Uma pessoa – bem sábia por sinal – a sete anos atrás me aconselhou a me torna uma boa capitã e guiar bem o meu barco, pois qualquer imprevisto no meio do caminho poderia afunda-lo. Na época em que eu escutei isso, talvez eu não tenha entendido muito bem o real significado, mas se tem uma coisa que o tempo me ensinou foi que: as prostitutas são pessoas bem sábias e dão ótimos conselhos... só que pela metade.
Por mais cômico ou estranho que pareça, uma das pessoas mais importantes da minha vida foi uma prostituta que eu odiei e que mudou o rumo da minha vida – com o empurrãozinho da Adrian – e me deu um dos conselhos mais importantes.
Guiei minha vida como se estivesse na mais intensa tempestade para quando chegasse em águas calmas, eu já tivesse experiência suficiente para definir o meu próprio caminho. E eu consegui... mas como o destino tem certa marcação comigo, sem que eu percebesse o que começou como uma garoa, logo se transformou em uma tremenda tempestade e nem toda a minha experiência estava me dando a segurança necessária.
Entretanto, no meio da minha tempestade particular, a única coisa que conseguia me esquentar naquele tempo congelante era justamente a pessoa que eu pensei que tinha um coração de gelo: Adrian.
Qual não foi minha surpresa ao descobrir que o calor dela era a única coisa que realmente me esquentava e me dava segurança. Não importava o quanto eu tentasse negar, eu amava Adrian e ela me amava. Ela passou por um inferno para me manter segura e finalmente – FINALMENTE – eu estou deixando de ser uma lerda e vou retribuir tudo, Não que eu faça isso apenas por gratidão, mas claro que sempre existira gratidão entre nos.
E falando em fogo... Eu agora estava encarando a loira que dormia profundamente e abraçava o travesseiro que eu estava usando. De vez em quando ela falava coisas sem sentido o que em minha opinião a deixava muito mais fofa.
Eu acordei sem aguentar o cheiro de sangue que ainda estava em mim, me levantei tomando cuidado para não acordar a loira que me abraçava possessivamente, e fui até o banheiro tomar um banho quente demorado. Talvez eu tivesse a esperança de que a água tiraria aquela sensação de ter sido tocada pelo José. O que obviamente, não funcionou.
Como não tinha outra roupa, tomei a liberdade de procurar no guarda roupa e peguei uma calça de moletom cinza e uma regata branca. Como a Adrian era um pouco mais alta que eu, a regata tinha ficado bem comprida; por outro lado, eu tinha uma bunda maior que a dela, ou seja, mesmo que a calça fosse um pouco comprida, na região das nádegas ela era bem colada. Era meio desconfortável estar sem roupa intima, mas caso algo acontecesse – o que não era tão difícil vindo da loira – não era como se ela nunca tivesse me visto sem nada.
- Sabia que é feio ficar olhando fixamente para o corpo nu de uma pessoa que está dormindo? – A loira disse de repente, me assustando; com a cabeça ainda enfiada no travesseiro o que fez sua voz sair abafada e já que ela tinha acabado de acordar, sua voz estava bem mais rouca que o normal.
- Sabia que é feio ficar dando susto nas pessoas! – Falei dramática, colocando a mão sobre o peito e fazendo biquinho.
- Mas não era eu que estava praticamente te comendo com o olhar. – Disse na defensiva – Só que eu não te culpo por isso. – Levantou o rosto e me encarou com aqueles olhos verdes clarinhos, que brilhavam mais graças a luminosidade que entrava pela janela – Eu sou muito gostosa, até eu perderia horas me admirando! – Céus, será que existe alguém mais convencida no mundo?
- Por que eu me apaixonei por você mesmo? – Perguntei com desdém.
- Talvez tenha sido pelos meus belos olhos, meu corpo maravilhoso, minhas tatuagens divas que você adora babar, minha personalidade forte e meu jeito dominador, e é claro, meu charme de bad girl. – Gabou-se e só conseguiu fazer com que minha curiosidade aumentasse.
- Exatamente por isso que eu não sei porque eu me apaixonei por você. – Revirei os olhos e me virei – Agora levanta dessa cama que eu fiz o café da manhã.
Quando me virei e fui caminhando até a cozinha, em um movimento rápido – quase ninja – a Adrian se levantou e me abraçou por trás, sem demonstrar qualquer preocupação pela sua nudez.
