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História Lumière - Montanha Russa


Escrita por: lunevile

Notas do Autor


Boa noite!
Sentiram falta de Lumi por esses dias?

Bem, me deixem tentar explicar o sumiço. Primeiro, como vocês sabem estou no DDC, aquele projeto maravilhoso de fanfics mensais e semana passada todos os meus esforços estavam concentrados na OS de Halloween. Segundo: To formando na faculdade e tenho até dezembro pra entregar todos os meus trabalhos finais, aí já viram né? Terceiro: Lesionei o pulso o que me deixou impossibilitada de escrever...

Mas cá estou, com esse capítulo que é DECISIVO na história, e por isso ele está um pouquinho maior e recheado de coisinhas.

Vito meu amô obrigada por iluminar a minha cabeça e me dar umas ideias para escrever melhor algumas coisas desse capítulo, obrigada!

Esse capítulo é importante e dedicado à Bel, uma pessoa importante, que me acompanha desde sempre e que sempre me faz sorrir quando surta ao final de cada capítulo. Bel, parabéns! Não posso te dar muita coisa mas te dou esse capítulo que é crucial. Não queia me matar depois, viu?

Capítulo 12 - Montanha Russa


Fanfic / Fanfiction Lumière - Montanha Russa

É uma pena que nós não sejamos capazes de saber quando o começo do fim se aproxima. Se eu tivesse captado algum mísero sinal de que as coisas podiam desandar, talvez eu me resguardasse um pouco e talvez a dor que senti fosse menor.

Mas a verdade é que a vida é mesmo assim, sobe e desce, como uma montanha russa. A grande diferença é que quando se está em uma montanha russa, você sabe que o carrinho vai descer os trilhos e você vê a queda se aproximar, o seu corpo é inteligente e se prepara para a queda.

  Na vida real o carrinho despenca sem nenhum aviso. Quando o carrinho sobe você se sente o rei do mundo e acredita ser capaz de qualquer coisa – o amor me fez pensar essas coisas…

Você está lá no topo feliz e radiante e então cai.

 

Tudo acontecia muito rápido, mas eu estava até um pouco orgulhoso de quem eu era naquela fase da minha vida. Não sei… eu pareci ter mudado tanto em tão pouco tempo e de fato eu gostava do que havia me tornado.

Eu me sentia livre.

Livre e menos reclamão.

O amor parecia ser responsável por toda essa transformação porque com Chanyeol, até a aula mais chata no dia mais chato parecia mais suportável. E havia algo mágico em nossa relação, como se estivéssemos conectados, em sintonia. Eu não precisava dizer de minhas vontades para que Chanyeol me entendesse e pensasse em consonância comigo. Éramos uma equipe.

Eu também adorava o fato de que naquele momento, pela primeira vez em todos os meus anos de vida eu tinha um grupo de amigos. Claro que eu sempre estive feliz em ter Kyungsoo comigo, mas agora era diferente, pois éramos seis e cada um de nós contribuía para fazer um grupo bem diverso.

Kyungsoo agia como se fosse nosso líder, era ele quem decidia na maior parte das vezes o que era certo ou errado, ele tinha uma postura de – mãe – cuidado conosco. Jongdae era quem nos fazia rir a todo custo além de nos mostrar que você pode ser vários, desde que queira, afinal ele era um médico motoqueiro e com certeza não havia nada que ele não fosse capaz de fazer.

O Junmyeon assim como seu namorado era meio desbocado e sempre falava o que queria sem pensar. Às vezes quando eu parava para refletir sobre isso chegava a uma conclusão filosófica: ele estava nos ensinando todos os dias que não devemos nos envergonhar de ser exatamente aquilo que somos.

Jongin fazia o tipo quieto, mas era só de fachada mesmo. Eu ouso dizer que Jongin tinha entre nós o maior coração sabe? Ele era um tanto semelhante à Kyungsoo nesse aspecto, pois era amoroso e carinhoso além de não medir esforços e fazer tudo que estava ao seu alcance para fazer bem ao próximo.

Eu era o dramático e sarcástico do grupinho que escorregava perdido entre as identidades claras de cada um. Acho que estar com cada um deles me fazia descobrir um outro lado meu e me apaixonar pela vida. Eu me sentia especial porque fazia parte de algo especial.

E tinha Chanyeol.

Ah, Chanyeol.

Ainda buscava formas de descrever ou de falar dele simplesmente, mas ele parecia – e na verdade era mesmo – muito mais do que tudo que eu pensava dizer ou escrever porque era surpreendente e imprevisível o que me fazia querer cada vez mais dele. Eu sei que sou sempre redundante quando falo dele, mas Chanyeol não gostava de ostentar uma postura engessada e permanente, ele parecia ter gosto em se transformar, em se virar do avesso e me surpreender a todo instante. O que eu achava ser mais curioso é que eu gostava disso.

Eu sempre me senti melhor em ambientes seguros, com pessoas seguras, entende? Eu gostava daquelas pessoas das quais se podia prever todo um repertório de ações e comportamentos porque assim eu tinha algum tipo de controle e nada poderia me surpreender. Mas Chanyeol fazia exatamente o contrário, ele mudava a cada instante e para meu total espanto eu adorava isso porque quando ele mudava acabava me transformando junto e eu já não mais queria ser o mesmo Baekhyun de sempre.

Eu queria mudar.

De fato as coisas começaram a mudar a partir desse ponto, mas não da forma como eu queria. 

 

***

 

Maio era o meio de nosso semestre letivo, dizia-se semestre, mas na verdade tínhamos aulas por um período um pouquinho maior do que quatro meses. Os prazos para a entrega de trabalhos e provas começavam a nos incomodar, e nós tínhamos que nos desdobrar para dar conta de tudo e manter a média.

No momento eu estava em uma sala reservada da biblioteca da faculdade, tentando ler alguns textos de Antropologia, mas por mais que me esforçasse, minha mente sempre vagava para longe, e lá estava eu pensando na morte da bezerra quando o gritinho agudo de Junma me fez pular.

- Baekhyun! – Ele falou ao mesmo tempo em que fechava a expressão e cruzava os braços – Você não ouviu palavra nenhuma do que eu disse não é mesmo?

Ele tinha razão.

- Ah, eu estava pensando nos trabalhos… - Falei perdido.

