Dor, era tudo o que eu sentia.
Uma dor profunda parecia tomar conta de cada centímetro do meu corpo e mesmo antes de abrir meus olhos senti a realidade girar a minha volta. Comecei a me fazer uma série de perguntas porque não conseguia me lembrar muito bem dos acontecimentos do dia anterior. Será que morri? Será que estou no céu? Não... Estou sentindo dor e no céu não haverá dor. Eu sentia que estava deitado em uma cama bastante macia e o ar me parecia bastante puro, mesmo assim eu estava com medo de abrir os olhos e encarar que estava em algum submundo ou sei lá o quê, então mantive os olhos fechados tentando me fingir de morto.
Consegui distinguir algumas vozes no mesmo recinto que eu, elas falavam baixo demais como se não quisessem me acordar, e devido ao volume baixo das falas eu não conseguia distinguir as palavras que diziam o que só me deixava mais curioso.
Tentei fazer um esforço maior para me lembrar da noite anterior. Primeiro eu me lembrava claramente de estar chorando em casa bancando o emo ouvindo umas múscias tristes, depois eu comi feito um porco e depois decidi que iria beber, então eu chamei Sehun que trouxe mais bebidas, depois nós bebemos e...
- Chanyeol! – Gritei com força o que fez a minha cabeça latejar em uma dor absurda.
Abri meus olhos e me sentei na cama, mas tudo girou freneticamente e eu fui obrigado a desabar novamente na mesma.
- Baekie! Calma aí! – Senti uma mão sobre meus ombros me confortar e depois percebi que era Kyungsoo sentado ao lado da minha cama, estávamos no meu quarto.
- Soo! Que saudade! – Esclamei fechando os olhos novamente porque a luz pareceu incomodar bastante minhas retinas – Tudo dói!
- É, eu imagino! – Havia um tom de sarcasmo na voz dele ou é apenas impressão minha?
- Eu te disse que ele não sabia beber! – Ouvi a voz de Sehun e me virei um pouco para constatar que ele estava na parede à frente da minha cama esparramado em uma cadeira.
- Cala a boca! – Reuni todas as minhas forças para dizer isso a ele porque Sehun se achava demais.
De repente ouvi umas batidas fortes na porta e aquele som me incomodou bastante, me virei e coloquei um travesseiro sobre a minha cabeça para me livrar do barulho. Acho que foi Sehun que se levantou para abrir a porta, e um segundo depois dela ser aberta, eu ouvi aquela voz inconfundível do habitante mais vergonhoso de toda a face do planeta terra.
- Meu Byunzinho acordou? – Primeiro eu ouvi apenas a sua voz melosa e depois senti um peso enorme, o que denunciava que ele havia se jogado em cima de mim na cama – Cadê o bebê? – Ele perguntava pra mim em um tom de voz infantil.
Fui obrigado a destapar a cabeça e encarar ele para que ele parasse de tentar me fazer cócegas. Apenas tirei o travesseiro da cara e encarei ele com a expressão de derrota que devia estar estampada da minha face e que eu só tive certeza de que era horrível quando ele reagiu com um gritinho abafado.
- Bicha, que derrota! – Junmyeon fez uma careta horrível.
Voltei a me tapar com o travesseiro desejando que o chão se abrisse e eu fosse sugado para sempre, mas depois de uns cinco minutos Kyungsoo me deu um remédio para dor de cabeça que eu tomei de bom grado esperando que exterminasse aquela dor. Depois ele disse que eu deveria comer e indicou um pequeno banquete que estava na cômoda ao meu lado, do qual eu só comi alguns míseros biscoitos de sal.
- O que houve ontem? – Perguntei enquanto brincava com um dos biscoitos na mão – Eu bebi tanto assim?
Sehun gargalhou alto o que eu não consegui interpretar muito bem.
- Baekhyun, você fez merda, muita merda. – Kyungsoo falou encarando o chão e eu fiquei mais confuso ainda.
Eu me sentei com as costas escoradas na cabeceira da cama para ter uma visão melhor dos outros três.
Mesmo que eu tivesse medo de perguntar, eu precisava preencher as lacunas da minha memória porque a ultima coisa da qual me lembrava era do beijo que dei em Chanyeol, mas eu tinha praticamente certeza de que estava apenas sonhando e...
- Espera, Chanyeol ele está aqui? Ele está? – Perguntei com uma euforia que pareceu surpreender a todos inclusive a mim mesmo.
- Pronto, tava demorando! – Kyungsoo exclamou com um tom de voz preguiçoso, e ergueu uma sobrancelha ao olhar para mim.
