Você sabe como identificar uma situação séria? Simples, se a Lisa te olhar de maneira profunda com certa preocupação e uma seriedade que ela quase nunca usa... Sinto lhe informar, mas a porra tá séria!
- Pelo amor de deus, não me olha assim, eu já estou ficando assustada! – Implorei a pequena loira a minha frente, que nem se abalou e continuou a me encarar de forma fria – O que eu fiz de errado?
- Nada, você não fez nada. – Ela falou fria, bem diferente da minha calorosa amiga zoeira.
- Então por que está agindo assim comigo? Fria? – Eu perguntava confusa, afinal, qual era o problema?
- Elise Bussie, onde. Você. Estava? – Perguntou pausadamente, daquela mesma maneira que a Ana perguntava quando estava irritada, mas diferente da mãe, Lisa não agia com fúria e era isso que me dava medo, sua calma sobre humana.
Respirei fundo e comecei a contar.
- Quando acordei hoje, recebi uma mensagem de Franco marcando um encontro comigo.
- Depois de sete anos seu pai resolveu dar as caras? – Lisa revirou os olhos em descrença.
- Sim, mas ele não foi ao meu encontro, em vez disso, quando cheguei lá dei de cara com Camile. – Suspirei ao lembrar da nossa conversa.
- Sua irmã gostosa?
- Exato. Nós conversamos por uma longa hora, vimos coisas que éramos parecidas, outras nem tanto... Você deveria ver a cara que ela fez quando eu fiz o meu pedido. – Sorri ao lembrar do espanto da morena.
- Imagino o espanto dela, até hoje não sei como você consegue comer tanto, chega a ser sobre humano essa sua habilidade! – Rimos. Ótimo, o clima está ficando menos tenso.
- Ela até que legal, mas o clima entre a gente mudou drasticamente quando ela falou que queria me ajudar. – Balancei a cabeça ao me lembrar da proposta “tentadora” da minha irmã.
- Como ela queria te ajudar? – A loira perguntou e tomou um gole do seu café fumegante, Como ela não se queima?
- Disse que se eu a ajudasse ela me protegeria e eu talvez não fosse presa.
- Tentadora a proposta. – Sorriu – Mas deixe-me adivinhar, você negou dizendo que nunca faria uma filha da putagem dessas com seus amigos.
- Claro, não sou vocês.
- EI! – Lisa me olhou indignada – Eu nunca fiz uma coisa dessas com você!
- Tenho que te lembrar do tiro que você me deu, mesmo não sendo uma bala, meu pescoço dói até hoje! – Rebati.
- Dá próxima vez eu acerto uma bala de verdade!
- Você já fez isso. – Apontei para o meu braço, onde a cicatriz do tiro que ela me deu era bem visível.
- Eita, é mesmo. – Ela sorriu, Essa garota é bipolar, misericórdia – Mas, continue.
- Depois disso eu sai... Não sem antes terminar de comer.
- Claro.
- E quando estava saindo recebi outra mensagem misteriosa... POR QUE VOCÊS NÃO ME FALARAM DA ANNA? – Gritei e a anta só fez rir da minha cara – Não ri sua pateta!
- Desculpa, mas você reencontrou a trevosa? - Perguntou e eu afirmei com a cabeça - Então deixe-me adivinhar novamente, ela chegou por trás te assustando e fez questão de dizer que ela é a nossa Cavaleira?
- Basicamente. – Bufei – E depois disso ela me revelou todas as posições.
- ADRIAN, A ANNA MAL CHEGOU E JÁ TÁ FAZENDO MERDA! – Tampei os ouvidos quando a Lisa gritou.
Estávamos sentadas no degrau da área nos fundos da casa. Já era noite e a brisa fria da praia nos obrigou a pegar um cobertor e duas xicaras fumegantes de café. Praticamente grudadas, conversávamos animadamente até que a Lisa ficou séria do nada e iniciamos esse assunto.
- Você ainda me deixa surda, sua retardada.
- Que porra é essa aqui? – Uma voz bem conhecida por mim, perguntou um pouco irritada e eu diria até um pouco enciumada.
- Baixa a bola ai ruiva, só estamos conversando! – Lisa respondeu por mim e deu um sorriso debochado.
