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História Lendas - Os Equívocos do Tempo (Interativa) - Capítulo V


Escrita por: SrtaClarisse e Elfialtes

Notas do Autor


É a partir desse capítulo que as coisas começarão a ficar tensas.
Sei que há a falta dos outros personagens, mas esse será o último capítulo que tratará apenas duas visões.



Sou grata pela paciência e espero que gostem!

Desculpem-me por quaisquer erros.

Capítulo 6 - Capítulo V


Boa Leitura!

 

| Capítulo 5 |

"Nunca confie em vassouras lerdas."

 

 

O céu permanecia nublado, típico do recesso, inutilizando todos os relógios de Sol distribuídos pelo local. Morgana não sabia se havia chegado tarde ou se estaria adiantada demais, porém não seria um incômodo, sua inscrição já estava feita e seus aposentos na nova estalagem - havia procurado uma nova já que a anterior fora destruída num incêndio -  já estavam reservados. Pelo menos não estava chovendo, a jovem maga pensava tentando manter o bom humor.
A mulher de belos cabelos cacheados e negros caminhou entre as fontes e grandiosos prédios, imponentes e belos, enquanto espantava as pombas em seu caminho, que alçavam voo mas logo pousavam num local próximo, retomando sua paz. Tinha a estranha impressão de estar sendo observada.

No pequeno pedaço de papel amarelado em sua mão, seus olhos violeta reliam a estranha mensagem:

 "Saudações,

Imagino que não se recorde de mim.

De qualquer forma, encontre-me no Paço Imperial, Praça das Fontes. No momento em que Auris supostamente deveria estar no ápice, olhe para  cima, no alto dos degraus.

Admire a mais bela escultura que verá." 

Escrito com uma letra rebuscada, mesmo que alguns borrões de tinta e um traço meio trêmulo denunciassem a urgência com que foram escritas, não estragavam a aparência bela e não incomodavam a leitura, mas também não entregavam seu dono. 
A mensagem aparecera misteriosamente dentro de sua bolsa no dia anterior. Desconfiava que um mensageiro incomum, grande, de penas brilhantes tendendo do preto para um azul escuro, que a seguiu durante o dia passado inteiro, havia simplesmente implantado aquele papel enrolado num tubinho e amarrado com um fio de algodão entre seus pertences.

Subitamente, uma voz penetrante, fina e estranhamente entusiasmada agarrou e estrangulou sua audição num sobressalto, capturando a atenção da morena na hora:

- Querida! Aqui! Aqui em cima! Olhe pra cá! - Um bela mulher de cabelos ruivos presos num coque e vestindo roupas escuras gritava e acenava com o braço erguido enquanto ostentava um sorriso desmedido assim como sua voz. 

Morgana franziu as sobrancelhas, qual era a necessidade daquele escândalo em praça pública? Sentia pena de quem quer que fosse que aquela mulher estivesse esperando. Apenas a ignorou e pôs-se a subir os degraus a fim de esperar no local do encontro, indicado na mensagem.

Quando fez menção de subir a escadaria, pôde ouvir o som do bater de sapatos apressados descendo os degraus e vindo bem em sua direção. Olhou para cima e viu a mulher segurando os lados do vestido escuro nas mãos:

- Há quanto tempo! Como tem passado? - a mulher perguntava abraçando Morgana sem mesmo terminar de descer os degraus direito, além de quase fazer a morena cair - Você cresceu muito desde a última vez em que te vi. Está belíssima! Belíssima! - dizia enquanto apertava seus braços e aumentava o sorriso.

Morgana não compreendia o que estava acontecendo. Tinha certeza de que nunca vira aquela mulher antes, devia estar sendo confundida com alguém! Mas como ela podia estar a abraçando tão forte se não tivesse convicção de que a conhecia? Tentou buscar na memória rapidamente algum lugar, alguma situação onde pudesse ter se encontrado com alguém parecido, mas sua mente apenas a direcionava para borrões ou imagens não nítidas.

Não podia se atrasar mais, talvez a pessoa que a esperava já estivesse no topo da escadaria vendo aquela cena. 
Além disso, a ruiva trajava roupas escuras como se não quisesse chamar a atenção, mas, mesmo assim, saia gritando e gesticulando exageradamente por aí. O que havia de errado com ela?

Quando deu por si, estava sendo empurrada para dentro de uma carruagem curiosamente parada perto dali. Não estava lá antes!

- Sente-se, querida. Está confortável? Gostaria de um chá? – a ruiva dizia com um sorriso nervoso até que notou o olhar estranho da morena – O que foi, querida? Tem algo no meu rosto?

- Desculpe-me, deve estar me confundindo com alguém. Eu nem ao menos a conheço. – Morgana disse se desvencilhando dos braços da mulher - Sinto muito pelo mal entendido, mas agora estou atrasada para um compromisso deveras importante. -falava tentando se afastar da carruagem - Entretanto, espero que tenha uma boa tarde!

Morgana fez menção de se retirar, mas a ruiva segurou sua mão fortemente a impedindo de ir:

- Com licença, eu preciso ir. Peço, por favor, que solte minha mão. - a maga de orbes violeta disse franzindo as sobrancelhas tentando manter a paciência com aquela figura estranha. 