- Seu orelhudo ta aí embaixo, mas acho melhor você não... – Não esperei que Junmyeon terminasse sua frase, pois em um segundo eu já havia me levantado e corrido na maior velocidade que eu podia em direção à porta. Não consigo explicar o que aconteceu e o porquê de ter agido dessa forma, só sei que precisava vê-lo, precisava enxergar Chanyeol com meus próprios olhos.
E assim aconteceu. Saí do meu quarto às pressas sem dar atenção para o que Junmyeon dizia e fui até o topo da escada. Não, não vou me jogar, é que na minha casa se você ficar no topo da escada do segundo andar, consegue ter uma boa visão de toda a sala e era isso que eu desejava. Daquele ponto eu tinha uma visão privilegiada, meu pai estava sentado em sua habitual poltrona de costas para mim e eu conseguia ver apenas a grande falha que a calvície havia feito aparecer no topo de sua cabeça, mas a frente dele estava o que realmente queria ver.
Sentado no sofá, à frente de meu pai e aparentemente muito atento ao que ele estava dizendo, estava ele: Park Chanyeol em carne, osso e orelhas. Seus olhos pareciam perdidos mais mesmo assim ele parecia atento, e olhando daquele ângulo eu podia jurar que ele estava um pouco pálido. Será que Chanyeol estava doente? Quando olho pra Chanyeol sempre perco a noção do mundo em volta, fiquei olhando ele e aproveitando para matar a saudade dos seus traços tão únicos que até demorei a perceber que ele me encarava e só me dei conta disso e despertei do meu devaneio profundo quando ele arregalou os olhos em minha direção e chamou meu nome.
- Baekhyun? – Sua voz grave preencheu o ar e fez meu pai se virar em minha direção ao mesmo tempo em que eu me colocava em pé para disfarçar que estava espiando.
- Er... – Nada inteligível saiu da minha boca naquele momento e eu fiquei ali em pé feito um idiota completo.
- Baekhyun, você ta acabado hein meu filho! – Papai falou assim do nada e me fez dar uma olhada nas roupas que eu vestia: um pijama vermelho do superman.
Foi só aí que tive curiosidade de me olhar por completo e por sorte havia na parede lateral um grande espelho que a minha mãe teimou para colocar ali há alguns anos atrás dizendo que usar espelhos na decoração era tendência. O espelho me ajudou a ter uma visão completa de mim mesmo e aquilo era mesmo horrível, eu estava um caco, um bagaço, como um punhado de capim cuspido por uma vaca. Meu cabelo estava bagunçado, meus olhos estavam mais inchados do que no dia anterior e havia círculos escuros quase negros ao redor dos meus olhos o que me fazia parecer um panda. Para piorar meus lábios estavam secos a ponto de rachar, eu parecia mais um morto vivo. E o pior de tudo mesmo era que Park Chanyeol, o Mister Perfeitão havia me visto daquela forma.
Encarei ele e meu pai que me lançavam olhos arregalados sem dizer palavra alguma, então percebi a grande burrada que havia feito e pensei em me atirar da escada bancando o dramático mas eu era muito jovem para morrer e ao invés disso corri de volta para o meu quarto de onde eu nunca deveria ter saído.
Entrei no quarto veloz como um foguete e deitei de novo na cama me cobrindo com as cobertas, mas antes que eu pudesse me suicidar com o travesseiro ouvi que alguém batia à porta. Pelo amor de Deus, Chanyeol não! Chanyeol não! Mesmo querendo não olhar, destapei um pouco a cabeça para ver quem era que entrava no quarto e vi Jongin parado em pé ali vestindo uma regata branca com alguma coisa escrita e um jeans.
- Baekhyun, você ta bem? – Olha o tipo de pergunta audaciosa que ele fazia, provavelmente também havia visto o meu estado.
- Você ta zoando com a minha cara, Kim Jongin? – Destapei a cara e encarei ele com uma expressão de novo.
- Não Baek, eu só quero saber se você está melhor. – Os olhos de Jongin se demoraram um pouco em meu rosto depois ele olhou para o para o próprio braço esquerdo onde havia um grande arranhão vermelho.
- Estou bem! Jongin, o que é isso no seu braço? – Perguntei a ele curioso, depois me virei para Kyungsoo – Foi você que fez isso seu safadão?
Ele arregalou os olhos e olhou para Jongin.
- Foi você. – Kyungsoo falou ao mesmo tempo em que reprimia um risinho.
Junmyeon riu também e Sehun que não era nada discreto teve uma crise de risos horrenda e quase caiu rolando no chão de tanto que riu.
