História Lembranças de Um Passado - Retorno

Lua: mamãe, o papai vai buscar a gente?

Ké: Não meu amor, ele vai estar trabalhando na hora que a gente chegar.

Lua: Mas a gente vai poder ver ele depois?

Ké: Claro que vai, meu amor.

"Senhores passageiros, afivelem os cintos, pois já vamos decolar"

Verifiquei o cinto de Luanna e logo depois arrumem o meu. Assim que o avião saio do lugar, Luanna olha para a janela, parecia hipnotizada, acho que nunca vi ela tão quieta, só quando esta dormindo. Assim que o avião decolou, vi um sorriso se formar no rosto dela.

Lua: Mamãe, a gente ta no céu?

Ké: É filha.

Lua: A gente vai consegui ver a irmãzinha Alice?

Ké: Não meu anjo.

Lua: Mas a senhora falou que ela ta no céu.

Ké: E ela ta, só só que o céu que ela ta é mais alto que esse.

Lua: Mais alto? Tipo nas estrelas?

Ké: É, tipo nas estrelas.

Lua: Eu queria ver ela.

Ké: Eu também querida, mas ainda vai demorar muito para a gente ver ela.

Lua: Só quando Jesus pedir para a gente virar anjinho, né?

Ké: Exato.

Ela continua a olhar para a janela, mas dessa vez pega a Alice, a boneca, para ver também. Deixei um riso fraco escapar e então pego o celular e consigo tirar uma foto dessa cena. Luanna não é, nem de longe, fotogênica, as poucas fotos dela são das vezes em que ela estava distraída ou quando eu praticamente obriguei ela a sorrir para câmera.

XXX: De todos os lugares do mundo,eu nunca pensei que te encontraria em um avião, quase cinco anos depois da última vez que a gente se viu .

Olho para o lado e encaro a única pessoa que eu não tinha planejado encontrar. Matheus. Ele estava diferente, tinha barba e um cabelo um pouco maior do que a última vez que o vi, mas ainda mantinha aquele sorriso, aquele sorriso malicioso nos lábios.

Ké: O que faz aqui? - Digo praticamente sussurrando, torcendo para que Luanna não escute a nossa conversa.

Matheus: Estou voltando para o Brasil depois de uma palestra sobre câncer em Vancouver - Diz ele no mesmo tom que o meu - E você? O que faz aqui?

Ké: Não é da sua conta.

Matheus:  Que coisa feia, você fés uma pergunta e eu respondi educadamente, e é assim que me responde?

Ké: O que você quer?

Matheus: Eu? Nada?

Lua: Mamãe? To com sede

Matheus: Mamãe? - Ele pareceu um pouco surpreso, mas logo sorri - Não vai me apresentar ela?

Ké: Não.

Lua: Mamãe?

Ké: Oi meu anjo.

Lua: To com sede.

Ké: Espera só um minuto, ta bom?

Procuro pelo painel o botão para chamar uma aeromoça e logo o aperto. Não demorou muito e ela logo chegou, pedi um copo de água para ela, que logo trouxe rapidamente.

Ké: Aqui fila - Entrego o copo de água para ela que bebe tudo - Passou a sede?

Lua: Passou mamãe - Ela fica se mexendo e tenta desafivelar o sinto de segurança.

Ké: Luanna, filha, não pode tirar.

Lua: Mas ta apertado mamãe.

Ké: Deixa eu afrouxar mais.

Solto um pouco o sinto e então ela volta a olha para a janela, aliso um pouco sua cabeça e recebo um sorriso em troca, porém a atenção dela está toda concentrada no que tinha do outro lado da janela do avião.

Matheus: Luanna - Ele faz uma pausa - É um bonito nome, como chegou a ele?

Ké: Não te importa, agora se você puder ficar de boca fechada pelo resto da viajem, eu agradeço.

Matheus: Há alguns anos atrás você imploraria para ouvir a minha voz, você dizia que ela te acalmava, lembra?

Ké: Eu estava frágil, tinha acabado de sair de um coma, perdido a minha filha e descobri que perdi 60% da capacidade de gerar outra criança, então se em algum momento a sua voz me acalmou foi pelo simples motivo de que eu era uma mulher frágil, estava fraca e em batalha comigo mesma, coisa que já não é mais o caso, portanto hoje a sua voz só me causa enjoo, ainda mais depois de ver o imbecil que você realmente é

Busco novamente pelo botão no qual chama a aeromoça, definitivamente eu não conseguiria ter uma viajem tranquila com Matheus ao meu lado.

Aeromoça: Algum problema, moça?

Ké: Eu sei que o voo não está tão cheio, então teria como a senhora me arruma outros dois acentos?

Aeromoça: Algum problema com este acento?

