-AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!
Empurrei Kyungsoo com tudo e ele rolou da cama, batendo com tudo no chão. Nem eu, nem ele parávamos de gritar. Jongin rapidamente acordou e começou a gritar também, assustado com a situação, ele abanava as mãos desesperado, coitado, mas eu podia jurar que seus olhos continuavam fechados como se ele ainda estivesse dormindo. No meio de nossos gritos percebi que Kyungsoo continuava sentado no pequeno vão entre as duas camas, abraçando seus joelhos bem junto ao corpo, e ele se balançava para frente e para trás feito um maluco.
Tentei me aproximar dos outros dois e Jongin gritou mais ainda como se eu fosse uma ameaça, então eu saí da cama onde estava e me aproximei para tentar dizer algo a um dos outros dois, ou apenas fazer algo, tentar fazê-los parar de gritar.
Mas Jongin foi mais rápido que eu, e mais ágil. Ele se levantou e com velocidade pegou um pedaço de pau que repousava na parede ao lado da janela, que nós usávamos quando queríamos fechar a janela e bateu com tudo no topo da minha cabeça com ele.
Eu acho que fiquei meio zonzo e fui caindo no chão. Enquanto caía consegui ouvir os gritos de Junmyeon.
- Yixing, se for um ladrão você me protege com seus braços fortes, ok?
Os gritos haviam acordado todo mundo.
Menos vovó que tinha um sono de pedra.
***
Logo estavam todos naquele quarto ouvindo a explicação de Kyungsoo: tudo havia sido um plano mirabolante tramado por Junmyeon. O planejado era que ele invadisse a cama de Jongin e eles assim poderiam se reconciliar, se é que me entendem. Mas, Kyungsoo havia errado o alvo e subido na cama errada, causando toda aquela confusão.
Yixing havia me dado um copo de água com açúcar e entregado um para Kyungsoo também, além de me trazer uma bolsinha com gelo para melhorar o galo no topo da minha cabeça.
Meus tios haviam voltado a dormir, e no quarto restavam Yixing, Sehun, Chanyeol, Junmyeon, Kyungsoo, Jongin e eu. Minha cabeça ainda doía em razão da pancada proferida por Jongin, mas eu ainda estava melhor do que Kyungsoo que parecia um tomate de tão vermelho e que estava a ponto de chorar a qualquer instante.
- Foi isso, eu só pensei que era o Jongin! – Kyungsoo mal conseguia olhar em nossos olhos enquanto falava – E o Jongin bateu no Baek...
- Eu bati no Baek pensando que ele era um ladrão. – Jongin parecia tão assustado e envergonhado quanto Kyungsoo – Eu pensei que o Soo fosse o Baek, e o Baek fosse um ladrão.
- Eu só não entendi muito bem o que você veio fazer aqui, Kyungsoo! – Yixing falou com um olhar perdido. Eu não soube se aquilo era piada ou se ele estava falando sério mesmo.
- Se você quiser, eu te mostro! – Junmyeon colou a mão na cintura e movimentou a cabeça como se jogasse o cabelo para o lado.
Eu prontamente dei um tapa na cabeça dele pra ver se ele parava de ser tão tonto.
- Acho que vocês dois precisam conversar! – Falei com um tom sério a Jongin e Kyungsoo.
- Olha quem fala... – Junmyeon disso baixinho e talvez só eu tenha escutado o seu comentário.
A essa altura o moreno já havia se compadecido da situação de seu namorado, e massageava os cabelos dele, sentado ao seu lado, por isso eu sabia que eles não precisavam de muito para se resolver, só precisavam de um tempo sozinhos para se entender.
Então eu tive uma ótima ideia.
- Eu posso dormir no quarto lá de baixo, e o Kyungsoo vem para esse quarto já que ele e o Jongin precisam conversar... – Nem tive coragem de olhar para ninguém.
- Huuum! Você vai lá pra baixo? Com o Chanyeol? – Junmyeon com certeza estava com aquela expressão promíscua e vergonhosa no rosto eu nem precisava olhar para a cara dele e já tinha essa certeza.
- Sim... Com o Chanyeol!
