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História Lucille - Único


Escrita por: TrumanBlack

Notas do Autor


Uma fofinha que não saiu da minha cabeça hoje <3

Capítulo 1 - Único


Fanfic / Fanfiction Lucille - Único

O dia em que ela nasceu foi o dia mais feliz da minha vida. Nunca achei que eu pudesse amar alguém tanto como eu amei a sua mãe, mas lá estava ela, tão minúscula que eu tinha medo de me mexer e de alguma forma machucá-la. A sua mãe morreu para colocá-la no mundo, e antes de tê-la em meus braços eu achei que eu odiaria a pessoa que matou o amor da minha vida, mas no momento em que eu a tive em meus braços tudo isso derreteu.

Eu dei a ela o mesmo nome da mãe, Lucille, uma pestinha que de alguma forma que nem mesmo eu entendia tudo que ela fazia me deixava completamente encantado, mesmo quando não fazia sentido como fuscas bailarinos e carros ovelhas, quando ela conversava mil palavras em um minuto sem nem respirar no auge dos seus cinco anos sentada na minha cama depois de um dia de trabalho aquilo era o mais próximo do paraíso que eu estava.

Lucille era destemida, corria contra o vento como aquele maldito cavalo do filme da disney que ela gostava, Spirit o corcel indomável, a princesa favorita dela era a Mulan porque ela tinha uma espada. E era a criança mais doce, esperta dessa merda de planeta. Ela gostava de cantar qualquer coisa que tocasse no toca CD do carro, mesmo a voz dela sendo horrível era muito melhor que qualquer coisa que a rádio pudesse tocar.

Ela tinha o meu humor, a minha risada, as minhas manias, todos os domingos de manhã ela produzia dez sanduíches de manteiga de amendoim e geléia e me fazia assistir cavaleiros do zodíaco com ela na antiga TV do meu quarto, mesmo ela crescida já uma adolescente o hábito continuava. Ela era a melhor rebatedora da liga de baseball do condado. Apareceu uma vez no jornal e tudo.

Nos seus dezesseis anos de vida eu nunca fui capaz de entender completamente como algo tão bom podia ter saído de mim.

Quando tudo começou, ela foi a primeira a sugerir sairmos da cidade, ela não achava seguro e eu fui, a segurança dela era tudo que me importava, tudo que me fez seguir por todos esses anos após a morte da mãe dela. Eu achei que ela ficaria assustada, mas ela fez um pen drive com músicas para a nossa viagem de carro e empacotou tudo que poderíamos precisar até que tudo se resolvesse.

As vezes eu me pergunto se nunca tivéssemos saído se ela ainda estaria viva ou qualquer coisa que eu poderia ter feito para evitar que ela morresse, às vezes eu imagino como ela estaria aqui, uma princesa do apocalipse segura e bem tratada no santuário, de vez em quando eu posso jurar que eu consigo escutar ela cantando, como se estivesse aqui porém muito distante “It's a damn cold night trying to figure out this life, won't you take me by the hand take me somewhere new? I don't know who you are but I, I'm with you” Então eu pego a minha carteira, que guardo no meu quarto com uma sequência de fotos dela, desde o seu nascimento até  última foto, com 16 anos.

Na última foto ela está me abraçando e sorrindo, eu tinha dito alguma coisa que a fez rir então a sua cabeça está inclinada para trás o cabelo castanho encaracolado, que nem o da mãe os seus olhos castanhos fechados e eu a seguro pelos ombros. A foto é do início do verão do apocalipse, no outono ela iria começar o ensino médio. “I'm with you”, eu ainda posso ouvir.

Ela agarrava aquele taco de baseball que ela tanto amava, mesmo quando as outras meninas zoavam ela na escola. Não foi surpresa que quando o inferno se alastrou na terra a primeira coisa que ela pegou pra se defender foi o taco, ela era excelente nisso. Depois de alguns meses, quando ela começou a perder a esperança de que as coisas voltariam ao normal ela enrolou arame farpado em volta do bastão mas isso não a desanimou, uma vez ela disse que estava feliz, se ela tivesse que passar por tudo isso era melhor que estivesse comigo. Como diabos eu coloquei ela no mundo? Ela era inocente, ela não merecia isso.

Lucille merecia envelhecer, merecia ir pra uma boa faculdade e ter uma família, um futuro viver até o último dos seus dias feliz e fora de perigo. Ela merecia que eu estivesse de qualquer merda de lugar que nós vamos depois de morrer olhando pra ela, eu mataria o mundo inteiro se isso garantisse que ela vivesse.

Ela que insistiu que fossemos dormir num hotel abandonado de beira de estrada, ficava numa estrada de chão e havia cinco dias que dormimos no carro, Lucille reclamava de dor nas costas e sempre havia a possibilidade de ter máquinas automáticas de comida. Eu tinha dado a minha última barra de cereal para que ela comesse no dia anterior de manhã e ela já tinha perdido tanto peso que eu poderia segurá-la pelo braço com o polegar e o indicador de tão finos que estavam.

