- Baekhyun? – A voz grave ecoou pelos meus ouvidos e fez com que um calafrio forte percorresse todo o meu corpo.
Mesmo estando todo esse tempo longe de Chanyeol, tentando me convencer de que meus sentimentos por ele não existiam, guardando-os em um lugarzinho bem lá no fundo de mim mesmo, a voz dele fez meu estômago revirar e eu me senti tolo por ainda gostar tanto dele depois do que havia feito.
Naquele momento eu tinha duas opções: a primeira era desligar o telefone imediatamente na cara dele sem ouvir o que quer que fosse o que ele tinha para me dizer, e a segunda era se arriscar, deixar de lutar comigo mesmo e ouvi-lo para saciar aquela vontadezinha que gritava dentro de mim ansiando por ouvir a voz dele.
O turbilhão de sentimentos em mim me impediu de dizer qualquer coisa e então foi ele que preencheu o silêncio mais uma vez.
- Você ta bem? – Sua voz saiu cansada e arrastada de um jeito que não combinava com ele.
Eu ri alto pela audácia dele em me fazer uma pergunta como aquela, a essa altura do campeonato. Ele brinca comigo, me ilude, joga os meus sentimentos no lixo, me humilha na frente de todo mundo e ainda vem me perguntar se estou bem... Segurei meu impulso primário de desligar o telefone naquele momento apenas porque não podia deixar que ele pensasse que me afetava de alguma forma.
- O que isso tem a ver com você? Só me esquece, ta legal? – Ao fim de minha frase dei uma risadinha baixa e maliciosa, com a intenção de feri-lo de alguma forma, afinal eu não tinha nada a perder.
- Você tem que me ouvir, tentei entrar em contato com você pelo seu celular, mas não consegui... – Ele iniciou outra fala, parecendo cansado, como se cada palavra pesasse dento dele e fosse um esforço dizê-las.
- Pára. – Foi tudo que conseguir dizer para tentar impedir que ele seguisse com o seu monólogo idiota, mas ele continuou a falar.
- Foi a Taeyeon, ela roubou o meu celular e colocou os vídeos na rede! Ela queria zoar. – Chanyeol foi dizendo naquele desânimo irritante.
É ela queria me zoar mesmo.
Chanyeol continuou dizendo meia dúzia de palavras arrastadas pelo telefone, mas tudo aquilo estava me deixando triste, melancólico e irritado e eu tinha que tomar uma decisão. Eu amava Park Chanyeol com toda a força que havia em mim e isso estava errado, era a hora de cortar esse sentimento pela raiz.
Ele continuava falando quando eu explodi.
- Eu não quero ouvir você. – Gritei deixando que toda a minha raiva e dor se esvaíssem de mim naquele rompante de nervosismo.
- Eu vou até onde você está, só me diga...
- Cala a boca, Chanyeol! Eu não quero te ouvir! – Deixei o melhor por ultimo porque tinha esperança de que essas palavras o ferissem com ao menos um terço da intensidade com que me machucavam, então respirei fundo e disse – Estou bem melhor sem você.
Mesmo que ele merecesse aquelas palavras e ainda que fosse necessário dizê-las até mesmo para que eu internalizasse a ideia de que a partir daquele momento da minha vida, Chanyeol seria apenas um desconhecido, me doeu muito dizer cada uma delas.
Ele ficou em silêncio completo e então as lembranças vieram com toda a força, fazendo com que eu me sentisse o mais perfeito idiota por chorar. Era como se algo dentro de mim estivesse despedaçando e mesmo depois de tudo, ainda havia uma partezinha de mim que queria ignorar tudo, deixar de ser racional e dizer a ele que lhe daria uma chance e que o amaria pelo resto da vida.
E foi essa partezinha que agiu contra qualquer outra vontade do meu corpo e respondeu a ele, rompendo o silêncio em um tom que deixou transparecer meu choro.
- Chanyeol...
- Baekhyun, vem logo! – A voz de Sehun me trouxe de volta a realidade e eu tive que assimilar outra vez onde eu estava: na sala da casa de meus pais, e Sehun me esperava do lado de fora de casa para cometermos uma loucura.
