iria conhecer meu futuro marido e Robin julgava o fato de eu não conhecer o meu marido. Eu o disse que era o jeito de Tamaran e aposto que todos ali se lembram disso. O queixo de Mutano e Cy quase cai no chão. Ravena me dá um sorriso encorajador. Robin arregala os olhos, perdendo finalmente aquela raiva, e entreabre seus lábios. Ele morde o inferior, olha para o chão e depois outra vez para mim. Já não estou tão altiva quanto antes, será que fui longe demais?

Sua expressão é séria, mas sua voz muito mais suave quando fala. Praticamente arrependida.

— Você tem razão. – Ele suspira e leva uma das mãos até o cabelo. É como age quando estamos sozinhos, só que nesse momento não estamos e sei que é necessária muita coragem, ou muito desespero dele para estar desse jeito. – Estelar, você tem toda razão. Me desculpe. Se você acredita que precisa ir para Tamaran, como eu para Gotham, então você deve. Eu... Nós vamos te apoiar sempre.

Seu tom parece relutante, mas eu suspiro de alivio. É tão bom ouvir isso. Me sinto muitos quilos mais leve, como se um grande peso flutuasse do meu ombro. Ciborgue está me olhando como se quisesse me oferecer um porto seguro. 

Mutano se encosta com tudo no sofá, uma expressão estranha que faz os olhos de Ravena dançarem naquela direção.

— Star, eu também te apoio totalmente, mas... vamos ter dois Titãs faltando.

Todos nós ficamos quietos diante desse fato. Ele tem razão. Eu... Eu não tinha pensado por esse lado. X’hal, eu me esqueci de considerar todas as pessoas que confiam nos Titãs para serem protegidas. Meus estômagos se embrulham. Não, isso não é bom. Eu fui tão egoísta!

— Mutano tem razão. X’hal. Amigos eu... Eu não tinha pensado nisso... – confesso, envergonhada, sem querer esconder nada deles. Estou segurando meu antebraço contra o corpo.

Cy está sério, mas é Robin quem fala, boca em linha reta no rosto pálido.  

 — Então eu vou adiar minha ida. Star, você pode ir primeiro e ficar o tempo necessário. Batman esperou até agora, ele pode e vai esperar um pouco mais. Os Titãs são minha prioridade – diz, a mesma voz de líder que mexe comigo. Eu levanto a mão.

— Não, Robin. Você anunciou primeiro, o direito é seu. Nós não podemos ter um líder com a cabeça em outro lugar; não vai ser bom para o time.

Ciborgue parece calcular o que devemos fazer e Mutano um pouco arrependido de trazer isso à tona. Robin vai dizer mais alguma coisa, provavelmente insistir que eu vá primeiro, quando Ravena se levanta e olha para o meio robô. Sua testa desfranze e ele balança a cabeça positivamente. Rae então fica de lado, olhando para mim e Robin.

— Vocês dois vão. Eu, Ciborgue e Mutano podemos cuidar disso. Se precisarmos de alguma ajuda, existem os Titãs da Costa Leste e, se ainda não for o suficiente, temos os Titãs honorários. – Ela é monótona como sempre, mas muito segura do que está falando. Eu e Robin abrimos a boca para protestar, e é quando ela fecha os olhos com força. De repente, é como se Rae fosse um oceano e seus poderes simplesmente saem como ondas fortes de seu corpo. Quando percebemos, o sofá está flutuando e, na surpresa, Mutano se transformou em um passarinho que voa pouco acima. Ela abre os olhos, mortalmente séria, e é mais do que o sofá que está flutuando: a decoração sai do lugar, o bolo está quase perto do teto, como a geladeira e o fogão. Ciborgue olha assustado para baixo, ainda sentado no sofá, e Robin tem os olhos arregalados. – Todas as emoções que vocês sentem, eu sinto também. Em qualquer uma das alternativas, seja você, Estelar, ou Robin longe do time, o outro vai ficar desestabilizado, principalmente por que queria e deveria estar em outro lugar. É essa a consequência, é o que acontece com meus poderes. Eu preciso controlá-los duas vezes mais e três dias disso já me deixou exausta. – Enfatiza, e as coisas começam lentamente a voltar para seus lugares, mas o cabelo dela permanece no ar. – Se vocês, ou um de vocês decidir ficar, fique. Mas vai ter que me prometer que não vai se arrepender da decisão, ou eu mesma abro um portal e você, Star, vai parar em qualquer buraco do universo e você, Robin, em algum esgoto de Gotham City.

