Havia quase um mês que estávamos na cidade protegida e tudo estava tranquilo, Jeff ficou bom no arco o que me fez sentir orgulho do meu gigante, eu, ele e Carl as vezes andávamos perto dos muros conversando, mas sempre atentos.
Ambos tinham feito amizades com o pessoal da minha idade, mas eu não consegui me aproximar, depois do Sander a única pessoa que deixei se aproximar de mim foi o Jeff, me sentei no balanço da varanda colocando minha besta ao meu lado.
- Ei, pequena Harley. - ouvi a voz do Heitor e olhei para a pequena escada vendo-o com uma caixa na mão - Sei que demorei, mas acho que você vai gostar.
- Do que? - perguntei ficando na posição de índio.
- Abre. - falou me entregando a caixa e o encarei - Não tem barata ou qualquer merda que eu colocada nas caixas pra te assustar.
- Tem certeza? - perguntei e ele sorriu.
- Abra, depois me procura para agradecer. - falou descendo a escada de novo - Boa tarde.
Andou até o portão serio e ri, ele não era esse homem rígido, que só sabe gritar ou que enfrenta os outros, lembro de quando ele cuidava de mim, ele me deixava ver tv até tarde e me deixava ficar jogando video game enquanto ele ia pras festas escondido da mãe.
Tirei a tampa da caixa e vi um livro, alguns objetos, um ursinho todo sujo e tinha uma flor seca, olhei para Heitor que já estava brigando com alguém e voltei a olhar para a caixa, aquelas coisas eram minhas, tudo ali dentro fez parte da minha vida antes do mundo virar essa zona.
O ursinho ganhei do tio Merle quando meu primeiro dente caiu, a rosa ganhei do próprio Heitor quando menti para sua mãe dizendo ele tinha passado a noite cuidando de mim que estava passando mal e na verdade eu passei a noite em um sofá velho enquanto ele se agarrava com uma garota.
Sorri ao ver o chaveiro da minha mãe, ver as bolinhas que eu deixava no chão e ela sempre caia ao pisar em cima delas, tinha mais algumas coisas que me faziam lembrar e peguei o livro colocando a caixa ao meu lado em cima da minha besta.
Tirei a poeira da capa e sorri ao ver o título "photos", abri o mesmo vendo que no verso da capa tinha algumas coisas escritas e preferi deixar a leitura para o final, na primeira página era uma foto da minha mãe ainda na maternidade comigo no colo e meu pai ao seu lado com seu rosto sério.
Fui passando e ali estava quase todas as fotos desde que eu era bebê até a oito anos atrás, tinha fotos minhas nas festinhas escolares, eu no colo do Heitor e ri ao ver como ele era magrelo e agora está todo musculoso, a última foto do álbum era uma minha com a minha mãe e estávamos fazendo careta.
Aquela foi a nossa última foto juntas, duas semanas antes do mundo acabar, passei meu dedo por cima da foto precisamente pelo rosto da minha mãe e senti as lágrimas caírem, voltei para o início e vi todas aquelas fotos novamente e voltei outra vez, agora para ler o que estava escrito no verso.
"Hoje faz uma semana desde a sua chegada, pela primeira vez em muito tempo eu e seu pai nos entendemos. Estou criando esse álbum para que no futuro você possa ver os momentos mais felizes e estranhos que você viveu minha pequena. Lembre-se que a mamãe te ama."
"Papai te ama pequena Dixon."
Tinha mais algumas coisas escrita, mas depois do pequena Dixon eu coloquei o álbum de volta na caixa e abracei meus joelhos controlando as lágrimas aos poucos e dei um sorriso, ajeitei tudo dentro da caixa e a fechei pegando-a junto com minha besta.
Empurrei a porta com meu pé e entrei em casa, fui para o meu quarto, coloquei minha besta na cadeira e a caixa em cima da minha cama, peguei um envelope que estava dentro dela e tirei de dentro um bilhete de aniversário, peguei a última foto que tinham tirado minha com ele e coloquei dentro do envelope.
Fechei a caixa colocando-a em baixo da minha cama, peguei o envelope, minha besta e fui em direção ao seu quarto, ele não estava lá então desci vendo que não tinha ninguém na sala e ele também não estava na varanda, ouvi a voz da Carol e quando me aproximei da porta vi Daryl apoiado na porta dos fundos.