- Mas tu não me reconheces? Impossível! – a ruiva disse ignorando o pedido da outra e colocando a outra mão no peito como se tivesse sido ofendida - Querida, sou eu. Recorda-se?

- Pare de me chamar assim, como se tivesse alguma intimidade comigo. O que há com você? Não sou eu quem está procurando, solte-me. – Morgana disse a encarando. Estava começando a ficar irritada.

- Oras, eu sempre agi assim, o que há de errado? –  a ruiva disse ignorando a jovem feiticeira novamente - Oh, peço mil perdões pelo o que nos aconteceu antes, anos atrás. Realmente não nos conhecemos numa boa época, logo, entendo que tenha me esquecido com rapidez.

- Quem é você?! - falou  pausadamente - Diga agora se não quiser ter problemas. Está me fazendo perder tempo!

- Uff - a ruiva bufou soprando uma das mechas soltas de sua franja para cima -  Sidá. Sidá Cardênia. Grã-Feiticeira deste império e sua antiga professora. Satisfeita?   Agora chega. Sem mais enrolações! Precisamos conversar urgentemente e botar os assuntos em dia. Vamos, entre, estamos atrasadas!

Morgana enrugou a testa, confusa, achou não ter ouvido direito. Agora sim se lembrava. E a morena, totalmente perplexa com o que havia acabado de ouvir, nem prestou atenção quando Sidá finalmente a enfiara dentro da carruagem, subindo saltitante logo atrás dela.

Após alguns minutos, que para Morgana se sucederam feito horas visto sua companhia, a paisagem já havia mudado incontáveis vezes pela janela da carruagem, cuja velocidade apenas tornava a tortura da maga mais lenta. 

Sidá não parava de falar nem um instante, fazendo perguntas insistentes sobre como estava a vida da morena, porém sem dar chance desta responder. Estranhamente, Morgana notara que a ruiva parecia apreensiva demais, era perceptível sua pressa em enfiá-la na carruagem e correr dali. Ela não parava de direcionar olhares por entre as cortinas da janela durante um frase e outra. Havia alguma coisa errada.

Além disso, assim que saíram da cidade, Sidá relaxara os ombros de tal maneira que a morena achou que ela finalmente pararia de tagarelar. Ledo engano. Começou a falar tanto que o cocheiro aumentou a velocidade dos cavalos tentando fazer com que o som dos galopes abafasse a voz aguda e irritante dela. Porém, ele só conseguiu com que Sidá derramasse seu chá, tornando o homem o alvo de suas reclamações.

Afinal, as imagens comuns da cidade foram periodicamente substituídas por elementos campestres. As ruas de pedras ornadas e esculpidas ficavam cada vez mais raras à medida em que seguiam para a periferia da capital, dando lugar aos caminhos de terra barrentos pintados com o laranja e marrom dos morros e árvores no outono.

A brisa fria que entrava pela pequena janela da carruagem trazia o costumeiro cheiro de terra molhada, fazendo com que Morgana se acomodasse com sua xícara de chá - esta que havia aceitado depois de tanto que Sidá insistira - perto do queixo a fim de esquentar suas mãos com a porcelana aquecida e seu nariz com o vapor quente e doce.

Não levou muito mais tempo até que uma torre extremamente alta e imponente pudesse ser avistada entre colinas longínquas. Assim que o cocheiro a avistou, incitou os cavalos saindo da velocidade vagarosa de antes e fazendo com que as porcelanas tilintassem irritantemente até que Sidá as guardasse junto do chá num compartimento ao lado de seu banco.

Chegaram, então, a uma ponte estreita que dava direto para uma vila que ficava ao redor da torre. Não viu uma alma viva sequer ali, mas parecia muito bem zelada para estar abandonada. Seguiram para um penhasco na frente de uma praia e pararam na base da torre que tinha um jardim simples, mas bonito e estava afastada da vila.

Quando desceu da carruagem andou até a beirada do penhasco  e viu algumas docas de madeira velha e um barco encalhado abandonado na praia. Tomou cuidado para não escorregar dali e voltou para perto da torre onde Sidá estava. Esta pegou sua mão e a empurrou para dentro da construção sem cerimônia:

- Entre, entre, querida. Fique à vontade! - Sidá disse empurrando Morgana para dentro antes que pudesse fazer qualquer coisa e fechou a porta logo em seguida privando o local da única fonte de luz que tinha, deixando-o mergulhado no breu.

- Sidá, o que pensa que está fazendo? Se isso for alguma das suas brincadeiras de mau gosto eu juro qu-  

Morgana foi obrigada a se calar e cobrir os olhos com seus braços devido à forte luz que de repente invadira o local. A morena levantou a cabeça vagarosamente enquanto sua vista de acostumava. Percebeu que a luz vinha de alçapões abertos no teto da construção.

Olhou ao redor procurando pela mulher, mas ao invés dela viu um enorme salão em cujas paredes haviam estantes de livros que iam até perto do teto, revezando o espaço nas paredes junto de belos quadros dos mais variados estilos com representações que iam desde campos e lagos, festivais inteiros, ou imagens de guerras. O lugar era muito maior por dentro do que por fora.