Sehun deu uma risadinha e depois Jongin e Kyungsoo também riram. Olha só os meus amigos tirando o foco da situação para me zoar!
Não esperei que eles me dessem autorização pra nada, eu apenas peguei um dos travesseiros que estavam na minha cama (porque eu dormia com três) e saí dali rapidamente, em direção ao quarto do primeiro andar.
Imediatamente vi as coisas de Chanyeol em uma das camas, e me senti bastante nostálgico em ver aquelas coisas ali, afinal eu sentia saudade de estar em uma cama com ele. Mas não pude ficar ali observando sua bagunça porque ele logo entrou no quarto e eu então me joguei em uma das camas, envergonhado demais para conseguir olhar para ele ou iniciar uma conversa.
Eu ouvi alguns barulhos que denunciavam que Chanyeol havia se deitado em sua cama ao meu lado e isso me deixou meio inquieto. Estávamos tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Tudo que eu fiz foi me encolher mais um pouco e tentar fazer o mínimo de barulho para que ele pensasse que eu estava dormindo.
Então eu apenas fechei os olhos e fiquei lembrando de vários momentos que passei ao lado dele, lembrei principalmente do meu aniversário, da surpresa que ele me preparou e lembrei da correntinha, que nós dois ainda carregávamos no pescoço.
Talvez ele ainda me amasse da mesma forma que meus sentimentos por ele continuavam intactos. Mas havia uma dúvida que rondava a minha mente o tempo todo: seria mesmo possível voltar ao que éramos antes?
Aquilo me tirava o sono, literalmente.
Não consegui voltar a dormir tendo a sensação de que Chanyeol me observava na outra cama. Me remexi, cantei várias músicas mentalmente e acabei por permanecer um tempão encolhido sem me virar para ele. Eu estava enlouquecendo com toda aquela pressão que sentia sobre ter que conversar com ele para enfim consertar as coisas. Porque não podíamos simplesmente voltar ao que éramos antes?
Mas eu também não sabia ao certo se queria mesmo voltar ao que éramos antes, porque eu havia mudado e conseguia enxergar naquele momento algumas falhas em nosso relacionamento que antes me eram imperceptíveis. Me incomodava bastante o fato de que tudo havia voado diante de meus olhos, conseguia me lembrar de que em uma semana eu morria de ódio por Park Chanyeol e na outra nos já estávamos juntos.
Às vezes eu queria ter tido um início de namoro convencional, mesmo que Chanyeol não fosse convencional, eu queria ter feito tudo com calma, pra talvez cuidar mais de algumas coisas.
Era impossível ignorar que eu ainda sentia muitas coisas por ele e ali naquele quarto bem pertinho de Chanyeol eu estava me segurando para não ir até a sua cama e sei lá, fazer alguma coisa. Qualquer coisa.
Refleti rapidamente sobre minhas possibilidades naquele quarto: eu estava receoso, mas queria agir, mas o novo Baekhyun se orgulhava em dizer que era aquele tipo de pessoa que seguia seus instintos e fazia exatamente tudo o que queria e se Do Kyungsoo havia tido a coragem e a audácia de invadir o quarto do seu namorado, eu também era capaz de fazer aquilo.
Suspirei uma ultima vez tentando reunir coragem e então me levantei rapidamente, rumo à cama ao meu lado.
Mas Chanyeol não estava lá.
Droga!
Movido por alguma força estranha, eu só calcei meus chinelos e saí do quarto. Porém quando estava saindo pela porta algo me chamou a atenção: a capa onde Chanyeol guardava seu violão estava aberta e jogada num canto, o que me fez concluir o óbvio: ele estava em algum lugar junto ao seu violão, tocando.
De pijama mesmo, saí em busca dele, ele estaria com certeza em algum ponto do El Dorado e eu tinha quase certeza de que sabia exatamente onde poderia encontrá-lo.
***
Andei menos de cinco minutos até chegar à lagoa central do parque e como havia previsto, lá estava ele sentado no deck tocando o seu violão. A imagem era bonita, como se ele e a natureza se conectassem se tornando uma obra de arte sem igual. Eu era a penas o expectador fascinado.
