Tempo Atual...
Sabe quando você faz algo errado e a culpa começa a te consumir, mas é tão errado que você não pode falar a ninguém? Bom, eu acho que a Adrian está passando por isso agora! Definitivamente essa não é a Adrian Minster que eu conheço!
Estávamos todos - com exceção da Luna, claro - reunidos em uma conveniência vinte e quatro horas, e a Adrian estava calada fazia dez minutos. Diferente dos momentos anteriores eu percebi que ela não estava querendo fazer suspense sobre nada, ela só não sabia o que falar, Ou talvez não quisesse, o que era bem mais plausível.
Anna, Caleb, Robert e Ângelo estavam sentados em uma mesa conversando sobre um jogo de basquete, já que os quatro, curiosamente, torciam para o mesmo time. Rachel estava ao lado de Adrian e as duas pareciam discutir sobre algo, que não dava para entender já que elas falavam baixo, só dava para saber que elas brigavam, porque a Rachel estava mais vermelha que os próprios cabelos. Já Lisa, tagarelava sobre algo que eu não me dei nem ao trabalho de saber o que era, já que estava mais concentrada em ver a interação da ruiva e a loira. A Adrian por mais calma que pareça, vai acabar dando um soco na Rachel.
- ELISE!! – Lisa gritou, finalmente chamando a minha atenção e de todos que estavam no lugar – Você não estava escutando, vadia?
- Não Lisa, desculpe. – Suspirei – Sobre o que falava?
- Se eu começar a falar agora você vai prestar atenção? – Ela perguntou em tom de divertimento.
- Provavelmente não! – Sorri – Estou querendo saber é sobre o que tanto aquelas duas falam. – Revelei.
- Provavelmente a Minster fez merda e a menstruação está dando uma bronca nela. – Revirou os olhos.
- Acho que não. – Acabei “pensando alto” e a Lisa me olhou confusa – Pelo que eu vi, Rachel está tentando fazer com que a Adrian fale, já está não parece estar disposta a falar ou dar qualquer pista sobre para onde os mandou de verdade.
- Você é psicóloga? – Perguntou zombeteira.
- Não, apenas observadora.
- Mas espera. – Ela colocou a mão em baixo do queixo, como se estivesse pensando – Adrian já disse que eles foram investigar Diane e Matt.
- Adrian sempre omite fatos, eu sei bem disso. – Disse um pouco rancorosa – Acho que tem algo que ela não falou pra gente, na verdade, acho que ela não falou nem para Nick e Martin, talvez por isso ela esteja com essa cara de quem fez merda, isso é... arrependimento, talvez?
- Você está divagando. – Lisa avisou.
- Eu vou lá para fora... respirar um pouco. – E antes que ela pudesse falar algo, eu sai.
Não havia muitos lugares que eu poderia ir àquela hora – a menos é claro, que fosse uma daquelas festas que vão até de manhã e que nesse horário todos já estão bêbados.
Eram duas e quarenta e cinco de uma madrugada até que bem movimentada, já que essa cidade parece não dormir, Sendo bem contraditória, eu sei. A lua cheia mostrava toda a sua beleza mesmo que poucos fossem os que parecem para admira-la. Por um momento eu sorri ao me lembrar que eu sempre era uma dessas poucos pessoas desde pequena, já que até mesmo no orfanato eu sempre ia ao terraço em várias das minhas noites de insônia e algumas dessas noites eu era acompanhada pela ruiva chorona.
Me sentei no meio fio com uma latinha de refrigerante em uma mão e na outra meu celular, por onde eu continuava a trocar mensagens com a Luna sobre as desconfianças dela com a irmã. Luna assim como eu e a Rachel, sabia que a Adrian estava escondendo algo importante, e também desconfiava que os riscos que Martin e Nick corriam eram muito maiores do que eles próprios sabiam.
- Você sempre teve essa mania de ficar observando tudo a sua volta? – Aquela voz rouca bem conhecida por mim, me tirou dos meus devaneios.
- Sim e sempre achei que fosse mais discreta. – Sorri.