Era engraçado ver essas duas discutindo, porque na maioria das vezes o assunto era sempre o mesmo: eu. Na mente delas, elas eram minhas melhores amigas/irmãs – o que não é mentira –, mas elas não se contentavam em dividir, todas duas buscavam esse título e isso sempre resultava em brigas que acabavam sobrando para mim, E como uma pessoa inteligente, eu sempre sabia que aquela era a hora da minha retirada estratégica.
- Você sabe que eu posso te matar com um movimento. – Rachel ameaçou e começou a se aproximar, senti a loira ao meu lado agarrar o meu braço e tive vontade de rir dela.
- Você sabe que a Lise pode me defender com um movimento, não sabe? – Lisa provocou a ruiva, que trincou os dentes e eu já sabia que isso ia da merda.
- Eu vou... – Rachel começou, mas eu a interrompi. Crianças.
- Antes que comecem a discutir por besteira como duas crianças que não sabem dividir o doce favorito, eu amo as duas, as duas são minhas irmãs... E eu sei que sou diva, mas meu coração cabe todas. – Disse séria, e depois de um tempo em silêncio as duas caíram na gargalhada. Vadias.
- Você não é tudo isso. – Lisa falou ainda sem folego.
- Nem parece, já que vocês brigam o tempo todo por mim. – Rachel bufou – E vem aqui minha vadia favorita, vamos conversar. – Levantei o outro lado da coberta, fazendo sinal com a cabeça pra ela se aproximar. Ela revirou os olhos, mas não hesitou em se aproximar e se aninhar ao meu lado.
- Ela é a sua favorita? – Lisa perguntou fazendo beicinho e eu ri.
- Vocês duas, suas antas! – Afirmei e elas me abraçaram de lado – Eu sei que vocês me amam demais.
- Idiota. – As duas falaram juntas.
- Sobre o que conversavam? – A ruiva finalmente perguntou.
- Anna. – Informei.
- Hmmm, encontrou a trevosa?
- Até você? Está convivendo demais com a Lisa. – Ri e senti um tapa forte no meu ombro – Ouch!
- Cala a boca. – Lisa mandou, mas logo ela se contradisse – Sobre o que conversaram?
- Xadrez.
“- Okay, então você é um Cavalo? – Perguntei querendo ter certeza.
- Yep. – Ela sorriu e bebeu mais um gole da sua cerveja – Achei que a Adrian tivesse te falado logo de cara sobre as nossas posições... Ah, não pera. – Ela parou e parecia pensar em algo – Adrian adora fazer suspense, sinceramente eu não sei o que ela espera com isso... Estar em um livro...? Pera, mas ela tá! – Riu. Sinceramente eu já estava começando a achar que ela estava meio bêbada.
- Sim, Adrian adora fazer suspense... Eu acho que acabei pegando essa mania dela. – Sorri ao lembrar da minha conversa com a Camile... Será que ela já descobriu quem é Alexy?
- Acho que você já deve saber, Adrian é a nossa Rainha.
- Eu já havia pensado nisso, é o que mais se encaixa nela. – Meneei a cabeça.
Adrian é nossa Rainha:
Um número ilimitado de quadrados desocupados e em qualquer direção. A rainha é a peça mais poderosa do jogo.
- Deixe-me adivinhar, você não sabe quem são os outros?
- Não, mas como sei que você é uma pessoa direta desde antigamente, você não vai me esconder, certo? – Sorri de lado e ela concordou freneticamente com a cabeça. Para uma assassina, ela está bem à vontade.
- Acho até bom você ficar sabendo logo, sinceramente nunca entendi por que parece que estamos jogando xadrez, por que simplesmente não matamos logo os outros sem nos importar? – Sim, com certeza ela está bem bêbada.
- Isso é mais seguro para todos, para jogar xadrez você tem que ser extremamente calculista, como nós temos que ser agora. Se nossas peças forem capturadas, isso significaria a morte. – Abaixei minha cabeça. Isso era terrível para todos os dois lados, no final, os dois teriam perdas.
- Sim pode ser. – Riu para o nada, Será que ela já estava bebendo antes de eu chegar? – Adrian é a Rainha e como máscara ela tem um lobo... Acho que você sabe o motivo.
- Claro. – Sorri ao me lembrar do apelido que dei a ela anos atrás.
- Eu sou um Cavalo e uso a máscara de morcego.