- Você me agarrou e disse que era um gatinho de garras afiadas, Baekhyun! – Jongin não aguentou dizer a frase sem rir, mas depois se recompôs e continuou – Você não se lembra?
Ai meu Deus! Eu não me lembrava de nadinha de nada. Será que aquilo que estavam me dizendo era verdade ou estavam todos querendo tirar sarro da minha cara por que bebi?
- Não. Eu não me lembro. – Falei em um tom formal tentando ser adulto. – Desculpa se desonrei você Jongin, acho que exagerei um pouco na bebida.
Não sei qual foi a graça nas minhas palavras, mas depois do que eu disse todos eles sem exceção começaram a rir muito e a crise coletiva de risadas durou mais ou menos um cinco minutos.
- Você desonrou todos nós, Baekhyun! – Quando Kyungsoo falou, seu rosto estava tão vermelho que pensei que ele poderia explodir ali na minha frente e ele mal conseguia concluir as palavras de tanto que ria.
- Alguém me fala o que foi que eu fiz! – Gritei e todos me olharam.
Depois Junmyeon arrastou um pequeno baú que decorava meu quarto até um ponto ao lado da minha cama, ele se sentou no baú e começou a mexer com os dedos rapidamente na tela do seu celular enquanto falava comigo
- Eu gravei tudo porque sou seu amigo e sei que um dia você iria querer saber o que aconteceu...
- Tá preparado, Baek? – Sehun disse e eu percebi que ele estava se segurando para não explodir em risos novamente.
- São imagens fortes, amigo! – Kyungsoo deu leves tapinhas no meu ombro com se quisesse me consolar e aquilo tudo só estava servindo para me deixar mais curioso.
Então Junmyeon finalmente colocou a o seu celular – que era gigante por sinal – bem na minha frente e tocou na tela para que um vídeo começasse.
O vídeo começou e eu já tive vontade de sair correndo, afinal eu já estava traumatizado com vídeos gravados sem o meu conssentimento.
Primeiro eu estava deitado no chão, como um idiota balançando os braços, depois Chanyeol me pegava no colo e me falava alguma coisa, Junmyeon havia filmado à distância por isso não compreendi as palavras de Chanyeol, mas então me lembrei do momento em que ele chamou meu nome e me pediu para abrir os olhos.
O cinegrafista Suho deu uns gritinhos assistindo ao beijo que dei em Chanyeol e nesse momento Sehun entrou no campo de visão do vídeo, fazendo Junmyeon gritar: “Ô loirinho, sai da frente que você não é transparente!” Depois ele pareceu ter se aproximado mais só para filmar o beijo bem de perto e ao ver a imagem na minha frente tive uma sensação estranha que era como uma mistura de vergonha e nostalgia. Enquanto ele filmava o beijo, a cabeça de Kyungsoo apareceu na frente do celular gritando um “Você ta filmando isso? Me diz que sim!”
- Parem, não quero ver mais, já estou sofrendo! – Falei afastando o celular de mim.
Junmyeon soltou uma risada forte.
- Ah, mas agora você tem que ver até o fim, isso não é nada perto do que você aprontou ontem! – Kyungsoo tinha uma expressão maquiavélica no rosto que me deixou com medo.
Fui obrigado a agüentar até o fim, e o fim nesse caso era trágico, bem trágico.
O vídeo continuou, lá estava eu nos braços de Chanyeol, depois ele se afastava do meu rosto e... céus! Ele estava sorrindo, sim ele estava sorrindo, pelo menos era isso que o vídeo mostrava e eu... eu exibia uma expressão perdida e débil e sorria como um bêbado que realmente era, então eu tocava o rosto do meu amado mais uma vez e depois como se estivesse exausto eu meio que desmaiava nos braços dele.
Depois do meu desmaio, Chanyeol ficou me sacudindo murmurando coisas como “Baekhyun, acorda!” ou então “Baekhyun, fala comigo!” ao mesmo tempo em que me sacudia com um pouco de desespero. Então eu vi Jongin no vídeo pela primeira vez. O moreno se aproximou de mim e Chanyeol, e colocou as mãos na minha testa e depois segurou meu pulso como se checasse algo – devia ser a minha pressão. Junmyeon gritou um “Epa!” e de repente eu saí do campo de filmagem, pois o cineasta amador decidiu dar zoom no rosto de Chanyeol e eu gelei imediatamente quando percebi a razão: Chanyeol estava chorando.
Aquilo foi de cortar no coração.
Não tirei os olhos do vídeo e o celular de Junmyeon havia voltado a filmar a cena de forma completa e agora, Sehun e Jongin haviam me sentado no chão enquanto Kyungsoo murmurava algumas coisas para Chanyeol que agora esfregava os olhos.