Tive medo de me aproximar e estragar aquilo, mas havia algo na atmosfera daquele momento que fez com que eu me movesse silenciosamente até ele e me sentasse ao seu lado. Mas quando me sentei ali ele parou de tocar e me olhou em silêncio.
- Não conseguiu dormir? – Ele me encarou até metade de sua frase, depois abaixou a cabeça.
- Não.
Silêncio.
Então eu resolvi falar alguma coisa.
- Jongin e Kyungsoo devem estar se acertando agora! – Achei que era um bom tópico de conversa.
Chanyeol riu.
- É, devem estar! – Chanyeol tinha a voz meio embargada pelo sono.
Pensei que aquela podia ser a minha chance já que estávamos sozinhos.
- Chanyeol nós precisamos conversar... – Eu disse cada palavra com um medo enorme, mas não podíamos ficar adiando aquilo – O problema é que não sei bem como fazer isso.
- Eu também não. - Ele parecia meio perdido.
Depois de falar, Chanyeol fez algo que eu não esperava. Ele colocou seu violão de lado e se deitou sobre o deck, depois estendeu as mãos para o alto como se quisesse pegar as estrelas. Então eu o imitei, deitei ao seu lado, e comecei a falar, encarando o céu, sem olhar para Chanyeol.
- Eu senti sua falta.
- Sabe, esse lugar me lembra aquele parque que fomos juntos algumas vezes, perto da sua casa... – Ele parecia bastante concentrado em capturar estrelas.
Ele não seguiu o script como eu pensei, e não disse que também sentia a minha falta o que me deixou com um pouco de raiva, e eu preferi ficar em silêncio provocando para que ele desse continuidade à conversa.
Demorou um pouquinho, mas ele enfim falou.
- Eu sinto falta de quando estávamos felizes juntos. Essa atmosfera melancólica não combina com a gente. – Chaneyol falou meio rápido e eu presumi que internamente talvez ele estivesse cogitando não ter dito nada daquilo.
A frase dele mexeu com alguma coisa que estava adormecida dentro de mim e eu senti meu estômago gelar como só ele era capaz de fazer. É claro que uma parte de mim também sentia saudade de nossa vida de casal, mas por mais que me forçasse a isso e quisesse muito, eu não sabia se era uma boa ideia insistir naquele relacionamento porque ainda doía lembrar de algumas coisas.
Eu estava a ponto de chorar, então me lembrei de uma frase que eu havia escutado em algum lugar e escolhi dizer a ele.
- Nem todas as histórias tem finais felizes, Chanyeol.
Percebi que minhas palavras o atingiram em cheio quando ele suspirou alto e depois se remexeu um pouco. Pensei realmente que nossa conversa e história podiam ter terminado de vez ali, naquela noite fresca no El Dorado. Mas Chanyeol nunca deixou de me surpreender e mais uma vez ele soube exatamente o que dizer para me deixar sem palavras e sem defesas.
- Eu sei disso, mas a nossa história ainda não acabou.
Não sei o que deu em mim só sei que tão rápido quanto as palavras dele foram ditas, lágrimas caíram do meu rosto e eu torci para que ele não estivesse me olhando. Fechei meus olhos e por alguns instantes esperei que ele continuasse a conversa.
Mas só houve silêncio.
E lágrimas.
E lembranças felizes de um passado não tão distante.
***
- Baekhyun! Baekhyun, acorda! – A voz grave e inconfundível me despertou de um sono sem sonhos.
A primeira coisa que vi quando abri meus olhos foram os olhos grandes de Chanyeol, ainda sonolentos, um pouco acima dos meus e imediatamente me assustei ficando sentado no deck. Nós dois havíamos dormido ali.
- Dormimos aqui! – Chanyeol já se levantava e se espreguiçava como se estivesse acordando de uma boa noite de sono.
- Isso eu consegui concluir! – Ah, o meu humor matinal.
O que eu fiz foi me levantar rapidamente em direção a casa, a essa altura todos já deviam estar acordados já que a luz do sol era a responsável por me deixar quase cego naquele momento.
- Baekhyun, eu fiz alguma coisa? – Chanyeol gritava enquanto tentava me acompanhar com seu violão em uma das mãos.