- E é, acho que ninguém além de mim e da Lisa sabia que você estava observando a conversa de todos. – Se sentou ao meu lado.
- Então acho que tenho que treinar mais para poder superar a grande Adrian! – Brinquei e ela riu.
- Somos melhores juntas do que separadas! – Olha a indireta.
- Você já tem seus Cavalos como fiéis escudeiros, não precisa de mim também. – Tentei desconversar, mas ela sorriu.
- Não sei se posso confiar tanto na Anna...
- EU SOU MUITO CONFIAVEL, MINSTER!! – Anna gritou de dentro da loja, fazendo todos gargalharem, mesmo os que não sabiam do que ela falava.
- Rachel é sim muito confiável e A ANNA TAMBÉM! – Gritou para a loira e como resposta Anna levantou o polegar em sinal positivo – Na verdade, todos são, mas eu sinto sua falta.
- Você tem um grupo inteiro a sua disposição, o que eu represento de tão importante para eles se tornarem banais? – Perguntei séria.
- A pessoa que eu amo. – Ela sorriu e os olhos dela brilharam.
- OWWWNNNN. – Escutamos um coro atrás de nós e nem precisamos nos virar para ter certeza que eram Rachel, Lisa, Anna e Caleb nos zoando, enquanto Ângelo e Robert sorriam.
- VOLTA LOGO COM ELA, BUSSIE!! – Essa foi a Rachel que gritou animadamente.
- FICA QUIETA, CABELO DE MENSTRUAÇÃO! – Um coro de “Ohhh” foi escutado, junto com “eu não deixava” e uma perola da Lisa “você devia usar fralda na cabeça para substituir um absorvente”.
- De duas uma, ou estamos falando muito alto, ou eles escutam muito bem. – Adrian brincou.
- AS DUAS! – Lisa gritou – QUEREM PRIVACIDADE? VÃO PRA UM MOTEL!
Eu ignorei as palavras carinhosas ditas pela Adrian anteriormente e continuamos nossa conversa divertidamente, já que um dos nossos amigos sempre se intrometia. Estávamos tão relaxados que por um momento esquecemos do Nick e Martin, mas claro que esse momento não durou muito, pois meu celular tocou avisando uma nova mensagem. E qual não foi minha surpresa ao ver um número desconhecido.
“Um dia descobrimos que apesar de viver quase um século esse tempo todo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos, para dizer tudo o que tem que ser dito...
O jeito é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutar para realizar todas as nossas loucuras...
Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação. - Um dia descobrimos (Martha Medeiros)” – Número Desconhecido
Quem é a pessoa que fica mandando mensagens com poemas brasileiros para números desconhecidos as três da manhã? Nem para mandar uma explicação junto? Adrian ficou me encarando curiosamente, acho que por causa da minha cara de interrogação. Li e reli a mensagem umas quinze vezes e nada me vinha na cabeça, “falta de algumas coisas na nossa vida”? O que esse lunático ou lunática quer com isso? Meus questionamentos logo foram respondidos – pelo menos metade – quando recebi outra mensagem.
“O jeito é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutar para realizar todas as nossas loucuras...
Então qual será sua escolha? Vai finalmente perceber que precisa entrar de cabeça nessa loucura – o que nos dois sabemos que você ainda não fez – e lutar por seus companheiros, ou vai se contentar que sempre ira faltar algo na sua vida? Porque você sabe que se não agir logo você não só será um alvo fácil como seus dois amigos iram morrer.
Eu não deveria estar fazendo isso, mas segue um anexo do local onde seus amigos foram levados e avise a Adrian que o plano dela falhou!” - Número Desconhecido
Quando terminei de ler a mensagem, percebi que ele tinha anexado um mapa e o local marcado não era muito longe de lá. Me levantei de supetão, abri a porta do passageiro do carro da Adrian para pegar minha máscara e subi na minha moto chamando a atenção de todos.
- Me sigam, eu sei onde eles estão! – Todos me olharam confusos, mas foram para os seus respectivos automóveis – Adrian, seu plano falhou!