- Eu não sei o porquê de você ter se apaixonado por mim, mas sei os vários motivos que me levaram a ser uma trouxa por você. – E segurando em meus ombros, ela me virou e me olhou nos olhos, me fazendo navegar naquele mar brilhante que eram os olhos dela – Sua personalidade forte e decidida me encanta, seu corpo me deixa completamente louca, seu sorriso me derrete, seus olhos me hipnotizam, o biquinho que você faz quando está fazendo birra, vergonhosamente me ganha, e até mesmo seu cinismo desmedido é um charme a mais para você. – Disse tudo sorrindo de forma boba e com uma enorme devoção – O que eu quero dizer é que, com certeza eu sou uma grande idiota, mas eu não me importo em ser idiota por você. – Agora eu lembro porque amo essa garota.
Eu tinha o que responder? Não, não com palavras, então a puxei pela nuca para iniciarmos um beijo lento e carinhoso, que demonstrava todo o sentimento que eu sentia mas não era capaz de mostrar.
Quando o ar se fez necessário, nos separamos o suficiente para que nossos narizes ficassem se tocando e ficamos sorrindo feito idiotas – que nós éramos.
- Fiquei empolgada para saber o que você fez pro café. – Seus olhos brilharam e eu ri.
- Nem se empolgue, só assei umas torradas e fiz o café. – Ri mais ainda quando vi a cara de decepção dela – Não se preocupe, um dia ainda vou retribuir o banquete que você fez em Londres. – Me separei dela e fui caminhando até o banco alto que ficava atrás da bancada que separava a cozinha da sala.
- O que achou? – Perguntou meio receosa, ainda no quarto já que ela foi vestir uma roupa.
- Estava tudo delicioso, de que horas você acordou para fazer aquele banquete todo?
- As cinco, se não me engano. – Me virei e encarei-a abismada. Como assim?
Ela já tinha terminado de se vestir, tinha colocado uma camisa branca com o desenho de um panda – que lembrava bastante meu pijama antigo – e um short de algodão preto. A grande juba loira, ela juntou e fez um rabo-de-cavalo meio bagunçado. Quando ela sentou-se ao meu lado, se serviu e continuou agindo como se não tivesse feito nada de mais, E pra ela parece que não foi.
- Você acordou tão cedo só para fazer meu café? – Perguntei sem esconder meu espanto e ela riu.
- Claro, acho que depois de tanta filha da putagem minha, você bem que merecia. – Ela me deu um rápido beijo na bochecha e continuou rindo da minha cara – Sério, não foi sacrifício nenhum para mim, eu te amo e queria mostrar que isso nunca mudou mesmo depois de sete anos... Ou talvez mais. – Ela deu aquele clássico sorrisinho de lado, o que só me fez ficar com uma cara mais idiota ainda.
- Luna me contou que você já era apaixonada por mim e me lembrou do dia que nos conhecemos no parque. – Quando disse a última parte, ela começou a tossir e cuspir o café, se engasgando. Naquele momento eu não sabia se ria ou se ajudava. Fiz os dois ao mesmo tempo. – Ei, calma, calma. – Dava leves tapinhas nas costas dela enquanto ela se recuperava do ataque de tosse.
Quando ela finalmente se acalmou, ficou me encarando com os olhos arregalados como se esperasse que eu falasse algo mais.
- “Não são tão brilhantes quanto o verde de uma esmeralda, mas tenho certeza que são tão vivos quanto o verde de um mar!” – Disse a icônica frase que tanto nos marcou e ela sorriu enquanto deixava uma única lagrima escorrer pelo olho direito.
- Você lembra? – Sussurrou.
- Não sei como pude esquecer. – Disse no mesmo tom. Sentia meus olhos arderem, no entanto, sabia que se chorasse ela não se seguraria e choraria também – Adrian você é a pessoa mais incrível que eu já conheci em toda a minha vida, e olha que mesmo com pouca idade eu já vivi muito... muito mesmo. – Brinquei para tentar quebrar o clima que tinha se instalado. Se o clima estiver fofo e sentimental demais, não é Elise e Adrian, não é!
- Idiota. – Ela deu um tapinha de leve no meu ombro e enxugou o rosto.
Continuamos a conversa sobre nossas lembranças e ela me contou melhor como bolou o plano de me colocar no carro do meu pai. Ela nunca tocava no assunto “infância”, mas eu entendia o porquê, com certeza isso ainda a doía de alguma forma então não a forcei a falar. Ela sabia que eu sabia, no entanto, não se sentiu incomodada da Luna ter me contado, talvez tivesse sido mais doloroso para ela mesma me contar, então acho que de certa forma ela estava agradecida pela irmã tê-la poupado disso.
No meio da conversa, chegamos em um ponto que me deixou meio chocada.
- Lisandra? Tá dizendo que aquela rapariga não se chama só Lisa? E nem eu como a irmã mais velha dela sabia? – Sim, eu estava furiosa. Eu vou matar a “Lisandra”!