Sehun gritou alto e mesmo antes de ouvir as palavras de Chanyeol eu soube que ele também havia escutado.
- Você deve estar muito bem.
Eu não consegui dizer mais nada e o único som que recebi em resposta foi o pequeno click indicando que Chanyeol havia desligado na minha cara.
Mas que audácia a dele, quem ele pensa que é para desligar na minha cara daquela forma? Quem manda aqui sou eu e além do mais eu tinha que explicar que Sehun era apenas um amigo... Ei, dane-se! Sehun podia ser mais que um amigo se eu quisesse e eu decidiria aquilo naquela noite.
Saí rápido de casa antes que a depressão me alcançasse devido àquela conversa com Chanyeol. Eu tinha que ser rápido e agir no impulso antes que ficasse sentimental demais e estragasse a noite. Por isso, Sehun me dirigiu uma expressão vazia e confusa quando eu passei por ele e me inclinei para subir na moto.
- Quem era no telefone? – Sehun perguntou em um tom preocupado demais para o meu gosto – Você não parece bem.
- Ninguém importante. – Ele se ajeitou na moto e eu me agarrei à sua cintura – Vamos? Aliás, aonde você vai me levar?
- Vou te levar à um lugar novo que o pessoal daqui costuma ir quando quer se divertir! – Ele virou a cabeça de forma que eu pude ver seu perfil quando ele continuou – Prepare-se para a melhor noite da sua vida Byun Baekhyun.
Eu estava bem nervoso, mais do que devia estar e imaginar as possibilidades do que faríamos aquela noite era algo que estava me deixando ainda mais nervoso. Sehun havia dito mais cedo que tinha um amor e mesmo que tentasse evitar eu não conseguia parar de pensar que talvez essa pessoa fosse eu, o que me levava a real fonte de toda a minha ansiedade: será que rolaria alguma coisa?
Tentei não pensar nisso enquanto Sehun cortava a noite fresca com sua moto sem nome. Aquela sensação ainda era responsável por me fazer lembrar de momentos que eu queria esquecer, mais ao mesmo tempo conseguia silenciar meus pensamentos e me acalmar de um jeito único.
Fechei meus olhos durante o percurso e me forcei a pensar no hoje, no agora e esquecer o passado, mas antes que pudesse evitar senti que estava prestes a chorar! Mas que droga! Agradeci por Sehun estar na direção da moto e por isso não ser capaz de ver a cena deplorável que era Byun Baekhyun chorando como uma garotinha.
Eu não podia chorar, definitivamente não podia, não por um idiota como Chanyeol. Quando o vento tocou meu rosto com força em uma curva da estrada eu decidi que me divertiria como nunca, beijaria uma, duas ou três pessoas, se quisesse e ao fim da noite, estaria às ordens de Oh Sehun.
Um tempinho depois de ter tomado tal decisão, a moto parou e eu finalmente abri os olhos, percebendo que estávamos em algum ponto do centro da cidade, em frente do que parecia ser um grande galpão do qual fluía uma musica bem animada e típica do interior, pessoas entravam e saiam a todo tempo, algumas inclusive vestindo trajes em xadrez e às vezes grandes chapeis na cabeça.
E a imagem me fez sorrir.
- É isso que a gente faz quando quer se divertir! – Sehun falou quando descíamos da moto.
- Parece mesmo bem legal! – Eu falei tentando esconder dele o meu rosto inchado.
Sehun estacionou a moto em um estacionamento adjacente ao tal galpão e nós atravessamos a pequena rua em direção àquilo que parecia uma festa bem animada. Mas, meu disfarce de pessoa feliz aparentemente não havia funcionado porque antes de entrar no local, Sehun segurou a minha mão, e me fez parar um pouco antes de prosseguir, para que ele dissesse para mim:
- Se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que ninguém merece uma lágrima nossa! – Ele abriu um sorriso amigável e quando me dei conta, lá estava eu sorrindo também em resposta.