- Baekhyun, a minha festa surpresa é mil vezes mais importante que qualquer trabalho. E é essa noite, caso o senhor não se lembre. –Seus olhos pareceram se tornar maiores que o normal e ele colocou as mãos nas bochechas no que eu pensei ser uma tentativa de parecer fofo.

Estreitei meus olhos diante da visão.

- Suho! Não é surpresa se você já sabe! – Chanyeol falou batendo nos ombros do outro, fazendo o corpo esquio balançar um pouco.

Junmyeon manteve a expressão vazia por um momento e depois fechou os olhos bem dramático. Só depois de levantar seu dedo indicador no ar e colocar uma de suas mãos no peito foi que falou à Chanyeol.

- Primeiro, meu querido: se eu digo que vai ser surpresa, então será. E eu farei uma cara ótima de surpresa. – Ele abriu a boca em formato de ó e manteve a mão estacionada no peito, depois bem cínico fingiu estar chorando. – Bem assim.

- Mas… - Eu queria dizer a ele que nós estávamos sendo obrigados por sua mente maléfica a preparar a festa para aquela noite, afinal o aniversário mesmo era no dia seguinte, mas ele me interrompeu.

- Ainda não terminei com o seu boy! – Ele falou se dirigindo a mim com o dedo ainda erguido e depois voltou a encarar o mais alto – E segundo: Só o Jongdae pode me chamar de Suho. Você é o Jongdae? Não é.

Chanyeol abaixou a cabeça para rir e antes que Suho percebesse o fato, eu tentei captar sua atenção fazendo uma pergunta qualquer:

- Então Junma, porque faremos a festa na minha casa e hoje, se o seu dia é só amanhã? – Eu sabia a resposta, só queria mantê-lo entretido.

- Eu já te falei mil vezes, BB. Vai ser na sua casa porque lá já é o point do clubinho...

- O point do clubinho. – Repeti cada palavra.

- Me deixe continuar! E vai ser hoje porque amanha o Jongdae vai estar de plantão e é óbvio que não seria a minha festa se ele não estivesse presente!

É claro. Um pouquinho depois do meu aniversário, Junmyeon começou a planejar a própria festa surpresa porque também queria ter uma. Em suas próprias palavras ele disse que não queria nada grandioso demais, apenas uma reuniãozinha só para nós com algumas comidas e bebidas. A comemoração aconteceria no meu pequeno apartamento porque como vocês mesmo viram, ele era o point do clubinho.

Ele mesmo havia comprado as coisas com dinheiro do próprio bolso e nós só tínhamos que chegar um pouco mais cedo – não no meu caso porque aquela já era a minha casa e eu já estaria lá de qualquer forma – para preparar os petiscos e os drinks. A confraternização começaria por volta das sete da noite.

- Então vamos almoçar por aqui e eu já vou direto pra sua casa ok, Baek? – Junmyeon falou me fazendo voltar à realidade.

- Mas você vai direto para a minha casa, e então estará com a mesma roupa na sua festinha? - Falei só para implicar mesmo, porque eu sabia que ele era bem chato quando o assunto era se arrumar para qualquer tipo de evento.

- Meu figurino para noite está dentro da minha mala, que está dentro do meu carro.

- Mala? – Chanyeol perguntou confuso, se fazendo presente na conversa.

- Sim, a minha mala com tudo que é necessário para brilhar essa noite. Eu quero estar lá para garantir que farão as coisas do jeito que eu quero.

Chanyeol abafou o riso.

- Você vai também, Chanyeol? – Junma perguntou um tanto nervoso.

- Não… dessa vez não vai dar, Junma. Durante a tarde vou fazer trabalho, sabe como é né? – Chanyeol coçou a cabeça – Mas à noite estarei lá, com certeza!

Junmyeon pareceu satisfeito com aquela resposta, porque se levantou na maior naturalidade e começou a fazer alguns alongamentos malucos ao lado da mesa onde estávamos, mas eu fiquei com uma pulga atrás da orelha.

- Que trabalho, Chanyeol? – Ergui a sobrancelha.

Ele arregalou os olhos e mordeu o canto dos lábios porque certamente não esperava minha pergunta. Fazíamos quase todos os trabalhos juntos e eu queria mesmo saber que trabalho era esse que ele faria, afinal não havíamos marcado nada.

- Ah… - Eu podia sentir a confusão em suas palavras, mas ele olhou para os papéis em minha mão e continuou – É de antropologia.

Eu e Junmyeon estávamos fazendo o mesmo trabalho e era em grupo por isso eu havia pensado que Chanyeol faria o tal trabalho conosco, afinal ele estava ali naquele momento, certo?

- Pensei que você fosse do nosso grupo! – Junmyeon falou, virando o tronco para encarar o outro com a expressão confusa de sempre.

- Vocês sabem que essas coisas foram definidas no início do semestre, quando eu… - Ele falou sem conseguir nos olhar.

- Ainda fazia parte do lado negro da força! – Junma completou.

- Eu até pensei em mudar de grupo e fazer com vocês, mas eles insistiram então eu vou fazer com eles mesmo, mas vai ser só esse, ok? – Ele nos olhou, na certa esperando por um feedback positivo.

- Tudo bem, Chanyeol! – Falei com desânimo demais.

- Você está com raiva, Baek! – Chanyeol protestou.

Eu ri. Não estava com raiva, apenas pensativo. A minha memória não me permitia esquecer de como eram as coisas quando Chanyeol andava com seus antigos amigos, e uma partezinha bem lá dentro de mim temia que essa reaproximação não tivesse boas consequências na vida de Chanyeol e nem no nosso relacionamento.

- Não to não... – Levei uma de minhas mãos até seu rosto e fiz um carinho leve enquanto forçava um sorrisinho.

- É só a Taeyeon, o Taemin... – Ele começou a listar uns nomes.

- Não precisa falar nada Yeollie!

Ele sorriu, se aproximou de mim e passou suas mãos ao redor do meu pescoço, me puxando para um beijo rápido porém quente. Os beijos de Chanyeol eram realmente os melhores e era um tanto difícil parar depois que ele me tomava com sua língua nervosa. Mas nós tínhamos que parar, e de fato nos desvencilhamos assim que Junmyeon falou:

- Não precisa falar nada Yeollie! – Sua voz saia bem nasal e afetada como em uma imitação tosca de mim mesmo.