E tudo exatamente como deveria estar, como se nunca tivessem flutuado. Estamos todos chocados e acho que quase esquecemos que eu e Robin vamos deixar o time por certo tempo. Mutano volta para a forma humana.

— Ei, Rae, se um dia você ficasse paraplégica, ia poder mover as pernas com seus poderes? – ele pergunta, do nada, pensativo. Vários segundos de silêncio passam e as sobrancelhas dela se juntam cada vez mais... Hm... Isso não deve ser bom. Os olhos de Ravena ficam brancos e energia negra percorre o corpo de Mutano, que vai parar no teto. Ele começa a se debater. – RAE, ME DESCE, ME DESCE!!

Ravena ignora o pedido dele, que ainda está se debatendo lá em cima, sem conseguir se transformar e Cy gargalha muito alto e vários flashes saem do seu olho, provavelmente tirando fotos. Eu tento não rir do sofrimento de BB, mas é simplesmente muito engraçado e até Robin tem um riso de canto. Ravena volta a nos olhar, rosto mais ameno.

— É isso que vocês vão fazer eu e Ciborgue aguentarmos, hein? – Brinca, um sorriso na lateral dos seus lábios. Um objeto vem flutuando do balcão até sua cabeça e Mutano para de se debater, olhando chocado para Ravena. Ela está finalmente usando o chapéu. – Vamos, temos um aniversário para comemorar.

 

 

Eu sou a última a descer as escadas para a garagem. Ela é grande, espaçosa, cheia de ferramentas, peças jogadas e grandes equipamentos. Tem um cheiro forte de graxa que me faz franzir o nariz. O T-Car está acomodado de um lado, brilhante como nunca – será que um dia Cy vai deixá-lo perder o cheiro de novo? E a R-Cycle pouco depois, também brilhante, mas suas rodas já não são tão novas assim.

 Mantenho-me alguns passos afastada, apertando meu antebraço com mais força. O relógio está batendo exatamente 21hrs40min. Nós passamos a tarde toda jogando todos os jogos que uma verdadeira festa de aniversário pede, de várias formas possíveis. Não falamos nenhuma vez da minha ida ou da dele, até alguns minutos atrás. Até ele dizer que precisava ir.

Robin foi quem arrancou o chapéu da cabeça primeiro e veio para a garagem, todos nós só o seguimos. Foi só chegar que vimos que sua bolsa já estava lá, separada em cima de uma mesa onde Ciborgue usa para ajeitar detalhes em peças pequenas. Ele a pega e vai em direção à sua moto, onde os outros três o esperam em silêncio – Mutano quase babando no veículo. Eu penso por um segundo que ele está levando poucas coisas, mas é muito obvio. Eu também não vou levar quase nada. Estamos indo para casa.

Robin pega o seu capacete e encara todos os Titãs. Me encara por cima do ombro de Ravena.

— Hm... Acho que é isso. Eu tenho que ir.

— A noticia boa é que não vou ter que te jogar em nenhum esgoto de Gotham – Rae diz, sarcástica, quando ele vem se despedir dela. Ambos trocam um sorriso pequeno, mas familiar.

— Conhecendo a Batcaverna, acho que você me faria um favor – ri sem humor, abraçando a garota que o corresponde breve, mas calorosamente. Rae não gosta muito de abraços e esse é um dos motivos para me deixar muito emocionada toda vez que ela resolve me abraçar.

Ele se afasta e está de frente para Cy agora.

— Boa viagem, Rob. Tenta não se preocupar com o time, ok? Vamos ficar bem – Cy garante, dando alguns tapinhas no ombro dele quando se abraçam brevemente.