Nós dois entramos juntos no lugar e apenas a visão daquele amontoado de pessoas se divertindo me fez sorrir mais ainda. Havia um grande grupo logo a minha frente que dançava de maneira sincronizada ao som de alguma musica que possuía banjo no arranjo. Parecia muito o country americano, coisa que eu geralmente odiaria, mas que ali estava me fazendo um bem danado. Eu olhei aquele monte de pessoas e pensei: vou beijar alguém! Eu vou!
A noite estava sendo mesmo divertida. Eu até tentava me movimentar como os outros, mas tudo que conseguia era alguns movimentos desordenados. Ao contrário de mim, Sehun era muito bom na dança e qualquer movimento que ele fazia parecia sexy e elegante ao mesmo tempo, em seus trajes de couro, ainda que a musica não cooperasse muito.
Nós bebemos um pouco, o suficiente para nos deixar mais soltos a ponto de dançar livremente sem nos importar com a opinião dos outros. Pensei que ele tentaria me beijar ou algo do tipo, mas ele não agia e eu comecei a me sentir bastante nervoso, mesmo assim tentei não pensar nisso.
Mas houve um momento, em que uma musica lenta começou a tocar, e Sehun se aproximou de mim com um sorriso malicioso.
- O que você acha de beijar alguém, hoje? – Uma risadinha baixa tomou conta de sua fala ao fim da frase.
Pensei que ele fosse me beijar naquele momento e fiquei bem nervoso, confesso. Ao mesmo tempo tinha certeza do que devia e precisava fazer, havia uma voz em minha mente que me dizia pra tomar cuidado e não fazer as coisas com tanta pressa, mas essa voz eu pretendia ignorar naquela noite, afinal eu queria fazer alguma loucura, não é mesmo?
Eu resolvi ignorar meu sexto sentido cuidadoso e me aproximei de Sehun ainda que bem pouco, esperando que ele entendesse que aquele era um sinal verde para que ele agisse porque eu era inseguro demais e apesar de arquitetar várias situações em minha mente, na prática atitude definitivamente não era o meu forte.
Para minha surpresa, o outro apenas me olhou com uma expressão confusa demais para meu gosto e eu senti que talvez tivesse me precipitado. Antes que eu pudesse perguntar algo a ele, Sehun sorriu para alguém acima do meu ombro e eu me virei para encarar.
Era Soojung, vestindo um vestido brilhoso na cor preta, curto que deixava suas coxas a mostra. Quero ressaltar aqui que eu devia estar bem louco porque nem disfarcei a encarada no corpo dela.
- Baekhyun! – Ela falou me abraçando antes que eu pudesse fugir – Você por aqui? Pelo que eu me lembro você não é muito de dançar.
- Dançar não é bem o propósito pelo qual eu vim aqui hoje. – Caramba! Eu estava dando em cima dela bem descaradamente. O que estava errado comigo?
Olhei para Sehun com o olhar assustado esperando que ele me ajudasse de alguma forma, porque nem eu havia entendido a razão daquela minha resposta, mas ele exibia uma expressão tão assustada, e quando abriu a boca pra falar eu senti que estava ainda mais enrascado.
- É... Eu vou ali buscar mais bebidas! – Sehun falou e em um instante já havia me deixado sozinho com a garota.
Olhei para ela um instante e me permiti pensar uma coisa: fazia tempo que eu não ficava com garotas, fazia tempo que eu não colocava as minhas mãos em uma cintura desenhada e talvez fosse bom exercitar isso outra vez. Porque não? Ela era bem bonita e bastante atraente e pelo que me conseguia me lembrar sabia beijar muito bem, sendo responsável por noites da minha adolescência das quais eu nunca iria me esquecer. Uma outra musica bastante animada começou tocar bem alta e Soojung teve que se aproximar de mim para que eu conseguisse ouvir o que ela dizia.
- O que você veio fazer aqui, Baek? – Ela falou no meio ouvido ainda que a musica abafasse sua voz.
- É você que vai me dizer? – Perguntei, audacioso. Vai que cola não é?
Ela arregalou os olhos e se afastou um pouco. Droga! Eu definitivamente não entendia nada da arte da sedução.
- Baekhyun, você bebeu? – Ela perguntou me pegando pela mão.