Eu me preparei para dar a ele qualquer resposta firme onde eu usaria como argumento a forma carinhosa como ele era chamado por seu namorado: Myeonmyeonzinho. Mas meu celular vibrou em cima da mesa, captando toda a minha atenção, ainda mais depois que li o nome que piscava na tela: Oh Sehun. Para variar.

Junmyeon tentou pegar o telefone, mas eu fui mais rápido, graças ao bom Deus. Eu sabia que se Junma colocasse as mãos naquele telefone, ele atenderia e aí as coisas ficariam sérias ou então desastrosas.

- É o tal de Sehun de novo? – perguntou.

Olhei para ele com a expressão mais séria que possuía em meu repertório, mesmo que de forma discreta para que Chanyeol não percebesse a tensão que se instaurava no local. Como ele podia falar de Sehun assim em voz alta mesmo depois de eu ter dito um milhão de vezes que Chanyeol já estava ciumento e suspeitando de algo?

- Sinceramente Baekhyun, você tem que dizer quem esse cara é e o que ele quer com você ou eu mesmo vou atender esse celular da próxima vez. – Eu não consegui detectar qual era o sentimento por trás das palavras de Chanyeol.

- E-Eu já te falei que é alguém que conheci, alguém da minha cidade, nada demais.

Junmyeon acompanhava o diálogo bem atento movimentando a cabeça e os olhos de mim para o mais alto conforme falávamos.

- E porque você não atende? – Ele refez a pergunta que havia feito uma centena de vezes na última semana.

- Porque não quero falar com ele! – Minha voz saiu áspera demais e isso pareceu silenciar Chanyeol.

Depois de um tempo com a expressão pensativa e as ruguinhas da testa evidentes pelo esforço foi que ele disse:

- Se ele ligar novamente eu vou atender e dizer umas poucas e boas a ele!

 

***

 

Passei a tarde pensando em Chanyeol e em o que ele estaria fazendo com o antigo pessoal dele. Eu sabia que haviam se reunido para fazer trabalho, mas não sei, algo dentro de mim se sentia traído e é óbvio que eu tinha vontade de ir até onde quer que ele estivesse para arrancá-lo de onde quer que fosse, mas eu também sabia que devia um voto de confiança a ele, afinal confiança é tudo nos relacionamentos.

Eu não conseguia parar de pensar que ele estava um tanto estranho e distante quando estávamos na biblioteca e isso estava me deixando impaciente e eu continuava nervoso mesmo depois de ouvir Junmyeon dizer que ele não havia percebido nada extraordinário no comportamento de Chanyeol.

Estávamos no apartamento que agora estava sendo arrumado para a tal surpresa. Junmyeon estava em cima de uma escada prendendo uma faixa de parabéns em dois pontos da parede da sala, eu segurava a tal escada para que ele não se estabacasse no chão. Jongin enchia algumas bexigas e Kyungsoo andava de um lado a outro preocupado com mínimos detalhes que iam desde até a decoração até os petiscos que havia preparado.

O combinado é que Jongdae traria algumas bebidas e comidas, assim como o principal: o bolo. Ele avisaria quando estivesse chegando, Junmyeon sairia um pouco antes de sua chegada e daria uma volta de carro pelo quarteirão e só depois que Jongdae estivesse dentro do apartamento, é que o outro subiria e assim descobriria a surpresa. Coisas de Junmyeon! Coisas que só fazíamos porque ele era rico e nos obrigava e também porque bem lá no fundo gostávamos dele.

A campainha tocou enquanto estávamos presos em nossos afazeres e o aniversariante quase tombou da escada pensando que havíamos perdido a hora e que Jongdae já estava na porta e ele ainda não estava pronto.

Mas era apenas Chanyeol.

Ele entrou meio zonzo pela porta do apartamento e nem respondeu aos comentários toscos de Junmyeon sobre seu atraso. Ele estava visivelmente aéreo e quando se sentou no sofá, seus olhos caíram sobre mim e ali pesaram um pouco.

Algo havia acontecido.

Fui até ele e me sentei a seu lado no sofá, esperando que falasse alguma coisa. Chanyeol era observado por quatro pares de olhos apreensivos e parecia saber disso, pois suas pupilas correram os quatro cantos do apartamento e depois baixaram, e o som de sua risada baixa ecoou sobre nós.

- O que houve? – Jongin perguntou chegando um pouco mais perto.

- Perdi meu celular! – Ele falou bem desolado mas ainda tendo um sorrisinho no rosto.

- Ah! Você me assustou, cara! – Kyungsoo bradou, dando cascudos na cabeça de Chanyeol.

- Onde foi isso? – Jongin perguntou bem solícito.

- Não sei bem, eu estava na casa da Taeyeon fazendo trabalho e estava com ele, aí quando estava chegando aqui senti falta, então refiz o caminho mas não tinha ficado na casa dela...

- E você está de moto? – O moreno perguntou.

- Sim! – Chanyeol possuía um olhar distante enquanto falava – Pensei que pudesse ter caído pelo caminho, já que estava no meu bolso...

- Que pena! – Kyungsoo falou.

- É, mas não se preocupem com isso ok? – Chanyeol ficou feliz de repente – Vamos focar na festa.

 

***

 

Seguimos a ordem de Chanyeol e em pouco tempo tudo já estava arrumado e pronto para a festa – não tão - surpresa de Junma. Esse inclusive já havia tomado um belo banho e colocado suas roupas para a noite. E mais ou menos à sete, como combinado, Suho desceu para contornar o quarteirão enquanto Jongdae subia com o bolo.

O bolo era grande e possuía três camadas – ou andares – redondas que ficavam cada vez menores conforme a altura. A cobertura era feita de alguma massa dura porém colorida na cor azul marinho, e haviam pequenas bolas amarelas em relevo por toda a extensão do bolo, feitas com a mesma massa, como se imitassem manchas de uma onça.

Jongdae o colocou com cuidado sobre a mesa grande que havíamos colocado no canto e então quando me aproximei pude ver que nas laterais do bolo havia algumas palavras escritas em uma caligrafia arredondada: Parabéns Myeonmyeonzinho. O Myeonmyeonzinho com certeza adoraria aquele bolo porque era escandaloso como ele mesmo.

