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História Libertatem - Capítulo Único


Escrita por: poisonquinn

Capítulo 1 - Capítulo Único


Por mais aliviado que estivesse em finalmente estar livre de Azkaban, a consciência de Sirius ainda pesava por não poder tirar Harry dos Dursley sem acabar retornando à prisão, e por isso, sentia-se de mãos atadas, embora o sempre ponderado Remus lhe dizia o quão passageira aquela situação seria. Logo ficariam juntos, garantiu seu velho amigo.

Mas Sirius não era paciente. Ele detestava ficar naquela situação completa de quietude, longe dos olhos de águia do ministério da magia e em razão dessa ânsia, Sirius não se importava de sair do Largo Grimmauld quando Remus estava descansando ou simplesmente fora. Em seus passeios, ele comprou a Firebolt de Harry e depositou uma gorda quantia de galeões na conta do garoto, numa tentativa de compensar sua ausência.

Remus o repreendeu por isso e pela exposição, porém, não podia negar que seu feito tinha deixado Harry feliz e consciente de que não se livraria daquele padrinho mala sem alça, como Lupin costumava dizer.

Mas isso não foi o suficiente para aquietar Sirius.

O Black sempre fora ousado e galanteador, embora doze anos em Azkaban tivessem abafado esse lado, lá estava ele transfigurado em animago seguindo qualquer rabo de saia que via com a desculpa que queria carinho, e com uma sorte que nunca veio, ele conseguiria mais uma razão para correr até o primeiro beco, voltar à forma humana e perguntar à jovem gentil se ele havia visto seu cão.

— Você não presta. — Remus bufara e Sirius riu por trás do copo de whisky de fogo. — Sirius, você pode ser preso, já pensou nisso?

— Remus, você claramente pensa isso por mim, então para que me desgastar? — Black deu de ombros. — Além do mais, sinto-me solitário.

— Eu estou aqui. — Lupin ergueu uma sobrancelha.

Sirius rolou os olhos. — Eu, definitivamente, não quero matar minha solidão vendo você pelado, Remus. Sem ofensa.

O ex-professor de Hogwarts sacudiu a cabeça e esticou as pernas, fitando a lareira acesa. — Que seja.... Sirius, tome cuidado, pelo amor de Deus. Não quero ser mandado para Azkaban por te acobertar. — Disse Lupin preguiçosamente ao se colocar de pé e Sirius sorrira divertido, acenando para o velho amigo.

Deixou o copo de whisky de fogo sobre a mesinha e pegou a varinha, apagando o fogo com um breve movimento. Ergueu os olhos e seu nariz coçou por causa da poeira acumulada na mobília, fazendo com que espirrasse quatro vezes seguidas antes de poder respirar normalmente e esfregar o rosto com ambas as mãos.

Ergueu-se e arrumou o roupão comprido para poder perambular pela casa, ainda um tanto congestionado pelo ataque de espirros quando, ao olhar o retrato de seu pai, lembrou-se de um local específico. Era jovem ao visita-lo, era uma tradição, como bem lhe dissera. Sirius tinha dezesseis anos e apesar de sua postura galante natural, a timidez o deixara inibido o suficiente para se esquecer daquele dia.

Ninguém falava sobre prostituição no mundo dos bruxos. Não havia uma cláusula nas leis a respeito do quão errado era, porém, as pessoas evitavam o assunto ao máximo. As famílias mais antigas e ricas os financiavam com pequenas quantias por entre as doações nobres porque era um hobbie caro. Meninas e meninos órfãos eram levados até as cortesãs, onde seriam treinados para servirem aos ricos bruxos das mais diferentes famílias e.... Gostos. Rezava a lenda que nenhum nascido trouxa havia colocado os pés naquele estabelecimento e as robustas mulheres preferiam assim.

Sirius subiu até seu quarto e vestiu algumas roupas de bruxo, levando consigo alguns galeões e o relógio de bolso. O bordel era o local mais seguro do mundo bruxo quando se tinha moedas de ouro a mais para oferecer pelo silêncio das atentas cortesãs.

Deixou Remus dormindo e saiu, tomando o caminho mais rápido até uma das muitas passagens do Beco Diagonal. Adoraria poder andar mais tranquilamente, porém, era um homem procurado e por isso não podia se dar ao luxo de perambular com tanta calma.

O beco escuro onde ficava a passagem fedia a urina, porém, Sirius não se incomodou, usando sua varinha para abrir a fenda entre os tijolos, aproveitando que ninguém o observava para se transfigurar no cão negro.