- Sim, achei que depois desse tempo todo ela já teria lhe contado. – Adrian ria enquanto eu só faltava correr até em casa e jogar a primeira coisa que visse na cabeça da Lisa.
- Não, ela nunca me falou isso, eu vou matar essa filha da puta! – Esbravejei, mas do nada eu me acalmei, chamando a atenção da loira.
- O que foi? – Perguntou com uma sobrancelha levantada.
- Acho que sei porque ela não gosta de falar o nome, Lisandra era a avó dela que morreu e marcou completamente a vida da neta.
- Ela não deveria ter orgulho disso? – Adrian perguntou ainda confusa.
- Ela tem. – Suspirei – Só acho que de certa forma ela queria criar uma imagem própria, sem aquele trauma! – Esclareci e ela concordou com a cabeça, sem aprofundar o assunto.
Continuamos a conversar sobre assuntos banais, até que terminamos nosso café e fomos limpar tudo o que sujamos – inclusive, ajeitamos a cama e trocamos os lençóis –, juntamos nossas coisas e fomos para a mansão.
[...]
Eu estava jogada em cima da Lisa – que estava no sofá – enquanto a abraçava possessivamente e ela fazia carinho na minha cabeça. Por algum motivo, a minha conversa com a Adrian me fez ter vontade de demonstrar tudo que sentia pela loirinha zoeira.
Conversávamos sobre a letra da música que ela tinha colocado e sobre o que ela significava, já que ela falava sobre coisas que poderíamos levar para a vida – e no nosso “ramo” realmente levamos, temos que viver como se fosse nosso último dia.
- Desculpe interromper o casalzinho ai. – Rachel se encostou no sofá e nos encarou por cima do ombro – Mas Luna está te chamando Lise.
- O que ela quer? – Perguntei já me sentando no sofá e a olhando confusa.
- Não sei, mas ela está chamando você, eu, a Adrian e o Robert. – Bufou e se afastou do sofá – Deve ser importante, você sabe que ela nunca nos chama na toca se não for! – Concordei e a segui, deixando uma Lisa confusa no sofá.
Quando entramos na “toca” vimos que além da Adrian e do Robert, Anna e Caleb também estavam lá.
- Posso começar? – Luna perguntou e Adrian apenas assentiu com a cabeça – Bom, eu consegui algumas informações com a ajuda do Steve, que aproposito, desembarca daqui a uma hora. – Informou e Adrian repetiu o gesto anterior de apenas assentir com a cabeça – Ele me falou que haverá um baile amanhã à noite em uma mansão em South Beach, que reunira simplesmente alguns do maiores traficantes do país!
- Isso vai dar merda! – Foi a única coisa que consegui dizer. Juntar tantos “rivais” em um mesmo lugar, só podia dar uma grande merda.
- Eu concordo, mas de acordo com ele, existe uma trégua entre eles. Além do mais, com essas reuniões pode se iniciar grandes parcerias e o motivo para ser um baile de máscara é justamente pela descrição, ninguém vai reconhecer ninguém a menos que a pessoa queira. – Explicou.
- Sim, e? – Caleb perguntou impaciente.
- Você é burro, hein. – Anna revirou os olhos – Várias pessoas importantes reunidas em um mesmo lugar, isso nos dá uma grande chance de descobrir algo sobre a tia da Lise.
- Exatamente, por isso chamei vocês, tomei a iniciativa de planejar algo. – Me encarou depois encarou a irmã, como se pedisse permissão para apresentar o plano, eu encarei a Adrian e nos assentimos – Pierre não nos ajudara nessa, teve que voltar para Londres já que a filha estava doente, mas consegui achar uma planta do lugar onde o baile acontecera e encontrei o que tanto buscávamos... – Ela disse e ficou em silêncio, tentando fazer um suspense.
- Fala logo, desgraça! – Rachel ordenou impaciente, fazendo a namorada rir.
- Okay, só acho que nossa busca ficou bem mais fácil! – Ela sorriu vitoriosa.
- O que você achou, Luna? – Adrian perguntou também impaciente.
- Me chamem de gênia se quiserem, porque pesquisando sobre o lugar e conseguindo informações que até então eram sigilosas eu cheguei ao nome dos donos do lugar.
- Que são? – Perguntei já não aguentando o suspense.
- Pierre Lambert e Francesca Bussie, ou se preferir Lise, sua tia. – Luna é uma gênia!
Sabe, acho que esse é aquele momento em que a tempestade em alto mar ficou tão forte, que segurar o timão não é o bastante para controlar o meu barco!
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