História Like a Dream - Capítulo 7

Sétimo Capítulo

Jadis

Não sei dizer por quanto tempo ficamos ali, apenas nos olhando. Talvez segundos, minutos ou até mesmo horas. Eu simplesmente estava perdida nos olhos do moreno a minha frente, olhos que eu nunca havia visto igual. 

Havia algo em seu olhar que também fazia parte do meu, talvez a dor por algo que fizemos. Não é fácil desvenda-lo. Ele é tão misterioso.

Só voltei para a vida no momento em que ouvi passos apressados se aproximando, me fazendo desviar o olhar de Edmundo para descobrir quem estava ali. 

_ Majestades, vocês precisam vir agora! - exclamou meio ofegante NCA, que parecia ter corrido bastante até nos encontrar - Há algo errado. 

_ O que aconteceu? - perguntou preocupado o moreno, que se levantou em um pulo e me estendendo as mãos para me ajudar a ficar de pé. 

Segurei-as e mesmo preocupada com o que estaria acontecendo, não consegui deixar de me sentir meio constrangida pela situação em que antes estava com o Rei mais novo, e comecei a bater em meu vestido tirando a poeira para disfarçar. E pude ver de relance na pouca luz que tinha ali que eu não era a única a me sentir envergonhada, já que o próprio moreno tinha o rosto em um tom vermelho. 

_ Não sei ao certo, o Grande Rei Pedro já nos espera para descobrirmos. - falou o anão já correndo na direção em que havia vindo. 

Tudo que Ed e eu pudemos fazer foi seguir NCA pelos túneis, torcendo para que nada muito grave estivesse acontecendo.

_ O que está acontecendo? - perguntei quando encontramos com o loiro logo que passamos pela forja. 

_ Tem magia negra no ar. - o Rei mais velho falou enfurecido - Não conseguem sentir? 

Foi só ele falar que eu senti. Os pelos de minha nuca se eriçaram de pavor pela carga de magia pesada que se espalhava pelo forte. A cada passo que dávamos parecia que aumentava a energia da magia. 

Corremos então em direção a Câmara da Mesa de Pedra de onde parecia que o que quer que fosse estava acontecendo e, assim que chegamos, fiquei apavorada com a cena que estava se desenrolando. 

Caspian estava com o braço esquerdo estendido e um corte na palma de sua mão. Estava ladeado por Nikabrik (um anão muito estranho), um lobisomem e uma bruxa com uma apavorante cara de pássaro. 

Mas o que me fez prender a respiração de completo pavor, foi para quem Caspian estava caminhando. 

No centro de um portal de pedras se encontrava uma coluna de gelo cristalino e dentro dele a razão dos meus piores pesadelos. A imagem da Feiticeira Branca aparecia dentro daquele bloco, e aparentava estar presa pelo próprio poder. 

_ Parem! - o grito de Pedro me despertou momentaneamente do meu desespero. 

Os três desembainharam suas espadas e investiram com os inimigos. Enquanto o moreno lutava contra o lobisomem e o loiro contra a bruxa, NCA travava uma luta contra seu próprio semelhante. 

Para minha surpresa, antes que eu pudesse fazer alguma coisa, Lúcia passou correndo por mim indo ao socorro de NCA que havia caído no chão. 

Confesso que naquele momento senti vergonha de mim mesma por estar parada e apavorada enquanto os outros lutavam para que Jadis não retornasse. Até mesmo a pequena menina.

_ Venha! Venha! - sua voz fina e de sintonia doce se propagou pelo lugar, me fazendo encarar a dona de meus pesadelos. 

Respirando fundo, desembainhei minha própria espada e corri em direção a grande coluna de gelo, me posicionando atrás da mesma. 

_ Fique longe dele! - gritou Pedro do outro lado e ouvi o barulho de algo caindo no chão. 

_ Pedro, querido. - aquela voz soou novamente - Que saudade! Venha, só uma gota. Sabe que não consegue sozinho. 

Naquele momento lembrei de todos que perderam suas vidas para acabar com o reinado de terror que ela criou. De cada batalha, de cada gota de sangue que derramamos pelo o que é certo. De cada lágrima que deixei rolar pelos que amei. 

Ed tem razão, está na hora de enfrentar e viver com as perdas. Viver a minha vida do jeito que ela é.

_ Isso acaba aqui! - sussurrei para mim mesma. 

Com toda força que tinha, levantei minha espada e perfurei a coluna de gelo, direto na barriga da feiticeira.

Mas parece que não fui a única a pensar em fazer isso, já que outra lâmina atravessou a coluna ao lado da minha.

O gelo simplesmente se despedaçou depois de um grito de fúria vindo de Jadis, e somente me encolhi nos braços de Edmundo que havia se posto em minha frente para nós proteger dos pedaços de gelo que caíam.

Eu me senti livre naquele momento. 

Livre como não me sentia há muito tempo.

Olhando para frente pude ver Pedro e Caspian, ambos com as espadas abaixadas e com expressões confusas.

_ Eu sei. - disse o moreno ao meu lado sério e um tanto irônico, encarando o irmão - Você estava ganhando.

Dito isso ele virou as costas e saiu sem olhar para trás. 

Encarei mais uma vez os dois meninos a minha frente e não conseguia deixar de pensar o que teria acontecido se não tivéssemos chegado a tempo. Provavelmente Jadis poderia estar entre nós novamente. Ou então Caspian teria conseguido vencer a tentação causada pela Feiticeira. 

Não importa qual seria o resultado, eu não sentia raiva ou decepção em relação a ele. Eu sei que às vezes não é fácil resistir ao poder dela. São poucos que conseguem de primeira. 

Suspirei entre cansada e feliz por termos vencido essa pequena batalha. 

Assim que vi Susana parada atrás da Mesa de Pedra, acenei com a cabeça para ela é me dirigi para o mesmo caminho feito pelo Rei mais novo minutos antes. 

(...)

Nem mesmo o ar fresco do lado de fora do forte me ajudou a me sentir melhor e pelo que via, não era a única a me sentir assim.

Edmundo destroçava um tronco de treino tamanha a raiva que parecia sentir. A cada golpe preciso de sua espada, um pedaço da madeira vinha abaixo. Devo admitir que ele era bom, são poucos os que vi lutar tão bem assim.

Aproximei-me e com a minha espada já empunhada, bloqueei um golpe que ele daria no já destruído tronco.

Ele deu um passo para trás pelo susto da súbita interrupção e me olhou sem entender o que eu estava fazendo.

_ Este pobre tronco não esta em condições de revidar seus ataques, Ed. – falei brincando, tentando aliviar o clima pelo o que tinha acontecido momentos antes – Vai. Mostre-me o que você sabe, Majestade.

_ Não vou lutar com você, Sam. – disse ele com um pequeno sorriso nascendo nos lábios – Não quero que se sinta humilhada por perder para mim. – completou entrando na brincadeira.

_ Veremos quem é que perdera. – comentei investindo rapidamente contra ele, sendo impedida não tão facilmente pelo moreno.

E em nenhum momento desde que começamos o nosso pequeno duelo, consegui tirar meu sorriso do rosto.