Mas escândalo mesmo foi o que ele fez quando viu a surpresa. Ouvimos a campanhinha tocar mais ou menos uns dez minutos depois que terminamos de arrumar o bolo e o resto das coisas que vieram com Jongdae em seus devidos lugares. Nós todos nos olhamos antes de abrir a porta, na certa compartilhávamos o mesmo pensamento: Junmyeon é mesmo maluco de planejar a própria festa surpresa!

A porta se abriu e posso jurar que os astronautas na base espacial da NASA foram capazes de ouvir o grito que Junmyeon deu, agudo, constante e estridente. Ele repetiu a atuação que havia demonstrado mais cedo na biblioteca, só que dessa vez com mais afinco e intensidade, falando bem alto, gesticulando e fingindo chorar de maneira bem dramática.

- Ai meu Deus, eu não esperava mesmo! – Falou ao mesmo tempo em que fingia enxugar as lágrimas.

Era esse o Junma que todos conhecíamos e amávamos! Começamos a gritar feito loucos pedindo que ele fizesse um discurso e ele, exagerado como si só, começou a ensaiar algumas palavrinhas ainda em pé na porta:

- Ai pessoal, eu não sei o que dizer! Imagino o trabalho que vocês tiveram... – Ele colocou uma de suas mãos no coração enquanto falava – Vocês são os melhores!

Kyungsoo jogou um bocado de confetes em cima do aniversariante que riu e recuou alguns passos, perdido. Jongdae se colocou imediatamente a frente de seu namorado e fez um sinal para que nós ficássemos em silêncio, o que fizemos.

- Eu queria dizer algumas palavrinhas aqui, ta bem? – O motoqueiro falou depois de selar os lábios do outro rapidamente – Bom, primeiro quero dizer que apesar de não estarmos juntos há tanto tempo, você já é a melhor parte de mim, Junmyeon...

Nessa hora Junmyeon começou a chorar de verdade, acreditem e o outro seguiu com o discurso emocionado:

- Obrigado por me fazer sorrir e por tornar a vida uma aventura – Jongdae estava sorrindo quando Junmyeon se aproximou dele e lhe deu um beijo apaixonado. Me permiti concluir que os dois eram até bem bonitinhos juntos.

Ao fim do beijo os dois só se olharam e o amor pareceu tomar conta da sala, Jongin beijou Kyungsoo com tanta vontade e tão de repente, que derrubou algum dos docinhos que estavam na mesa, devido ao impacto do corpo do menor sobre ela.

Chanyeol veio ao meu encontro, mas não nos beijamos, ele passou seu braço pelo meu ombro e eu repousei a minha cabeça no seu, e por alguns instantes ficamos ali observando os outros casais.

Jongdae segurou uma das mãos e Junmyeon e continuou a olhar em seus olhos, porém a sua expressão que antes era singela e apaixonada foi aos poucos se tornando maliciosa e ao mesmo tempo engraçada.

- Myeonmyeonzinho, eu quero recitar um poema pra você...

- Ai, Jongdae! – O outro falou, fazendo charme.

Então Jongdae riu e pigarreou um pouco antes de começar a declamar o poema que ao ouvir me perguntei se seria de sua própria autoria:

De galinha eu tiro a pena

De peixe eu tiro a escama

De você eu tiro a roupa

E te levo pra minha cama.

 

O pequeno poema é um retrato do que nós éramos e da atmosfera que envolveu o apartamento durante toda a noite. O resto da festa correu como esperávamos, comemos e bebemos bastante, e rimos muito também. Junma bebeu demais como sempre fazia e começou a ser indiscreto, nós como bons amigos que somos fizemos vários vídeos dele dizendo que com o Jongdae gostava de revezar, e também outro onde ele dançava a coreografia de Ice Cream Cake.

Estávamos sentados em um círculo, rindo até a barriga doer das besteiras que Junmyeon fazia por causa do álcool no sangue, quando o meu celular que repousava no tapete ao meu lado vibrou ocasionando um ruído alto e grave que era o resultado da vibração sobre o tapete felpudo da sala.

Eu não precisei olhar para a tela do celular para saber que o alerta denunciava uma chamada que eu já sabia de quem era. Uma musiquinha de duelos do velho oeste tocou em minha mente e eu olhei para Chanyeol que já me encarava com os olhos estreitos. O celular jazia no chão entre nós dois e eu teria que ser rápido se quisesse ter o aparelho em minhas mãos antes que meu oponente. Tudo aconteceu em poucos segundos: trocamos um ultimo olhar antes de ambos nos lançarmos em busca do pequeno objeto que vibrava e para meu total azar ele venceu.

Chanyeol olhou para a tela do celular e antes de atender exibiu o aparelho como um prêmio nas mãos, deixando que todos nós víssemos o nome de Sehun piscando e então, com um olhar malicioso ele atendeu, e colocou no viva voz para que todos nós pudéssemos ouvir a conversa. Dos presentes ali só Kyungsoo sabia quem era Oh Sehun, os outros estavam curiosos e não vou negar, nós dois também estávamos.

- Alô! Quem ta falando? – A voz de Chanyeol saiu amedrontadora, bem mais grave e firme do que o normal.

- Baekhyun? Ah.. bem, é o Sehun! – Uma voz suave falou abafada do outro lado da linha.

- Pois bem Sehun, quem fala é Park Chanyeol, o namorado de Byun Baekhyun e basta ao senhor saber que ele está impossibilitado de receber chamadas no momento.

- Ah, desculpa, cara! Atrapalhei alguma coisa né? Pede pra ele me ligar depois?

Eu quis dizer algo naquele momento, mas Kyungsoo me segurou tapando a minha boca para que eu não conseguisse falar.

- Ok.

- Valeu cara! Cuida bem do Byun e... use camisinha, ta legal?

- O quê? Mas que desaforo. Olha aqui seu... – Os olhos de Chanyeol se arregalaram e depois tornaram a assumir seu ar confuso – Ele desligou na minha cara.

 

***

 

Eu não sou capaz de narrar os fatos daquela noite porque estava mais atento ao comportamento de Chanyeol, carinhoso ao extremo comigo. Às vezes seu olhar se tornava opaco e distante, mas quando eu pensava haver algo estranho ele me beijava, mandando embora toda e qualquer insegurança que podia existir dentro de mim.

Junma adorou seus presentes e ao final da noite já nos agradecia copiosamente por termos lhe proporcionado aquilo que ele escolheu chamar de “a melhor festa surpresa de todos os tempos” e também pelos presentes e pelo bolo. Ele adorou o bolo azul de bolhinhas amarelas.