Levantei tão rápido que até eu me assustei quando assisti a cena. Eu me ergui e Sehun tentou me segurar, mas eu segui cambaleando em direção à Chanyeol, parei a alguns centímetros dele e apontei meu dedo para o seu rosto, ao mesmo tempo em que dizia como um louco, com as palavras confusas provavelmente pelo efeito do álcool: Park Chanyeol, você é um idiota, mas eu te amo sabia?
Depois eu acho que tropecei porque me balancei um pouco e quase caí no chão, mas antes de cair, Jongin veio tentar me ajudar e eu me segurei nos seus braços com força – deve ter sido nesse momento que ele ganhou aquele arranhão. Jongin arqueou um pouco o corpo em resposta já que as minhas unhas haviam machucado sua pele, mas então eu fiz mais uma burrada na noite quando olhei em seus olhos, dizendo: “Jongin, você é lindo hein, parabéns Kyungsoo!” Jongin murmurava um ai bem rápido e então eu dizia uma das pérolas da noite “Eu sou um gatinho de garras afiadas”. Aquilo era o cúmulo.
- Cansei disso, já estou me sentindo humilhado, parem! – Falei pausando o vídeo. Pelo amor de Deus, eu nunca mais teria coragem de olhar na cara de Jongin.
- Olha só o que você vai dizer agora! – Junmyeon falou rindo, vermelho como uma pimenta.
Ele deu play no vídeo e eu quis morrer.
No vídeo eu comecei a imitar um gatinho e disse “Miau” para Jongin enquanto tentava beijá-lo. Kyungsoo surgiu tentando impedir isso e então eu percebi como a bebida me deixava audacioso porque o que eu disse para Kyungsoo foi tenso: “Soo! Você quer me beijar? Eu quero beijar esses seus lábios carnudos!”. Depois disso todos eles começaram a rir e Junmyeon me fez alguma pergunta que foi abafada pelas risadas, mas que eu respondia gritando: “Junmyau!” e depois voltava a imitar garras com as mãos.
“Baekhyun, vem! Vamos te dar um banho!” Ouvi a voz de Chanyeol dizer no vídeo e esperei para ver qual seria a minha resposta àquilo e um minuto depois estava eu, com os olhos miúdos e tropeçando nos meus próprios pés dizendo: “Quero tomar um banho com você, gostoso!”
Depois eu me afastava um pouco e meu rosto parecia um pouco mais pálido, então eu vomitava bastante.
- Você tinha que filmar isso também? – Falei para Junmyeon que parecia totalmente absorto em sua obra prima.
- Espera, olha só! – O outro falou sem tirar os olhos da tela.
Então eu percebia que havia alguma movimentação depois que eu começava a passar mal, Kyungsoo vinha até mim e depois de um tempo eu caía fraco no chão para que Chanyeol surgisse mais uma vez e me colocasse em seus braços pela segunda vez na noite. Não queria ver mais nada, me levantei rápido da cama ficando de frente para os outros quatro que me encaravam com uma expressão vazia.
- Ah! – Gritei de nervoso – Não quero ver mais nada, seus insensíveis.
- Tanto faz, o vídeo acaba nessa parte mesmo porque eu não quis te filmar tomando banho! – Junmyeon falou virando os olhos – Você já ta muito traumatizado com essa coisa de nudes.
Céus! Ele era muito sem noção, mas eu sabia que ele não pensava muito antes de dizer as coisas e no fundo, eu estava morrendo de saudades dele por isso não falei nada e ignorei.
- Isso é humilhante! – Me virei de costas para eles – Não tenho nem coragem de sair desse quarto e encarar Chanyeol outra vez!
Eu me sentia um lixo inútil, detestando profundamente o fato de Chanyeol ter me visto em uma cena tão deplorável quanto aquela da noite passada e ainda ter me visto naquela manhã com aquela cara de maior derrotado.
Eu permaneci de costas porque senti que já estava chorando.
E para piorar tudo solucei bem alto denunciando meu choro.
- Ah Baek, você ta chorando? – Kyungsoo perguntou, mas é claro que eu não me viraria para encará-lo, afinal chorar só deixaria a minha cara pior ainda.
- Eu me odeio, nunca mais vou sair desse quarto! – Falei rapidamente enquanto corria em direção À cama para afundar minha cara nos lençóis.
- Baekhyun, deixa de ser dramático! – Junmeyon falou dando uns tapas na minha bunda que estava para cima.
Fiquei nervoso.
- Você não entende, não é? – Falei chorando para ele – Aliás nenhum de vocês entende. Eu queria fazer um comeback triunfal, mas sou tão desastrado e azarado que estraguei tudo. Mas que droga!