Era muito prático passar pelos bruxos daquela maneira, embora muitos ficassem confusos quando ele passava, porém, pouca ou nenhuma atenção lhe davam. Sirius fora apressado até a Travessa do Tranco e não tardou a ver os tipos usuais de vestes carcomidas e aparências estranhas que perambulavam pela rua estreita. Era quase irônico que todo o glamour das Artes das Trevas tinha sido reduzido a uma ruela miúda e feia como aquela.

Seus olhos de cão não demoraram a localizar o estabelecimento mais bem cuidado e muito bem escondido entre algumas lojas de quinquilharias. Havia um homem de terno puído na porta do mesmo e este não se surpreendera quando Sirius voltou a forma humana diante dele, soltando um suspiro morno.

Sirius entregou dois galeões ao homem, que deu de ombros e liberou a passagem para o corredor estreito que o levaria às cortesãs. Sentiu o cheiro de cigarros e uma música suave ecoar até ver o pequeno bar com um homem mal-encarado que enxugava copos com magia e uns ou outros praticantes de artes das trevas.

Um deles acompanhado por uma ruiva trêmula de uns vinte e poucos anos que exibia um generoso decote e que recebia, naquele momento, uma junção de Imperius e Cruciatus de ambos bruxos. Seu vestido verde escuro era curto, deixando suas pernas longas e pálidas expostas e separadas.

— Boa noite, senhor Black. — Uma mulher mais velha surgiu diante dele, fazendo-o desviar a atenção da ruiva magra.

— Boa noite, Lorraine. — Era estranho que aquela mulher ainda estivesse viva, depois de tanto tempo, mas lá estava ela. Sirius se lembrava dela claramente tanto por sua cicatriz que ia da raiz do cabelo até o queixo, como de seus olhos, um amarelo e o outro verde claro como se ela fosse uma boneca feita com partes de outras. Seu corpo era curvilíneo e seu sorriso aberto, quase sincero.

— O que posso fazer por você? — Lorraine o mediu, repuxando os lábios.

Sirius tirou três moedas de ouro do bolso e as entregou à cortesã. — Preciso de uma companhia.

— Algum sexo específico? — Ela perguntou curiosa.

Black deu de ombros. — Me surpreenda. Os quartos ainda ficam lá em cima, imagino. — Falou um pouco desatento e a mulher riu.

— Sim, sim. Ainda me lembro quando entrou aqui a primeira vez.... Pobrezinho. — Lorraine afagou seu rosto com uma mão e sorriu mais. — Fique à vontade, logo levarei seus possíveis acompanhantes.

Sirius crispou os lábios e seguiu até os quartos. A escada rangia sob seus pés e ele tinha a leve sensação de que a madeira iria romper, porém, não acontecera. Ocupou o único quarto vago e suspirou. Sentiu cheiro de naftalina e mais um pouco de poeira, sentando-se na beirada da cama de casal.

Havia velas apagadas e Sirius moveu sua varinha, acendendo uma por uma até que o quarto estivesse com uma iluminação razoável.

Lorraine chegou instantes depois, acompanhada de dois jovens mais ou menos da mesma idade. Um rapaz alto e magrelo de olhos fundos e lábios grossos. Era pálido e seus cabelos eram loiros claros, suas bochechas pareciam coradas e trajado apenas de um roupão de seda verde escuro.

— Esse é Andrei. — Apresentou Lorraine e alisou o rosto do rapaz, que tremeu e encarou os próprios pés. — Ele fará tudo o que você quiser. — A cortesã tapou os ouvidos dele. — Muitas maldições Cruciatus. — Segredou. — E essa é Arianne.

Arianne parecia séria. Seu rosto infantil e redondo estava erguido e ela o encarou diretamente sem medo. Era loura como Andrei e as madeixas desciam onduladas até sua cintura. Seus olhos, porém, eram cor de violeta, assim como a lingerie que ela usava.

Sirius notou o nojo dela quando Lorraine a acariciou. — Arianne tem sido nosso orgulho. Ela é linda, não é? — Elogiara a cortesã com um sorriso e a jovem se esquivou do toque dela. — São irmãos, gêmeos. Pode ficar com ambos, se assim desejar, ou um deles.

O Black olhou de um para o outro e crispou os lábios. — Arianne.

— Excelente! — Lorraine falou animadamente e fez a jovem dar um passinho para frente. — Vou levar Andrei de volta. Divirta-se, senhor Black. — A cortesã arrastou o garoto pelo braço e fechou a porta, embora a audição apurada de Sirius o fizesse ouvir os pedidos do rapaz para que ficasse no quarto com sua irmã e o possível tapa que ele recebeu da mulher mais velha.

