Era uma noite chuvosa. Neblina cobria as ruas. Um senhor barbado com uma cartola e um monóculo andava apressado com um jornal cobrindo sua cabeça.
Seu olhar mirava diretamente em um bar chamado "O Bêbado Caído".
Todos na rua corriam da chuva. A natureza gritava e berrava de sua própria maneira.
A placa na porta do bar dizia fechado, porém o homem não o respeitara.
Apesar da placa de fechado a porta estava aberta.
E o bar vazio.
O homem entrou, deixou seu jornal molhado em uma das mesas e adentrou o interior. Tocou a campainha de uma das mesas e passou pela porta da administração.
Não era uma visita comum.
O que ele não sabia e sequer previu, era que estava sendo seguido. Seu misterioso seguidor estava com um feitiço de transparência, que o deixava praticamente invisível. Não parecia um guarda, estava usando armadura leve. Muito fina e formal. Parecia um assassino ou um mercenário, entretanto, não carregava nenhuma arma.
***
No porão do bar, além de barris e tanques com cerveja armazenadas, havia uma estante quase que imperceptível. Ficava em um dos cantos, na sombra onde a luz já não pegava mais.
O homem já com seu sobretudo sobre sua mão esquerda, empurrou com a direita a estante.
Revelava-se uma entrada um tanto secreta e escura.
O homem então desceu acendendo um isqueiro prateado que tirou do bolso.
Logo atrás, descendo pro porão, vinha o seguidor.
Olhou a estante e os tanques. Passou os olhos em cada livro e envelope que na estante repousavam.
Havia livros sobre administração, códigos e até feitiços para amadores.
Os envelopes pareciam ser do reino, como os de pagamento de impostos.
Nada de mais.
"Está demorando demais."
Ecoou uma voz na cabeça dele.
— Estou fazendo meu trabalho. Cuide do seu que eu faço o meu.— Respondeu ele mentalmente.
— A diversão está lá em baixo. Nesta entrada escondida.— ele pensou.
***
Conforme o homem foi descendo, foi tirando sua roupa. Revelou uma fina armadura por baixo de sua camisa social. Por baixo da calça, algumas placas de aço. Era tudo muito fino, com certeza feito por um amador.
Não era muito forte mas com certeza bastante discreto.
Estava tudo muito escuro, entretanto o homem não tropeçou em nenhum degrau das escadas.
Chegando ao final, ele ouviu sons de risadas e de pessoas conversando.
***
— Olha só! Se não é o ultimo convidado!
Haviam dois homens e uma mulher. Todos bebendo cerveja caseira.
— Achei que tinha pedido para não começarem sem mim. — Ele falou com uma expressão séria.
Eles o encararam por cinco segundos até todos caírem na risada.
— Me passa uma caneca, velho
— Quem esta chamando de velho? Ha! Eu estou muito velho mesmo.
A mulher no fundo virou para eles, e com um sorriso disse
— E biruta!
— Mas ainda consigo arrancar algumas cabeças! — Retrucou.
— Certo, certo. Chega de brincadeiras. Estão todos aqui?
— É claro!
***
Todos estavam sentados ao redor da mesa redonda. Cada um tinha um copo de madeira com cerveja em mãos. A mulher era a unica que estava fumando.
O homem barbado, já com sua armadura em uso e nada menos que isso, bateu o punho na mesa e começou a falar.
— Certo. Não lembro os nomes nem as posições de vocês. Apenas sei que somos todos generais. Acho que é o álcool... Enfim.
— Apresentações são dispensáveis. Apenas o plano principal importa.— A mulher disse enquanto fumava seu cigarro.
O senhor então continuou.
— Eu sou General Steve. Cuido do centro.
Um dos homens interferiu rudemente.
— Então aquele alvoroço na praça central no outro dia foi tecnicamente culpa sua?
Foi propositalmente rude. Todos ali queriam mostrar poder.
Cada um deles possuía um cargo de General.
Basicamente cuidavam de partes separadas da cidade.
E cuidar significa manter a ordem e a doutrina do povo sempre funcionando.
As engrenagens que faziam a cidade funcionar. Reunidas em um só lugar, no mesmo tempo.
— Sim. Fora culpa minha. Meus feiticeiros viram o que ia acontecer, então mandei o Capitão Fokus para lá. Deveria ter escolhido outro.
Ele continuou sua investida perigosa. — E como você pode se chamar de general?! Ter esse tipo de gente no comando de suas tropas?! Isso é um vexame. Ainda não sei por que temos você como General Líder.
Steve levantou e bateu suas duas mãos na mesa, derrubando sua caneca de cerveja e a dos outros.
— Você, meu companheiro. Deveria manter sua língua presa sobre sete chaves.— Ameaçou-o sussurrando e olhando no fundo de seus olhos.
A mulher e o outro homem ficaram apenas olhando. Não pareciam surpresos.
— Aquele que causou terror na execução de outro dia, está agora preso no castelo do rei. Nossos problemas ainda não acabaram. Então senhores e senhorita. Se pudermos mudar o assunto.
— De acordo.— Todos falaram ao mesmo tempo.
***
— Como devem saber, nosso país está em pé de guerra. É uma benção que poucos saibam disso. A restrição de saída pelas fronteiras causou um certo problema. Porém não foi nada grande.
Eu quero saber, senhores, se as tropas estão bem posicionadas. Patricia?
A mulher revelada como Patricia se levantou, engoliu a seco, e falou
— Meus homens estão apostos. Canhões prontos para atirar. Lanceiros, arqueiros, magos. Todos prontos.
— Excelente. Tullius?
O homem que fala demais se levantou, com seu olhar abaixado e postura cabisbaixa, apenas disse
— Todos os meus homens também estão prontos. Os explosivos estão plantados.
— Magnifico. Vavik?
O mais quieto permaneceu sentado. Olhando para um ponto fixo na mesa com uma certa expressão de derrota.
— Meus homens. A maioria está pronta.
— Como assim a maioria?
E todos passaram a encara-lo. Dava pra sentir os olhares penetrantes.
— Aqueles rebeldes atacaram de novo. Meus homens tem disposição, mas ficamos sem balas. Sem explosivos e as poções de Mana foram destruídas. Tenho apenas soldados armados com espadas.
Steve, o General Líder, colocou dois dedos nas têmporas. Massageando-as, era claro que estava contando até dez para se acalmar.
— Steve. Não o culpe. Acalme-se, ainda conseguiremos forças o suficiente.
Patricia falou encostando sua mão no braço dele e o alisando.
Não se sabe se ela estava preocupada com ele ou com a própria vida. Ninguém ali queria ver a segunda maior autoridade do país com raiva.
— Me dê alguns meses! Por favor! sete meses é o suficiente para reunir tudo novamente! — Ele suplicava. Os cotovelos apoiados na mesa, suas mãos unidas e seus olhos lacrimejando.
Se Steve não aceitasse a repentina mudança de planos, era a cabeça de Vavik que iria ser servida no próximo café da manhã.
— Certo. Tudo bem! SETE MESES! Nada mais, nada menos que isso!
Um grande peso caiu dos ombros de todos ali naquela pequena sala subterrânea.
— Precisamos de todo poder que pudermos reunir se formos invadir e tomar este reino. Magno não cairá fácil.
E sentado alguns degraus acima de onde era possível ver, estava um homem de sobretudo e capuz.
"Interessante. Uma revolta militar. A situação fica ainda mais complicada." Pensou ele.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.