- O quê? – Kyungsoo perguntou confuso enquanto passava as mãos pelo meu cabelo.
Eu já soluçava.
- Eu queria mostrar para o Chanyeol que ainda estou com tudo em cima! Queria fazer ele me desejar! Aposto que ele já me esqueceu.
Kyungsoo e Junmyeon suspiraram em conjunto.
- Então você assume que você ainda gosta dele? – Jongin foi quem perguntou com sua voz macia. Sua pergunta me pegou um pouco de surpresa.
- Eu amo Park Chanyeol! – Falei encarando o vazio – Só que me odeio por isso! Mas que droga! – Acabei por desabar em um choro forte ainda deitado na cama enquanto Kyungsoo ainda alisava meu cabelo.
Depois de um longo período de silêncio, foi Sehun que resolveu falar.
- Então porque você não desce lá em baixo e diz isso pra ele?
- Porque ele tem que correr atrás e mostrar que se importa! – Falei convicto.
- Baekhyun! – Kyungsoo proferiu alguns cascudos na minha cabeça – Deixe de ser tão infantil.
- Meu querido, ele saiu de Seul e veio até aqui atrás de você, se isso não é mostrar que se importa... –Junmyeon começou a falar e merda, ele estava certo e Kyungsoo também. - E depois ontem a noite ele te carregou enquanto você vomitava e te levou até o banheiro...
- Ele me deu banho? – Perguntei erguendo a cabeça em direção aos outros.
- Não, foi o Kyungsoo. Mas o Chanyeol te carregou pela casa e fica perguntando como você está a cada dez minutos
Me sentei na cama com uma expressão de desânimo total.
- Eu só não queria parecer pouco entendem? – Suspirei fundo porque mesmo que parecesse besteira aquela era uma preocupação que me comovia bastante - Eu só queria parecer desejável uma vez na vida, mas agora eu estraguei tudo porque ele me viu parecendo um panda mendigo.
Ninguém disse nada e eu me senti um pouco feliz porque pareceu que todos haviam entendido e aceitado a minha dor.
- As vezes eu só queria ser um novo Baekhyun!
- Eu te entendo, amigo... – Sehun se perdeu no meio da frase como se desistisse mas depois arregalou seus pequenos olhos como se tivesse uma grande ideia.
- O que foi? – Kyungsoo colocou para fora a pergunta que todos nós queríamos fazer à Sehun depois da cara que ele fez.
- Nós faremos o novo Baekhyun! Nós precisamos ajudá-lo a se transformar nesse Baekhyun que ele quer ser – Ele disse aos outros que pareciam apreciar a ideia – Precisamos de uma tinta de cabelo, umas roupas diferentes...
- Eu trouxe meu cartão de crédito, posso usar se por aqui tiver alguma loja que venda coisa boa! – Junmeyon falou com os olhos brilhando pois ele adorava esses programas onde fazem transformação nas pessoas.
- Ótimo! Nós podemos ir até a vila pra pegar tudo o que precisamos! – Os olhos de Sehun brilhavam enquanto ele falava.
- Tá, mas como vamos manter o Chanyeol ocupado enquanto isso? – Kyungsoo perguntou parecendo bastante preocupado.
Todos nós ouvimos umas batidas na porta e em segundos minha mãe surgiu através dela. Ela sorriu para todos os que estavam no quarto e em passos lentos veio até o lado da cama onde eu estava.
- Baek, seu pai vai pescar! – Ela falou manhosa – O seu irmão vão junto e o Chanyeol disse que vai também, algum problema?
Chanyeol queria pescar com meu pai e meu irmão? Como assim? Eu nem sabia que Chanyeol gostava de pescar.
- Ótimo! Vai ser ótimo! – Junmyeon falou na minha frente com os olhos brilhando.
- Aí nós teremos tempo suficiente para executar o nosso plano! – Sehun veio até onde Junmyeon estava, com um sorriso satisfeito no rosto e os dois fizeram um hi five.
- Posso saber o que os mocinhos estão aprontando? – Minha mão estreitou os olhos e examinou cada um de nós que estava no quarto como se fossemos uma quadrilha, todos suspeitos.
- Surpresa, tia! – Kyungsoo chamava minha mãe de tia desde sempre.
Ela continuou nos analisando, mas tinha um sorriso no rosto como se quisesse ao fim ser mesmo surpreendida. Ninguém falou nada, ficamos só olhando para ela.
- Eu posso ir também? – Jongin falou parecendo animado.
