Lá estava eu voando atrapalhadamente, como sempre, dentre a vegetação colorida do reino das fadas. Eu me apressava para ninguém me ver por ali, pois com certeza iriam me encher de sermões por eu ainda não saber como usar minhas asas adequadamente.
Mesmo eu já sendo quase adulta, eu disse quase, eu ainda não consigo voar sem sair batendo em algumas coisas pelo caminho. As outras fadas me chamam de Desastre, mas meu verdadeiro nome é S/n.
Bufo enquanto me desvio de uma mariposa sem direção, ela chega até se parecer um pouco comigo na forma como voa. Eu ri do meu próprio desespero e continuei seguindo até a o Canto das folhas altas. Nós chamamos aquele lugar assim por possuir folhas tão altas quanto no reino dos humanos, eu adoro passar o tempo por lá exatamente por ter uma característica que lembre o mundo humano, o lugar ao qual eu desejo ir.
Eu sou proibida de ir até o Canto das folhas altas voando, mas sempre desobedeço as regras já que lá é longe de onde eu moro e eu não sou muito acostumada a usar minhas pernas por muito tempo.
- Você veio voando? - escuto alguém me perguntar assim que aterrisso em uma folha e arregalo os olhos.
- Eu? - pergunto me virando e vendo Nayeon em minha frente com um sorriso, suspirei aliviada – Você me assustou.
- Tome cuidado S/n, não deixe as fadas anciãs saberem que você anda voando por aí sem elas permitirem. - ela riu enquanto se sentava ao meu lado na folha – O que veio fazer aqui?
- Vim pensar. - respondo.
- Veio tão longe só para isso? - ela riu e atrapalhou meus cabelos – Conte-me outra.
- Certo. - suspiro – Vim porque dizem que esse lugar se parece um pouco com o mundo humano, com o reino deles.
- Sempre soube que você tem uma queda pelo reino humano. - ela diz – Mas é perigoso para uma fada gostar tanto disso.
- Por que?- pergunto.
- Aposto que pensa em ir para lá. - ela olha para mim – Estou certa?
- Está. - admito cabisbaixa – Desde criança eu sonho em ir para o reino humano e…
- E … o que? - Nayeon pergunta curiosa.
- Promete não contar para ninguém?- peço a olhando seriamente.
- Sim. - ela sorriu para mim – Sabe que pode confiar em mim.
- Eu quero me tornar humana. - solto de uma vez e Nayeon arregala os olhos surpresa.
- Isso é loucura!- ela se levanta da folha fazendo a mesma balançar e quase que eu vou ao chão com desequilíbrio.
- É apenas algo que eu quero para mim. - repondo me levantando também – Mas eu não sei se é possível que eu me torne humana.
- Olhe… - ela suspira frustrada- Eu odeio essa ideia, mas eu sei como é desejar ser algo que não é.
- Como assim? - pergunto.
- Eu também me sinto deslocada às vezes. - ela diz – Não que eu queira ser humana, mas eu sei o que é não querer ser fada.
- Obrigada por me escutar. - a abraço e sou correspondida.
- Por nada. - ela parecia pensar em algo – Estou pensando se é uma boa ideia.
- O que? - arqueio as sobrancelhas.
- Eu conheço alguém … - ela me olha nos olhos – Que sabe como te tornar uma humana.
- Sério? - me empolgo e pulo fazendo a folha balançar quase derrubando nós duas.
- Sim. - Nayeon ri – Mas pense direito nisso, é muito arriscado.
- Irei pensar. - digo esticando minhas asas para alçar voo.
- Até mais, S/n. - Nayeon se despede de mim.
- Até mais Im Nayeon. - rio e saio voando desengonçada arrancando o polem prematuro de algumas plantas.
Chego em casa sem maiores problemas e encontro Momo cozinhando pasta de aspargos para nós. Aspiro aquele cheirinho divino e começo a salivar na mesma hora, a fada sente minha presença e ri já prevendo que eu esteja completamente faminta por sua comida.
- Onde estava? - pergunta já tendo um palpite.
- Canto das folhas altas. - respondo me sentando na mesa despreocupada e ela bufa decepcionada comigo.
- Quando vai mudar o jeito irresponsável? Hum? - me questiona enquanto continua mexendo a pasta com uma colher de pau.
- Quando for necessário … talvez. - eu ri achando graça da expressão de minha irmã.
- Eu ainda vou te bater com essa colher até você tomar jeito. - ela diz mas logo cai na risada também.
- Eu me encontrei com Nayeon. - digo e ela olha para mim.
- Conversaram sobre o que? - pergunta.
- Sobre o mundo humano. - pego um pedaço de pão que estava em cima da mesa e o como – E sobre como se transformar em humano.
- Como se transformar? - ela ri – Eu já ouvi falar sobre isso, mas não acho que seja possível.
- Nayeon diz que conhece alguém que sabe como o fazer. - digo e Momo olha para mim desanimada.
- Eu soube que envolve sangue. - Momo solta – Envolve sangue da família real do reino humano e é algo muito complicado.
- Deve ser fácil pegar um pouco de sangue da família real. - digo dando de ombros comendo mais um pedaço do pão – Nada muito complicado como você diz, maninha.
- Mas até onde eu sei, não pode simplesmente pegar. - ela riu – Parece que alguém da família real tem que te dar o próprio sangue de bom grado, e isso não costuma acontecer.
- Mas se for possível eu tento. - fecho meus punhos em sinal de determinação e minha irmã nega com a cabeça.
- Ainda me pergunto como fomos nascer na mesma família. - ela apagou as chamas que cozinhavam a pasta em seguida colocando a tigela com cuidado sobre a mesa.
- Esse cheiro ainda me mata. - digo enquanto vou com um dedo para experimentar porém Momo bate em minha mão afastando.
- Tem que esperar esfriar. - ela riu – Desastrada.
- O que seria de mim sem você? - pego o resto do pão que eu estava comendo e passo um pouco da pasta me deliciando logo em seguida – Espero que no mundo humano tenha aspargos.
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