- Acho que eu imagino o porquê. – Gargalhei – Você é a nossa Batgirl, nosso ser silencioso da noite. – Rimos. Eu não posso mais negar, senti falta de ter minha velha amiga ao meu lado, mesmo depois da merda que ela fez, crescemos juntas e isso não é algo que eu posso simplesmente ignorar.
- Sim, eu sou a mais foda. – Ela jogou o cabelo pro lado e acabou batendo em uma mulher que passava, mas em vez de pedir desculpas, ela só ficou rindo.
- Eu sei que a Luna é um Bispo, mas já que ela nunca sai do quarto ela não usa máscara, certo?
- Errado, Luna nunca sai do quarto, mas Adrian não queria que ela fosse diferente, então a aleijadinha usa uma máscara de águia.
- Por que uma águia?
- Luna é incrivelmente rápida, do modo dela é claro, e além do mais a visão dela sobre o nosso “tabuleiro” é sempre a melhor. – Então quer dizer que até as máscaras tem significado?
- Quem é o outro Cavalo? – Bebi mais um gole da minha primeira cerveja, enquanto Anna já estava em sua quarta.
- Rachel, a braço direito da Adrian. – Quando ouvi aquilo, quase cuspi a minha cerveja.
- Rachel?! Achei que fosse a Luna ou o tal do Caleb! – Rachel e Adrian? WHAT?!
- Rachel assim como eu é uma das mais rápidas, nós garantimos a segurança da missão. Eu sei que é idiotice, até porque você é uma gênia, mas está acompanhando? – Concordei com a cabeça e ela sorriu.
Rachel é um Cavalo:
Na forma de "L", dois quadrados em qualquer direção, uma volta de 90 graus e mais um quadrado. O cavalo é a peça estranha do jogo. Os cavalos também são as únicas peças que podem pular outras peças.
- Acho que já sabe o porquê aquela ruiva usa máscara de dragão, certo?
- A personalidade, Rachel pode ser tão brava quanto um, além ser quente como o inferno... Não no sentido sexual.
- Eu sei, mas não sei se lembra que nas histórias o dragão sempre é aquele que está guardando a torre em que a princesa está.
- E o que isso tem haver? – Ergui uma sobrancelha.
- Rachel é como se fosse nossa guardiã, e agora ela tem duas princesas que precisam ser protegidas. – Sorrimos ao lembrar da pequena e da jovem Minster.
- Lily e Luna, aposto que elas estão em boas mãos. – Anna concordou com a cabeça.
- Continuando, assim como Luna, Angelo também é um Bispo. Adrian o conheceu logo após descobrir sobre o estado de Luna e a doença do Martin. Angelo era um médico que foi incriminado por usar substancias que são proibidas, mas na verdade ele nunca usou, o irmão invejoso dele armou tudo e o pobre loiro levou a culpa, incrivelmente, Adrian foi a única que acreditou nele e como retribuição por ser salvo e ter pessoas que finalmente acreditassem nele, Angelo se tornou nosso médico particular e nosso Bispo.
Angelo é um Bispo:
Um número ilimitado de quadrados desocupados, mas apenas diagonalmente.
- Acho que já percebeu que como o mais velho, ele é o mais sábio.
- Ele é o mais velho?
- Sim, ele tem trinta e um anos. – Eu fiquei espantada e Anna riu – Sim eu sei, não parece, ele é meu crush. – Piscou um olho e sorriu marota – Por causa de suas qualidades ele é nossa coruja, nosso sábio.
- Entendo.
- Caleb, prepotente e orgulhoso como só ele, é nosso leão mais acima de tudo, nossa Torre.
Caleb é uma Torre:
Um número ilimitado de quadrados desocupados, mas apenas para frente, para trás ou para os lados.
- Ele é nosso reforço em campo, já Nick com sua máscara de tigre branco é nosso reforço fora dele, ele que garante nossa fuga.
- Então tudo tem seu significado?
- Estamos falando de Adrian Minster, claro que tem chefinha. – Ela riu debochada.
- Não sou sua chefe! – Revirei os olhos.
- Claro que é, você é quase esposa da chefe. – Ela riu.
- Não vou discutir com uma bêbada!
- Não estou bêbada, só levemente alterada. – Disse com convicção.