Arianne permanecia parada, com o queixo erguido e o olhar firme quando se aproximou do homem sentado na beirada da cama. — Não sou uma garotinha assustada. — Falou de maneira dura.

Sirius a observou. Ela era tão jovem para estar naquele lugar, mas de certa forma, o Black sabia que não tinha outra escolha, era o prostíbulo ou a sarjeta. Nenhuma carta de Hogwarts poderia salvar Arianne e seu irmão, ou parentes distantes.

— Sei que não. — Ele dissera de maneira breve. — Sente-se. Quer beber alguma coisa? — Falou ao notar a garrafa de whisky de fogo e dois copos no criado mudo, agitando sua varinha para trazer os objetos para perto, percebendo a centelha de curiosidade nos olhos de Arianne, embora ela tentasse esconder isso.

Arianne o encarou desconfiada e Sirius esboçou um sorriso. Ele sentia os primeiros efeitos do whisky de fogo e sua mente se enevoou, forçando-o para suas memórias antes de Azkaban, para quando era o maroto Sirius, acompanhado por seus três amigos. Quando tinha um ar saudável, brincalhão e sempre disposto a quebrar regras.

O tempo o fez se esquecer daquelas nuances. De quando tinha o símbolo da Grifinória gravado no peito e o leão vermelho e dourado lhe dava toda a coragem que precisava para desafiar alunos veteranos, conversar com garotas bonitas e enfrentar as longas detenções sempre com um sorriso no rosto.

— Senhor Black, o que você quer? — Arianne perguntou, parada diante dele um tanto rígida.

Sirius deixou um suspiro morno escapar. — Quero muitas coisas, Arianne. Quero ser livre, quero que meu afilhado fique longe dos tios trouxas e tenha uma boa vida comigo.... Quero meu melhor amigo vendo o homem que o filho dele se tornou..., mas não posso ter nenhuma dessas coisas. — Falou amargo.

Arianne enrugou a testa com delicadeza e Sirius viu uma centelha de humanidade nos olhos dela. Algo similar a simpatia ou até familiaridade, talvez por ela também ter desejos que não poderia alcançar.

Ela se sentou ao lado dele na cama e Sirius a olhou de soslaio. Parecia cansada quando deixou de ser a Arianne mascarada que se postou firme como uma rocha diante de si, pronta para qualquer desejo devasso que sua companhia da noite teria.

— Eu quero minha carta de Hogwarts, a minha e do meu irmão, mas Lorraine sumiu com todas as que chegavam. Andrei possivelmente vai pra Saint Mungus depois que conseguirmos sair daqui, pela quantidade de maldições Cruciatus que recebeu. — Ela suspirou pesadamente. — Sinto falta dos meus pais..., mas também não posso ter nenhuma dessas coisas, não até pagar o que devo a Lorraine por ter cuidado de nós dois.

O velho Almofadinhas olhou a garota de maneira curiosa. — O que acontece se sua dívida for paga, Arianne?

— Eu e meu irmão podemos ir. Está no contrato. — Arianne falou desconfiada.

— Eu pago.

Ela arregalou os olhos. — Perdão?

Sirius limpou a garganta. — Pagarei para que você e seu irmão saiam daqui. E pela estadia dele em Saint Mungus. — Falou sério. — E você irá receber sua carta de Hogwarts, Arianne. Não por ser uma garota bonita, mas por ser uma mulher forte com pouca idade.

Arianne respirou fundo. — Senhor Black....

— Sirius.

— Sirius. — A loira riu de leve. — Por quê faria isso?

Sirius respirou fundo e se levantou. — Porque como lhe disse, não posso fazer nada do que desejo, mas posso garantir que pelo menos alguém tenha a chance de realizar seus desejos. — Arrumou a gola de suas vestes de bruxo e deixou o quarto em seguida.

Atravessou o corredor e viu um bruxo enterrando-se forte numa menina mais velha que Arianne, que se encontrava nua e de quatro na cama, já que ele não parecia se incomodar de manter a porta fechada e a garota gemia alto a cada puxão de cabelo para indicar que sentia algum prazer.

Black respirou fundo quando encontrou Lorraine num balcão, contando galeões despreocupadamente e o olhou com um pouco de surpresa ao vê-lo tão cedo ali embaixo, esboçando seu melhor sorriso de curiosidade.

— Senhor Black, está tudo bem?