O piso possuía um brilho lustrado e desenhos inteiramente artesanais que se repetiam e se completavam até onde sua visão alcançava, Morgana quase podia se ver refletida nele feito um espelho. Enquanto andava, ouvia o bater de seus calçados ecoarem pelo salão todo, mas não era o único som que podia ser ouvido. Haviam alguns recipientes e ampolas, em cima de uma mesa, com alguns conteúdos líquidos borbulhantes, acompanhados de pós coloridos e reagentes diversos. De alguns saía fumaça, já de outros o líquido transbordava.

Além disso, num canto pouco iluminado, tinham móveis cobertos por lençóis, diversos tapetes enrolados e armários cheios de roupas. Morgana os examinou de perto, aparentavam ser muito novos como se tivessem sido feitos há poucos dias. Muito bem cuidados sem sinal de poeira, buracos ou vermes, por que estariam sem uso? Deviam ser muito caros! O mesmo servia para as roupas, apenas não compreendia o porquê de ali haver um estilo tão ultrapassado - não que soubesse tudo de moda - mas aquele tipo de vestimenta já havia sido esquecido há tempos.

A única coisa que parecia maltratada ali era um antigo espelho enorme. Devia ocupar uma parede inteira antes de ter sido quebrado em milhares de partes. Sua moldura dourada e desgastada era o que segurava seus restos ali, mas mesmo assim faltavam alguns pedaços. Alguma coisa havia o atingido.

Alguns objetos mágicos aqui, estátuas de mármore ali, livros flutuantes, mapas espalhados pelo chão, penas escrevendo sozinhas e uma pilha de pergaminhos. Já estava cheia de andar por aquele salão sem sinal algum de Sidá. O que aquela mulher queria afinal? Achava que não tinha nada melhor pra fazer? Não devia ter dado uma chance para ela se explicar, pois só havia enrolado e agora estava ali atrás da ruiva avoada. 

Sentia-se tão possessa que começou a caminhar com passos largos e pesados atrás de alguma saída. Já estava cansada de ficar ali, sufocada, estressada. Sidá adorava a fazer de idiota desde criança, mas não daria outra chance para a maldade da mulher.

Crack!

Parou subitamente com o barulho abaixo de seus pés. Recuou os passos assustada. Havia pisado em alguns cacos de vidro caídos pelo chão. Olhou ao redor procurando de onde o vidro havia saído e achou, num cantinho escuro atrás de uma estátua próxima dali, um montinho de cacos e uma esfera de cristal grande rachada e riscada. Do lado deles havia uma vassoura indicando que alguém tinha apenas os varrido até ali preguiçosamente querendo só escondê-los. Sinceramente, um péssimo trabalho.

Uma porta de madeira foi aberta com um rangido logo à frente de Morgana. Mas como assim? Aquela porta estava ali antes?

- Mas onde estaria aquela impetulantezinha... - Sidá apareceu pela porta olhando para os lados, até que bateu os olhos na moça - Ah, você está ai! Venha logo! Estou a sua espera até agora. É muita falta de educação deixar as pessoas esperando, sabia?! - terminou colocando as mãos na cintura como se estivesse brava com uma criancinha.

Lá vinha ela de novo a tratando feito criança. Como odiava quando fazia aquilo!

- Eu estava procurando por você até agora.  Não se faça de desentendida! - Morgana disse furiosa - Você apenas me largou aqui e desapareceu feito fumaça.

- Vejo que ainda não consegue se virar sozinha, como eu desconfiava. Aposto que perdeu a linha do tempo enquanto xeretava por meu quarto. Não vou mais te perder de vista, mocinha. Agora, ande logo. O chá está esfriando!

- Eu não estava... Eu nunca... - tentou dizer.

Finalmente, bufou se dando por vencida. Mordeu os lábios com força tentando recuperar a paciência. Sidá ainda não parara de a chamar de criança, nem de fazer seus joguinhos irritantes. Engoliu a raiva e  percebeu que não sairia dali tão cedo, pelo menos até saber do que, raios, ela queria tratar consigo. Passou por cima dos cacos de vidro os quebrando sem dó.

- Ah, mas o que é isso?! 

Morgana logo se virou com a boca aberta para se defender dizendo que não havia quebrado nada, mas o olhar de Sidá estava direcionado para a vassoura encostada na parede que tombou no chão como se estivesse envergonhada.

- Eu não acredito, sua vassoura vadia! Há quanto tempo está parada aí? - Sidá agarrou-a pelo cabo como se estivesse a estrangulando - Olhe só, já está cheia de teias de aranha! Pois trate já de voltar a limpar, sua vagabunda. Eu nunca deveria ter contratado você! Devia ter te transformado logo em lenha pra lareira. Seria mais útil do que fazendo esse trabalho porco.

A ruiva definitivamente havia perdido a sanidade, Morgana pensou convicta. Ela estava discutindo e humilhando uma vassoura. Onde já se viu conversar com objetos sem consciência. Entretanto, continuou olhando com medo de que a vassoura respondesse. Esta, na verdade, só tremeu um pouco. Parecia acanhada e com medo da raiva de Sidá, então, correu de volta ao trabalho varrendo o chão desesperada.