Houve um momento mais para o fim da noite em que Chanyeol ficou mais quieto e enquanto todos os outros dançavam ao som de uma música de pop qualquer e riam feito os bestas que de fato eram, se encaminhou até a janela, e ficou lá durante algum tempo. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo, então pensei que algo estivesse o incomodando, talvez a ligação de Sehun tivesse causado algum efeito nele e ele estivesse chateado...

- O que foi Chanyeol? – Falei chegando perto dele, imitando sua postura encurvada com os cotovelos sobre o parapeito da janela.

- Nada... só estou pensando! – Ele falou sorrindo.

- Pensando em que? Posso saber?

- Em você... no que mais poderia ser? Eu te amo.

Eu o puxei para um beijo longo e doce que se tornou cada vez mais quente e sedento. Ele me puxou para mais perto de seu corpo e em sua língua eu podia sentir o gosto doce e cítrico da bebida que havia tomado.

Ainda com muito esforço me desvencilhei do seu beijo apenas para olhá-lo um pouco antes de segurar firme em sua mão e levá-lo para meu quarto, onde eu podia tê-lo só para mim e cada momento nosso parecia ser infinito.

Estávamos tão afoitos que assim que fechei a porta ele me jogou no colchão com toda a força e apesar de sentir um pouco de dor não me importei, pois precisava tê-lo naquela noite, de todas as formas possíveis. Suas mãos habilidosas percorreram todo o meu corpo, apertando e massageando minha pele, ao mesmo tempo em que a marcava com sua boca.

Eu permanecia deitado na cama, mas a cada toque de seus dígitos e a cada vez que sua língua áspera e quente tocava minha pele, meu corpo se elevava arqueado e trêmulo de prazer. Chanyeol me imobilizou entrelaçando seus dedos nos meus, esticando meus braços até onde podia e eu fiquei ali à mercê de sua vontade. E suas vontades eram intensas e loucas.

Ele pressionou os lábios com bastante força sobre meu pescoço – única parte de mim que estava à vista e eu gemi baixinho, como um refém. Ele parecia furioso e seus beijos eram tão afoitos que seus dentes arranhavam minha pele e a maltratavam. Ele parou de me beijar durante uma pequena fração de segundo, apenas para me olhar nos olhos e dizer:

- Eu te amo, assim. Eu te amo de todas as formas.

A bebida parecia presente em cada gota do sangue que corria em suas veias e seus atos pareciam acelerados, suas mãos agora tentavam - ainda que trêmulas – se livrar de todo o tecido de suas roupas e eu soube que aquela era a minha deixa para copiar os seus atos. Minha camiseta voou para um dos cantos do quarto em uma rapidez descomunal, e antes que eu pudesse me livrar de minha calça jeans, ele me afogou em seus lábios novamente.

Tudo parecia aumentado, os meus sentidos pareciam intensificados e naquele momento tudo que eu queria na vida era ele, então quando o beijo acelerou, eu o puxei com mais força para perto de mim e ao fazê-lo senti minhas unhas arranharem suas costas com uma força exagerada. Mas aquilo era o êxtase então eu repeti o ato com ainda mais força e dessa vez ele interrompeu o beijo e arqueou um poucos as costas emitindo um grunhido alto me lançando um olhar pecaminoso que denunciava o quanto ele havia gostado.

Ele se afastou um pouco e se levantou a frente da cama de forma que eu podia ver o seu corpo quando ele se despiu por completo. Sua respiração era ofegante o que deixava a definição de seu abdome – agora um tanto suado – ainda mais evidente e sedutora. Eu precisava tê-lo. Meu peito subia e descia tamanha a adrenalina do momento, logo que o vi a minha frente pensei em tocá–lo e por instinto me levantei para fazer isso, mas ele me empurrou de volta a cama e eu não lutei.

- É assim que eu te amo Byun Baekhyun, em toda a sua simplicidade – Ele disse enquanto s colocava de quatro sobre a cama engatinhando em minha direção.

Eu me movimentei rapidamente desejando me livra de minha calça pois o volume que havia dentro dela já me deixava louco. Mas Chanyeol segurou minhas mãos e fez um movimento com a cabeça que indicava que era ele quem faria isso aquela noite. Eu amava como as noites com ele nunca eram iguais, era sempre um novo Baekhyun e um Chanyeol, e as combinações eram impossíveis desde que podíamos ser vários.

O homem a minha frente levou um de seus dedos à própria boca e apenas aquela visão poderia me fazer desfazer, mas ele era cruel e queria mesmo me ver enlouquecido por isso tirou o dedo umedecido da boca e com ele traçou um caminho que começava um pouco abaixo de meus mamilos e ia até abaixo do umbigo.

- Chanyeol, por favor! – Tentei formular uma frase.

Ele me pareceu me ignorar e refez o caminho antes feito por seu dedo agora com pequenos beijos, e a cada selar de seus lábios sobre a minha pele meu corpo vibrava e se elevava.

- É assim que eu te amo, Byun Baekhyun, em toda a sua complexidade e mistério. – Falou após o ultimo beijo e apenas pelo efeito de seus beijos e pelo som de sua voz gravem, eu me desfiz ali, ainda metade vestido, gemendo e arfando alto.

Ele seguiu abrindo o cinto que prendia a minha calça ao meu corpo, e aproveitou para dar alguns apertos sobre minhas coxas, enquanto eu voltava a ansiar por ele. Meus pensamentos estavam a mil quando Chanyeol se livrou de toda a minha roupa e começou a usar a sua língua habilidosa para explorar a minha intimidade.

Aquilo estava me deixando louco. Ele alternava a velocidade de sés movimentos me fazendo totalmente refém de sua boca e eu reuni todas as minhas formas para pedir a ele:

- Chanyeol, por favor!

Ainda me provando ele me olhou e seus olhos transmitiam toda a malícia que eu sabia que ele carregava consigo. Quando ele se colocou de pé em minha frente seus lábios estavam vermelhos e molhados e ele passou sua língua sobre eles para me atiçar, como só ele era capaz de fazer.

Então, ele se colou de volta sobre a cama e se aproximou de mim, me erguendo com facilidade, e sem interromper o beijo ele deitou e me colocou sobre seu colo.