- Só um pouquinho... – Deixei que minha voz se perdesse em meio a musica e puxei sua mão – Vem, vamos dançar?
A música animada de antes continuava e eu levei para o centro do local onde havia uma pista de dança, várias pessoas se movimentavam enlouquecidas e eu segui os movimentos da multidão, o que aparentemente era muito engraçado, porque a minha parceira de dança abriu um sorriso largo e depois deu uma gargalhada.
Ela era realmente muito bonita e o que eu mais gostava nela era a sua simplicidade, ela não precisava de muito para estar deslumbrante. Talvez se eu nunca tivesse terminado com ela, nunca teria conhecido Chanyeol e as coisas não estariam tão ruins como estavam atualmente.
Ela percebeu que eu a encarava e parou de rir certamente porque deve ter se dado conta do que se passava pela minha cabeça. Soojung fez menção de se afastar, mas eu teria que agir naquele momento se quisesse beijá-la e foi o que fiz, a segurei pela cintura para que ela não fugisse e mantive firme o aperto ali.
Ela parecia em choque e eu até achei bonitinha a forma como seus olhos se arregalavam enquanto eu me aproximava.
- Baekhyun... Não... Eu... – Ela disse com a voz um tanto trêmula
Seu cheiro era suave e floral e não foi sacrifício nenhum beijar os lábios dela que tinham um gosto bom de cereja. Eu apenas pressionei seu lábio suavemente enquanto mantinha forte o aperto em sua cintura. Tentei aprofundar mais o beijo, mas ela mantinha a boca fechada impedindo que eu fizesse algo mais ousado.
De repente ela me empurrou com toda a força que tinha e eu cambaleei um pouco para traz ao mesmo tempo em que vi Sehun se aproximar de nós dois.
- Você enlouqueceu? – A garota gritava em meio à multidão e a música alta – Eu tenho namorado, Baekhyun!
Mesmo com todo o som do local consegui ouvir a risada forte de Sehun ao meu ouvido.
- Não acredito que você tentou beijá-la! – Ele dizia em meio a risos e mais risos.
Quando pensei em responder dizendo que ele devia ter me alertado sobre ela namorar alguém, me senti incrivelmente tonto e cambaleei mais um pouco quase caindo no chão. Soojung que me olhava com raiva, pareceu se compadecer da minha mediocridade e depois de avaliar um pouco a minha situação, se aproximou novamente de mim e de Sehun que agora já me ajudava a ficar em pé.
- Vem, vamos lá pra fora pegar um ar. – O loiro falou enquanto me guiava até a entrada e a menina nos seguia.
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Quando chegamos ao lado de fora do estabelecimento, os dois me ajudaram a atravessar a rua, e então Sehun se sentou no meio fio, e eu o acompanhei. Ainda estava um pouco tonto, mas precisava consertar um pouco as coisas com a minha eterna primeira namorada, tentei dizer alguma coisa à Soojung para que ela não pensasse que eu era um idiota.
- Soojung-ah! Por favor, me desculpa ta bom? Eu sou um idiota.
- Sinceramente Baekhyun, minha vontade era te dar uns tapas – Disse colocando as duas mãos na cintura com uma expressão séria em seu rosto – Mas pelos velhos tempos eu vou fingir que isso não aconteceu e entender que a culpa foi da bebida. Esse é o mal dos homens de hoje em dia, confundem simpatia com outras coisas...
- Obrigada... Não conte nada ao seu namorado, por favor! – Pedi me sentindo o mais otário dos otários.
- Mas é claro que eu não vou contar ao Xing! Quando ele voltar vou enchê-lo de beijos! – Ela falou decidida enquanto se sentava ao meu lado e começava a tirar os saltos – Ainda te acho um idiota.
Xing? Pensei uma coisa aleatória, mas preferi ignorar, aquele não era bem o melhor momento para fofocas e especulações.
- O Baek não sabe beber! – Sehun falou me dando leves tapinhas, ao mesmo tempo em que ria da minha cara.
- Não mesmo! – Soojung acompanhou o outro nas risadas.