- Se eu voltar aqui e ainda não estiver tudo limpo, partirei você em duas! - e, recuperando a compostura, se voltou para Morgana - Vamos logo.

A morena seguiu a outra sem dar um pio, queria que tudo aquilo acabasse logo. Assim que a porta se fechou atrás das duas, desapareceu na parede. 

Entraram no que parecia ser uma estufa em formato de abóbada enorme atrás da torre. Podia ver uma fonte enorme no meio, flores e plantas de todos os tipos iluminadas por uma luz artificial mágica que substituía a iluminação natural em dias nublados como aquele. No alto, podia ver num dos galhos de uma árvore, tomando luz, um corvo de tamanho considerável que não parava de a seguir com o olhar. Devia ter sido ele que lhe entregou a mensagem.

Seguiu Sidá até uma pequena mesa posta do lado da fonte. Devia ter se lembrado de que a feiticeira era viciada em água com gosto, mas não conseguiria ingerir mais nenhuma gota de chá mesmo se a outra insistisse.

- Então, que lugar é esse para o qual a senhora me trouxe? - Morgana perguntou, sentando-se.

- Bem vinda à Torre de Zhéfira. – Sidá disse sorrindo e abrindo os braços como se já esperasse por aquela pergunta - Um antigo farol movido a fogo e, agora, minhas acomodações.

- Você mora aqui?

- Sim, você percebeu? É notável o meu toque por qualquer lugar onde sua vista passar. Muito lindo, não é?

- Mudou-se para cá recentemente? 

- Não faz tanto tempo, mas também não foi há pouco... - bebericou o chá.

- Bom, você disse que aquele salão enorme era seu quarto, mas em nenhum momento achei aquela sala parecida com um. Os móveis novos estavam todos cobertos e  nem ao menos vi uma cama. Onde você tem dormido?

Foi só então , enquanto esperava uma resposta de Sidá, que reparara mais em suas feições.

- Aliás, você dorme, certo, Sidá? - Morgana parou e a fitou mais minuciosamente – Parece cansada. Acho que nunca antes havia visto você com olheiras, ou com o cabelo despenteado e bagunçado. Até suas roupas estão mal dobrad- 

- Pare de me analisar! Não conseguiu nem aprender um pouco de boas maneiras enquanto minha aluna? Sempre tão mal educada e rebelde! - a ruiva disse com raiva, encarando Morgana - Jovem malcriada. Sabia que aqui não se pode matar crianças nem mesmo se elas forem chatas? Onde já se viu!

A ruiva recebeu um olhar pesado e repreendedor de Morgana, então tentou se explicar:

- Estou brincando. É só o humor amargo da idade... - e sem conseguir tirar aquele olhar irritado da face da outra, continuou - Desculpe-me, não foi minha intenção. Só estou estressada demais com tudo. Essa competição, os formulários...

Sim, Morgana sabia que havia algo de errado com ela, mas com certeza não era aquilo. Aquela era a Sidá que conhecia: furiosa, amarga, sem paciência, arrogante. Tentaria descobrir o que estava acontecendo.

- Acho que está um pouco perdida em pensamentos. É como se eu conversasse contigo aqui, mas apenas com seu corpo, não com uma alma calma presente. É como se...

- Como se não fosse realmente eu? É, devo ter me perdido em algum momento. - o olhar de Sidá se perdeu entre as plantas, mas não estava realmente olhando para elas.

- Ainda assim, está muito bem para sua suposta idade. Como pode continuar tão jovem? Passaram-se pelo menos doze anos desde nosso último encontro e você continua exatamente igual. Aliás, você nunca chegou a mencionar sua idade.

- Uma dama nunca deve revelar quanto tempo já viveu nesse mundo... Meu cabelo está tão ruim assim? - estalou os dedos, uma escova de cabelos apareceu em sua mão e passou a escová-los. - Muito obrigada por me avisar, querida. Sinto muito por ter que me ver neste estado. Aceita um pouco de chá? - Sidá ofereceu com um sorriso, querendo mudar de assunto. Pegou o bule e uma xícara com as duas mãos enquanto a escova trabalhava sozinha desembaraçando os cabelos.

- Sidá, já chega. Não precisa se esforçar tanto pra me agradar. Nunca se preocupou com isso, nem ao menos se importava comigo enquanto sob sua guarda. O que deu em você pra me estimar tanto agora?

Morgana observou a ruiva dar uma pausa antes de responder, parecia estar escolhendo as palavras.

- Peço perdão por ter me conhecido numa fase ruim. Eu só não me dou bem com crianças. Você em especial, no caso. Acredite, agora eu estou melhor. Sei que não conseguirei sua confiança num piscar de olhos, mas tentar não custa nada, não é? - fez um pausa - Ah, antes que eu me esqueça, pegue. - a ruiva estendeu um embrulho amarrado com fio de linho.

- O que é isso?

- Um presente. Pedido de desculpas. Uma recompensa por todos os seus aniversários esquecidos ou ignorados. - a morena fez menção de abrir quando foi interrompida - Não! Não o abra aqui! Abra num local mais tranquilo, em que tenha tempo de ler a carta que acompanha o livro.

