AELIN
No final do noite meu cabelo já estava uma droga e meus pés doíam, nem percebi quando deitei na cama ainda de vestido e peguei no sono. Graças aos céus sem pesadelos.
Quando acordei tomei um banho demorado aproveitando a quentura da água. As cenas dos pesadelos ainda me deixavam aterrorizada.
Olhei pela janela e vi pontos coloridos no chão, vários deles, nas mais variadas formas. Foi quando me lembrei, o circo!
Sai correndo do quarto e encontrei minha mãe no corredor, tínhamos combinados de sair e ver o circo que ia chegar hoje.
Ela me deu um beijo já testa e falou como eu tinha feito um bom trabalho com aquela flor ontem.
A Rainha Titania tinha chamado o circo para comemorar o aniversário do seu filho mais novo.
Quando chegamos lá fora, já havia várias pessoas andando para lá e para cá nas tendas, malabaristas fazendo seus números, contorcionistas e várias outras coisas estranhas de circo.
Eu particularmente não gosto de circo, ainda mais agora que minha vida tinha virado um! Que irônico.
Pararmos em uma barraca de bebidas e minha mãe começou a bater o pé impaciente.
-Olha que horas são!- Exclamou -Seu pai já deveria estar aqui, me espere que eu vou achá-lo.-
-Tudo bem, mamãe.-
Ela saiu batendo o pé e eu sabia que deveria estar muito brava com o meu pai, ela odiava quando alguém se atrasava.
-Caminha comigo novamente?- uma voz disse.
Dei um pulo para o lado.
-Que diabos...ah, é você alteza.- Fiz uma leve reverência.
-Caminha?- Ele repetiu.
-Estou esperando minha mãe.-
-Não se preocupe, acho que ela vai demorar.-
Eu não podia falar não para o príncipe então peguei sua mão.
-Isso é nojento.- Eu disse quando paramos em frente a um homem que estava colocando um jogo de facas inteiro dentro da boca.
-Venha.-
Ele me guiou até chegarmos a uma tenda azul marinho, acho que de todas as barracas essa era a mais desprovida de cor.
Uma mulher bonita com as maçãs do rosto bem esculpidas saiu de lá, usava também um chalé preto cobrindo o cabelo.
Ela sorriu e eu tremi. Seus dentes eram feitos de prata, todos com pontas bem afiadas.
-Veio ler seu futuro, príncipe?-
Ele deu de ombros.
-Estava entediado.- Respondeu mas eu podia sentir a sua tensão.
-O que temos aqui...- Ela começou andar na minha direção mas Jules entrou em sua frente.
-Deixe ela em paz.-
Ela farejou o príncipe.
-Sinto cheiro de morte.-
-Em mim?-
Ela desviou sua atenção do príncipe e olhou para mim.
-Premonições.-
Congelei, seu olhar negro despia minha alma sem pudor.
O príncipe abriu a boca mas ela o fez calar extendendo a mão. Ela fez o príncipe calar!
-Você está tendo premonições não está, criança?-
-Premonições?- Cerrei os dentes para evitar que tremessem.
-Os seus pesadelos irão ficar mais frequentes.-
Pesadelos? Como ela sabia dos pesadelos?
-Aelin, você está bem?- Jules perguntou. Não respondi.
-Como você sabe disso?- Perguntei encarando a mulher.
Ela sorriu e seus dentes brilharam.
-Eu sei de algumas coisas.-
-Certo, já chega.- Jules falou me arrastando dali.
Olhei para trás e a mulher ainda me seguia com o olhar e um sorriso macabro se formava em seu rosto.
Jules me carregou até um banco e me forçou a sentar.
-Ela mente, não fique abalada.- Ele falou passando a mão no cabelo.
Eu ainda tremia quando disse:
-Ela não está mentindo.-
-Conte-me.- Jules pediu.
E então eu contei.
-Isso é...-
-Estranho.- Terminei para ele.
-Eu jurava que você tinha escutado minha voz ontem.-
-Eu escutei, era como um eco, mas dava para saber que era você.-
-Isso é...-
-Estranho.-
Ele riu.
-Eu sei que isso é loucura, mas eu vou tentar falar com você, e então você me diz se escutou.-
Eu esperei alguns minutos franzindo o cenho enquanto ele me encarava.
-Não escutou?-
-Nada.-
Ele bufou.
-Quer andar a cavalo?-
Ergui a sobrancelha.
-Não sabia que você tinha tanto tempo assim.-
-Tenho o dia de folga, hoje é aniversário do Jorge então posso fazer o que quiser.-
-Isso parece bom.-
Ele sorriu calorosamente para mim.
-É ótimo.-
PRÍNCIPE
Eu sabia que não era uma boa ideia levar ela junto comigo para aquela feiticeira, mas eu precisava saber o porque dessa guerra idiota está se formando, e como eu podia pará-la.
Aelin me contou sobre seus pesadelos estranhos...e o que a feiticeira falou sobre premonições, bem, não era uma coisa agradável.
Ela galopava ao meu lado, o sol da tarde iluminado seu rosto.
Foi quando eu senti uma dor forte na cabeça, quase perdi o controle das rédeas mas consegui me segurar, joguei meu corpo para frente tentando conseguir equilíbrio, meus pés escorregaram dos estribos e eu cai no chão. A dor na minha cabeça estava tão forte que tive que fechar os olhos e me encolher como uma bola.
Alguém se ajoelhou ao meu lado.
-Jules? Jules? Você está me ouvindo?! Céus, você está suando!-
Tinha um pouco de noção que era Aelin falando comigo, ela começou a arrancar minha blusa e checar meu pulso.
De repente abri meus olhos, não estava mais no chão, estava de pé em cima de uma ponte coberta de fuligem e sujeira, tudo estava escuro, o que eu conseguia ver era floresta e escutar um bater de asas.
Dois olhos negros iluminaram a escuridão, olhos redondos e estranhos. Comecei a correr para o outro lado da ponte, mas o bater de asas começou a ser mais perto e frenético, olhei para trás e milhares de corvos pretos como a noite estavam vindo para mim.
Tropecei e cai no chão, xingando enquanto tentava me levantar, e então senti a primeira bicada na minhas costas, o sangue fluía como um rio e já estava encharcando a minha camisa. Não tinha tempo para pensar na dor, tudo que eu tinha que fazer era atravessar a ponte, lá, algo me dizia que estaria seguro.
Porém outras bicadas vinheram, e outras, e outras, até quando minhas pernas não aguentaram mais e cederam, a última visão que eu tive foi um mar de corvos perfurando minha carne.
AELIN
Não sei se a parte mais difícil foi chamar alguém, ou ficar esperando ele acordar.
Se eu não tivesse visto ele passar mal podia afirmar que ele estava dormindo agora, e não desmaiado.
Sua mãe fez uma visita rápida e se certificou que ele estaria bem quando acordasse. Eu falei que iria ficar aqui por mais um tempo.
Coloquei minha mão na dele e tirei seu cabelo do rosto com a mão livre.
-Jules, estou aqui.-
Continuei passando a mão em suas mechas sedosas até que ele apertou meus dedos e abriu os olhos, eles pareciam alucinados e assustados.
Ele apertou a minha mão com mais força e me puxou para um abraço.
-Foi horrível.- Ele sussurrou rouco.
-O que foi horrível, querido?-
-O pesadelo.-
-Shhh, está tudo bem agora.-
-Não, você não entende, era real, tão real.-
Ele olhou para mim e eu engoli em seco.
-Como foi?.-
-Eu morria.-
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