- Você está melhor? – Ele me perguntou enquanto tirava alguma coisa do bolso – Tenho remédios para enjôo aqui se quiser...
- Não preciso, eu já estou melhor. – E eu realmente estava. A única coisa que me incomodava naquele momento era a vergonha. – Você me desculpa mesmo? – Falei mexendo nos fios de cabelo da garota. Éramos amigos e isso eu queria manter por uma vida.
- Desculpo sim! – Ela disse sorrindo de maneira terna, pra logo depois me assustar – Seja quem for que você está tentando esquecer, não é assim que funciona, não se beija alguém pra esquecer outra pessoa. – Ela falou encarando o vazio, depois de um tempo, me olhou de volta e eu entendi o que ela queria dizer – Eu sei do que to falando, quando você foi pra Seul, eu também achei que pegar um monte de caras ia resolver...
Sehun riu alto outra vez e eu não consegui não perguntar.
- Você... Você beijou o Sehun? – A ideia era tão louca que até mesmo eu não consegui segurar o riso.
- Sim. – Ela falou desapontada – Depois passei vários meses lavando a boca com água sanitária – A menina se virou para Sehun e gesticulou como se estivesse vomitando.
- Você nunca me esqueceu, mulher!
Nós três rimos e por um instante foi como ter a minha adolescência de volta, bastaria ter Kyungsoo ali ao nosso lado nos dizendo que não devíamos beber, e que devíamos voltar logo para casa que aquele seria um deja-vú da minha adolescência. Um tempinho depois, Soojung se levantou.
- Já que estão os dois estão bem, acho que é hora de eu voltar pra casa. – Ela falou sacudindo a poeira do vestido - Já tive emoções demais por uma noite.
- A gente te acompanha! – Falei tentando ficar em pé e ir até ela.
- Não precisa, a minha casa fica na próxima rua, não se lembra?
Dei uma boa olhada em volta e aí então as lembranças foram voltando e eu me lembrei das várias vezes em que saíamos, íamos ao minúsculo cinema da vila e eu tinha que levá-la pra casa ao fim da noite pra depois fazer o percurso até a minha casa de bicicleta na calada da noite morrendo de medo. Não tinha mais um pingo daquela coragem dentro de mim.
- Quando chegar em casa, mande uma mensagem pro meu celular, ta bom? – Sehun falou erguendo o pequeno aparelho, ainda sentado no meio fio.
Soojung assentiu com a cabeça e mesmo descalça com os sapatos nas mãos iniciou o caminho de volta pra casa. Não sei... eu sabia que não a amava mais como antes e que não aconteceria mais nada entre a gente romanticamente falando, mas ela era uma garota incrível, decidida e brilhante e eu ainda admirava muito.
- Você continua a mesma chata de dois anos atrás! – Gritei para ela que ainda estava perto o suficiente para ouvir.
- E você, o mesmo sonhador! – Ela falou se virando um pouco, sorrindo pra mim. Depois continuou seu caminho e eu me voltei ao meio fio e sentei ao lado de Sehun mais uma vez.
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- Você não muda mesmo, Baek! – Sehun riu sem me olhar depois de um longo período em que ambos permanecemos em silêncio.
- Pelo menos eu beijei alguém hoje e você não! – Dei um empurrão de leve em suas costas e ele tombou um pouco.
- Seu beijo não deve ser dos melhores, Baekhyun! – Ele debochou de mim.
- Quer provar? – Provoquei me aproximando dele.
- Baekhyun você está realmente louco! – Sehun tentou se afastar de, e impulsionou o corpo para trás em uma cena bastante engraçada.
- Tá com medinho? – Inclinei ainda mais meu corpo sobre o dele, imaginando o que ele faria, na certa, depois de toda aquela confusão que eu havia provocado, ele não me beijaria.
- Sim, estou! – Ele riu, levando suas mãos até meus lábios, apertando a região até que um biquinho surgisse ali – Depois, ele então selou seus lábios nos meus bem rápido, o que me assustou.
- Tá feliz agora, seu idiota? – Assim como Soojung havia feito antes, agora foi a vez de Sehun fingir que estava vomitando.
- Você fala como se me beijar fosse algum sacrifício, Oh Sehun!