- Hm, certo. Agradeço. - Morgana respondeu timidamente enquanto guardava o presente em sua bolsa - Bem, como sabia que eu tinha vindo?

- Eu senti cheiro de magia negra.

A morena mirou a outra com seus olhos violeta, repreendendo-a novamente.

- Ah, estou brincando. Conheço você, logo, foi intuição. As notícias desse tipo se espalham bem rápido e uma chance como essa de provar seu "potencial" é rara e tudo mais. Também fiquei sabendo que agora anda botando fogo em estalagens. Que passatempo incrível! Realmente muito excitante! Chame-me dá próxima vez que for fazer algo do tipo.

Morgana a olhou pasma, até ela já tinha ouvido sobre o ocorrido na estalagem? As notícias realmente corriam muito rápido por ali, mas como ela sabia que estava envolvida nisso? Achava que havia sido culpa dela? Que fora proposital? Se a ruiva a entregasse para os militares estaria encrencada. Oras, não havia feito nada de errado! No entanto, como poderia provar sua inocência?

- Pare com isso, eu posso quase ouvir seus pensamentos conflituosos.

- Eu não tive nada haver com aquilo! Eu sai bem antes de tudo explodir, já estava bem longe!

- Nós duas sabemos que fogo e magia torpe não se dão muito bem. Foi como eu disse, senti cheiro de magia negra. A capital inteira ficou fedendo e creio não ter sido a única maga a sentir.

- Eu não mexo com magias obscuras ou proibidas, você sabe muito bem disso! Não me acuse sem provas! - já estava farta daquilo tudo, não aguentaria ficar mais nem um minuto ali. Tentou ao máximo não deixar que sua raiva transparecesse tanto - Diga logo o que quer tratar comigo para que eu finalmente possa ir.

- Ah, sim! - Sidá levantou as sobrancelhas como se tivesse se lembrado de algo crucial -  Bom, desista. Não vai conseguir nada aqui. Você nunca teve chance, aliás.

- ... O quê? O que você acabou de me dizer?! - Morgana franziu as sobrancelhas e cerrou os punhos.

- Isso mesmo que acabou de ouvir. Não é capaz de vencer competição de tal porte e nunca foi forte o suficiente para sequer pensar em realizar grandes feitos na vida.

- Uma mulher com um objetivo vale mais do que dez homens. - a morena retrucou com desdém, mostrando que meras palavras não a abalariam tão facilmente.

- Sim, talvez qualquer outra, menos você. 

- E por que acha que é digna de taxar uma pessoa? Como sabe o que vai acontecer? Por acaso vê o futuro? Comanda o destino das outras pessoas?

- Sinto muito, mas eu quebrei minha bola de cristal há um tempo. Sabe como é ruim ficar sem prever o que vai acontecer? Não sei como eu vivia antes disso!

- Não estou brincando. Não trate tudo com deboche como a senhora sempre faz. - Morgana odiava discutir com Sidá, era como falar com uma porta.

- Ah, eu não estou fazendo pouco caso. Creio nunca antes ter falado tão sério sobre algo na minha vida. Logo, isso aqui - Sidá disse invocando magicamente o formulário de inscrição de Morgana nas mãos e o abrindo - nunca teve valor algum.

Com um estalar de dedos, fez o pergaminho se desfazer em chamas enquanto olhava a expressão desolada da morena, até sobrarem finas cinzas no chão.

- Você... Como ousa?!- levantou da cadeira, incrédula. A vontade da morena era de explodir tudo a sua volta da maneira mais horrível possível. Era muito difícil alguém conseguir a tirar do sério daquele jeito, mas Sidá sempre conseguia com maestria. 

Queria desintegrá-la até que sua feição arrogante sumisse da face de Dionir. Por que alguém seria tão cruel? Logo ela que costumava ser seu exemplo enquanto sua professora de artes arcanas. Ela a incentivara mesmo quando todos lhe voltaram as costas. Sempre disse que tinha potencial para tudo que desejasse caso se esforçasse. Havia lhe prometido o mundo e agora se contradizia a chamando de inútil.

- Chamou-me para me insultar? Recuso-me a ouvir mais uma palavra venenosa sequer. Sabe que eu não desisto e não será você, outro pobre espírito, que me fará desistir. - a morena fez uma pausa para respirar - Costumava tomá-la como meu exemplo. Porém, agora, vejo que nunca deveria ter me aproximado de alguém desprezível como você.

- Digo para seu próprio bem, Morgana. Volte para casa, case-se, crie uma família. Garanta seu futuro com um marido rico e passe o resto da vida vivendo para seus filhos. Poupe-se do fardo que um dia terá que carregar.

Finalmente Morgana perdera a paciência. Foi até a saída a passos largos, voltando-se para Sidá apenas para dizer:

- Nunca mais me procure novamente. Você morreu para mim. - E deixou a feiticeira para trás. 

Seguiu até a frente da torre, onde o cocheiro dormia, e o acordou com um susto ao bater da porta da carruagem.

