História Lembranças de Um Passado - Complicado

Quatro anos antes

Ké: Não mãe, eu juro que está tudo bem.

Zeiva: Tem certeza? Você está prestes a dar à luz a minha neta, não está sentindo nada mesmo?

Ké: Se eu sentir alguma coisa eu juro que ligo para alguém, ok? E ela só vai nascer mês que vem.

Zeiva: Tem que tomar mais cuidado ainda.

Ké: Mãe eu já parei de ir na revista, trabalho em casa, te ligo todo dia e ainda ligo para as meninas, eu to bem.

Zeiva: Ok, eu vou desligar, tenho uns trabalhos para terminar antes de começar a procurar uma passagem para o Canadá.

Ké: Tudo bem, eu tenho umas coisas da revista para resolver aqui em casa antes de ir dormir.

Zeiva: Se cuida filha.

Ké: Um beijo mãe.

Desliguei o telefone e como de costume deixei ele na mesinha de centro que tinha no meio da sala, peguei meu notebook e comecei a verificar os últimos e-mails recebidos. Isso já tinha virado rotina, conversava com ela todos os dias aproximadamente o mesmo horário e depois ia trabalhar, não fazia nada muito cansativo, só lia alguns e-mails e resolvia algumas burocracias da revista.

Já eram quase meia noite quando a campainha toca, me obrigo a levantar do sofá, mesmo estranhando e xingando mentalmente qualquer pessoa que estivesse perturbando a grávida em plena meia noite de uma segunda. Caminho até a porta e verificou quem é pelo olho mágico.

Ele estava de costas, cabelo escuro, calça preta e uma jaqueta vermelha, estava apoiado em uma pequena mala e parecia mexer no celular. Sabia que já tinha visto aquela pessoa antes, mas não conseguia imaginar que era.

Ou talvez não queria acreditar que realmente era ele.

XXX: Acho que vou ter que voltar a te chamar de “Miss Atraso”.

Era ele, isso é um fato, aquela voz, mesmo com a raiva que eu sentia dela, nunca esqueceria aquela voz, por mais que eu tentasse, sei que no fundo meu coração não quer esquecer aquela voz, esquecer aqueles toques, esquecer ele. Parte de mim estava vibrando com ele parado na porta da minha casa, mas a outra está confusa, se perguntando "O que ele está fazendo aqui? Depois de seis meses?"

Finalmente crio coragem dentro de mim e começo a destrancar a porta. Fico um tempo encarando a porta antes de abrir.

“Duas opções. Primeira: Ele entra, vocês brigam e tudo continua como está. Segunda: Ele entra, vocês conversam, ele se explica e as coisas acontecem como se ele tivesse entrado de última hora naquele avião e sentado do seu lado”

Abro finalmente a porta. Sei que ele ouviu a porta se abrir, mas mesmo assim ele continua de costas, como se esperasse alguma confirmação de que realmente sou eu.

Ké: Se me chamar assim de novo eu arranco todos os órgãos do seu corpo.

Escuto ele soltando uma risada fraca e por fim se vira para me encarar. Ele estava do mesmo jeito que eu me lembro, não que eu tenha passado esses seis meses sem falar com ele, por mais doloroso que fosse as vezes, eu tentava ao máximo mandar notícias da Lua, afinal ela é filha dele também.

Os olhos dele me analisam por inteiro, me senti no dia em que ele foi parar na porta do meu quarto naquele hotel, depois da Bruna chutar ele do quarto. A cena era realmente parecida, eu de pijama e ele na porta, só que dessa vez é na porta da minha casa e não em um quarto de hotel.

Ké: Como descobriu onde eu moro?

Gusta: Isso não foi a coisa mais difícil de saber, tenho meus informantes.

“Eu vou matar a Bruna e a Marisa”

Ké: E o que você veio fazer aqui?

Gusta: Eu vim fazer um trabalho que o Rodrigo me pediu.

Ké: Eu quis dizer aqui, na minha casa, a essa hora.

Gusta: Eu acabei de desembarcar e aproveitei isso para conversar com você.

Ké: Sobre?

Gusta: Eu posso entrar? Está meio frio aqui fora.

Dou espaço para ele passar pela porta, ele entra sem dizer mais nada, sinto o cheiro do seu perfume quando ele passa por mim. Vejo ele admirando a casa antes de fechar a porta atrás de mim. Ainda não estava acreditando que ele realmente estava ali, na minha sala.

Ké: Você quer alguma coisa? Uma água, um suco?

“Um beijo?”

Gusta: Não, obrigado, só quero conversar mesmo.

Ké: Bom, pode falar.

Gusta: Bom, eu queria resolver as coisas sobre a nossa filha.

Ké: Resolver as coisas? Como assim? – Um certo desespero toma conta de mim, ele queria tirar minha filha de mim?

Gusta: Eu não pretendo pedir a guarda dela se é o que você está pensando – Me senti mais aliviada e ele percebeu isso – Eu só queria resolver as coisas da pensão ou como eu vou fazer para ver ela.

Ké: Acho que a gente não precisa discutir isso agora, mas se realmente quiser eu posso falar com um advogado para debater o valor mensal e sobre como você vai ver ela, eu já não sei.

Gusta: Eu sei que vai demorar um tempo para ela poder viajar para o Brasil, então eu pensei em ficar aqui uns meses, não aqui na sua casa, mas aqui em Vancouver, para poder ver ela nascer e quem sabe te ajudar nos primeiros meses.

Ké: E a revista?

Gusta: Vou continuar trabalhando, só que aqui, Rodrigo me pediu para ficar uns meses no lugar do fotografo novo.

Ké: E quem vai ficar lá? A revista não pode ficar sem fotografo.

Gusta: O Nando voltou a trabalhar lá já tem uns meses.

Ké: E você? Continuou na revista?

Gusta: Fiquei como assistente 
dele, não ganho a mesma coisa de antes, mas é um bom dinheiro.

Ké: Era só sobre isso que queria conversar?

Ele ficou em silêncio. Não sei bem oe aconteceu, mas alguma cousa nele mudou,  na verdade muitas coisas, ele parecia mais frio comigo, indiferente até, e isso me doía.

Gusta: Queria pedir desculpas.

Ké: Desculpas?

Gusta: Te deixei vir sozinha com uma filha minha na barriga.

Ké: Nossa filha, e é só por causa dela que você viria?

Gusta: É complicado.

Ké: Claro, e você também não me deve satisfações da sua vida, não estamos mais juntos.

Gusta: Ké ... (Interrompido)

Ké: Gustavo, eu estou cansada, já é maus de meia noite, então a menos que você não tenha um hotel reservado e precise de um lugar, por favor vai embora.

Se ele pensou que com um pedido de desculpas, sem uma explicação, e cara de cachorro que caiu da mudança eu ia esquecer o que ele fez, ta muito enganado. Tudo bem, realmente nós já não estávamos mais juntos, mas no mínimo uma explicação eu mereço.

Ele fica me encarando por alguns segundos, como se quisesse ler a minha mente, mas logo começa caminhar em direção a porta.

Uma parte de mim queria esquecer o passado e pedir, talvez implorar, para ele ficar, para não ir embora novamente; mas outra parte não suporta a ideia dele ficar sem uma explicação plausível. E no momento é ela quem ganha