Eu estava com um pouco de raiva, mas não conseguia entender o porquê, talvez se devesse ao fato de que nós não havíamos resolvido nada com a nossa breve conversa no deck e agora eu estava com mais dúvidas do que antes, e meu coração estava apertado.
- Não, Chanyeol, você não fez nada. – Eu gritava quando nos aproximamos da casa de minha vó.
- Ei! Olhe para mim! Fale direito comigo! – Chanyeol segurou em um dos meus braços me obrigando a olhar para ele.
O problema era exatamente esse. Quando Chanyeol encostava em mim ou me olhava com aqueles olhos grandes eu esquecia todo o resto do mundo e me concentrava apenas nele. E olhando para aquele rosto tão belo a minha frente eu me esqueci de tudo e me dei conta de que não havia razão para sentir raiva dele.
Eu teria me perdido ali no olhar de Chanyeol e talvez ele finalmente tivesse feito alguma coisa, talvez tivesse me beijado, talvez eu tivesse tomado a iniciativa e o beijado. Mas uma voz conhecida surgiu de um dos cantos da varanda nos fazendo perceber o mundo exterior a nós dois.
- Pessoal, me desculpa, de verdade. To começando a achar que só apareço nos momentos inoportunos.
Sério Junmyeon, você acha? Eu tenho a certeza.
Continuei firme até a porta da casa, e Chanyeol me seguiu, meio apreensivo. Por dentro eu me sentia um tanto infantil, mas eu estava com raiva dele e na minha cabeça eu tinha esse direito porque tudo que ele fazia era me tirar do foco e confundir ainda mais a minha mente.
E eu me orgulhava em bancar o forte, mesmo que não fosse nada disso.
Entrei com tudo pela porta e logo a direita da entrada da casa, estava posta uma mesa de café da manhã e todos já conversavam animadamente. Só pararam de falar quando me viram entrar descabelado e de pijama.
- Meu filho, achei que você estivesse no quarto? – Vovó já veio em minha direção, bem preocupada – Você está bem? – Ela me tratava feito um bebê.
- Ele tava bem sim, ó – Ouvi a voz de Sehun sair de um dos cantos – Ele estava com Chanyeol.
Senti meu rosto ficar vermelho e queimar de vergonha imediatamente. E também ouvi uns risinhos. Morri de vergonha então corri rápido para o meu quarto lá no segundo andar onde estavam as minhas coisas, mas antes de deixar a copa onde todos estavam percebi que Kyungsoo e Jongin já pareciam estar de bem novamente.
Tomei um banho e coloquei roupas limpas e escuras – porque o novo Baekhyun era gótico e usava preto mesmo estando um sol forte lá fora. E desci feliz, como se nada tivesse acontecido para tomar o meu maravilhoso café da manha.
E dei de cara com Park Chanyeol.
E ele estava cheiroso de banho tomado também.
Oh céus!
***
Durante o café da manhã, tudo pareceu normal, mesmo para nós que não éramos normais nem de longe. Junmyeon conversava com Sehun sobre uma promoção de um biscoito, que daria ao ganhador de um sorteio uma viagem à Jeju com os amigos.
Sehun o implorava para que se ele ganhasse, o chamasse para viajar consigo. E Junmyeon falava pelos cotovelos de como Jeju era maravilhosa.
Eu estava muito mais preocupado em comer do que prestar atenção na conversa sobre pontos turísticos coreanos. A mesa era farta e tinha todo e qualquer tipo de comida e eu, guloso como sempre queria experimentar um pouco de tudo.
- Com licença, eu tenho uma coisa pra falar! – Kyungsoo, que estava ao meu lado, ficou em pé, segurando a mão e Jongin, que parecia aflito.
Todo mundo ficou quieto e se concentrou neles dois por um instante, e depois de um silêncio curioso, Kyungsoo respirou fundo e falou aquilo que era muito mais um lembrete a si mesmo e à seu namorado do que para nós.
- Jongin é meu namorado, e eu o amo, e ele me ama, e é isso! – Kyungsoo voltou a se sentar na cadeira, na mesma velocidade em que se levantou dela.
Jongin exibia um sorrisinho no rosto, como uma criança que ganha um doce. Era bonitinho de se ver.