Mamãe fez um aceno positivo com a cabeça e logo depois ela e Jongin já não estavam mais no quarto. Eu não fazia ideia de que Jongin e Chanyeol gostavam de pescar, mas era até bom Jongin ter ido junto porque senti uns calafrios só de pensar meu pai, meu irmão passando umas horas com Chanyeol e contando todos os meus podres e situações vergonhosas que não são poucas.
Sehun e Junmyeon me encaravam como se eu fosse um tela branca, pronta para ser pintada, tinham um fio de excitação nos olhos. Kyungsoo parecia um pouco mais apreensivo, mas mesmo assim não impediu que os outros realizassem o plano que chamaram de: Operação O novo Baekhyun.
- Nós vamos fazer uma limpeza de pele em casa mesmo, depois uma massagem no cabelo, depois pintamos seu cabelo... – Sehun listava todas essas coisas com uma expressão séria no rosto, como se o assunto fosse muito sério também.
- E precisamos de roupas novas também, né? – Junmyeon falou em uma animação similar à de Sehun.
Os dois falavam como se aquele fosse um assunto se extrema importância e super sério. De imediato pensei que era uma grande besteira, mas depois lembrei da minha vontade de voltar de forma triunfal e de como seria bom que Chanyeol me visse bem, para talvez apagar da mente dele a vergonha do dia anterior, então cedi as idéias loucas dos meus amigos e depois de um tempo eu comecei a fazer planos e opinar sobre a minha mudança também.
Sehun e Junmyeon pareciam almas gêmeas, pensavam e agiam igual, aquilo era até assustador. Depois de um tempo planejando várias coisas os dois saíram do quarto dizendo que trariam tudo o que precisariam para aquilo que eles chamaram de reforma. Eu quase me senti ofendido.
Mas aquele tempo em que eles não estavam por perto foi bem aproveitado por mim que decidi fazer várias perguntas à Kyungsoo. Precisava saber de tudo que havia acontecido em minha ausência. Não consegui encontrar uma forma sutil de entrar nesse assunto então perguntei sem medo mesmo.
- O que aconteceu enquanto eu estava fora? – Joguei os travesseiros para longe e me sentei na cama, ficando de frente para Kyungsoo.
Ele suspirou.
- O que você quer mesmo saber. Baekhyun? – Kyungsoo me conhecia tanto que as vezes eu podia jurar que ele tinha a habilidade de ler minha mente.
- Como o Chanyeol estava? – Perguntei rápido antes que me arrependesse.
Ele deu uma risada.
- Chorando pelos cantos... Faltou algumas aulas logo que você sumiu, depois deixou de comer e foi para o hospital. Um dia foi parar lá em casa bêbado às duas da manhã... – Os olhos de meu amigo encaravam o vazio com uma expressão indecifrável. Ele parecia triste e aquele sentimento estava me contagiando também.
Kyungsoo me olhou e pareceu ter percebido que aquilo havia me feito um certo mal, pois segurou firme minha mão em apoio.
- Nesse dia nós conversamos e ele decidiu que se matar não era a resposta, nem fugir – Ele me encarou antes de continuar – Então ele voltou às aulas e decidiu agir. Chanyeol pode não parecer, mas é um cara bem forte, Baek.
- Agir? – Perguntei querendo que ele fosse mais específico.
- Vocês vão ter que conversar! – Kyungsoo sorriu, mas na verdade era só porque sabia que eu estava curioso e ficaria sem informações.
- Ah! – Bati nele com um travesseiro, depois o puxei para a cama comigo e nós dois caímos deitados.
- Você é um idiota Byun Baekhyun! – Deitado ao meu lado ele encarava o teto.
- E você estava morrendo de saudade! – Retruquei virando o rosto para ele.
Kyungsoo sorriu, eu sabia que ele não conseguia viver sem mim.
- Sabe, ontem o Chanyeol apareceu lá em casa por volta das seis horas da noite dizendo que era hora de te buscar. Eu não entendi nada, mas eu vim porque estava com saudade da sua aura dramática – Ele riu e me abraçou rapidinho fazendo uma careta fofa.
Kyungsoo era um bobo, sempre foi.
- Não estão perdendo aulas? – Perguntei como se estivesse isento disso, mas é claro que não.
- O senhor perdeu uma semana de aula e acha que tem moral pra falar algo? – Ele me encarou com cara de bravo – Mas não, não estamos perdendo porque a próxima semana está reservada para capacitação dos professores, então não temos aulas. – Depois ele se virou pra mim com uma carinha doce e continuou – E mamãe e papai já estavam quase esquecendo a minha cara de tanto tempo que não me viam.