— Não vou. Eu sei que vocês vão fazer um ótimo trabalho. – Eles fecham as mãos bem fortes num cumprimento. – Eu vou deixar meu comunicador sempre ligado, mas você sabe como as coisas são. – Robin fica meio desgostoso e percebo como Batman vai tomar todo seu tempo. – Eu entro em contato sempre que der.

 Finalmente, ele se move para Mutano, que ainda está namorando a moto. Robin ri outra vez e BB finalmente o olha. Acho que vai fazer alguma piada ou dizer algo bobo, mas seu olhar apaixonado se perde, seu rosto se torna rígido e ele olha Robin fundo nos olhos. Todos nós nos surpreendemos, já que vejo Ravena arquear a sobrancelha direita. Acho que ninguém gosta dessa expressão dele... Relembramos coisas ruins com ela.

— Ei, cara, se cuida. Vê se não fica deslumbrado com a cidade grande ou coisa assim. Você tem que voltar pro seu time – Robin concorda, também sério, e eles se abraçam e se cumprimentam do mesmo jeito que fez com Cy.

Quando se afasta de Mutano, Robin me procura com o olhar. Eu encaro o chão, que de repente parece muito interessante.

— Hm... É melhor começarmos a arrumar aquela bagunça, ou nunca vamos acabar – ouço Ravena comentando de forma rápida, falando da sala de estar. Uma bola de energia negra aparece cobrindo eles três.

— Ah, não, Rae, seu poder é muito frio, me deixa ir pela esc... – Mutano não termina, pois a bola se fecha e eu não consigo ouvir mais nada. Finalmente, o circulo negro vai em direção ao teto e some na parede.

Então, estamos eu e Robin sozinhos na garagem. Eu olho para a R-Cycle, me aproximando dele em passos lentos. Agora estamos lado a lado e Dick encosta-se à moto. Gostaria, mas não consigo decifrar seu olhar.

— Você vai demorar muito para chegar lá? – pergunto num murmuro baixo. Estamos perto, não preciso falar alto. Eu passo a mão pelo banco estofado, me lembrando das poucas vezes que me sentei ali atrás, com ele.

O rosto dele parece relaxar um pouco.

— Algumas horas, nada demais. E você? – ele está genuinamente preocupado. – Você deveria ir com a T-Ship. – E sério outra vez. Eu rio só de imaginar isso.

— Robin, no vácuo eu posso viajar na velocidade da luz. Eu vou chegar lá muito mais rápido do que a vez que fomos com a T-Ship – garanto, com um sorriso. Ele suspira.

— Às vezes eu esqueço que minha melhor amiga é superpoderosa – brinca e eu rio com ele. A risada cessa no rosto dele e Robin parece considerar se deve dizer algo. Eu lhe dou aprovação total com meus olhos e espero que ele entenda isso. Finalmente, Dick suspira. – Olha, Star, se você vai para Tamaran só porquê eu vou para Gotham... Nós podemos fazer algo sobre isso. Eu posso tentar...

Eu tampo sua boca com minha mão antes que ele complete e me lembro de ter beijado esses lábios. Faço minha melhor expressão compreensiva; eu sei como ele iria terminar aquela frase.

— Robin, do que você está com medo?

Robin segura meu pulso, afastando-me de sua boca e entrelaça seus dedos nos meus. Faz me lembrar daquela manhã, quando eu senti que havia algo errado. Queria arrancar sua luva. Ele franze os lábios, outra vez lutando com as próprias palavras. Segundos depois, enfim me responde.

— Que você queira ficar em Tamaran – confessa, num sussurro extremamente baixo, como se tivesse medo que as paredes ouvissem ou que isso me desse ideias.

Eu aperto sua mão na minha e sorrio.

