meu coração é como o banheiro que eu construí pela metade.
não há vitrores na janela e não há reboco,
parece essa cidade.
é cinza e vazio.
vazio e frio.
como meu coração.
vivi tantos anos para viver tão pouco.
meus joelhos estão fracos e tenho dificuldades para arranjar um emprego bom.
tenho tanta idade e tão pouca felicidade.
existem filhos meus por aí.
e eu continuo sozinho, tomando tanto ar.
encontro companhia na cerveja, na esquina, no bar.
converso longamente quando existe alguém pra conversar.
vezes converso sozinho acompanhado.
sou tão solitário.
me xingo quando posso porquê não pode ser real.
tanta amargura me rodeando, na vida doce que disseram que eu teria.
mas é só desgraça matinal.
pequeno fui largado pra morrer.
e hoje a morte não me larga para viver.
o café quente esfria minha cabeça.
e eu só como a janta fria que me deixam.
sou um poeta do concreto...
durmo sob o cal.
o cimento que seca em minhas mãos queima minha pele.
acho que perdi minha digital.
sou marcado pelo exército,
e não falo muito de mim para quem quer me conhecer.
não entendo esse mundo novo,
e acho que estou muito velho pra entender.
minha mulher me largou porque eu me perdi em mim.
ela não encontrava quem procurou,
e eu não sabia onde me perdi.
ah, que incômodo...
esqueci o que é o amor.
sinto tanto por não ter aprendido,
e sinto mais por quem nunca me ensinou.
rogo para que acabe o sufoco.
porque só me passa na cabeça esse inferno de desgosto,
por ter vivido tantos anos, para viver tão pouco.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.