Todo mundo ficou sem reação, os vários pares de olhos encararam Kyungsoo um tanto incrédulos porque esse tipo de coisa não era do feitio dele. Mas ao menos ele e Jongin haviam resolvido as coisas e incrivelmente a felicidade deles me deixou mais leve, acho que fiquei feliz por eles.
Mas minha felicidade durou apenas alguns segundos.
- Agora só falta você e o Baek se acertarem, Chanyeol! – Junmyeon falou sem olhar pra nenhum de nós enquanto enfiava um generoso pedaço de pão na boca.
Meu Deus, se ele estivesse ao alcance das minhas mãos eu daria um tapa tão forte na cabeça dele que ela ia girar e fazer a volta completa como naquela cena de O exorcista. Às vezes eu ainda me perguntava porque eu ainda era amigo dele, sinceramente.
- Yixing falou pra vocês o que farão hoje? – Minha tia me fez parar de planejar formas de tortura pra Junmyeon.
Eu não fazia ideia do que faríamos, então apenas neguei com a cabeça, bem desanimado, então ela continuou falando.
- Vocês vão fazer uma trilha aqui pela parte de mata do parque, depois do almoço.– A mulher continuou a me explicar e eu comecei a ficar mesmo interessado.
- Trilha? – Sehun perguntou e começou a dar saltinhos no chão como se estivesse eufórico.
- Quem vai ser nosso guia? – Kyungsoo sempre preocupado com os detalhes, perguntou à minha tia.
- Yixing! Ele conhece esse parque como a palma da própria mão. – A mulher explicou.
- Onde ele está? – Junmyeon não perdia tempo.
- Ele foi à cidade, buscar a namorada – Minha tia começou a passar manteiga em um pequeno pão e por isso não pode ver a cara de nojo e espanto que pintou a face de Junmyeon – Soojung vai fazer trilha com vocês também.
Quase que imediatamente senti algo vibrar o meu bolso e então peguei o celular, artefato que nos últimos tempos eu quase não utilizava. Percebi que ele piscava indicando uma mensagem de texto de Junmyeon, e achei estranho já que ele estava a minha frente na mesa.
Mesmo assim eu abri, e li o conteúdo da mensagem que dizia:
Eu + Yixing + mato = ♥
Olhei de volta para ele com uma cara de julgamento e tudo que recebi em resposta foi aquele olhar que ele fazia quando estava pensando besteira, uma das sobrancelhas erguidas, os olhos estreitos e a boca exibindo um sorrisinho malicioso. Então respondi a sua mensagem com a minha visão das coisas.
Você + eu + Yixing + Soojung + Kyungsoo + Jongin + Chanyeol + Sehun= confusão, na certa.
Achei sinceramente que ele ia entender meu ponto de vista e não falar mais nada, mas ele era louco. Sim, Junmyeon é louco e não perdia uma chance de me constranger, então ele mandou um outra mensagem:
Baekhyun + Chanyeol + mato: sexo de reconciliação.
Eu dei um gritinho de raiva que fez com que todos me olhassem e Junmyeon riu da minha cara, como sempre. Acabei desistindo de responder porque as coisas só ficariam piores se eu insistisse em ter aquele tipo de conversa com ele, e logo depois Yixing chegou, trazendo Soojung e todo mundo foi aos poucos se dissipando.
***
O resto do dia correu relativamente bem, nós conversamos, rimos, jogamos alguns jogos de tabuleiro e Junmyeon, mentiroso de carteirinha, teve algumas aulas de equitação com Yixing. Ele era tão, mais tão cara de pau que pediu até para que Yixing montasse no cavalo com ele.
Nós almoçamos uma comidinha preparada com carinho pela vovó que nos encheu de salada dizendo que seria importante comermos coisas leves antes de ir para a trilha.
Depois de almoçados, fomos arrumar nossas bolsas com as coisas que levaríamos. Nosso objetivo com a trilha era desbravar a mata até chegar a uma pequena cachoeira, onde poderíamos tomar banho se quiséssemos e fazer até um piquenique. Por isso levaríamos também algumas comidinhas.