Sirius enfiou a mão nos bolsos e tirou de lá galões o suficiente para alimentar uma pequena família por alguns meses. — Essa quantia cobre a dívida que Arianne e o irmão tem com você, Lorraine?

Os olhos da mulher faiscaram de contentamento e ela puxou todos os galões para si com gana, sem saber nem por onde começaria a conta-los.

— Claro senhor Black, eles são seus. — Rira. — Leve-os, faça o que quiser.

— Quero que traga Andrei aqui para baixo.

Lorraine sorriu satisfeita e deu a volta no balcão, deixando Black sozinho por alguns momentos. Sirius viu Arianne no alto da escada, descendo de maneira inicialmente temerosa caso algum cliente decidisse toma-la ali mesmo. Contudo, o Black estendeu a mão para a garota e a vestiu com seu casaco, enquanto aguardavam pelo irmão da mesma.

Andrei viera já vestido, trêmulo e carregado pelo braço por Lorraine, que o entregou educadamente a Black.

— Até logo, meus queridos. Espero vê-los algum dia. — Lorraine sorriu maliciosa e voltou a contar galeões gananciosamente.

Sirius levou os dois jovens para fora do estabelecimento, contudo, soube que não poderia de forma alguma, leva-los até o Largo Grimmauld porque não era seguro. E por esta razão, levou os dois até uma parte mais movimentada, bem distante da travessa do tranco e se escorou numa parede, enfiando a mão no bolso para tirar de lá mais alguns galeões e os entregou a Arianne.

— Você conhece o Caldeirão Furado? — Perguntou.

Arianne assentiu. — Conheço.

— Ótimo. Se hospede nele até sua carta de Hogwarts chegar, o que não vai demorar muito. Peça ao Tom que te guie até o Beco Diagonal assim que receber sua lista de materiais. — Comentou o Black. — E Arianne.... Mude a cor do cabelo.

Arianne o encarou, soltando a mão de Andrei antes de pular no pescoço de Sirius, abraçando-o com tanta força que quase o esmagou, embora o mais velho correspondesse.

— Obrigada, Sirius.

— Me mande uma carta quando chegar em Hogwarts. Largo Grimmauld, número 12.

Os jovens logo se afastaram e Sirius esperou até que sumissem de suas vistas. Sentia-se bem, como há muito não se sentia e tinha plena certeza de que a razão de seu bem-estar vinha pela conversa franca com a menina Arianne e por ter, depois de quase treze anos, feito algo de bom para alguém.

Quando se transfigurou no cão negro, Sirius passara bem rápido pelos bruxos e também os trouxas após uma longa caminhada. A forma de cão ajudava nessa parte, já que não se cansava tanto.

Era quase de manhã quando chegou no Largo Grimmauld e, assim que entrara na velha casa dos Black, Sirius viu seu amigo Remus descer a escada, parecendo ainda mais cansado e o olhou com censura, imaginando que havia passado uma noite inteira fazendo sabe-se Merlin o quê e com quem.

— Me poupe dos detalhes. — Remus rolou os olhos.

— Mas Remus...

— Sirius, eu não quero saber com quem você transou noite passada! — O lobisomem bufou.

Sirius riu alto. — Ah, está com ciúmes?

— Por Merlin, eu preferia quando você estava mal-humorado...

Com o passar dos meses, o Black se acostumara com a solidão, já que Remus se ocupava vez ou outra com missões da Ordem da Fênix e ele, como era um homem procurado, precisava ficar escondido na maior parte do tempo e sua única companhia acabava se limitando a Monstro, os quadros do Largo Grimmauld e, principalmente, as cartas de Harry.

Sirius recebia muitas cartas de Harry, na verdade, o Black até se acostumara a alimentar a coruja branca do afilhado quando ela entrava voando graciosamente por sua janela. Porém, quando uma coruja negra fizera o mesmo percurso que Edwiges, Sirius achou aquilo no mínimo estranho, tirando o envelope do bico da ave.

Era endereçada a ele, porém o nome familiar o fez sorrir.

 

                Querido Sirius, você tinha razão. Minha carta de Hogwarts chegou após alguns dias de nosso encontro. Por mais que tenha idade para me formar, estou no primeiro ano e nunca estive tão feliz em toda minha vida. Andrei foi levado para Saint Mungus e os bruxos que cuidam dele parecem otimistas quanto sua melhora.

                Desejo a você o que fez por mim, caro amigo. Desejo que alcance sua liberdade.

                                                                                                                              Até breve, Arianne Barlow.



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