— Agora você me entende, então. – Provoco, em outro sussurro, sorriso vitorioso. Dick junta as sobrancelhas, sério, pensando sobre isso. Antes que ele fale, eu movo minha mão livre até a parte de trás do meu shorts e pego um objeto enganchado no meu cinto. É meu hsusw’ws. Trago para frente, entregando-a para Robin que olha o que parece ser um pequeno celular em dúvida. – Esse é um... – Esse dispositivo não tem uma tradução exata e a única vogal no nome com certeza deixa difícil de humanos pronunciarem. – Um comunicador. É, essa palavra está boa. Um aparelho Tamaraneano muito similar ao nosso próprio comunicador ou a celulares, se você preferir. Eu ainda não perguntei para Cy sobre a possibilidade do meu T-comunicador funcionar de Tamaran para cá, uma vez que o sinal teria que ser muito forte... Então quero que fique com ele.  

Robin segura também com a mão livre, e eu aproveito para puxar delicadamente a luva da mão que entrelaça na minha. Ele arqueia a sobrancelha, mas deixa.

— Você vai poder me chamar a qualquer momento. Eu não sei se vou conseguir carregar nosso comunicador por ai quando eu estiver lá, já que a bancada dos conselheiros ainda não gosta nem um pouco da ideia de eu participar de um time, mas esse é de praxe que todos no planeta tenham.  Então, mesmo se o meu T-comunicador conseguir, sim, funcionar, ainda quero que fique com esse. – Eu seguro o dedo indicador dele e deslizo pela tela, como fiz para falar com Galfore. O menu projetado só tem o meu nome, para que não seja difícil dele achar. Mordo o lábio inferior quando Robin percebe como o dispositivo foi ligado. Coloco uma mecha do cabelo para trás da orelha. – Dick, eu... eu descobri que você me deu acesso ao seu quarto. Eu sei que não é nada comparado a isso, mas ainda assim...

— Obrigado, Star. Eu vou te contatar sempre – promete, colocando o hsuw’ws na bolsa. Percebo que seu rosto procura o relógio. Falta menos de cinco minutos para as 22hrs. – Star, eu preciso ir agora. – Sua voz é de desculpas e eu concordo, soltando sua mão e deixando que ele vista a luva. – Me chama quando você chegar lá?

Balanço a cabeça positivamente, sentindo uma pontada no peito de deixá-lo ir. De repente, ele me abraça, as mãos na minha cintura, quase me escondendo em seu peito. Eu retribuo o mais forte que posso, encostando a cabeça em seu ombro depois de ter passado os braços pelo seu pescoço. Sinto seu coração batendo forte e isso me acalma. Sei que ele não quer, mas precisa se separar de mim e sair da Torre. Quando me afasta brevemente, eu percebo seu rosto vindo em minha direção e, de modo torturante, viro o rosto para o lado no exato instante. Robin acaba beijando o canto dos meus lábios e solta um suspiro frustrado.

— Só quando você voltar – digo, outra vez travessa, e ele me encara de mau humor, mas com um sorriso na boca.

— Até logo, Star – murmura, antes de colocar o capacete.

— Até logo, Richard.

E eu assisto quando a garagem da Torre se abre e a moto some com na escuridão da noite, o barulho do motor a única prova que ela já esteve ali.

 

 

— Cy? Você poderia me fazer um favor? – Peço, escovando o cabelo. Acabei de sair do quarto e chegar à sala de estar. Ciborgue se vira para mim.

— Claro, Este... – A voz dele morre no meio, surpreso. – Uou, faz um tempão que você não usa essa roupa.

Eu sorrio, concordando. Estou usando meu traje clássico de Tamaran, que consiste no meu uniforme de sempre, mas com uma segunda-pele feita de Imsib’i, um material brilhante e muito resistente encontrado no meu planeta, que se assemelha a fibra de carbono, por baixo. Depois que vim para Terra, percebi que não era algo que ajudaria na minha movimentação e deixei de usá-lo. É estranho tê-lo vestido com os shorts, e não a saia que estou acostumada a sempre usar com ele. Também me faz me lembrar de Estrela Negra, que adorava trajes feitos de Imsib’i por lembrá-la de nossa mãe, que só usava roupas assim em combate.