- Eu amo você, eu amo o seu gosto, eu amo o seu cheiro e eu amo como você me deixa assim, completamente enlouquecido. – Ele falou num tom baixo e percebi que assim como eu, ele se esforçava para dar voz às palavras.

- Eu te amo, seu idiota. – Falei baixo o suficiente para que ele ouvisse.

Como ele podia dizer que estava enlouquecido? Eu era o verdadeiro louco ali, ele era quem me fazia ser capaz de loucuras. Era ele que me fazia vibrar e derreter ao mesmo tempo. Entrelacei minhas mãos às dele, enquanto remexia um pouco o quadril em seu colo, da forma que acreditava ser o mais sedutora possível e pareceu funcionar porque ele emitiu um gemido baixo que sufocou mordendo os próprios lábios ao mesmo tempo que iniciou os movimentos responsáveis por me tirar toda a lucidez.

E eu me deixei sucumbir pela forte onda de prazer e êxtase que pairava sobre aquele quarto naquela noite. Eu fui dele como nunca havia sido de mais ninguém em toda a minha vida.

 

***

 

O dia seguinte seria como todos os outros: cheio de aulas, chatas por sinal. Mas pelo menos acordei com Chanyeol ao meu lado. Ele ainda dormia quando me levantei para tomar um banho e comer alguma coisa. A casa estava um tanto bagunçada e ao contrário do que eu pensava, não havia sinal de Jongin em lugar nenhum.

Encontrei Kyungsoo na cozinha que me disse que Jongin não havia passado a noite ali, mas sabia que Chanyeol sim. Eu a princípio me senti um pouco envergonhado, mas passou quando me lembrei da noite maravilhosa que tivemos.

Tudo parecia cooperar para que o dia fosse perfeito, nossas aulas estavam até suportáveis e eu até sorri quando soube que depois do almoço – quando geralmente estávamos dispensados para voltar pra casa – teríamos mais uma aula extra no laboratório de informática.

Nada poderia abalar meu dia. No almoço nós cinco ocupávamos uma mesa e conversávamos sobre a festa. Kyungsoo nos mostrava vários vídeos onde Junmyeon dançava alcoolizado nós ríamos enlouquecidos, nada poderia estar melhor: tinha até couve-flor no meu prato.

Terminamos de comer relativamente rápido, e já estávamos saindo do restaurante quando um instrumental alto tomou conta do lugar e nós imediatamente nos viramos em busca daquele som. De repente a voz da Shania Twain invadiu o local onde estávamos cantando aquele verso famosão:

From this moment life has begun

From this moment you are the one

Right beside you is where I belong

From this moment on

 

- Alô! – Uma voz provavelmente ampliada por um microfone ecoou pelo campus. Nós nos olhamos porque conhecíamos aquela voz.

Jongdae.

- Myeonmyeonzinho, eu sei que você está aí.

Corremos em direção à parte central do campus, e lá nós encontramos Jongdae sorrindo fácil posicionado à frente de um carro equipado com uma potente aparelhagem de som. Em uma de suas mãos ele tinha o microfone e na outra carregava alguns balões e um buquê de flores.

Aquilo era inacreditável.

Uma pequena multidão se formou ao redor de onde Jongdae e o carro de som estavam, então ele continuou dizendo enquanto a música ainda embalava suas palavras.

- Então Junmyeon, sua surpresa não terminou ontem! – ele falou sorrindo - Eu vim aqui na frente de todas essas pessoas que nunca vi na vida, dizer que te amo muito e que não sei mais viver sem você.

A multidão fez um grande e sonoro AAAWN.

Pensei que não havia nada mais vergonhoso que aquela situação, mas quando me virei para ver os meus amigos, vi que Junmyeon já chorava e achava tudo muito lindo. Chanyeol coordenava a multidão a fazer movimentos com os braços erguidos no ritmo da canção e Jongin dançava sozinho na frente de Kyungsoo que lhe direcionava sorrisos nervosos e acenos pedindo que parasse.

- Você é o melhor namorado do mundo, Dae. – Jumyeon falou meio choroso, saltitando feliz com a situação, depois se virou para mim e Chanyeol e disse – Meninos, o que me move é esse boy maravilhoso aqui!

Jongdae entregou a Junma o pequeno buquê e os balões e os dois trocaram um beijo rápido. Olhei em volta pra ver a reação das pessoas, mas todos pareciam tocados pela demonstração de amor dos dois.

Era assim que tinha que ser né? O amor deve ser ovacionado e admirado em todas as suas formas, afinal o que seria do homem e da vida sem o amor. Um sentimento tão simples, porém capaz de mover pessoas e impulsionar vidas.

 

***

 

Caminhei a passos lentos até aquele laboratório que usávamos para algumas aulas. Meus pés seguiam o caminho quase que automaticamente. Fazendo um esforço para me lembrar mais sistematicamente do que aconteceu, consigo me recordar de que no momento eu ria como nunca, Junma estava ao meu lado esquerdo com o seu presente, e seus olhos irradiavam uma felicidade daquelas que contagia. Ao meu lado direito, estava Chanyeol, altivo e risonho como sempre, com um dos braços circundando meu ombro.

Naquele momento tudo estava como eu queria que estivesse e eu me permiti pensar que pela primeira vez em muito tempo eu estava simplesmente feliz, como se finalmente tivesse encontrado meu lugar no mundo. Como se nada pudesse retirar de mim aquela sensação de pulsão constante, de animação e satisfação com o que se vive.

Naquele momento eu estava feliz.

Mas vocês já devem entender de histórias românticas, não é? Então, certamente vocês sabem que quando tudo está dando muito certo é sinal de que ainda não chegamos ao fim. Os melhores e maiores amores são aqueles aventureiros, aqueles que passam por tempestades e resistem, afinal é como dizem por aí “um mar tranquilo não faz um bom marinheiro” e o mar de Chanbaek estava tranquilo demais.

Eu poderia fazer a opção de encerrar as coisas aqui, e contar que esse é o fim da história e te poupar de toda a melancolia que se arrasta pelas próximas cenas, mas quando paro para pensar em tudo que nos aconteceu naquela época acabo concluindo que esse foi um capitulo importante do nosso sentimento, e que sem ele não teríamos nos tornado o que somos hoje, então eu vou fazer um esforço para falar das coisas na forma em que aconteceram, por favor, apertem os cintos e se sentem: lá vem história.