Na minha bolsa coloquei um pouco de tudo, vários biscoitos que eu não dividiria, repelente, chocolate, um caderninho de anotações e principalmente a minha máquina fotográfica. Por incrível que pareça, eu e Chanyeol não trocamos mais do que duas palavras ao longo do dia, algo estava ainda mais estranho entre nós e eu tentava me distrair e pensar em qualquer coisa, mas ele estava ali e sempre invadia os meus pensamentos.
***
O relógio de nosso guia marcava uma hora da tarde quando nós seguimos rumo ao desconhecido, e entramos mata adentro. O planejado era que andássemos cerca de uma hora para enfim chegar à pequena queda d’água onde tomaríamos um banho e faríamos piquenique, mas fizemos o percurso com o dobro de tempo porque Junmyeon era fresco demais e sempre inventava situações para fazer um escândalo e assim se aproveitar para abraçar Yixing.
Eu não via a hora de Soojung se irritar e quebrar o pau pra cima dele, eu acharia até divertido.
Credo, Baekhyun!
Eram quase três da tarde quando enfim chegamos à tal queda d’água. Era um luar que me trazia boas lembranças. O sol estava quente e batia sobre a superfície da água cristalina e fazia o local parecer um santuário de beleza da mãe natureza. A mata densa ao lado da cachoeira deixava tudo ainda mais belo e eu fiquei ali, na beira da lagoa que se formava, apenas observando a magnitude daquele cenário.
Eu não queria entrar na água então fiquei apenas observando, um por um os outros entrando na água. Yixing e Sojung foram os primeiros, entraram na água enquanto eu abria um pacote de biscoito e começava a ingerir açúcar.
Chanyeol veio até onde eu estava, que era um lugar um pouco mais alto e se jogou daquele ponto, caindo já mergulhando naquela água que devia estar bem fria para nadar até o local onde a água da cachoeira caía e ficar ali parado, sentindo a água bater no topo de sua cabeça, ele fez isso tão rapidamente que eu nem ao menos tive a chance de dar aquela conferida no corpo dele.
Foco, Baekhyun! Foco!
Kyungsoo foi o próximo a entrar na água, bem cauteloso, ele entrou apenas na borda da lagoa, e ficou ali, se movendo de um lado para o outro. Jongin e Sehun, que nos últimos tempos pareciam melhores amigos de infância, imitaram a Chanyeol, e saltaram do mesmo ponto que o outro havia pulado, mas eles foram mais escandalosos e gritaram feito dois loucos.
Até aquele ponto, os melhores abs para mim eram o de Yixing, o de Kyungsoo e o de Jongin – nessa ordem. Pelo que me lembrava, o abs de Chanyeol também era bom, mas meu orgulho não permitia colocar no meu top3, ele não estava merecendo.
Todos eles faziam muito barulho brincando dentro da lagoa, mas houve um momento em que todo mundo se calou repentinamente e eu senti que todos os olhares encaravam algo bem atrás de mim, quase me joguei na água com medo de que fosse algum animal selvagem, e talvez fosse, mas quando virei a cabeça, super corajoso, me dei de cara com um Junmyeon de corpo esculpido. Os músculos de sua barriga eram definidos, mais até que os de Yixing e ele tinha os músculos do braço também marcados.
De onde surgiu isso, Senhor?
Junmyeon andou até onde eu estava e se abaixou para falar algo comigo. Não sei porque eu ainda considerava escutar o quer que fosse o que ele tinha para me dizer.
- Será que se eu fingir que estou me afogando, Yixing faz respiração boca a boca? – Ele me deu um tapinha de leve no ombro quando falou.
- Olha, eu vou ligar para o Jongdae, hein! – Peguei meu celular e fingi discar uns números.
- Faz isso não, ta louco, Baek! To falando de brincadeira, seu doido, enlouqueceu, foi? Tu ta fumado? – Ele falou esse montão de palavras sem parar para respirar.
Confesso que achei graça na situação, então guardei o celular, e com a minha cara mais sapeca, empurrei ele pra dentro da água.
***
Já fazia um tempo que estávamos ali, então eu tinha aproveitado para tirar meus calçados e deixar ao menos os meus pés livres. Vez ou outra alguém vinha até onde eu estava e comia alguma coisa. Mas aquele era mais um piquenique só meu, eu estava comendo mais do que ninguém.
