QUATRO
Eu estava em um jato, era rápido, pequeno e camuflado, seria ótimo para conseguir passar pelos radares sem ninguém nos ver. O comandante precisou de minha persuasão para me levar até em casa, as vezes esse homem conseguia me irritar tanto que a minha vontade era de apagar a vida dele, mas um juramento solene me faz nunca mais fazer isso, então algumas palavras ditas em sua mente e ele me manda ir logo e sair de sua mente.
Não posso dizer que ele confia em mim ou em qualquer outro sanguenovo, quer dizer, ele já me deixou claro que ainda não concorda com mais deles, que nós já causamos problemas demais e que somos perigosos, ele sempre encara Mare ao dizer isso, de todos nós, ele tem mais medo dela e de sua capacidade de fazer qualquer coisa por seus ideais, custe o que custar.
Já havia sobrevoado Palafitas quando o comandante me avisou que me deixaria a cinco quilômetros da vila, em algo como um campo morto, onde ninguém me veria, e eu teria apenas duas horas, se eu não voltasse, seria considerada capturada pelas autoridades e eles retornariam.
Ingênuos.
Diferente de Cal e Mare, ninguém desconfia que eu exista, que uma garota pobre e coitada tem poderes como prateados e sangue vermelho, que eu seja uma aberração.
Ignorantes, não importa de que lado você esteja, todos são ignorantes.
Assim que pousamos neguei a túnica que me ofereceram, só daria mais na cara que eu estava ali com más intensões, andei pela vila normalmente, ninguém nunca olhava para mim, era como se eu não existisse e esse sempre foi o erro deles no passado e hoje, neste belo dia, eu era como um rato antes, roubava para sobreviver e por ninguém nunca notar uma garota baixinha, morena e com roupas simples, eu sempre sobrevivia. Infelizmente, hoje, eu não vim abater nenhuma carteira, nenhuma comida e nenhuma outra coisa que pertencesse a outra pessoa, eu vim pegar algo que é meu.
Cheguei em minha casa excitando. Eu nunca mais havia posto os pés naquele lugar, mas hoje, eu era obrigada. Subi escadas acima, era tipo uma casa na arvore e eu, outrora, sempre amara aquele lugar, hoje, olhar só me causa dor. Só me suga o resto de amor que eu poderia oferecer as pessoas. Só me suga.
Corri os olhos pelas prateleiras, tentei me lembrar sobre livros que meu pai lia ou que ele dizia que algum dia seria útil. Não deveria pegar arte de guerra, não seria necessário, recebia treinamento todos os dias e a vida já me testava diariamente. Peguei um livro com mapas e índices de pobreza e nível de população, arquivos de guerras passadas, muitos soldados tinham nomes naqueles arquivos, peguei livros de primeiros a terceiros socorros, estratégia e roubo, sim, meu pai tinha livros assim, não deixavam de ser estratégia, por último, um livro de guerra me chamou atenção, era seu preferido, o mais grosso de todos, seu xodó, o livro que ele mesmo escreveu e publicaram, um dos únicos vermelhos que publicaram algo escrito, esse livro não valeria muito para ajuda, mas, era minha única lembrança da família porque todos ajudamos a escrever, eu mesma tenho um capitulo de como ser sorrateira o suficiente para não ser pega, como não podia transparecer que eu era uma ladra, papai fez parecer que eram instruções para não ser pega caso você fosse um espião ou mensageiro, mas de todos, meu capitulo preferido era o do meu pai, o gênio vermelho e da mamãe a guerreira “sanguevelho”, já que muitos alegavam que ela tinha uma mente tão perspicaz sobre guerra, vermelhos e prateados, que seu sangue é como daqueles de mil anos atrás, quando os sangues eram todos vermelhos. O capitulo era uma obra de arte, misturava a arte da guerra, como ser uma máquina na qual o sistema queria que fossemos e da arte pensar, como sair vivo das trincheiras. Eram não só, meus heróis, mas de várias pessoas e famílias. E olhem o que eu me tornei.