 — Algumas pessoas em Tamaran não andam felizes comigo, então pensei em agradá-los um pouco – explico, me aproximando. Eu pego o meu comunicador e o entrego. – Você acha que vai funcionar da Terra para lá? – pergunto, esperando que não tenha que ficar sem contato com os Titãs. O único hsusw’ws que eu tinha por aqui foi entregue para Robin.

Cy o segura, meio em dúvida.

— Eu vou dar uma olhada, Star, ver se consigo aumentar o sinal de entrada e saída – vai dizendo e vamos em direção ao balcão, onde Cy se senta num banco. A sala de estar ainda está desarrumada e BB e Rae parecem notar que eu apareci depois de tomar um tempo para arrumar algumas coisas e me arrumar. Ele se aproximam de nós, Rae sentando ao lado de Cy, que abre o aparelho com uma chave de fenda saindo exatamente do seu dedo indicador.

Mutano para do meu lado, olhando minha roupa e constatando que deve ser “uma coisa real”.

— Ei, Star, que tipos de coisas uma princesa faz? – ele questiona, curioso, e eu rio quando Rae revira os olhos. – Eu aposto que você não sabe também! – acusa, as bochechas coradas.

— Um monte de coisas não interessantes, BB. Geralmente estou sempre ouvindo sermões do que eu deveria fazer e quando fazer – dou de ombros, já que isso não me afeta tanto mais. Eu me importava quando era menor. – Mas há as partes boas; antes de vir para cá eu tinha ganhado autorização para começar a treinar as crianças das turmas novas. Ensinar para elas o que os Lordes de Okaara me ensinaram.

— Crianças? – Rae arqueia a sobrancelha.

Eu concordo, séria.

— Em Tamaran, nós aprendemos a lidar com armas e a nos proteger desde cedo. É claro que não é a mesma coisa que o exercito adulto, é mais algo como defesa pessoal.

— Cara, isso parece super legal! Você aprendeu uns golpes meio ninjas lá em Okaara, né, Star? – BB parece super excitado. Ravena flutua um pouco do suco que sobrou da festa para nós.

Olho para cima, pensando.

— Hm... Por favor, o que seriam “golpes meio ninjas”? Nós não temos ninjas em Tamaran e me lembro muito pouco do que vocês me ensinaram sobre eles.    

Ravena mexe a mão no ar.

— Perda de tempo – diz, servindo quatro copos com seus poderes. Cy ainda está trabalhando no comunicador.

— Ei, você não pode falar assim dos meus filmes. Eu nunca digo o quanto suas músicas são chatas e depressivas – reclama ele, cruzando os braços como uma criança. Eu rio, cobrindo a boca. Ravena arqueia as sobrancelhas.

— Você acabou de falar que minhas músicas são chatas e depressivas – seu tom monótono deixa a conversa ainda mais engraçada. – De qualquer forma, não seriam minhas músicas se você gostasse delas.

Cy ri comigo, enquanto BB murmura que ele é o mais injustiçado do time. Nós permanecemos falando sobre como a festa tinha sido divertida, inclusive quando colocamos uma venda em Ravena e ela precisou colocar o rabo no burro, que no caso ela não sabia, mas era o próprio Mutano e não só um painel. Ela fica corada de vergonha, o que só faz com que eu e Ciborgue ríssemos mais. Finalmente, minutos depois, Cy me entrega o comunicador fechado e funcionando normalmente.

— Aqui, Star. Eu fiz o que pude, mas só vamos saber se deu certo quando você estiver lá.

Eles me acompanham até o terraço depois de eu ter pegado uma bolsa pequena, já que em Tamaran eu teria até mais do que o necessário. Quando flutuo no ar frio da noite, sinto falta da minha coroa, como quando vim para cá. Dou uma olhada na lua e depois para meus amigos, alinhados como fizeram com Robin. Tanto na Terra quanto em Tamaran, é comum que se despeça de cada um individualmente.  

Aproximo-me de Mutano, o primeiro.