- Leve-me de volta para a capital. Vá o mais rápido que puder!

Sidá apenas continuou sentada do lado da fonte, solitária. Podia ouvir o som dos cavalos se distanciando. Seu trabalho estava feito. Sabia que não conseguiria a manter longe, mas fez o que podia. Acabou apenas acendendo uma chama de ódio que se juntaria a um fogaréu inteiro. Pelo menos agora, talvez, a outra não sentisse mais sua falta quando o pior acontecesse, ou a lembrasse com repulsa.

Era hora de voltar ao trabalho. Pela primeira vez se recusara a continuar tomando chá.


 *            *
*             *             *

 

Na tarde daquele mesmo dia frio, Liturgo se encaminhava ao palácio imperial com o intuito de se reunir com o Imperador, feito o costume. Porém, dessa vez andava à contragosto, não queria ter se incomodado em cessar suas meditações e sair de seu templo aquecido e silencioso só para ir ver o rei. 

Fora obrigado a aceitar os apelos dos outros líderes para ter uma conferência com o imperador. Sabia que eles não parariam de o perturbar com os assuntos fúteis do estado do império, enquanto não estivessem satisfeitos. O que acontecia ou deixava de acontecer no reino não era nem um pouco do interesse de Liturgo, que estava mais preocupado com o treinamento de seus pupilos e também com o aumento do valor dos dízimos que deveriam ser pagos ao templo pelos fiéis.

Todos os dias após as volumosas chuvas, pelo menos um dos líderes, ou seus respectivos representantes, visitava-o em seu templo com mais e mais pergaminhos cheios de reclamações, além de reportarem problemas e protestarem contra a má atuação do Imperador, e, por ser o único que tinha contato direto e exclusivo com o rei, Liturgo fora encarregado de passar a ele todas aquelas reclamações e reivindicações.

Pois bem. Mandou que seus alunos recolhessem os pergaminhos, cujos relatórios diziam ser de extrema importância, e os organizassem numa grande bolsa, esta que Liturgo levaria consigo na próxima vez que fosse se reunir com o imperador. Não precisou de muito tempo para que a bolsa ficasse cheia e pesada, e agora o Alto-Sacerdote se encontrava em sua carruagem pessoal sendo acompanhado por dois de seus assistentes.

Sua dor de cabeça havia aumentado consideravelmente após a abertura daquela competição. Além disso, as chuvas consequentes da época do ano em que estavam apenas serviram para piorar mais sua enxaqueca e deixá-lo carrancudo, com um mau humor terrível.

Costumava dizer a si mesmo que a água purificava a alma e levava os problemas embora. Repetia isso em voz baixa feito um mantra relaxante que fosse acabar com sua dor de cabeça, até que, numa parada feita num dos rios que passavam perto do palácio, todos os pesos e preocupações foram carregados pela correnteza após seus assistentes se livrarem de todos aqueles pergaminhos jogando-os no rio.

Liturgo permanecera sentado na carruagem e deu um suspiro demorado quando ouviu o som dos pergaminhos se chocando contra a água. Agora, massageava as têmporas enquanto seus pupilos subiam novamente no carro e retomavam as rédeas dos cavalos continuando o curso até o castelo.

O imperador não precisava se preocupar com assuntos como aqueles, nem ao menos saber o que acontecia no reino. Deixá-lo lá no castelo, longe dos problemas, em seu trono macio e confortável, tomando seu chá e comendo seus doces despreocupadamente era o melhor que podia fazer. Dizia ser o melhor para o reino a fim de evitar mais conflitos e perturbações, nenhuma notícia ruim podia chegar ao imperador. O que menos queria era mais uma pessoa reclamando em seus ouvidos.

O sacerdote não entendia o porquê de os outros quatro líderes se estressarem tanto com tais assuntos, uma vez que o destino daquele lugar já havia sido traçado, com linhas fortes e sem curvas, muitos anos antes. Entretanto, sabia que conseguiriam lidar com aquilo sozinhos, eram adultos e capazes de tomar conta de suas próprias vidas... além de outras milhares, também. 

Pôde ouvir os portões se abrindo para a sua carruagem entrar. Pararam novamente alguns minutos depois na frente do palácio, após passarem por todos os jardins, os quais Liturgo era privado de admirar, devido à sua cegueira. 

Desceu da carruagem e esticou as costas e os ombros enquanto andava, deixando seus alunos para trás, pois deveriam permanecer o esperando ali fora até quando decidisse voltar, mesmo com aquele frio intenso e vestindo roupas humildes de linho. Dizia que aumentava a resistência corporal e fortalecia a alma, mas só servia para deixá-los gripados.

Os soldados, quando o viram, imediatamente bateram continência e abriram a grande porta a fim de que o sacerdote não precisasse parar de andar. O servos, quando o viam passando, tomavam o maior cuidado para sair de seu caminho fazendo o menor barulho possível, pois vários já haviam sido demitidos apenas por interromper seu caminho. Mesmo assim, Liturgo podia sentir a presença de todos ali, assim como suas posições, ouvir as respirações, sentir os olhares aflitos e o medo estampado em suas faces. Não precisava de olhos que vissem bem para se deliciar com aquele silêncio medroso.