No momento Junmyeon estava sentado ao meu lado fazendo comentários indelicados sobre o corpo de todos os outros. Eu apenas o ouvia dizer qualquer coisa, mas estava desligado daquela realidade pesando apenas em mim mesmo e no pacote de chips de queijo em minhas mãos.
- Kyungsoo tem uma sorte, né não? Olha só esse Jongin molhado!
Foi a ultima coisa que eu o ouvi dizer com clareza antes de perceber que eu era vítima de um grande plano maligno da oposição. Num momento lá estava eu, Byun Baekhyun, comensal da morte, herdeiro de Sonserina todo de preto, sentado a beira da lagoa, e no outro sentia as mãos de Kyungsoo e Yixing me tirarem do chão e me lançarem naquela água gelada mesmo que eu protestasse com gritos histéricos.
Acabei por ficar dentro da água mesmo, estava bem refrescante e aquilo me parecia uma loucura, digo, entrar na água com as roupas, aquilo meio que me lembrava de quando éramos mais jovens e fugíamos para aquele lugar.
Foi bom, mas senti os olhos de Chanyeol me fuzilando a cada instante.
***
Devemos ter ficado naquele lugarzinho por cerca de uma hora e meia, bem pouquinho, mas o suficiente para ser bem divertido. Na volta, o céu ensolarado já dava lugar a um começo de noite, e mesmo que eu pudesse ficar um pouco preocupado, sabia que Yixing conhecia bem o caminho.
O céu começou a escurecer bastante, e não era cinco horas ainda, o que era estranho.
- Fiquem juntos, acho que vai chover! – Yixing falou olhando para o céu com uma expressão que parecia a de um vidente – Se juntem em duplas, ok?
O vento se tornou um zumbido agudo e cortante em nossos ouvidos e a chuva começou a cair fraquinha minutos depois da fala de Yixing, e quando olhei para o céu percebi que nuvens escuras o pintavam e era bem provável que com o tempo a chuva se tornasse ainda mais forte. Meus olhos passearam pelas nuvens por alguns instantes e depois sem querer eles pausaram em Chanyeol e eu demorei a me dar conta de que ele também me encarava com aqueles olhos grandes.
Decidi que era bom me concentrar em qualquer outro aspecto da paisagem porque encará-lo era um tanto... Constrangedor. Mas era como se tudo cooperasse para o meu constrangimento total. Um pouco a minha frente Yixing e Soojung caminhavam de mãos dadas trocando alguns beijinhos, ao lado deles Jongin e Kyungsoo se olhavam bastante apaixonados e ainda mais próximos de mim estavam Junmyeon e Sehun. O mais velho tentava obrigar o outro a comer uns biscoitos de polvilho como se fosse sua mãe, e eu ri um pouco antes de desviar o olhar.
Um trovão me fez despertar de meus devaneios e eu instantaneamente olhei para Chanyeol, afinal, meu corpo sempre teve a certeza de que ele era o meu porto seguro.
Segui andando cabisbaixo sentindo os pingos frios de chuva tocarem meu rosto, ou caírem sobre o chão da trilha fazendo um barulhinho muito característico e intimista. Esse som relaxante se misturava às vozes baixas de meus colegas mais a frente e confesso que me senti um tanto nostálgico. A chuva sempre me fazia lembrar a primeira vez em que beijei Chanyeol, naquele dia, na casa dele.
Quando os pensamentos sobre aquele dia me tomaram por inteiro fui obrigado a erguer a cabeça e a olhar para Chanyeol, porque tudo parecia fruto de minha imaginação ou então parte de uma realidade paralela distante. Só não parecia a minha vida.
Foi então que me dei conta de duas coisas: já estava anoitecendo e Chanyeol não estava em nenhum ponto do meu campo de visão. Rapidamente girei o corpo procurando algum sinal dele e gelei por uns instantes ao não encontrá-lo. Só depois de alguns segundos de pânico interno por pensar sobre o que seria de Chanyeol se ele se perdesse na mata, foi que eu coloquei os olhos nele finalmente.
