Eu havia acabado de jantar e preferi ir direto para o meu quarto. Meu pai estranhou, já que hoje era noite de jogo e eu adorava assistir futebol com ele. Na verdade, eu tinha outros planos para aquela noite.
Sentei-me à frente do meu computador e comecei a pesquisar. Aquele desenho não me era muito estranho. Haviam linhas tortas e formas estranhas, mas ainda assim me parecia familiar. Fiquei olhando bem a foto que eu tirei e tentei recordar-me de qualquer objeto que tivesse uma forma parecida. Nada me veio à cabeça, então resolvi pesquisar coisas aleatórias. Aproveitei para terminar um trabalho de geografia, já que não obtinha nenhum resultado na minha procura.
A última coisa que eu me lembro foi de estar pesquisando sobre golfinhos — como se eu precisasse saber mais sobre eles. Fiquei impressionada ao ler que eles podem nadar até uma velocidade de 40km/h. Depois disso, lembro-me apenas da minha mãe me chacoalhando para que eu acordasse.
— Marinette? Filha, acorde.
— Mas, mamãe, é sábado.
— Eu sei e já está quase na hora do almoço.
— Sério?
— Sério.
— Desço em dez minutos.
— Não demore.
Esperei minha mãe sair do quarto para finalmente dar um suspiro. Eu havia ficado a noite inteira acordada para procurar qualquer coisa que se parecesse com aquele desenho, mas foi um fracasso. Que ótima heroína eu sou.
Eu não acreditava que já era quase hora do almoço, então resolvi olhar a hora no computador. O relógio digital marcavam exatas 13:37. O almoço geralmente era servido às duas horas. Sim, minha mãe estava certa. Ainda assim, queria ficar ali mais um pouco, naquele silêncio, apenas esperando o tempo passar. Pensei no Adrien e fiquei me perguntando o que ele estaria fazendo agora. Ele poderia estar largado em uma rua, passando frio e fome, enquanto eu estava acomchegada na minha casa, protegida de qualquer perigo.
Foi necessário que Tikki me motivasse a me mexer. Eu não estava com a mínima vontade de fazer qualquer coisa que envolvesse esforço físico e me relacionar com formas de vida orgânicas. Eu apenas queria ficar sozinha com meus pensamentos melancólicos.
— Vamos, Marinette! Por favor! Sinto cheiro de cassoulet! Que eu saiba, é um dos seus pratos prediletos!
Ela tinha razão. Definitivamente, eu adorava cassoulet e, com aquele friozinho, ele seria perfeito. Praticamente desci arrastando-me pela escada e sentei-me à mesa. Meus olhos ainda estavam pesados e eu não podia dizer que estava com uma cara boa, memso que ainda não tenha me olhado no espelho.
Meu pai me olhou por cima do jornal que ele lia. Na manchete, mais uma notícia do desaparecimento do Adrien. Papai, que estava sentado à minha frente, fez uma careta para que eu risse e assim fiz. Foi engraçado.
— Que cara péssima, Marinette – disse minha mãe, colocando meu prato com comida à minha frente. – Parece até que foi para a guerra!
— Eu não dormi muito bem esta noite – eu disse, esfregando os olhos.
— Pois tire o dia para descansar. Eu quis uma filha, não um zumbi.
Ri do comentário dela. Minha mãe tem um humor extraordinário. Resolvi comer e posso afirmar que estava delicioso.
Depois do almoço, resolvi retornar à minha vida pesquisa. Resolvi analisar melhor o desenho na etiqueta do cachecol. Parecia ser um quadrado com lados redondos e um triângulo em cima, mas esta forma não cobria totalmente a parte de cima do quadrado, apenas uma parte. Pude perceber, depois de um tempo, que haviam pequenas letras embaixo dele: AF, foi o que pude ler. Era um desenho estranho, mas ainda assim fazia-me lembrar de algo, eu só precisava descobrir o quê.
Acabei fazendo exatamente o contrário do que minha mãe havia pedido: ao invés de descansar, passei o dia inteiro pesquisando na internet e nos livros qualquer coisa que tivesse algo em comum com aquele desenho, mas não obtive progresso.
— Por que será que ele fez isso? Se isso for uma pista, será que ele deixou para mim ou foi para outra pessoa? E se foi para outra pessoa, do que adianta eu continuar procurando? – eu disse para mim mesma.
— Marinette – disse Tikki, aproximando-se de mim –, não fique assim. Não há melhor pessoa em Paris para desvendar esse mistério. Já se esqueceu quem é a Ladybug, a maior heroína que essa cidade já teve? Com certeza somente ela pode resolver esse caso. Pois bem, faça isso: não pense como a Marinette que quer encontrar o amor da sua vida, pense como Ladybug, que quer salvar uma pessoa inocente.
Tikki tinha toda razão. Por mais que eu o ame, eu estava fazendo tudo errado. Como Ladybug, eu pensava nos outros apenas como vítimas que eu tinha que salvar, não como pessoas tão próximas e era por isso que eu obtinha sucesso nas missões. Pensar como Marinette me deixava fraca e vulnerável, porque meus sentimentos falavam mais alto. Respirei fundo e tentei me concentrar como Ladybug. Mesmo sem a máscara, ainda haviam rastros dela em mim e eu os usaria ao meu favor.
O sol estava quase se pondo e eu ainda estava procurando. Em um certo momento, peguei meu livro de História e comecei a folheá-lo quando vi algo que chamou a minha atenção.
— Tikki! Venha aqui! – eu chamei minha kwami e ela logo apareceu. – Veja isso!
— Nossa!
Eu arregalei meus olhos. Sim, era aquilo o que eu estava procurando! Peguei meu celular e comparei o desenho à foto do livro: eram extremamente parecidos.
— Isso é o...
—Coliseu! – eu disse, completando a frase dela.
Fui até o meu computador para pesquisar mais e li o que estava escrito:
— "Coliseu é um anfiteatro oval localizado no centro da cidade de Roma, capital da Itália. Construído com concreto e areia, é o maior anfiteatro já construído e está situado a leste do Fórum Romano.
"A construção começou sob o governo do imperador Vespasiano em 72 d.C. e foi concluída em 80, sob o regime do seu sucessor e herdeiro, Tito. Outras modificações foram feitas durante o reinado de Domiciano (81-96). Estes três imperadores são conhecidos como adinastia flaviana e o anfiteatro foi nomeado em latim desta maneira por sua associação com o nome da família (Flavius)".
— Nossa, que legal!
— Como eu pude ser tão cega! AF são siglas para o nome original em latim do Coliseu: Amphitheatrum Flavium.
—Então, se este desenho é o Coliseu isso significa que...
—O Adrien está na Itália, provavelmente em Roma! – eu disse, arregalando meus olhos para ela.
Eu podia ter gritado e pulado de felicidade, mas meus pais iriam me questionar, então me contive. Mas logo minha alegria acabou, pois havia uma questão a ser resolvida e Tikki logo percebeu o que era.
— Você vai atrás dele?
— Sim, preciso saber o que aconteceu.
— E como vai fazer isso? Como dirá isso aos seus pais?
"Ei, mãe, pai, vou para Roma ver se o Adrien está lá. Amo vocês". Não, eu não podia simplesmente dizer isso. Aliás, nem sabia como eu iria chegar lá. Roma ficava a cerca de 1100Km de Paris e ir a pé não era uma boa opção. Eu devia pensar em algo, rápido. Eu havia perdido tempo demais.
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