Ao chegar até a porta que separava a sala do trono do corredor, foi parado timidamente por uma serva receosa, que com o fio de voz que sua coragem a permitia usar, disse ao Alto-Sacerdote da forma mais polida possível que o rei não podia recebê-lo de imediato, por estar numa reunião de negócios com representantes de outros reinos.

Liturgo nem ao menos movera sua cabeça na direção da voz da mulher enquanto ela falava, mas sorriu de forma macabra após aquela notícia. Agradeceu-a, dizendo que esperaria ali o quanto tivesse de esperar. A serva se retirou rápida e silenciosamente, enquanto o clérigo permanecia plantado na frente da porta.

Algumas horas depois, a porta foi aberta por dentro. Pôde sentir cinco ou mais pessoas saindo de lá. Todas vinham de reinos diferentes e distantes trazendo grandes ofertas e riquezas para cá. Liturgo podia ouvi-los cochichando em suas diversas línguas de origem, por não quererem que ninguém soubesse do que se tratava. Suas roupas e calçados faziam barulhos diferentes também, tilintando, arrastando, pisando e chacoalhando. Sentia também um odor arrogante e esnobe que emanava de cada um ali e impregnava o local. O odor natural de seres desprezíveis como aqueles.

Permaneceu parado cumprimentando aqueles que passavam por si com reverências e palavras respeitosas até que não houvesse mais sinal deles por perto. Por fim, adentrou o grande salão do trono tendo as portas fechadas logo atrás de si:

- Liturgo, que agradável surpresa nessa bela tarde! Não podia ter vindo em mais boa hora que essa! - disse o imperador se endireitando em seu trono enquanto Liturgo se curvava numa reverência.

- Sabes muito bem que o prazer sempre é todo meu, majestade. - Liturgo disse com um sorriso.

- Gostaria de se juntar a mim no chá? A sacada já está preparada com os comes e bebes, porém, caso eu soubesse que viria, ordenaria que fizessem algo mais requintado, do agrado de seu paladar. - o imperador falava enquanto descia os degraus do trono e se encaminhava para a sacada.

- Sou muito agradecido pela sua gentil oferta, majestade. Porém, estou num jejum rigoroso para fortalecer o corpo e revitalizar o espírito.

- Ah, Liturgo, essas besteiras do sacerdócio te impedem de usufruir de tudo o que os seus privilégios tem a oferecer. Chega a parecer um tolo. - o imperador conversava com o sacerdote, que estava ao seu lado, enquanto se sentava à mesa na sacada - Entretanto, para você vir até meu palácio num dia tão frio e cansativo como esse, deseja tratar de algum assunto importante que diz respeito à minha pessoa, presumo?

- Como poderia haver alguma notícia incômoda para ser tratada com Vossa Majestade? O império nunca antes esteve tão bem quanto agora sob seu comando, alteza. Os plebeus andam mais contentes que nunca trabalhando e recebendo os aventureiros e viajantes que convidou para participar do grande torneio. Este que, aliás, foi uma de suas mais brilhantes ideias.

- Que esplêndido. Não esperava menos que isso de minha administração impecável. - o rei dizia enquanto seu chá era servido - Realmente não sei de onde tirei a hipótese de que teria alguma coisa errada acontecendo. Sinto muito por lhe atazanar com minhas preocupações sem fundamento, meu caro.

- Não há problema algum, majestade. Na verdade, é admirável sua preocupação com o império. Digna de um ótimo rei. 

- Andei pensando em visitar a cidade. Já faz tantos anos que não saio do palácio. - o rei suspirou - Gostaria de ver o mar novamente, ver rosto novos, saber como estão as praças, os novos prédios que foram construídos e as fontes. Queria ver o quanto tudo mudou nesses anos em que estive ocupado com o cargo de imperador. Devem haver muitas coisas novas e belas, não é?

- Seria de geral agrado o rei dar o ar da graça num passeio pela cidade. - Liturgo mentiu - Porém, haveria uma enorme comoção na qual  todos os seus súditos se moveriam para o ovacionar. Imagine a bagunça, imperador. Além do mais, ficar dentro do castelo é para a manutenção de sua própria segurança, visto que lá fora algum cidadão enlouquecido poderia atentar contra sua preciosa vida. Entretanto, caso anseie muito posso lhe contar como o reino está, feito nos velhos tempos.

- Não, não quero apenas ficar imaginando a grandiosidade do império que nem quando eu era uma criança. É muito entediante e frustrante comandar algo que eu nem ao menos vejo. Como saberei se o império vai bem? Como posso saber se tudo o que me diz é verdade? - o rei suplicou aflito para o clérigo.

De repente, Liturgo parou de mirar o horizonte e moveu lentamente a cabeça na direção do imperador como se o encarasse nos olhos, algo impossível. O rei engoliu em seco e recuou silenciosamente para trás temendo a reação do ancião. Com o semblante extremamente fechado o sacerdote sibilou:

- Duvida de minha palavra? Ainda pode desconfiar da verdade de tão leal súdito feito eu? - começou com um tom ultrajado, de quem estava profundamente sentido - Logo eu, tão generoso e cuidadoso com você, que lhe ajudei quando mais precisou. Os deuses estão de prova que melhorei mil vezes sua vida, quando o tirei daquela sujeira e o trouxe para cá! Além de ter lhe jurado lealdade perante todos! - sua voz havia se transformado em pura raiva - Não está satisfeito com o que eu tenho a lhe dizer? As notícias boas que trago não são mais o bastante? Talvez preferisse que o império estivesse em ruínas, então.