Chanyeol se ateve em algo ou alguém e por isso não seguiu para dentro do laboratório como eu e Junmyeon fizemos. Nós entramos sozinhos e os efeitos de nossa entrada foram estranhos. Senti de imediato vários pares de olhos repousarem sobre mim e instintivamente olhei toda a minha roupa e passei uma de minhas mãos no rosto, investigando se havia algo errado com a minha imagem. Olhei para Junmyeon que exibia olhos confusos e também parecia não entender o que estava se passando ali.

Então vieram os risos.

E os dedos indicadores apontados em minha direção.

A situação era incomoda demais. Um burburinho encheu o ar, mas eu não consegui distinguir do que falavam, a todo canto que meus olhos se atinham, havia um sorriso malicioso direcionado a mim. As pessoas aparentemente riam de algo que era exibido na tela dos computadores. No meio da confusão de vozes consegui ouvir alguém gritar: “Nossa, Baekhyun você da mesmo conta do recado, hein? ”

Mais risos. Dessa vez mais fortes.

Junmyeon agiu, enquanto eu começava a ser dominado pelo tremor que ia de minhas pernas até a minha cabeça - que já parecia começar a latejar - meu amigo girou o monitor de um dos computadores do laboratório em nossa direção para que nós pudéssemos ver o motivo de tanta risada.

Eu congelei quando vi.

A tela exibia um vídeo meu, ainda na cama, nele, eu gemia e pedia a Chanyeol que me deixasse dormir, a tela se apagava e outra pequena sequência em vídeo começava, desta vez eu pedia a Chanyeol que me pegasse de jeito, em outra sequência eu chamava seu nome ainda dormindo e em outra, filmada no quarto de Chanyeol, meu peritoral nu aparecia enquanto eu gemia algo sobre querer Chanyeol em mim.

Tremi mais ainda e eu não fui capaz de fazer nada. Senti como se todo o meu corpo se anestesiasse de vergonha e cambaleei para trás como se repelisse o conteúdo das imagens. Houve mais risos e outras frases com o intuito de fazer a turma rir daquilo que era a minha intimidade... Senti meus olhos marejarem, mas eu não podia demonstrar nenhuma fraqueza diante daquilo por mais que meus pés tremessem, implorando para fugir dali.

Junmyeon também parecia não acreditar naquilo, e por isso, seguiu até outros computadores onde outras pessoas gargalhavam as minhas custas, e conferiu nos monitores se as imagens exibidas eram as mesmas e de fato eram.

De repente minha mente se perguntou de onde vieram aquelas imagens. No fundo, eu sabia a fonte delas, mas em uma atitude clara de auto defesa preferia acreditar que aquele a quem eu amava e havia me entregado não faria isso comigo, eu estava totalmente decidido a negar sua participação em qualquer coisa, mas como se fosse capaz de ler a minha indagação escrita em minha testa, Kim Taeyeon disse, rindo feito uma idiota:

- Obrigada Chanyeol, por conceder as imagens! Você fez direitinho. Tome aqui seu celular.

Então, como se seguissem uma liderança, vários outros alunos iniciaram uma série de imitações minhas, e uma onda de vozes mesquinhas e melosas tomaram conta do lugar, ao meio delas eu podia ouvir vários, “Ah, Chanyeol”.

Não!

Ele não podia ter feito isso comigo depois de tudo.

Aquilo era baixo.

Eu e Junmyeon nos viramos instintivamente e só então vimos que Chanyeol estava um pouco atrás de nós dois. Os olhos atentos a tudo, sem dizer nenhuma palavra se tornaram vidrados e presos em mim e eu não consegui segurar. A raiva queimava as maçãs de meu rosto e ao olhar para ele senti um fio de lágrima dançar sobre minha pele.

- Foi você? – Perguntei entre dentes o encarando.

- Chanyeol, as imagens ficaram melhores do que nós imaginávamos, você fez um ótimo trabalho. – Um garoto disse.

Então era isso, tudo havia sido planejado com bastante cuidado. Um grande plano na tentativa de humilhar alguém que eles escolheram por talvez não ser tão descolado quanto eles, alguém que fosse ingênuo bastante. Esse alguém era eu. Byun Baekhyun, um idiota qualquer vindo do interior, alguém fácil de se enganar, alguém inocente o suficiente para acreditar em amor.

Por isso, eles deviam ser aplaudidos, conseguiram me enganar direitinho, tocando no ponto que ambiguamente eu podia chamar de minha maior força, mas também de minha maior fraqueza: a solidão. Eles foram espertos em me atingir nesse ponto porque por mais que eu gostasse de me vangloriar sobre ser uma pessoa solitária e não precisar de ninguém, bastaram algumas investidas de Chanyeol para que eu cedesse, me amolecesse e me abrisse para ele, porque na verdade tudo que eu mais queria era ter alguém. Mesmo que me isolasse sempre com medo desse contato, lá dentro do meu casulo de isolamento eu gritava por carinho e afeto.

E Chanyeol me deu amor. Ou pelo menos fez um teatro bem convincente no papel de namorado perfeito e me fez acreditar que eu podia ser finalmente amado.

E eu caí.

- Eu fiz os vídeos...

Ele começou a dizer, mas não foi capaz de terminar sua frase porque foi atingido em cheio por um soco vindo do punho de Junmyeon que agora exibia um expressão raivosa e séria demais, como eu nunca havia visto estampada em seu rosto. Com os dentes cerrados o rosto também vermelho e o peito que subia e descia em sinal de uma respiração descompassada, ele olhou para mim e seu olhar – apesar da situação – me fez acreditar que não estava sozinho.

Pensei que Chanyeol fosse revidar o soco, mas para a sorte de Junmyeon, ele não o fez, apenas levou uma de suas mãos até os lábios agora coloridos com um pouco de sangue em um dos cantos e olhou para mim e para Junma, com o mesmo olhar confuso de sempre. Olhar para ele me fez ter mais raiva ainda, mas eu não bateria nele, por mais que merecesse.

- Você é um completo idiota! – Foi só o que eu disse antes de deixar o local.

Sair da sala me inundou de efeitos controversos sobre o que havia acabado de acontecer. Me sentia um tanto livre para correr, fugir dali para o mais longe possível, mas a vontade que me venceu e à qual eu me rendi foi a de desabar em qualquer canto do corredor e chorar baixinho ainda que compulsivamente.