P.O.V Martin
- Caramba, passaram com um caminhão por cima da minha cabeça? Onde merda está o Nick e por que está tão escuro? Ah, espera... Meus olhos estão fechados, mas eu não consigo abri-los.
- Você pode até achar que está pensando, mas está falando alto. – A pessoa que até momentos atrás me deixaria irritado só por ouvir sua voz, falou, e eu nunca pensei que ficaria tão feliz por isso – E está tudo escuro porque estamos vendados! – Suspirou.
Ah, vendados... Mas espera, o que aconteceu? Tínhamos ido a festa como a Adrian mandou, achamos o tal José, eu reconheci a mulher ao lado dele como sendo a parceira de Camile, Diane... Depois disso... Eu não consigo lembrar direito... Eu avisei ao Nick sobre a presença da mulher, saímos logo em seguida e demos de cara com o José e seus capangas... Fugimos em alta velocidade, mas um carro cruzou a pista e fez com que nos chocássemos contra ele, eu vi cacos de vidro voando para todos os lados, fomos imprensados e o Nick sangrava muito... Depois disso eu apaguei... Espera! O Nick sangrava.
- Você está bem? Eu lembro que você tinha um corte na testa. – Perguntei preocupado.
- Sim... Na verdade eu acho que sim, eu sinto minha cabeça doer bastante, mas não sabia bem o porquê até você me falar sobre o corte. – Bufou – Mas agora tudo faz sentido. – Falou divertido.
- Não fique brincando com isso seu idiota! – Dei um chute nele e ele resmungou – Como droga vamos sair daqui?
- Acho que primeiro deveríamos saber onde estamos. – Suspiramos – Espero que a Adrian ainda tenha algum juízo e venha nos procurar!
- E como você acha que ela vai nos achar? – Perguntei com desdém. Adrian é foda, mas nem tanto assim.
- Luna. Temos que torcer para que esse cara não tenha jogado nossos celulares fora.
- Temos que torcer para ela lembrar da nossa existência, do jeito que nós somos, ela deve achar que você está transando por algum lugar daquela festa e eu enchendo a cara! – Isso seria bem provável de acontecer, se não fosse a presença da Diane e a nossa captura inesperada.
Eu estava assustado, afinal, quem não ficaria estando na minha situação. Eu, Martin MC’Collin, vinte e dois anos, preso em deus sabe lá onde, por causa do chefe da máfia latina que acabou descobrindo que eu trabalhava para a sua rival. Mereço. Preso com o que parecia ser correntes em meus pulsos, que estavam erguidos sobre a cabeça, capuz na cabeça e sem saber se ficaria vivo para poder ver minhas duas irmãs. Sim, porque mesmo que meus pais não tenham me dado irmãos, a vida me presenteou com duas perfeitas idiotas... Que admito, eu amo demais.
Meu momento de reflexão e drama foi cortado quando eu escutei um alto ruído, o que parecia ser uma porta bem velha abrindo. Bruscamente o pano que cobria a minha cara foi retirado e eu tive que fechar meus olhos por causa da luz inesperada que me acertou. Quando consegui me acostumar com a luz e abri meus olhos, percebi que Nick já estava sem o capuz e reparei no grande corte que ele tinha na testa, grande parte da face dele estava coberta com sangue já seco.
Não tive nem tempo de me preocupar com ele, já que quando eu virei a cara para encarar o único homem presente na sala, além de nós, levei um soco bem no meu olho direito e gritei de dor, sentindo dor não só pelo soco mas pela pancada que acabei dando na parede atrás de mim. Quando forcei o meu olho esquerdo a abri – já que era o único bom – vi o mesmo processo se repetir com o Nick que tinha um grande corte no rosto e se contorceu, urrando de dor.
- Agora me digam. – Mais um soco em mim, só que agora na barriga, me fazendo contorcer – Onde está a Minster? – Um chute na perna do Nick, o que acabou rasgando o tecido da calça dele e quando eu olhei para baixo, vi que se abriu um corte.
- E você acha que vamos falar? – Nick, mesmo com toda a dor que ele demonstrava sentir, que não parecia ser muito diferente da minha, perguntou atrevido e recebeu mais um soco no rosto, o que fez com que o sorriso debochado fosse substituído por uma cara de dor.