Peguei o livro antes que eu me deixasse sentir algo mais se não o cheiro podre da cidade. Olhei pela casa, precisava de alguma arma para lutas corpo a corpo. Meu pai tinha um arsenal incrível, cada arma fora um presente de guerra, esperavam que algum dia ele utilizasse sua mente em uma luta direta, então as armas eram um presente com mensagem, eu recolhi uma adaga que ficaria presa em minha coxa por algo tipo um cinto, fiquei olhando pelo que pareceu uma eternidade até achar algo que me chamou atenção, a única arma que não era do meu pai, era o bebê da minha mãe, um conjunto de duas espadas curtas, quase adagas, não haveria escudo se as usasse, mas eu poderia ser muito boa em ofensiva, já que a maioria dos prateados que usavam armas, ou eram armas de fogo ou espadas de duas mãos, nunca houve um espadachim de duas espadas para cada mão, esse seria meu trunfo, se eu não morresse no treinamento. Guardei as duas espadas no estojo e as deixei nas costas, tão pequenas que meu cabelo cobriria e passaria despercebida pelos guardas, eu tinha uma sacola com vários livros o que era bizarro, se não estranho, então, cobri com vários retalhos de panos o que caso fosse vista faria com que eu parecesse apenas uma pobre qualquer.
A parte de entrar, foi moleza, sair que seria aquelas.
Mas, eu sou uma ladra e escrevi um capítulo sobre como ser uma ladra de sucesso.
Eu podia fazer isso.
Saí de casa e a rua estava mais vazia, já que estávamos perto do horário de recolher, deveria ser rápida.
Andei o mais rápido que pude, não fui vista, não fui descoberta e o mais importante para esse dia, eu não olhei para trás.
Cheguei pontualmente, faltando apenas cinco minutos para a nave partir, o comandante sorriu com amargura, queria ter me deixado para trás, ele nem questionou as armas novas, só olhou interessado para os livros e quando ele se aproximou para tocá-los eu o detive.
-Não toque. – Olhei com amargura.
-É radioativo? – Arqueei uma sobrancelha. –Que bobagem, claro que é, tudo nesse buraco é, não é mesmo? Tanto que aquelas pragas na qual você chama de amigos, são todos daqui, não é mesmo?
-Me insultar, não vai fazer com que eu me remoa e te deixe tocar nesses livros, são minha propriedade, minha e da inteligência, o seu comandante, aquele com o olho vermelho, deixou bem especificado isso, não é mesmo?
Ele me dirigiu um olhar frio, não me assustava, mas eu posso fazer isso.
Fique na sua, comandantezinho.
Ele estremeceu com o que acabara de dizer na sua mente. Eu nunca faço isso, mas é engraçado nesses casos, como foi com o Olho Vermelho. Espero pacientemente até chegar em Tuck, a essa hora, estamos na completa escuridão, quando desço da nave, algo me deixa preocupada, sinto no ar, algo está acontecendo. Vasculho imediatamente a mente dos homens que me acompanharam até Palafitas, nada, ando um pouco mais rápido, chego ao pátio com todos os enormes compartimentos, correria, avisto Kilorn com o Comandante do Olho Vermelho, ele me encara e sabe o que fazer, rapidamente sugo todas as informações. Cal e Mare estão presos em algum tipo de cela subaquática, ele vai trair o comandante, Shade vai estar esperando o momento certo para saltar com eles até a sala onde os jatos ficam, um Abutre seria nossa escapatória, Farley estará conosco. Dou meia volta e sussurro um entendi em sua mente, nem me dou ao trabalho de ouvir a resposta e já estou correndo de volta para o maquinário. Fico escondida, seria estranho eu ter voltado se levei tudo o que trouxe comigo, espero por aproximadamente vinte minutos e consigo ouvir nas mentes bem longe de mim que algo aconteceu com o Coronel e que as aberrações fugiram, é ai que eu tenho que iniciar meu plano, me concentro no abutre, o compartimento de passageiros está aberto e dá para chegar aos controles por lá, mas o portão está fechado, Farley deve ter um plano para isso, espero então, e no momento exato que avisto Shade chegar com todos, olho Farley tentando convencer um mecânico a abrir o portão, os guardas estão chegando e nada acontece, vejo a cara de assustados de todos. Não me resta escolha.
Chego por trás do mecânico, encaixo minhas mãos em sua mente e apago todas ordens do comandante, deixo boas memórias, as poucas que existem e deixo uma missão para ele.
Ajude todo e qualquer sanguenovo ou refugiado que puder, o comando não é seu amigo, não deixe que descubram para onde fomos ou que descubram seus ideais. Não morra.
Solto sua cabeça, todos estão assustados e me olham.
-Nos ajude, abra o portão.
Ele sorri e cumpre a ordem, todos entram e nós voamos para longe.
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