— Almejo que vossos afazeres são sejam demasiados desgastantes, princesa – diz, fingindo um sotaque engraçado e eu rio, abraçando-o. – Me traz uma lembrancinha de Tamaran? – pede num sussurro sincero no meu ouvido. Meu coração se aquece. Eu sabia que BB queria um monte de coisas de Gotham, mas achei que ele tinha medo ou nojo de tudo de Tamaran. É tão reconfortante ouvi-lo pedindo isso.

— Claro, Mutano, você vai ficar lindo com um Throknaryr.

— Hã... Obrigado, seja lá o que isso for.

Estou rindo quando encaro Cy.

— Vai ser estranho não ter na Torre, Star – Cy parece desanimado, mas força um sorriso logo depois. – Mas eu espero que seja ao menos reconfortante estar lá, mesmo que seja difícil ser uma princesa – ele segura minhas mãos nas suas depois que nos abraçamos.

— Cuida bem da nossa casa e da nossa cidade enquanto não estou – peço, também sorrindo.

— Prometo.

Finalmente, estou de frente para Ravena. O vento intenso faz seu cabelo e capa voarem para trás, mas ela não parece se importar e, na sua frente, eu deixo de flutuar.

— Vou sentir sua falta – sussurra e meus olhos se enchem de lágrimas. É mais triste deixá-la sem ter a certeza que vou poder falar com ela sem o comunicador. É Rae quem me puxa para um abraço e eu confio nela cegamente. – Você é minha irmã, Kori. Não se esqueça disso. – Murmura no meu ouvido, como fez Mutano, mas suas palavras são muito mais graves. Eu nunca lhe falei meu nome de batismo e, mesmo assim, Rae sabe. Ela sempre sabe.

— Eu te amo muito, Rae. Não se esqueça disso – murmuro de volta, secando minhas lágrimas com a ponta dos meus dedos. Separamos-nos segundos depois e eu dou alguns passos para trás.

Eu levanto voo e estou a metros deles agora.

— Que nossa separação seja breve como os dias nas Luas de Sauuron, amigos – desejo, me afastando cada vez mais.

Antes que eles se tornem simples pontos escondidos pelas nuvens, eu posso ver Mutano saltando e acenando.

 

 

Eu olho para a Torre de Vigilância quando enfim saio da órbita da Terra. A Torre flutua bem longe de mim, mas sei que consegue captar meu movimento de saída. Eu tenho uma autorização especial da Tropa dos Lanternas Verdes para sair ou entrar na Terra, então não me preocupo. Uma vez que estou longe da Torre e a Terra se torna um simples circulo azul, sei que é a hora.

Estou tão rápida quanto a velocidade da luz agora e atravesso a galáxia sem problemas. Encontro alguns planetas, algumas naves de raças que já conheço e desvio rindo de asteroides. É divertido estar aqui, me faz lembrar quando eu e Komand’r dançávamos pelo espaço a todo momento e voltávamos para nossos quartos como se nada tivesse acontecido.  Quanto mais atravesso a galáxia, mais naves conhecidas vou avistando. Mais planeta que já visitei sozinha ou com tutores chamam minha atenção.

Cada vez mais perto, eu mal sinto o tempo passando.

Finalmente, um grande planeta branco, com poucas partes rosadas, chama minha atenção. Ele é o oitavo do sistema Vegas e o maior de todos. Na minha opinião, o mais bonito também. Um sorriso alcança meus lábios automaticamente. Sem demora, eu entro em sua órbita numa velocidade absurda, voando diretamente ao norte, onde fica o castelo e principais habitações.

X’hal, estou em Tamaran.


Notas Finais


Seguinte, o próximo capítulo vai demorar um pouco pq amanhã já volta minhas aulas :/ além disso, os próximos capítulos vão ser Kori dnv e Ravena (!!!) e eu quero escrever os dois juntos para ter certeza que a história não vai ter furos hahaha
E sim, provavelmente teremos BBRae, só não sei se eles vão ficar juntos assim, logo de cara :P

Me deixem saber se vcs gostaram!! <3 obrigada todo o apoio, gente, é muito importante. Um beijo pra todosss


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