- Eu te disse que já tinha um amor, Baek! Se eu tiver que beijar alguém, esse alguém será ele, o Luhan. - - Sehun estava visivelmente apaixonado, eu podia ver o brilho em seus olhos a cada palavra dita por ele.
- Você está apaixonado! – Eu o empurrei mais uma vez e fiquei esperando que ele negasse a minha afirmação, mas para minha total surpresa ele apenas sorriu em resposta – Ei, conte-me mais sobre esse tal Luhan.
Sehun fingiu estar envergonhado e me lançou um olhar demorado antes de começar a me contar.
- Bem, ele é chinês, ta terminando a faculdade de jornalismo lá na China... É primo do seu primo Yixing. Ele veio passar um mês aqui durante o início do ano e... – Ele se sacudiu, parecendo confuso – Ah, sei lá Baek, você sabe como são as coisas.
- Ah, o amor! – Falei em um tom melancólico – Não sei se acredito mais nisso, viu?
- Eu não preciso que você acredite, só preciso que o Lu acredite! – Sehun falou convicto com aquele olhar que as pessoas apaixonadas costumam exibir.
- Se ele está na China e você está aqui, como é que vocês lidam com isso? – Um amor à distância me parecia algo bem complicado.
- Como eu te disse, ele está no fim da faculdade e por isso ele conseguiu um bom emprego em Seul, daqui a pouco mais de um mês ele se mudará para lá e eu pretendo estar ma capital para recebê-lo. – Ele me encarou em silêncio como se esperasse por alguma reação da minha parte, mas confesso que eu estava meio perplexo - Por isso eu estava te ligando esse tempo todo, preciso de um lugar provisório para ficar até que o Lu chegue.
- Nossa Sehun! Que bonita essa sua história! – Mesmo sem que essa fosse a minha intenção, minhas palavras saíram recheadas de um sarcasmo que podia irritar o meu amigo.
- Qual é, Baek? Tem algum problema? – Ele se tornou arredio de repente e fez menção de se levantar do local onde estávamos então eu resolvi ser sincero com ele.
- Não tem problema nenhum... Eu só não acredito mais no amor. - Nossa Baekhyun, sério? Quanto drama!
- Pode começar. – Sehun revirou os olhos e fez uma mesura como se me autorizasse a iniciar alguma coisa.
- Começar o quê?
- A contar a sua história. – Ele me encarou com um olhar tão sereno que eu tive mesmo vontade de desabafar – Por trás de um coração partido sempre tem uma história.
E então ali naquele meio fio no meio daquela rua mais ou menos movimentada, eu contei a minha trágica história, palavra por palavra desde o início conturbado em que sorteei o nome de Chanyeol até o término e a cana horrível de me ver na tela daqueles computadores. Contar de tudo a Sehun teve um efeito bem controverso porque ao mesmo em que para falar de cada momento eu precisava revivê-los e, portanto sentir novamente a dor que algum deles me causava, colocar para fora era como estar literalmente me esvaziando e ao fim o que estava sentindo era uma incrível leveza ao mesmo tempo em que me sentia exausto.
- Então ele fez os vídeos e deu eles para uma garota idiota?
Assenti com a cabeça.
- Mas não faz sentido Baek, porque ele faria isso depois de todo o trabalho que teve, em buscar esse bolo de Harry Potter pra você, te dar presentes, te levar para ver as estrelas... Porque ele faria isso?
- Eu não quero ficar pensando nas possibilidades.
- E você disse que hoje quando falou com ele pelo telefone ele havia jurado inocência, certo? – Sehun coçou a nuca e estreitou os olhos – Acho que se ele fosse realmente culpado seria frio, e não se daria o trabalho de tentar entrar em contato com você, entende?
- Sehun você está do lado dele ou do meu? – A raiva momentânea me fez quase gritar com ele. – O que me movia era ele, e olha o que ele fez comigo?
- Só sei de uma coisa, Baek... Acho que você fez tudo errado. – Sehun se virou pra mim e em seu rosto havia um pequeno sorriso - A gente pode até gostar das pessoas, mas depender delas nesse nível não é legal.