O imperador, pasmo, não sabia o que fazer. O que quer que falasse poderia apenas piorar sua situação. Os servos observavam aquela cena calados feito a sombra de uma estátua. O rei permanecia encolhido em sua cadeira ensaiando algo para dizer, porém, sua fala era mais medrosa que si mesmo e nem mesmo um fio de voz se atrevia a sair.

Liturgo, tomando aquele silêncio como sendo o suficiente, endireitou novamente a postura e pigarreou antes de continuar. Sua voz voltara a ser plácida e sua cabeça novamente estava voltada para o horizonte:

- Entretanto, talvez Vossa Majestade esteja duvidando de sua própria administração... 

O rei também pigarreou, mas riu logo após. Um riso tímido, nervoso e que tentava dispersar aquela atmosfera tensa.

- Ah, uma besteira minha novamente. - levou a xícara de chá à boca com a mão trêmula a fim de molhar a garganta seca - Eu devo estar apenas me sentindo sufocado pelo castelo. Amanhã irei até os campos passear à cavalo. Verei o céu.

- Sim, seria um ótimo passatempo para Vossa Alteza.

- Bom, v-você gostaria de... s-saber como ocorreram as negociações? - o rei perguntou temeroso feito uma criança.

- Claro, claro. Aliás, era uma das coisas que queria tratar com o rei hoje. Obviamente, as negociações devem ter ocorrido com êxito, visto que Vossa Majestade é um excelente negociador.

- Realmente, fizemos um tremendo progresso negociando. Eles disseram que os preços estão muito altos, porém é exatamente o valor que cada território merece. Continuam dispostos a pagar, só estão prolongando os processos, o que quer dizer que essa competição durará mais algum tempo. Restam ainda províncias do sul, alguns territórios ricos em minérios a sudoeste, alguns estados do norte e, é claro, aqui, a capital. Dei um preço alto e especial visto que é onde há a maior movimentação de pedras preciosas assim como ouro e prata, mais pontos comerciais e portos conectados com o resto do território. Os representantes estrangeiros voltarão em algumas semanas com a resposta da última oferta que fiz, valendo os territórios mais importantes. Todos saíram do salão em pé de guerra, pois todos querem um bom pedaço do grande Império de Dionir...

Liturgo, prostrado ao lado do imperador, não prestava atenção alguma no que ele dizia. Tentava se concentrar na brisa fria que batia em seu rosto enquanto deixava o rei falando sozinho. Havia implantado a ideia de um competição pela coroa aos poucos, com a intenção de que o rei pensasse que tivera aquela ideia "genial" sozinho. Era mais do que óbvio que Liturgo não se interessava nem um pouco pela parte econômica. Ele tinha planos próprios e obscuros que envolviam bens mais valiosos, feito algumas vidas.

Anos atrás, o sacerdote havia resgatado o então rei quando era apenas mais uma criança suja num orfanato qualquer. Naquela época havia uma necessidade tremenda de alguém que liderasse e unisse o povo de Dionir novamente, visto que seu recém falecido grande rei, já não podia mais guiá-los

Liturgo recolhera e divulgara aquela criança dizendo fora apontada pelos Deuses para substituir o rei antigo. Logo após, prendeu-o dentro do palácio para que ali apenas ocupasse uma aparência, um fantoche comandado pelo clérigo. Desde então aquela criança cresceu somente dentro dos limites do castelo com os privilégios de um rei, mas sem realmente comandar reino algum.

O imperador admirava Liturgo, o respeitava à mesma medida que o temia, pois zangá-lo significaria o fim de sua boa e fácil vida. Ficara feliz quando o sacerdote o permitiu realizar as negociações com outros reinos sozinho. Não sabia ao certo o motivo de tais negociações, porém o sacerdote sempre dissera que era o melhor para o reino. 

O que podia fazer? Durante todos aqueles anos, o clérigo implantara em sua mente de que era a única pessoa na qual poderia confiar. Foi assim que passara a acreditar cegamente em suas verdades. Os servos eram estritamente proibidos de dizer sequer uma palavra para o rei, logo, o que Liturgo dizia era incontestável visto que não havia nada que dissesse o contrário, ou algo diferente.

- ... Na verdade, é excelente o fato de que a competição durará por mais algum tempo. Deste modo os cofres imperiais continuarão se enchendo com as riquezas dos viajantes -  que nem ao menos terão chance a um centímetro deste território. Ha ha ha! - o imperador ria. 

Tudo estava ocorrendo como Liturgo havia planejado muito tempo antes. E, alisando sua longa e branca barba, sorriu macabramente. Finalmente poderia dar início a execução de seus planos.


Notas Finais


Aceito críticas!



Até mais!


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