História Love Wins - 14:37 primeira parte.

A semana se arrastou de maneira miserável. Apesar do fim de semana infernal ao lado do Goten, nada se compara a ansiedade que me corrói desde o dia em que ele se foi. Só me dei conta da minha escolha lá por meados de quarta-feira. Tipo, definitivamente eu estou dando meus primeiros passos para um relacionamento sério com ele. Entrei em pânico ao imaginar meu pai descobrindo isso. Será que terei de viver me escondendo pra sempre?

Por mais que eu pensasse eu não cheguei a uma alternativa segura. O final de cada possibilidade dessa minha vida bandida, sempre termina comigo na merda. Não me sinto à vontade com rótulos. Seja lá o que eu for, não sei tenho forças pra encarar logo de cara. Preciso ir com calma. Essa semana meu pai e minha mãe até que ficaram de boa. Pensando nesse encontro agendado pra hoje (sábado) resolvi ser uma belezinha em casa. Evitei ao máximo ser mal-educado ou falar palavrões. Tirei só notas máximas na escola e fui o filho modelo.

                Tudo pra poder me livrar dessa maldita pulseira ao menos durante o fim de semana. Quero ter liberdade para me expressar da maneira que eu achar melhor. Minhas expectativas até aí saíram como o esperado. Minha mãe me liberou dessa porcaria e aqui estou eu, frente ao parque a esperar o Goten que até então não deu as caras.

                Combinamos ao meio-dia, mas resolvi não ser muito chato hoje. Ele mora a uns 1000 km daqui. Obviamente ele vai chegar um pouco atrasado.

...

                Assim o tempo lentamente passou e Deus sabe o quanto minha bunda ficou quadrada de tanto que fiquei sentado nessa praça. Já são 14:00 e eu tô extremamente puto. Já vi todas as formas de nuvens que meu cérebro poderia identificar, umas até hediondas por sinal. Eu não acredito que esse cusão do Goten vai me dar um bolo justo no nosso primeiro encontro. Ah, mais nem fudendo que ele vai fazer isso comigo. Nem que eu tenha que voar a toda força pra caverna onde ele mora e arrastar aquele animal pra cá.

                Eu respirei fundo e olhei para o meu celular. O display marcava 14:37 e meu sangue fervia. Ele realmente tinha dado o cano em mim. Só um milagre salvaria o Goten da minha ira.

Ao me levantar e olhar para a direita eis que topo com esse imbecil. Goten estava completamente ofegante e suado como se tivesse corrido uma maratona.

- Foi mal Trunks. Eu me perdi na cidade. (Se perdeu? Que desculpa de merda.)

- Goten você me deixou duas horas e meia plantado nessa porra de praça. Não dava pra ter ligado não?

- Não tenho celular. (Que ódio)

- Sem celular, nem redes sociais. Você é o que Goten, o 007? Caralho, tô puto com essa sua atitude. É assim que você quer começar alguma coisa comigo? Chegando duas horas e meia atrasado. Nem fudendo que tu vai me tratar assim.

- Do que é que você tá reclamando? Enquanto você tava aí sentado na sombra eu tava correndo pela cidade, tentando achar esse parque. Você disse que o parque se chamava dominó e os guardinhas do DETRAN me mandara lá pra um boteco na puta que pariu.

- Dominion, o nome do parque é Dominion não dominó sua anta. Isso mostra como tu é atento as coisas que digo. Por mais que eu queira te matar Goten, você está aqui e é isso que importa. E que diabos de roupas são essas?

                Como se não bastasse ele chegar atrasado ele ainda me aparece vestido de camisa de flanela quadriculada, a mesma calça jeans que ele usou no outro fim de semana e um tênis do tipo botinha no meio da canela. Jesus, eu aqui parecendo um idol de KPOP enquanto ele parece uma versão kids do Beto Carreiro.  

- E aí, curtiu? Faço muito sucesso quando vou pra quermesse lá nas montanhas. (Tem quermesse nas montanhas?)

- Lógico que não né Goten. Aqui é a cidade, você não pode se vestir assim. Pra você dançar quadrilha só falta o chapéu.

-  Para de ser besta Trunks, ainda não estamos em junho. ( -_- )

- Olha Goten, fecha o bico e vamos entrar logo nesse parque, antes que desista desse maldito encontro e nunca mais olhe na sua cara.

- Então isso é um encontro? Tu quer namorar comigo né, safadinho. (Filha da puta.)

- Não, não quero. Você é um boca aberta presunçoso que acha que depois de me deixar plantado aqui, ainda vou querer namorar você. Se vai ter que me agradar muito pra ter alguma coisa comigo.

- Trunks, seu problema é fome. Vamos entrar que eu te pago alguma coisa.

- É bom pagar mesmo seu cusão.

- Nossa, que boca suja Trunks.

- Ah, foda-se. Tô bravo.

                Depois de toda essa palhaçada entramos no parque que pra variar estava lotado e nos deparamos com milhões de crianças e adolescentes por todo lado. Gastamos 50,00 em cada entrada e sentimos na pele o pesar da pobreza. Tudo naquele lugar custava olhos da cara. Paramos frente a um quiosque e resolvemos pedir um lanche. Um sanduiche dos mais baratos estava por volta de 10,00 e uma coxinha 6,00. Eu achei isso um absurdo.