Ké: Não, é só a companhia que não está muito agradável.

Aeromoça: Creio que deve ter algumas cadeiras vazia mais atrás, vou verificar e logo avisarei.

Ké: Obrigada - Ela se retira e eu me viro para falar com Lua - Filha?

Lua: Oi mamãe - Diz ela sem tirar os olhos da janela.

Ké: Filha, olha pra mamãe - Ela se vira e me encara - A gente vai precisar trocar de lugar, ta bom?

Lua: Mas por que mamãe?

Ké: Porque a mamãe não está se sentindo muito bem aqui, ta bom?

Lua: Eu vou poder ver a janela de novo?

Ké: Eu não sei, talvez sim.

Ela faz u  sinal positivo co a cabeça e eu desafivelo o sinto de segurança, primeiro o dela e depois o meu. A mesma aeromoça chegou e nos levou para o nosso novo acento, que para a minha sorte, e a da Lua, estavam as três cadeiras vazias.

O restante da viajem foi tranquila, Lua acabou dormindo logo depois de termos trocado de lugar e só acordou quando o avião pousou no aeroporto, cheguei até a desconfiar da aeromoça, pesando que ela tinha colocado algum tipo de sonífero na água, mas não, Luanna realmente tinha um sono pesado.

Ké: Filha, vamos.

Lua: Mas eu to com sono mamãe, só mais cinto minutinhos.

Ké: Luanna Buchmann Stockler, vamos, a gente já chegou, você não vai querer que sua vó e suas tias fiquem esperando, vai?

Lua: Não - Diz ela bocejando e coçando os olhinhos, a coisa mais fofa do mundo, mas mesmo assim não saia do lugar.

Ké: Parece que alguém não quer matar a saudade da tia Thali, do Laura, da Clarinha, do tio Rafa e da tia Paloma,das vovós e muito menos do papai.

Lua: Eu quero, eu quero- Diz ela se levantado o mais rápido que eu já vi.

Deixei uma gargalhada sair enquanto ela faz uma "cara de mal". Como ela conheceu o Rafa, Paloma e a Clara? Eles fizeram uma viajem de férias em Vancouver e acabou que Luanna e Clara viraram boas amigas.  a Thali, a Laura e a mãe do Gustavo, ela só conhece por telefone ou webcan

Ké: Pega a Alice e vamos.

Ela pega Alice e por fim saímos do avião. Ficamos um tempo esperando as nossas malas junto com Rodrigo, a Carol e as menias. Luanna voltou a sentar em cima das malas, mas quando passamos pelo portão de desembarque que ela viu a vovó e as tias de longe, ela se levantou e saiu correndo em direção a elas. Fiquei olhando aquela cena de longe até que os olhos de Bruna me avistam de longe.

Bruna: Pode chegar perto, a gente não morde, não.

Ké: Disso eu não tenho certeza, só vou porque sou vacinada contra demência.

Marisa: Nem vem, que eu peguei isso com você.

Ké: Vai se ... (interrompida)

Zeiva: Temos uma criança aqui.

Ké: Vai comprar chocolate na esquina.

Lua: Eu quero chocolate mamãe, posso ir com a tia? -Fala Lua, fazendo todo mundo rir, até que um sorriso se forma o rosto dela e corre para alguém que estava atrás de mim - Papai

Meu corpo travou, olhei para as meninas e as duas murmuravam "Desculpas". Não tinha como ele saber o horário da minha chegada, eu não tinha contado, Bruna e Marisa sim.

Gusta: Cheguei tarde?

Lua: Não papai, a gente acabou de chegar, né mamãe?

Ké: É, meu amor - Digo finalmente me virando e encontrando Lua no colo do Gustavo - Gustavo.

Gusta: Kéfera - Ele me lança um sorriso e eu fico hipnotizada, até que olho para Lua que tinha um sorriso no rosto.

Bruna: Limpa a baba - Ela diz no meu ouvido.

Ké: Cala a boca - Respondo no mesmo tom que o dela.

Gusta: Como foi a viajem?

Ké: Foi boa, algumas coisa ruins, mas foi boa.

Lua: A mamãe encontrou um amigo.

Gusta: Amigo?

Ké: Não é um amigo, pelo menos não mais.

Ké: Matheus - Vi os olhos do Gustavo ficarem surpresos.

Gusta: O que ele tava fazendo lá?

Ké: Ele disse que teve uma conferência em Vancouver sobre câncer, mas também foi só isso que ele falou, pedi para uma aeromoça trocar a gente de lugar logo depois.

Por um momento, vi Matheus passando por trás de Gustavo, fiquei tensa e Gustavo percebeu e olhou na mesma direção que eu.

Gusta: Ele mudou.

Ké: Só a aparência, o caráter continua o mesmo