Corri até um corredor lateral às salas de aula, que dava acesso ao ginásio de esportes. O local tinha pouca luz e era meio afastado, então eu desisti de correr, e antes que minhas pernas falhassem, me deixei desabar ali, abraçando meus joelhos com toda a força possível.

Como eu pude ser tão idiota?

Idiota.

Idiota.

Idiota.

Comecei a repetir a palavra baixinho, em uma tentativa falha de me punir por ter sido tão tolo. As lágrimas começaram a vir com mais intensidade e eu decidi deixa-las fluir para que talvez assim, o nó na garganta aliviasse, mas não adiantou de muita coisa, pois quanto mais eu chorava mais parecia ter vontade de chorar e gritar.

Minha mente parecia conspirar contra mim quando começou sozinha a elencar momentos com Chanyeol e exibi-los em minha memória. Eu me sentia triste, mas, sobretudo era a raiva intensa que me inundava cada vez mais. Raiva dele, é claro, por ter sido tão mesquinho comigo, mas também e principalmente raiva de mim mesmo por me deixar levar por meia dúzia de palavras bonitas e o olhar inocente dele.

Ouvi passos e percebi que alguem se aproximava, então levei minhas duas mãos ao rosto tentando enxugar as lágrimas que caiam sem parar. Então ouvi sua voz grave dizer:

- Baekhyun, por favor...

- Vai embora! – Minha intenção não era gritar, mas minha voz saiu forte e grave como um grito.

Eu me levantei, queria olhar nos olhos dele para que ele soubesse que eu não era um fraco e era capaz de encará-lo de frente, mas ainda assim sua cabeça ficava a um palmo acima da minha.

- Eu não vou embora! Você tem que me deixar falar. – Ele me segurou quando eu tentei me afastar.

- Me larga! Não tenho nada para falar com você.

- Mas Baekhyun, eu te amo!

Eu ri alto.

- Poupe-me das suas mentiras, ta legal?

- Baekhyun, confia em mim!

- Não! Você é um mentiroso!

- Baek, por favor, não me odeie. – ele disse emoldurando meu rosto com suas mãos grandes antes que eu pudesse me esquivar.

- Me larga!

Ele ficou em silêncio.

- Talvez eu devesse te odiar, mas eu não te odeio, Chanyeol. Eu odeio a mim. Odeio a mim mesmo por ter sido tolo o suficiente para cair na sua armadilha, tolo o suficiente pra baixar a guarda e acreditar que alguém como eu fosse digno de viver uma história de amor como nos filmes...

- Mas você pode! Nós podemos, meu amor! Só me de a chance de me explicar.

- Explicar o que? Que você gravou os vídeos, que você deu pra eles?

- Eu não fiz isso! Eu achei que tinha perdido o meu celular, eu te falei, meu amor.

- Não me chama de meu amor!

Então ele se calou. E eu entendi que aquele era o fim.

- Não venha atrás de mim, Chanyeol! Por favor.

- Baekhyun... – Ele implorou.

- Você é a maior decepção da minha vida.

 

***

 

Chorei de forma compulsiva, porém silenciosa no caminho de volta. Quase na entrada da faculdade passei por Junmyeon, que a essa altura já estava contando tudo para Kyungsoo. Eu queria um abraço deles, mas não podia me dar o luxo de parar e esperar, eu queria e precisava ficar sozinho, sem Chanyeol. Lancei a eles um olhar de suplica, pois sabia que Chanyeol me seguiria, e esperava que meus amigos o impedissem de me alcançar.

Kyungsoo não me dirigiu palavra alguma, apenas um olhar solícito foi o suficiente para que ao menos em alguma partezinha minúscula de mim algo se sentisse cuidado e abraçado. Ele sempre estaria lá para mim.

Corri.

Mesmo sabendo que meus pés me levariam para minha casa ainda que eu estivesse de olhos fechados, apesar de saber o meu destino, me sentia sem rumo. Meus olhos eram embaçados pelas lágrimas que insistiam em cair com uma força cada vez maior. Eu não via o caminho com clareza, tudo diante de meus olhos se assemelhava a um conjunto de vultos, meus braços e pernas tremiam constantemente como se pedissem por ajuda, meu estômago revirava, minha mente parecia insistir em lembrar dele de qualquer forma, e isso, o caos instaurado em meu corpo me fazia ensurdecer aos poucos, adormecer. Eu não parecia estar ali. Aquilo parecia um sonho horrível. Um pesadelo.

Fechei meus olhos com força para depois abri-los em uma tentativa débil de acordar, mas nada aconteceu porque aquilo era mesmo a vida real, a dura e amarga vida real de Byun Baekhyun.

Não havia como escapar.

Eu estava exausto. Parte de mim queria esquecer e nunca mais voltar naquele lugar, mas uma outra parte masoquista de mim mesmo queria e se esforçava para lembrar de tudo e reviver na pele cada momento.

Os rostos rindo de mim.

Os sons das risadas.

Foi Chanyeol.

 

***

 

Quando cheguei em casa eu chorei, e chorei mais e mais até que minhas lágrimas pareceram secar. De fato, era assim que eu me sentia, seco. Por mais estranho que pudesse parecer naquele momento, e apesar de não ter muita clareza do que estava sentindo, eu não me sentia arrependido de absolutamente nada.

Eu estava anestesiado como se, após a sobrecarga de emoções, não fosse capaz de sentir mais nada. Olhei em direção a mesa que havíamos colocado em um dos cantos da sala, na noite anterior. Ainda havia alguns pequenos pacotinhos de doces e eu me permiti pegar um e me embriagar com açúcar.

Da janela de meu quarto olhei a rua lá em baixo, a altura de mais ou menos uns dezesseis metros os carros que passavam pareciam minúsculos com seus pequenos feixes luminosos e cabiam em minhas mãos. Abri minha mão e deixei que cerca de três docinhos caíssem. Fui acompanhando a rota que faziam até lá embaixo, mas em algum ponto eles se tornaram minúsculos e desapareceram.

O vento tocou as maçãs de meu rosto com força e uma lágrima escapou de meus olhos, uma última e dolorosa lágrima. Joguei mais um doce e ele também desapareceu.

Me levantei e olhei mais uma vez a rua lá em baixo e os carrinhos minúsculos todos tentando voltar para casa.

Essa era a resposta.

E eu precisava desaparecer.


Notas Finais


XABLAU

Me desculpem.


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