José tirou um canivete do bolso e começou a esfregar a lamina nos nossos rostos, sempre nos encarando nos olhos como uma ameaça. Depois de um tempo ele parece ter se cansado de ver nossos rostos frios e parou a lamina na minha bochecha, onde fez um pequeno corte e foi descendo pelo meu pescoço, peito e barriga – onde ele rasgou um pouco a camisa – e parou bem em cima da minha perna, onde ele fincou a lamina e rodou dentro da carne, me fazendo gritar e contorcer de dor.
- PARE! – Nick gritou ao ver meu desespero.
José apenas ignorou.
- Não acho que por vontade própria, mas com um incentivo, acho que vão acabar abrindo a boca! – José abriu um sorriso doentio, foi até a porta e falou algo para o homem parrudo que estava do lado de fora, que entrou junto com ele – Vamos ver se você não acaba falando.
O homem que o seguia, tirou uma chave do bolso e abriu as correntes que seguravam meus braços, me fazendo cair de joelhos e gemer de dor ao tenta me apoiar na perna esquerda que sangrava bastante. O homem rudemente, me ergueu, obrigando-me a ficar de pé e a sentir a terrível dor em minha perna, me arrastou até uma cadeira que tinha no meio da sala, onde me sentou e amarrou minhas mãos novamente.
- Pode se retirar, Pablo. – José ordenou e o homem se retirou sem falar nada, deixando nos três sozinhos na sala novamente – Agora, ou você fala pela dor, ou ele fala por te ver sentindo dor! – E aquele sorriso diabólico continuava lá, estampado em seu rosto como se fosse o próprio demônio, E naquele momento, talvez ele fosse
- O que vai fazer? – Quando olhei para o Nick, usando um olho já que o outro estava inchado demais, vi que ele tinha uma expressão desesperada, já temendo pelo que viria, sorri fraco com aquilo, Nossa situação era patética.
- Vamos fazer um jogo: vocês falam, eu coopero. – Falou encarando o Nick, mas quando se virou novamente para mim, ele enfiou o canivete na minha coxa, fazendo-me gritar desesperadamente com a dor – Mas se vocês não falarem, eu não vou poder ser bonzinho.
- Como se você fosse. – Minha voz saiu baixa e esganiçada devido a dor horrível que eu sentia com aquele maldito canivete preso em minha coxa.
- Mas eu poderia ser para vocês, mas... – Ele começou a forçar a lamina para baixo, abrindo um corte ainda maior e me fazendo contorcer e gritar – Vocês também precisão ser!
- O QUE VOCÊ QUER SABER? – Nick gritou desesperadamente ao me ver sofrendo daquela forma.
Capturado, torturado.... Talvez nem para Peão eu sirva.
“- Achei que você fosse melhor em karatê. – Rachel provocou, ao me ver ir ao chão mais uma vez naquele dia.
- Eu te ensinei tudo que você sabe! – Resmunguei.
Estávamos treinando no gramado da casa a algumas horas, e era incrível a minha capacidade de sempre perder para a ruiva que um dia eu treinei. Patético. Meus pensamentos conflituosos foram interrompidos, quando eu vi a mão da minha amiga mais uma vez ser estirada em minha direção, me ajudando a levantar e me presenteando com um sorriso amigo ao me encarar.
- E parece que a aluna superou o professor! – A fala dela não era debochada, nem parecia querer me ofender, ela apenas parecia estar orgulhosa de si mesma, e eu não seria egoísta o suficiente para não ficar também.
- É, parece que eu estou sendo superado até no que eu era bom. – Eu não queria demonstrar inveja, mas foi inevitável o tom meio melancólico.
- Ei, eu posso falar por mim e pela Lise, o quanto você é incrível e esforçado, mesmo com sua limitação!
- Mas não parece ser o suficiente, até a Lisa está sendo treinada pela própria Adrian e está tendo mais resultado do que eu! – Rebati raivoso.
- A Lisa deu um tiro na Elise por acidente semana passada. – Ela levantou os braços em um gesto indignado – Pelo amor de deus, você não pode ser pior que isso.