Não consegui responder, porque aquilo realmente fazia sentido, como aquela velha história de se amar primeiro para depois amar outra pessoa. Comigo, não houve nada disso e eu comecei a depender tão rápido de Chanyeol que agora sem ele as coisas pareciam sem sentido, e, por mais que eu gostasse dele não era bom que a minha vida precisasse dele para ter sentido.
- Você disse que ele te move – Sehun começou a dizer enquanto se levantava – Mas ele tem que se mover junto com você à um objetivo comum, entendeu? – O loiro ergueu uma sobrancelha – Se você atribui toda a razão de sua vida à ma pessoa, se ela te deixa você fica assim... É um lance de ser independente, eu gosto de ser assim.
- Independente? – Ele só podia estar de brincadeira comigo – Você vai pra capital por causa de alguém que conheceu! É a mesma coisa, não?
- Aí que você se engana Baekhyun. Luhan é sim uma grande motivação, mas não é tudo. Meus sonhos não dependem dele, minha vontade de ir pra Seul já existia antes dele. – Suas palavras se perderam enquanto ele encarava o horizonte e me estendia uma de suas mãos. – Vamos?
Sehun havia me dado muitas coisas para pensar, então quando ele ficou em pé e o convite saiu em forma de palavras de seus lábios, eu fiquei meio confuso.
- Va-vamos aonde?
- Você não disse que queria cometer uma loucura, Byun Baekhyun? Ou já desistiu? – Sehun sabia como instigar pessoas, ali com a cara fechada e uma sobrancelha erguida, ele fazia tudo parecer um grande desafio.
E eu precisava aceitar.
Sehun seguiu até o estacionamento onde havia deixado a sua moto anteriormente e montou nela esperando que eu o imitasse. A princípio fiquei um tanto relutante porque não fazia ideia do que ele planejava, mas Sehun era um espírito livre e eu ainda queria ser como ele.
Eu fiz a cara mais desafiadora que sabia fazer antes de seguir com ele. Me sentei em sua moto e me agarrei à sua cintura como sempre fazia, mas ele não saiu do lugar, indicando que dessa vez algo seria diferente. Sehun me ergueu um de seus fones de ouvido.
- Tome! É uma música que eu gosto de ouvir pra fazer loucuras.
Peguei o fone e encaixei com cuidado no meu ouvido, o outro ficou com Sehun e eu pensei que teríamos que nos contorcer bastante para que os fones permanecessem em nossos ouvidos, mas assim que o outro deu partida na moto e a musica começou a tocar, percebi que não precisava de tanto. Era só ficar ali, parado curtindo a música.
Esperei que a música de loucuras de Sehun fosse algum rock pesado que julguei que ele ouvisse, mas fui surpreendido com uma música de algum girl group coreano mesmo. No começo não entendi muito o rap da garota porque ela falava rápido demais e o vento me deixava um tanto surdo. Havia uma batida forte que me incentivava a fazer qualquer coisa louca, e só tive mais certeza quando a letra da música dizia coisas em coreano como “nós dois vamos enlouquecer essa noite, antes que a noite acabe, tente encontrar a si mesmo, enlouqueça, grite, aproveite tudo isso...” . Eu me senti acolhido por aquela musica louca, meu coração já batia firme ao ritmo dela, eu estava pronto para a tal loucura, e no refrão quando a moça soletrou C-R-A-Z-Y eu só tive ainda mais certeza disso.
Porém, quando a música estava em seu ápice e eu já estava ficando loução, a moto parou de uma hora para outra e Sehun tirou de mim o fone e a música. Abri os olhos e percebi que estávamos em algum outro estacionamento, dessa vez menor, em frente a um pequeno supermercado. Sehun parou a moto e foi descendo dela e eu o acompanhei.
- Vamos invadir! – Ele colocou as mãos na cintura e por alguns instantes apenas admirou a vista.
- Você ta louco? – Perguntei apressando o passo para me juntar a ele.
- Baek, você não queria fazer uma loucura? – Ele me olhou rapidamente, antes de correr em direção a lateral do mercado, onde provavelmente havia uma porta – Fique mais a frente me dando cobertura. Eu vou abrir!