Para a nossa surpresa praticamente não havia mortos lá, um ou dois apareceram depois de Lucille estilhaçar o vidro da máquina de comida e tirar as batatas fritas e outros salgadinhos, eu os matei e ela estava tão feliz por poder comer que saiu em busca de mais máquinas automáticas e voltou com um saco cheio de comida e refrigerantes, ela comeu até não aguentar mais e deitar de barriga pra cima respirando com dificuldade.

Lucille encarou o teto até virar pra mim com os olhos arregalados e perguntar “Será que tem aguá quente? Um banho seria muito maneiro, não sei a última vez que esse corpo viu água” e saiu correndo para o banheiro, comemorando o fato de ter água e essa água ser quente e saiu do banheiro pingando, dizendo que eu também teria que tomar banho, quando eu saí do banheiro ela estava dormindo, eu a cobri até o pescoço e a deixei dormir. Ela não acordou até de manhã, quando acordou muito assustada.

―Eu ouvi alguma coisa do lado de fora ― Ela disse, ainda toda amassada de rosto inchado os seus olhos castanhos lacrimejando, eu a deixei no quarto por cinco minutos enquanto eu vistoriava do lado de fora.

Se eu tivesse voltado antes, se eu tivesse deixado o taco com ela, se eu a tivesse levado comigo ou se ao menos eu tivesse sido mais cuidadoso com a  vistoria da noite anterior. Eu continuo revivendo aquele momento e analisando o que eu poderia ter feito diferente.

Primeiro eu ouvi o grito e depois o som se algo se chocando contra o chão, pareceu que mesmo que se eu fosse o homem mais rápido do mundo não seria  suficiente, nada seria.

Lucille estava caída no chão, um morto em cima dela eu o puxei o matei enquanto ela se levantava  chorando como se quisesse que os seus olhos saíram das órbitas. Eu não entendi a princípio, porque ela estava chorando? Por que ela estava segurando o braço e de onde vinha todo aquele sangue. Quando eu finalmente entendi, eu quis morrer eu morreria com ela.

A primeira vez que Lucille ralou o seu joelho ela não chorou, ela me olhou com aqueles enormes castanhos por baixo da franjinha que a avó dela tinha insistido em cortar era como se ela estivesse me perguntando o que fazer, e agora ela chorava todas as lágrimas que não haviam saído durante a infância. Eu a abracei, a coloquei em meu colo e a consolei. Mas nós dois sabíamos, ela iria morrer.

―Pai, faça isso ― ela disse,  a voz trêmula do choro ― Eu não quero ser uma daquelas coisas, por favor.

Essa foi a minha vez de chorar,os filhos nunca deveriam morrer antes dois pais, nenhum pai deveria passar por isso eu a apertei mais forte, ainda sem querer machucá-la, mesmo tendo dezesseis ela ainda era o meu bebê, a garotinha que eu vi crescer, que me chamava de doutor dos dentes e me entregava metade dos seus doces de halloween porque achava que o papai merecia doces por andar com ela por ai, a garotinha que me fez ir num show da Hannah Montana três vezes, que quase me matou de orgulho quando ganhou o título de melhor rebatedora de toda a cidade, minha garotinha, minha Lucille.

Eu a abracei mais forte quando puxei a arma e coloquei próximo a cabeça dela, era a única forma, não havia outro jeito.

―Pai, continue vivo, não desiste, por favor pai ― ela disse, me olhando seriamente em meio ao choro ― Eu vou estar com você, o tempo todo,eu quero que fique com meu bastão, eu te amo papai, eu nunca quero que fique triste, é o melhor papai, fique bem, eu te amo pra todo sempre, até a lua e de volta, lembra?

―Eu te amo Lucy, papai te ama mais que tudo nesse mundo ― eu disse, meus dedos tremendo na arma, tremendo até ela fechar os olhos a ponta dos seus dedos me tocando, eu atiro e quando ela amolece em meus braços eu me lembro pra primeira vez que eu a segurei, solto a arma e a deixo cair, chorando sobre o corpo sem vida da minha garotinha, da minha Lucille. ―Eu te amo, eu te amo. ― Repito até as palavras perderem o sentido, a última vez que eu a segurei e poderia segurar na minha vida. A única coisa boa que eu pude fazer agora tinha ido embora e nunca mais voltaria.

Eu olhei o seu bastão, tão perto de onde a mão sem vida dela estava, o que ela amava, ela me deu, era a minha última lembrança dela. A última coisa física que me lembrava que ela esteve aqui e que de alguma forma sempre estaria.



 


Notas Finais


espero que gostem <3


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