Ela tentou ajudar, mas só piorou.
- Bom saber que só não sou pior que a pior! – Meu tom de voz já estava alterado e eu sentia meu rosto queimar – Bom saber que você é uma pessoa incrível, um Cavalo incrível, que provavelmente será uma mãe incrível, a Elise é uma pessoa incrível, corajosa, uma incrível fotografa e provavelmente será uma incrível escritora e eu, que merda eu sou? – Cuspi aquelas palavras com todo o rancor que eu vinha carregando durante os anos.
- Um incrível amigo... Um incrível irmão! – E com os olhos marejados ela entrou correndo na casa”
Fui trazido de volta das minhas mais profundas lembranças, por mais um soco no rosto, dessa vez, na minha bochecha esquerda, me fazendo gemer de dor e cuspir um dente. Droga!
- Onde está Adrian Minster e Elise Bussie? – Perguntou novamente.
- PARE COM ISSO, NOS NÃO VAMOS FALAR, DESISTA! – Nick gritava desesperado, e eu percebi que ele já tinha os olhos marejados.
Nicolau chorando? Isso deve ser algo tão raro quanto a Adrian chorando. Se bem que para a Adrian chorar, só precisa ser algo relacionado a Elise, ai ela chora horrores!
- Seu desespero só me faz ter certeza que falara. – Ele arrodeou a cadeira, ficando nas minhas costas e deu um chute em minha cabeça, me fazendo gritar mais uma vez, mas meu grito foi abafado pelo do Nick que estava completamente desesperado – Se não quiser ver seu amigo morrer.
- Desista, eu não vou falar e nem ele! – Com um pouco de força que eu ainda tinha, consegui falar aquelas palavras que fizeram o sádico atrás de mim gargalhar.
Praguejei baixinho quando senti um liquido quente escorrer pela minha nuca. Eu estou tão fodido.
- FALA LOGO SEU PEÃO DE MERDA. – José, que já perdia a paciência, gritou e acertou outro chute em minha barriga, me fazendo cuspir um pouco de sangue.
- Se for para morrer, morrerei como um Cavalheiro protegendo minha irmã! – Não sei de onde tirei forças para falar aquilo, mas eu falei e falei com toda a minha alma.
- NÃO IMPORTA QUEM PORRA VOCÊ É, E FODA-SE ESSA MERDA DE XADREZ SEM SENTIDO!
Mais um chute, só que agora nas costelas do lado direito.
Eu vivi como uma droga de Peão, mas não morrerei sendo um!
Promoção: Cavalo.
“- Já sou um inútil, e você ainda me coloca como a peça mais fraca! – Reclamei com a Adrian que estava sentada ao meu lado no sofá.
- A Elise também é uma, não a chame de inútil. – Resmungou e eu revirei os olhos.
- Bom saber que você se preocupa com a Elise! – Dei um tapa no braço dela, o que logo foi revidado só que com o dobro da força – OUCH! Só queria saber por que você faz questão de esfregar na minha cara que eu sou inútil?
- Repetindo: você não é inútil! Elise confiaria em você então eu também confio.
- E pra que essa ideia inútil de que estamos em um xadrez?
- Na nossa atual situação, qualquer passo errado resultaria em uma morte, então tentando ser o mais meticulosa possível, eu criei a ideia de que estamos em um xadrez, mas não sei como caralhos o FBI descobriu essa minha ideia e meio que “entrou no jogo”.
- Mas quem é o nosso inimigo, o FBI ou a tia da Elise? – Perguntei confuso, afinal, quando foi que o FBI entrou na história?
- A tia da Elise é nosso objetivo, mas fazendo as coisas que nós fazemos, é claro que uma hora iria aparecer alguém tentando nos prender, mas de uma forma estranha os dois inimigos se mesclam e parece que estão do mesmo lado mesmo estando em lados opostos! – Adrian explicou, mas só conseguiu me deixar mais confuso.
Decidi ignorar.
- Mas por que um Peão?