Eu fiquei onde ele havia me pedido, à frente do estabelecimento, enquanto ele tentava abrir o local. Olhei o relógio que marcava meia noite e meia, fora dos domínios do mercado pouquíssimos carros passavam na rua e um dos poucos que eu vi foi um de polícia. Fiquei apreensivo a partir daí e esperei que houvesse algum estrondo ou explosão que indicasse a invasão, mas não houve nada.
- Vem Baek! Entrada livre! – Sehun gritou e eu receoso, segui sua voz, chegando até o ponto lateral onde havia uma porta.
- Como você abriu? E... não tem nenhum alarme? – Nada fazia sentido para mim.
- Não tem alarme, e eu tenho meus truques para abrir – Sehun foi entrando no local escuro e eu não tive escolha além de segui-lo rumo ao desconhecido.
Dentro do local, havia várias prateleiras grandes com mercadorias assim como se espera de um mercado normal, mas à noite e vazio daquela forma tudo ficava um pouco mais macabro.
- Divirta-se, Baek! – Sehun veio até mim, já abrindo uma latinha de coca cola que havia acabado de furtar do freezer de refrigerantes.
- Sehun, você ta louco? Isso é errado, não? – Eu era bem certinho mesmo, não adiantava tentar mudar isso.
- Foi você que queria fazer uma loucura! – Sehun se sentou no chão, ao lado do freezer como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.
Olhei em volta, havia tanta coisa e Sehun estava tão calmo, talvez não fosse mau pegar apenas alguma coisa pequena. Primeiro peguei um salgadinho qualquer e depois imitei os feitos de Sehun e abri o freezer à procura de algo não tão caro quanto a coca cola e acabei escolhendo uma água que era mais barata. Depois de escolhido meu cardápio, sentei ao lado de Sehun.
- Só você mesmo, quer bancar o rebelde e ao invadir um supermercado rouba um baconzitos e uma água – O loiro riu e passou uma das mãos sobre o cabelo enquanto dava mais um gole em seu refrigerante – Ta aí, um apelido legal pra você, vou te chamar de Baconzitos.
Droga! A menção a esse apelido idiota fez com que as lembranças voltassem com força novamente... Fiquei nervoso e atirei meu salgadinho longe!
- Ei, sem vandalismo aqui, Baekhyun! – Sehun falou e eu fui obrigado a recolher o salgadinho do chão, logo o abri e comecei a comer.
Nós dois ficamos um tempo em silêncio no local vazio, e eu gostei da sensação de estar ali, aquilo realmente era diferente de tudo que eu já havia feito na vida, era uma loucura para mim. De repente me dei conta de que podia haver câmeras ali e podíamos ser pegos.
- Sehun, esse lugar deve estar cheio de câmeras! – Disse apreensivo para ele que não esboçou reação nenhuma.
- Estão desligadas.
- Como você consegue estar tão despreocupado? – Perguntei sem entender ele, que agora abria uma segunda latinha de refrigerante.
- Só relaxa, ta bom? – Ele colocou as mãos sobre meus ombros imitou uma respiração lenta tentando me fazer ficar calmo.
E então pela primeira vez na noite eu relaxei, deixei me levar pela emoção e curti o momento, sem me preocupar com o que aconteceria depois. Eu e Sehun conversamos sobre a vida e sobre tudo, rimos feito idiotas do que havia acontecido mais cedo, falamos de Soojung, compartilhamos memórias de nossas infâncias e ao fim da noite já éramos os mesmos garotos idiotas e confidentes de anos atrás.
Meu relógio já indicava quase três da manhã quando Sehun me deixou em minha casa e seguiu rumo à sua. Quando cheguei tudo já estava silencioso e tentei não acordar ninguém. Fui até a cozinha com todo cuidado para sorrateiramente beber um copo de água. Pela primeira vez em muito tempo eu senti que era bom estar ali e que aquela era uma nova era na minha vida.
Eu estava onde deveria estar, mas voltaria para a cidade em breve para aquilo que naquele momento decidi chamar de: O retorno do Rei.
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