É, Kyungsoo morava na propriedade ao lado da minha, as vezes eu esquecia disso. Agora ele também estava em casa.
Voltei a pensar em Chanyeol muito rápido.
- Eu não achei que ele viria... – Falei desanimado – Não achei que ele estivesse disposto.
- Acho que você subestima os sentimentos dele, Baek! Eu reconheço um cara apaixonado quando vejo um.
Nenhum dos dois falou nada por um tempo, acho que as palavras de Kyungsoo acabaram pesando em mim e eu não consegui reunir forças para dizer mais nada. Continuamos deitados ali, e passamos a relembrar coisas da infância, momento em que aproveitei para compartilhar tudo que havia acontecido na ultima semana e ele riu bastante. Principalmente da parte em que beijei Soojung e da minha loucura de invadir um supermercado.
Depois de um tempo decidi tomar um banho e me preparar para sei lá o que estariam preparando para mim. Havia um pequeno banheiro no meu quarto, quase inutilizado, agradeci por ele existir porque não precisei andar muito para chegar ao chuveiro.
O banho foi um tanto demorado e por isso, antes de sair do banheiro eu ouvi várias vozes eufóricas vindo de dentro do quarto o que denunciava que Sehun e Junmyeon já estavam de volta. Me vesti rapidamente e sai para o quarto onde além dos três garotos agora havia também uma garota e ela me olhava com seus olhos estreitos e um sorrisinho.
- Soojung! Você por aqui? – Ela conhecia meu quarto de outras épocas, aprontávamos bastante ali.
- Quantas lembranças hein! – Ela veio até mime me deu um tapa no ombro – Você não me esqueceu, fale a verdade Byun.
Ela era divertida. Sempre vejo pessoas que reclamam de seus relacionamentos com as ex namoradas e me sentia sortudo porque nós não tínhamos esse tipo de problema.
- Ela vai nos ajudar a te dar uma repaginada, Baek! – Sehun falou enquanto eu examinava a grande bolsa que Soojung havia trazido.
- Pera aí, olha que babado! – Junmyeon falou e eu tremi na base porque aquele era o tom que ele usava para começar a agir de forma micosa - Então você é a namoradinha que o Baek teve no passado?
- Sou eu, a namoradinha! – Soojung e Junmyeon apertaram as mãos – Mas já me libertei desse mal. Hoje estou muito bem com o meu Yixing. – Ela mostrou a tela do celular para Junmyeon, que suspirou.
Na tela do aparelho havia uma foto do meu primo Yixing, usando uma calça jeans, o peitoral a mostra e um chapéu de cowboy, montado em um cavalo. Pensei que depois seria legal visitá-lo, ele morava com a minha vó, à uns quarenta minutos dali.
Junmyeon piscou duas vezes e depois sussurrou um ‘socorro que homem’ quase inaudível. O que ele fez a seguir foi pegar o próprio celular para mostrar uma foto de Jongdae.
- Esse é o Dae, meu homem! Ele não veio com a gente porque estava no plantão – Ele falava enquanto Soojung examinava a imagem – Ele é médico.
Me desliguei do assunto por uns instantes porque já estava bastante nervoso com a situação toda, e deixei que eles me guiassem, e que fizessem o que queriam, era a hora da transformação, era hora do novo Baekhyun.
Depois de um tempo, Soojung me sentou em uma cadeira e começou a fazer uma massagem com vários cremes no cabelo, o que ela disse que ajudaria a dar brilho e maciez. Enquanto me ajudavam, todos eles conversavam sobre a vida, e compartilhavam micos meus. Grandes amigos, eles!
Sehun e Junmyeon pareciam amigos de infância e Junmyeon ficava dizendo o tempo todo que conversaria com Jongdae para que eles pudessem adotar Sehun como filho, o mais novo fazia a maior festa da situação.
As horas passavam e eu não deixava aquele quarto. Kyungsoo nos trouxe alguns petiscos e comemos ali mesmo. Meus amigos também se encarregaram de fazer uma limpeza na minha pele com alguns produtos super bem recomendados por Soojung e Junmyeon.
Já era quase tardinha quando começaram os preparativos para a parte principal da minha transformação: o tingimento do meu cabelo. Desde sempre meus fios tinham a mesma cor, um castanho não muito escuro e agora eles se tornariam negros, cor escolhida por Sehun e Junmyeon, que diziam que eu ficaria bem mais sedutor com aquela cor de cabelo.