- Você vem evoluindo bastante ultimamente, os Peões tem uma habilidade que os tornam únicos: a promoção. Resumindo um pouco, o Peão é a única peça que pode virar outra peça, e eu não duvido que você consiga isso um dia. – Ela sorriu.
- O que espera que eu faça?
- Proteja a Elise... Proteja sua irmã como um bravo cavaleiro. – Ela deu tapinhas no meu ombro antes de se levantar e subir as escadas”
- MARTIN, AGUENTA!!! – Nick gritava já em prantos.
José continuava distribuindo socos e chutes pelo meu corpo, meu rosto já estava coberto de sangue, graças ao canivete que o sádico a minha frente fez questão de tirar da minha coxa para rasgar o resto do meu corpo.
Eu já tinha cortes pelo corpo todo, que sangravam e começavam a formar uma poça de sangue no chão. Minha visão começava a falhar, dando indícios que eu perderia a consciência muito em breve. Um flashback ridículo da minha vida começava a passar diante dos meus olhos e eu já percebia que o que viria era inevitável, e eu só conseguia me perguntar: valeu a pena?
Valeu a pena acabar com a minha vida só para proteger minha melhor amiga? Valeu a pena desenvolver uma doença pulmonar e lutar contra ela diariamente só para ver a segurança de tal amiga? Valeu a pena virar um criminoso internacional só para ter dinheiro suficiente para bancar o que fazíamos? Valeu a pena ser torturado antes de um final inevitável?
E para todas essas perguntas, uma única resposta: Valeu, valeu muito a pena e eu faria todas essas merdas de novo só pela minha irmã, porque se fosse ao contrario ela também faria. Eu sei que essa frase é clichê, mas nada que se encaixe melhor do que ela.
- Vou perguntar só mais uma vez. – Ele saiu do meu campo de visão, quando ficou atrás de mim e quando voltou, voltou segurando uma faca – Onde está Adrian Minster e Elise Bussie.
- Eu... não vou falar. – Minha voz não passava de um sussurro e eu não conseguia mais encara-lo, minha cabeça estava baixa e meus olhos lutavam para ficarem abertos, E acho que inconscientemente eu não queria ver o que estava por vim.
- NÃO FAÇA ISSO, POR FAVOR, NÃO FAÇA!!! – Nick gritava e chorava descontroladamente e isso me fez abrir um pequeno sorriso, Ele foi um bom amigo.
- Se é assim.
Foi a última coisa que ele falou antes de eu sentir uma dor latente em minha barriga. Ele enfiou a faca de uma vez, a rodou e depois a puxou lentamente, fazendo meu sangue jorrar do corte profundo.
José se assustou ao ouvir o barulho de tiros vindo do lado de fora e rapidamente largou a faca e correu para fora do quarto. O sangue jorrava pela minha barriga e boca, e eu conseguia ouvir soluços compulsivos do Nick, que chorava descontroladamente.
- Martin... Aguente só mais um pouco, aposto que é Adrian lá fora. – Nick suplicou.
- Não... dá. – Sussurros. Era essa a minha voz no momento.
- Dá sim, aguente só mais um pouco, por favor, você é forte e é um cavaleiro agora! – Ele tentou soar divertido, mas os fungados não deixavam.
- Sim... eu sou um bravo... Cavaleiro. – Eu me forçava a ficar acordado, mesmo que sem perceber, eu tinha uma esperança, mas o jogo já havia sido perdido para mim – Desculpe ser a primeira... baixa no... time.
- NÃO, VAMOS TODOS FICAR BEM! NOS VAMOS VOLTAR E ZOAR NOVAMENTE COM A LISA E A RACHEL, VOCÊ É IMPORTANTE MARTIN... – Quando ele percebeu que eu não respondia mais, ele começou a se debater – NÃO DESISTA, NÃO!
Uma piscada... duas piscadas... três piscadas... E eu ia me sentindo cada vez mais fraco, essa é a sensação de estar morrendo? Realmente horrível.
Pisquei o olho mais uma vez e tudo ficou escuro... Fechei os olhos, mas dessa vez foi para sempre.
Peça Negra removida do tabuleiro: Peão/Cavalo.
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