Ele tinha o corpo um pouco encurvado e segurava a sua câmera fotográfica como se estivesse procurando alguma coisa, seu violão ele levava colado às suas costas. Olhei em direção ao grupo que agora estava um pouco adiantado e então gritei por Chanyeol que pareceu não escutar. Lancei um ultimo olhar ao grupo e então gritei por eles, mas ninguém me ouviu também, porque a essa altura a chuva já estava um tanto mais forte.
Eu teria que ser rápido e o plano era bem prático: ir até Chanyeol e o puxar pelo braço antes que ele ficasse ali sozinho e perdido.
Droga! Sempre sobrava pra mim!
Andei rápido até ele que parecia desconectado e alheio ao mundo exterior, atento a cada centímetro do chão.
- Chanyeol! – Gritei enquanto gesticulava com as duas mãos para chamá-lo.
Ele não me ouviu.
Eu estava com raiva, com muita raiva na verdade. Como ele podia ser tão tapado? Yixing havia sido bem claro e enfático quando disse que nós devíamos permanecer em dupla e não nos afastar no grupo, porque a mata era um tanto densa o que dificultava a movimentação e a localização e talvez com a chuva a situação só se agravasse ainda mais. A mochila nas minhas costas já estava pesando bastante.
O outro se afastava de mim, fazendo barulhos como se chamasse por um gato ou coisa parecida. Se eu me perdesse ou fosse engolido por algum animal selvagem gostaria que todos soubessem que a culpa poderia ser jogada nas costas de Park Chanyeol, o grande imbecil.
Um imbecil bonito e cheiroso, porem imbecil.
- Chanyeol! – Gritei uma ultima vez, com muita raiva e ele finalmente me olhou – Vem!
- Espera só um instante, Baekhyun! Eu te juro que vi um esquilo.
- O quê? – Perguntei incrédulo.
- É, eu vi um esquilo daqueles bem bonitinhos e fofinhos... – Ele dizia enquanto se esgueirava na mata atrás do tal esquilo.
Aquilo era tão ridículo que se eu não estivesse com raiva, com certeza estaria rindo.
- Vem, Chanyeol! – Puxei seu braço de uma vez por todas, mas ele era mais forte do que eu e se desvencilhou do meu aperto.
- Mas eu estou falando sério, Baekhyun! Eu vi um esquilo. – Ele continuava totalmente alheio ao meu nervosismo.
- Chanyeol, não existem esquilos nessa região! – Eu não estava mais com paciência para aquilo tudo.
- É sério, Baekhyun, olha! – Chanyeol gritou e correu um pouco apontando para um rato que se movia sorrateiramente pelo chão da floresta.
- Aquilo é um rato, Park Chanyeol! – Ele apenas se virou para mim com os olhos sentidos parecendo uma criança quando é contrariada. – Um rato! – Gritei mais uma vez tentando fazê-lo sair da inércia em que se encontrava.
Mas ele continuava parado na chuva.
Eu puxei seu braço com força em uma tentativa de trazê-lo de volta ao caminho, mas ele cambaleou um pouco e de alguma forma torceu o tornozelo. Chanyeol deu um pequeno urro de dor e então caiu sentado no chão, naquele momento eu soube que ele não sairia dali tão facilmente, nem se quisesse.
- Acho que torci o tornozelo! – Chanyeol sabia ser bem manhoso quando queria, e bem dramático também.
Fiquei olhando para ele por alguns instantes, hipnotizado. Todo tempo que fiquei longe dele não me permitiram de forma alguma esquecer de suas feições porém ali ao natural eu não conseguia parar de admirá-lo e contemplar sua beleza inevitável. Não pude deixar de perceber como ele ficava bonito molhado de chuva...
- Er, você consegue andar? – Perguntei e sorri imediatamente quando vi que Chanyeol acenava positivamente com a cabeça – Ótimo! Só precisamos chamar o pessoal.
Me virei em direção onde os outros estavam da ultima vez e gelei me dando conta do que estava acontecendo. Não havia sinal do grupo e ao constatar isso, imediatamente comecei a entrar em pânico. Mas foi Chanyeol quem externou o óbvio naquele momento, quando a chuva tornava tudo mais dramático.
- Estamos perdidos, não é?
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