Enquanto a menina passava a tintura nos meus fios, Junmyeon fez drama e colocou uma música triste que ele mesmo disse que servia para se despedir do velho Baekhyun. Ignorei toda aquela cena que ele estava fazendo, mas na verdade havia um significado importante naquilo tudo, pois eu tinha mesmo que mudar e me despedir daquela pessoa que havia sido ultimamente. Olhei meu reflexo no grande espelho à minha frente e em pensamento jurei a mim mesmo que não fugiria mais, não me esconderia de nada, a partir daquele momento eu realmente seria outra pessoa, alguém que não tem medo de ser, alguém que não tem medo de viver.
Fiquei pensando em várias coisas enquanto a tinta fazia seu trabalho e acabei ficando bastante tocado com toda a situação. Eu sempre reclamei da vida dizendo ser sozinho, mas eu via ali um grupo de pessoas que estava disposto a me ajudar a ser um pouco mais feliz, aqueles eram meus verdadeiros amigos.
Quase uma hora se passou e chegou o tão esperado momento de retirar a tinta do cabelo. Eu estava me sentindo bem, como se fosse o cara mais lindo de toda a face da terra. Quando estava tirando a tinta do cabelo eu via a água escura cair e ser levada pelo ralo, e fazia uma analogia com a minha vida: tudo que não me fazia bem, estava indo embora naquela hora e só as coisas boas ficariam. Me olhei no espelho antes de sair do banheiro, meu cabelo estava negro como a noite mais escura e aquilo pareceu deixar meu rosto mais evidente de alguma forma. Eu me olhei sabendo que aquele era o início de uma nova era em minha vida.
Bem nesse momento, quando deixei o banheiro, minha mãe chegou no quarto, e meus amigos me cobriram para que a surpresa fosse para ela também.
- O Chanyeol já está de volta e perguntou pelo Baek! – Ela lançou um olhar pelo quarto como se me procurasse – E, se arrumem vocês todos, nós vamos leva-los a um lugar.
Mamãe estava visivelmente feliz porque nunca iria imaginar que eu tinha tantos amigos. Ela sempre se preocupou com o meu jeito solitário de ser.
- Fala que ele já vai descer! – Kyungsoo indicou e logo minha mãe já não estava mais ali.
Quando finalmente saí do banheiro, Junmyeon indicou a minha cama e eu percebi que em cima dela havia um conjunto de roupas que eu não reconhecia. Não pareciam ser minhas.
- Veste! O novo Baek combina mais com coisas assim! – Sehun me lançou um olhar que era doce e ao mesmo tempo desafiador.
Peguei as peças de roupa rapidamente e fui até o banheiro me trocar. Não sei até hoje de onde brotaram aquelas roupas, mas penso que talvez elas tenham relação com o cartão preto sem limites do Junma. A primeira peça que vesti era uma calça de couro justa em um tecido brilhoso, depois havia uma camiseta de malha preta dos Rolling Stones, e uma jaqueta também de couro.
Depois que terminei de me vestir encarei o espelho do banheiro e aquela pessoa ali refletida me fez lembrar do primeiro dia em que andei na labareda, em que Chanyeol vestia uma roupa igual. Decidi que não era bom ficar pensando em nada daquilo e finalmente abri a porta em direção ao quarto.
Todos me olharam no instante em que saí e aquilo fez um bem danado a minha alto estima. Depois de encontrar um coturno velho e colocar nos pés eu me achei maravilhoso como nunca antes na vida. Então como se estivesse flutuando em um sonho eu sai do quarto em direção ao andar de baixo. Não queria mais saber de nada além da reação de Chanyeol ao novo Baekhyun.
Parei no topo da escada avaliando tudo, e depois de um tempo pensando fui descendo bem devagar os degraus. Chanyeol se encontrava na mesma posição de mais cedo, sentado a frente de meu pai, de forma que eu podia ver seu rosto. Ele conversava alguma coisa, mas de repente seu olhar se firmou em mim e sua expressão se tornou um pouco abobada, os olhos já grandes pareciam duas vezes maior. Ele havia gostado.
Passei rápido por ali sem olhar muito para ele e fui direto para cozinha. Eu tinha que manter a pose séria, mas por dentro eu estava surtando porque ele havia ficado de queixo caído por causa da minha mudança, provavelmente me desejando. Eu estava muito feliz, tão feliz que pensei que ali na cozinha da minha casa era uma boa hora para fazer a minha tradicional dancinha da vitória.
Comecei uma série de movimentos circulares com o quadril enquanto meus punhos fechados se balançavam a frente do meu rosto, meus dias de glória haviam finalmente chegado.
Mas alegria de pobre dura pouco e eu fui surpreendido em meu momento de felicidade.
- Baekhyun, eu to te vendo! – Aquela voz grave nunca falhava em me deixar com borboletas no estômago.
Droga! Outro mico!
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