- Então, quantos lanches vão querer? – Perguntou o homem magrelo que mais parecia uma salsicha de hot dog.

- Vamos querer dez moço. (Dez!?)

- Dez, você ficou louco Goten? Temos só 250,00. Dez sanduiches desses já são 100,00.

- Mas eu tô com fome.

- Foda-se que você ta com fome. Com 150,00 não chegamos nem na metade do parque.

- Então pedirei algo mais barato. Quero 15 coxinhas.

- Caralho Goten, grande diferença. Só suas 15 coxinhas já dão 90,00 e eu ainda nem pedi a minha parte.

- Mas coxinha é mais em conta.

- O que não é em conta é essa sua matemática torta. Mano eu tô muito fudido se eu namorar você. Seremos dois pobretões sem ter onde cair morto.

- Tipo o Yamcha?

- Você entendeu. Olha moço, me vê dois sanduiches e quatro coxinhas ok.

- E pra beber?

- Água é de graça?

- Só a da torneira.

- Me vê dois copos desse por favor. (Pude ver com clareza uma lágrima correr no olho do Goten.)

                Olha, não me julguem ok. Estou pobre e o único dinheiro a qual tenho acesso são esses 250,00. Nem fudendo pagarei 15,90 em cada garrafinha de água mineral. Tenho planos pra esse dinheiro. Goten não sabe, mas eu quero um urso. Só saio dessa merda de parque com meu urso.

                Depois de lá resolvemos andar um pouco e desbravar o ambiente. Eu não conhecia muito o lugar já que o senhor Vegeta é um pai negligente. Goten a todo momento tentava pegar minha mão e eu só dando uma de evasivo e saindo fora. Não tenho problema de  assumir que gosto do Goten, mas andar de mãos dadas em público aí é foda pra mim. Sou filho e neto de dois dos cientistas/engenheiros mais famosos do mundo. Tem sempre alguém de olho em mim. A última coisa que quero é que meus pais saibam de alguma coisa por conta de um artigo nessas revistinhas de fofoca que a vovó lê.

                Adverti o Goten sobre nossa força, pois o guri é cabeça de cocô e se esquece que não tá no campo. Não devemos chamar a atenção. Eis que Goten tenta pegar minha mão mais uma vez e logo de cara topamos com ninguém menos que Charlie o professor substituto a comer solitariamente um algodão doce.

                Sua primeira reação? Mas é claro que foi olhar para nossas mãos juntas e dedos entrelaçados. Eu só tive tempo de puxar rapidamente minha mão e ajeitar meu cabelo. Não vou dar brecha pra esse fofoqueiro.

- Trunks? Mas que feliz coincidência. (Infeliz isso sim.) Quem é o seu amigo.

- Olá, me chamo Son Goten.

- Muito prazer me chamo Charlie. Não sabia que você era do tipo social Trunks.

- E não sou. (Não vou dar corda pra esse palhaço.)

- É verdade Trunks não gosta de parques, mas hoje é nosso primeiro enco.. (Tive de beliscar o Goten pra essa matraca fechar a boca. Qual parte de sermos discretos essa besta não entendeu?)

- Caralho Trunks isso doeu. Qual é a sua?

                Pra piorar, esse otário do Charlie arqueou a sobrancelha e começou a desconfiar.

- Esse é o nosso primeiro encontro em família. Nossos pais estão circulando por aí. (Suei frio.)

- Ué, e por que beliscou seu amigo?

- É Trunks, por que me beliscou?

- Por que não devemos falar com estranhos. Tchau. (Tratei de pegar o Goten pelo braço e sair correndo de lá.)            

                Eu não estava preparado pra isso. Droga, outras pessoas da minha escola podem estar por aqui também. Terei de redobrar minha atenção.

- Que isso Trunks me solta. Ficou louco. Como você sai assim e deixa ele falando sozinho?

- Goten esse cara é o maior fofoqueiro. Ele é professor substituto na minha escola. Qualquer coisa que tu falar a mais com essa sua boca arreganhada ele vai contar direto pros meus pais. Ninguém pode saber de nós.

- Ah, então é isso. Por isso você não me deixa pegar na sua mão. Olha Trunks. Não sou de me esconder. Se quer algo comigo você vai ter de sair da concha.

- Falar é fácil já que ninguém conhece você. Experimenta ser o centro das atenções pra você ver.

- Trunks, se você quiser provar da amora terá de pegar com firmeza no galho. (o_O)

- O que supostamente isso deveria significar?

- Que..

- Ah, quer saber? Nem fala. Tenho medo dessas suas parábolas mentais. Anda vamos, ainda temos muita coisa pra ver. Dizem que o incrível Corleone o ilusionista está se apresentando aqui.

- E ele é bom?

- Não sei, mas mestre Kame já viu e disse que ele sabe mais truques que uma prostituta.

- Então vamos ver esse mágico aí.

- Vamos.

Continua...