História Love Me If You Can - Eu sou apenas humano, afinal

- Para onde ela foi? – Nem preciso dizer quem foi o ser delicado que quase arrombou a porta da minha sala.

- Oi, irmã, estou bem também. – Ela não pareceu se importar com minha brincadeira e pegou a caneca com café que Lily havia me trazido e a jogou na parede – Eu achava que você já tinha resolvido esses seus ataques de fúria da adolescência.

Parece que o meu senso de humor não aliviou a situação, na verdade, ele só piorou tudo. Se a situação for um pouco confusa, eu resumirei tudo em poucas palavras: Elise pegou um voo para NY, enrolamos na cidade e parece que a Rachel abriu a boca revelando algumas partes do plano para minha irmã. Isso me lembra que eu tenho que reclamar com a cabeça de fósforo mais tarde, não é porque ela não concorda com o plano que tem que sair estragando-o.

E é claro que nessas situações sobra pra…

- LUNA! – Adrian e seu modo sutil de nos arrancar de nossos pensamentos.

- Eu mesma. – Vi que realmente não estava a ajudando, então puxei o banquinho de Lily e indiquei para que ela sentasse – Deveria confiar mais na sua mulher.

Some people got the real problems

Some people out of luck

Some people think I can solve them

(Algumas pessoas têm problemas reais

Algumas pessoas sem sorte

Algumas pessoas acham que eu posso resolvê-las)

- Se ela morrer ela nunca será minha mulher… Pelo menos não oficialmente.

- Falou a pessoa que vive na lei. – Ela me fuzilou com o olhar e eu ri de sua cara de bravinha – É sério, você não ajuda em nada puta desse jeito.

- E o que eu deveria fazer? – Arqueou uma sobrancelha.

- Que tal falar com o seu piloto? Vamos precisar de voos para Cuba, Rússia, China e acho que você deveria se empolgar… Bom, pelo menos a Anna tá empolgada, ela já tem com quem fazer um menage. – E finalmente eu consegui arrancar um sorriso dela – Você sabe melhor que qualquer um que ela não vai morrer!

- E se… – A cortei.

- Adrian Minster se preocupando com os “e se” da vida? Não pode ser, o que ouve com você? Ela é nossa rainha estrategista… Meio idiota, mas inteligente. – Dou ênfase na palavra para ver se ela se toca – Pessoalmente eu não concordaria tanto com essa missão suicida, mas se Elise Bussie diz que vai funcionar, quem sou eu para discordar?

Minhas palavras a atingiram como eu esperava. Não era por ela estar com medo que deveríamos ou iriamos colocar a missão em risco. Certo, eu admito que se fosse a Rachel eu também surtaria um pouquinho… Mas nada justifica essa retardada ter jogado meu café na parede! Era meu favorito com leite e marshmallow.

- Então, eu vou congelar na Rússia? – Ela perguntou depois de um longo período de silêncio. Agora ela já sorria fraco em uma tentativa falha de aceitar a situação.

- Sim e, sinto lhe informar, estamos quase no inverno. – Encarei-a sorrindo diabolicamente – Se fodeu!

- Sinto que sim.

E nossa conversa se encerrou ali, ela se levantou e me deixou novamente sozinha. Se tudo saísse como planejado, aquela cabecinha fértil já estaria trabalhando. Mandei uma curta mensagem para a Lise informando-a que estava tudo correndo como planejado e não, não como planejamos em grupo… Como eu e ela planejamos.

Talvez eu a entendesse melhor que todos os outros porque no final éramos idênticas: falhas.

- LILY, ME TRAZ OUTRO CAFÉ!

[…]

6 horas antes...

Em outro lugar do país, as peças começavam a se preparar para as jogadas finais. Se passou despercebido por todos uma única pessoa nessa história toda, essa que por sua vez, não deixou que ninguém escapasse de sua vista, afinal, ele era o jogador. Todos deixaram essa passar em branco, menos ela.

- Está tudo seguindo como planejado, eu sou um gênio. – O homem que já possuía quase todos os cabelos brancos, gabou-se diante da mulher que era só falsos sorrisos – Aquela pirralha vai me pagar por ter roubado a mulher que eu amei!

Diante daquela frase foi impossível para a mulher esconder a expressão de deboche. Aquele homem era tão repugnante que nem assumir a culpa pelos seus próprios atos conseguia? E Pior, infernizava a vida da única que não possuía qualquer culpa naquela história. Os crimes da mulher não eram menos horrendos que o do homem a sua frente, não, ela sabia que era culpada principalmente por ser uma covarde e deixar o jogo seguir até aquele ponto, agora sua filha sofria risco de vida.

I'm only human after all

I'm only human after all

Don't put the blame on me

Don't put the blame on me

(Eu sou apenas humano, afinal

Eu sou apenas humano, afinal

Não coloque a culpa e mim

Não coloque a culpa e mim)

- Você não percebe que a perdeu por ser um idiota? – perguntei quase em um tom inocente. Quase.

- Você realmente não teme a morte, não é sua cadela? - Ele pegou a pistola que estava na mesinha ao lado e a apontou para minha cabeça, no entanto aquilo não surtiu o efeito desejado, já que eu continuava com a mesma cara de deboche.

- Vamos Franco, mostre-me que você não é um covarde. – A mão dele era firme assim como sua expressão, mas eu conseguia ver em seus olhos que ele não faria aquilo – É melhor atirar logo, sabe que quando minha filha chegar, você será oficialmente um homem morto. – Ele riu, mas não aquelas risadas espontâneas, era algo forçado.

Quando as gargalhadas cessaram, ele abaixou a arma novamente e agarrou seu copo de rum.

- Você é engraçada. – Deu um longo gole em sua bebida antes de continuar – Sua filha? Que eu saiba a mãe dela está morta… Não, me desculpe, esqueci que a mãe dela é uma covarde que se esconde por trás do posto de “tia homicida e vingativa”. – Ele riu outra vez, mas tenho que admitir que sua risada sádica dessa vez me deu arrepios – Mas para sua sorte, ela deve estar beeeem longe e caindo na minha armadilha, já que deve chegar ao lugar marcado ao mesmo tempo que o FBI e tenho certeza que ela não terá como explicar todo o peso que vai cair em suas costas.

- Você não… – Olhei-a perplexa – ELA É SUA FILHA!

- E é uma vadia como a mãe, não é Francesca! – Ele se levantou abruptamente e veio em minha direção – Minha filha é Camile, porque ela sim eu tive com a mulher que eu amava, mas Elise… Ela é apenas um acidente de percurso.

- Uma vadia? – Levantei-me para ficar cara a cara com ele – O filho da puta aqui é você e se me dar licença, preciso ir atrás da MINHA filha!

O homem não contestou, afinal, seriam dois coelhos com uma cajadada só.

O plano dele seria perfeito… Se não tivesse uma mente naquele momento que pensava tão rápido quanto a dele e que fez uma jogada tão arriscada que confundiu até o próprio jogador.

Porque ela era ela e aquilo era tudo que fazia sentido.