- Okay, mas... e o Martin?
- Hmmm, ele é um Peão assim como você, e assim como você começou uma merda!
Eu não era tão ruim assim... Não, espera... Eu era sim.
- Depois que descobriu a doença ele percebeu que era um pouco mais limitado que nos, ele demorou um pouco para aprender a usar armas de fogo mais pesadas e em luta ele era horrível, por outro lado Rachel sempre era perfeita nos treinamentos o que acabava frustrando nosso jovem loiro... Falando nisso, você percebeu que a maioria de nós é loiro? – Ela mudou completamente de assunto no momento em que eu estava ficando mais curiosa, Conversar um assunto sério com bêbado é foda!
- Sim Anna, eu percebi, agora foca no assunto!
- Okay... Martin foi o último de nós a realmente ajudar em algo, até eu que era a odiada era mais útil que ele! Mas então descobrimos sobre você estar no meio de uma guerra no Oriente Médio, aquilo foi o que bastou para ele percebe que se até você conseguia ser foda ele também conseguiria!
- Que máscara Martin usa?
- Cavalo, Martin assim como um vistoso cavalo é muito rápido e leal a quem está no comando.
- Caralho, é muita informação para uma conversa! – Massageei minha têmpora.
- Eu imagino, por isso fiquei bêbada para te explicar isso. – Gargalhou.
- Como vai voltar pra casa sua idiota?
- Eu chamo um taxi, sem problema.”
- ADRIAN, ANNA MAL CHEGOU E JÁ TÁ ESTRAGANDO O SUSPENSE DA HISTÓRIA! – Não, essa não foi a Lisa, foi a Rachel mesmo.
Puta que pariu, esse povo é escandaloso demais!
- É oficial, vocês estão passando muito tempo juntas!
- Cala a boca Bussie, você nos ama. – Lisa retrucou.
- Vai sonhando. – Revirei os olhos e encarei o mar, mas logo uma dúvida me surgiu – Lisa, o que você é?
- Não é óbvio? Não sobrou mais peças, as únicas que sobraram são Peões, eu, você, Robert e Martin somos Peões.
- Que máscara eu vou usar, Rachel?
- Eu não sei, Adrian faz mistério sobre isso faz tempo! – Bufou – Essa sua namoradinha tem que parar de assistir filme de ação.
- Até eu concordo com isso. – Balancei a cabeça para frente e para trás, afirmando.
- Até na parte da namoradinha? – Lisa não podia perder a chance de provocar.
- Vai se lascar Sicker.
E como sempre as duas idiotas riram.
Mesmo que eu resmungasse e sempre estivesse xingando elas, não podia negar que aquelas duas eram minhas melhores amigas, o laço que existe entre mim, Rachel e Lisa é muito lindo – sem me esquecer da Luna, é claro. As duas representam partes diferentes da minha vida e admito que não viveria sem nenhuma das duas.
Um grande motivo para completar minha felicidade foi eu fazer as pazes com a Anna, eu a odiava e depois de um simples diálogo, pude perceber o quanto as pessoas podem evoluir e mudar seus pensamentos... Mesmo que de uma forma meio sombria como ela faz.
Pude notar também o peso das palavras de Angelo. Ele em parte, entendia o meu sentimento sobre traição, a diferença é que no caso dele, ele realmente foi traído e de uma forma cruel por uma pessoa que ele tanto considerava. Ele entendia o meu pensamento, por isso o conselho e a forma carinhosa como ele me olhava, que só agora eu entendia que era compreensão.
Caleb era a imagem do orgulho, mas ama seus companheiros a sua maneira, por mais estranha que ela seja. Nick sempre esteve aqui e sempre foi o pilar de Adrian, junto com a Luna, e a loira mesmo não falando é incrivelmente grata a eles, sei disso porque com a nossa convivência, aprendi a decifra-la sem nem mesmo notar.
Ficamos conversando por um longo tempo até ouvirmos a porta atrás de nós se abrir.
- Mamãe, tia Andy mandou todas vocês irem para a sala. – Lily avisou, correu até nós e abraçou cada uma, dando atenção especial a sua mãe, óbvio – Boa noite. – Ela já ia entrando novamente quando se virou e falou – Ah, ela falou algo sobre as peças brancas estão se movendo.
E o jogo começou.
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