- Ela se adaptou rápido, ajuda bastante na cozinha e está tentando se soltar mais, se aproximar do resto do grupo. - ela falou e me escondi atrás da porta - É uma boa garota, nem parece ser sua filha, o jeito fechado dela é todo seu, o jeito meio marrento também é seu, mas o resto não.
- Puxou da Becky. - falou - Ela era muito calma, mas virava uma fera.
- Por que vocês se separaram? - perguntou.
- Única coisa séria que teve entre a gente foi a Emily. - falou com um sorriso fraco - Foi caso de uma ou algumas noites.
- Ela fazia amizades rápido, também? - perguntou.
- Por que? - ele perguntou.
- Ela foi a única que conseguiu fazer amizade com o Heitor. - falou e eu olhei para o envelope em minha mão - Ele lhe entregou um presente hoje cedo, parecem bem íntimos.
- Eles não estão juntos. - falou sério.
- Sua garotinha cresceu Daryl. - ela falou e ouvi sua risada.
- Você não a conhece Carol. - falou - Não conheceu a Becky.
- Por que você não me fala sobre antes? - perguntou - Você sabe tudo sobre mim, mas não deixa eu saber sobre você.
- Você só precisa saber o necessário. - falou e vi ela se aproximar dele.
- Seja você pelo mesmo uma vez só, não seja sempre o Dixon. - falou segurando em seus ombros.
- Não quero que ela fique como a Becky. - falou e o olhei - Ela fazia as coisas no impulso, a Emily também faz, é isso... Isso pode machucá-la.
- Ela é grandinha Daryl. - falou - Sabe se defender sozinha.
- Nem sempre ela vai estar segura. - falou - Isso me preocupa.
- Converse com ela. - falou - Talvez com vocês conversando, colocando as cartas na mesa se entendem.
- Ela é cabeça dura como eu. - falou e eu concordei.
- Não custa nada tentar. - falei entrando na cozinha fazendo os dois me olharem e lhe entreguei o envelope - Acho que vai gostar.
Sai da cozinha deixando os dois sozinhos e sai da casa, vi o Heitor falando com uns homens e acenei pra ele que sorriu, minhas tarefas de hoje eu já tinha terminado e estava com a tarde livre, fui até a enfermaria e vi o Jeff com a Lou no colo enquanto colocava os comprimidos nos vidros certos.
- Posso entrar? - perguntei colocando a besta apoiada na porta e ele concordou - Eu fico com ela.
- Obrigado. - falou dando-a para mim.
- Então, vamos treinar hoje? - perguntei.
- Quando eu terminar. - falou e me sentei ao seu lado - Não estou gostando disso.
- Do que? - perguntei confusa.
- Você está com o Carl, não pode sair por ai dando mole proa outros. - falou sem me olhar - Principalmente para um cara mais velho do que você, isso está errado.
- Eu não estou dando mole pra ninguém. - falei olhando-o - É por causa do Heitor?
- Ele trata todo mundo mal. - falou - A única pessoa que ele trata bem em toda a comunidade é você.
- Você está com ciúmes? - perguntei sorrindo - Jeff!
- Não é ciúmes, só quero proteger minha irmãzinha. - falou e dessa vez me olhou - Que no caso é você, pois as outras são pequenas ainda.
- Eu e o Heitor não temos nada. - falei.
- Então ele quer ter. - falou - Os sorrisos dele pra você.
- Não é carinho de quem quer ter alguma coisa comigo. - falei pegando sua mão - É carinho de quem quer proteger.
- Tem muitas pessoas que querem te proteger e não dão esses sorrisos. - falou me fazendo rir.
- Lembra que uma vez eu falei pra você que e... - fui interrompida.
- Menino, já separou os remédios? - ouvi a voz do Richard que me olhou - Olá Lily.
- Olá. - falei tímida.
- Separei sim, precisa de mais alguma ajuda? - Jeff perguntou.
- Por hoje não. - falou - Te vejo amanhã.
- Até amanhã. - falou e se levantou pegando Lou no colo - Vamos Lily!
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