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História Lumière - Lumière


Escrita por: lunevile

Notas do Autor


Boa noite, queridos leitores, cá estamos nós para mais um capítulo.
Hoje quero falar à vocês de uma coisinha que tem me incomodado: vocês, ou pelo menos alguns, anseiam por lemon e lumière tem um rítmo mais lento porque quando à escrevi, a intenção foi contar uma história "comum" como essas que acontecem todos os dias com vários casais mas que muitas vezes não são consideradas poéticas o bastante. Lumière é isso, o amor como ele nasce, e o amor é sutil, e é na sutileza que está a beleza da coisa.
Muuuuito obrigada aos leitores que me incomodam aqui e no twitter ou no ask, que perguntam e contam o quanto gostam e se identificam com Lumiere. Espero que a fic faça jus à todo esse amor!
Boa leitura!

Capítulo 6 - Lumière


Fanfic / Fanfiction Lumière - Lumière

Sinto muito em te desapontar caro leitor, mas o que aconteceu depois que eu entrei na cozinha de Chanyeol não foi nem de longe o que eu penso que você está esperando. Sim, eu sei o que você está esperando, porque eu também estava esperando aquilo... Mas tudo aconteceu como tinha que ser.  Tudo que eu mais queria e precisava naquele momento era de uma nova história e a vida se encarregou de escrevê-la com muito cuidado, o que a tornou perfeita e surpreendente.

Alguns minutos depois que Chanyeol entrou pela porta de sua cozinha, depois de olhar pra mim, eu o segui, ainda encharcado pela água da chuva, porém feliz. Eu não podia acreditar que Chanyeol havia me beijado e nem que eu havia gostado, mas essa era a verdade. Raciocinei um pouco: Chanyeol havia acabado de me beijar e depois seguir para dentro de uma casa sem luz, ou seja, na mais completa escuridão. Será que ele estava pensando o que eu achava que ele estava pensando? Minha vontade era ligar pra Kyungsoo e contar tudo pra ele naquele mesmo instante e surtar, contar pra ele que Chanyeol e eu havíamos nos beijado. Eu sabia que na verdade ele ia me dizer coisas como: eu já sabia, mas mesmo assim eu queria ver a reação dele.

Me ative um pouco antes de girar a maçaneta para entrar na casa, pensando: o que seria de mim se eu entrasse ali agora? Eu não tenho nada a perder. Mas na verdade eu tinha sim algo a perder e meu instinto me dizia que seria doloroso. Será que eu não estava sendo fácil demais? Convenhamos aquele era Park Chanyeol, ele me odiava até semanas atrás. Ou pelo menos era assim que eu achava.

Girei a maçaneta. O local agora estava bem mais escuro, visto que já era um pouco mais tarde. Dei alguns passos sem saber ao certo que estava na minha frente, estendi minhas mãos à frente do meu corpo como um zumbi, tateando o vazio em busca de Chanyeol ou qualquer outra coisa. Ouvi alguns passos à distancia e me virei em direção ao som, batendo a cintura em algum eletrodoméstico qualquer. Pensei em dar meia volta em direção à luz da porta por onde entrei e então pensei: Posso usar a luz do celular! Caramba! Meu celular! Parabéns Byun Baekhyun, você é uma anta, tomou banho de chuva com o celular no bolso da calça.

Peguei o celular de uma vez do bolso para ver o estrago, mas percebi que meu moletom por ser em um tamanho maior que meu corpo, cobria o bolso de trás da calça, formando assim uma proteção de tecido para meu celular. Olhei pro celular, intacto e vivo e abracei meu pequeno companheiro, feliz por ele estar bem.  Senti um toque na cintura e gritei de susto, me virei e dei de cara com um grande e potente feixo de luz proveniente de uma grande lanterna nas mãos de Chanyeol.

Parte de mim ficou esperando ele me beijar de novo, ou até que avançasse para algo além de apenas um beijo, mas ele ficou só me olhando, com olhos que pareciam maiores que o normal. Depois de um tempo mantendo o olhar no meu ele olhou pra baixo e se sentou no chão frio da cozinha. Seu rosto estava vermelho, mas o que isso queria dizer? Ficar na defensiva nunca é demais quando se trata de Park Chanyeol. Se ele não ia falar do beijo, eu também não ia.  Se ele ia fingir que nada havia acontecido, era isso que eu também faria porque essa com certeza era uma opção melhor do que me afastar de vez de Chanyeol.

- Você ta com fome? – ele me perguntou, me trazendo de volta a realidade.

- Um pouco. – eu admiti.

- Você quer salgadinhos ou prefere que eu te faça um Omurice pra você?
 
           Eu ri. Chanyeol podia fazer várias coisas, mas eu duvidava muito de que cozinhar, e ainda mais no escuro fosse uma dessas coisas das quais ele era capaz.
 
              - Chanyeol, você vai cozinhar? O máximo que você vai conseguir é tacar fogo na casa toda.

 Meu deboche pareceu ter se tornado um desafio pra ele. Para meu total espanto ele chegou a se levantar e, iluminado por sua lanterna, se encaminhou para o grande fogão à sua direita. Ele me direcionou um pequeno aceno de cabeça para que eu assumisse um lugar na bancada a sua frente. É, ele até chegou a retirar algumas panelas do armário, mas antes que pudesse começar a preparar os ingredientes seu celular tocou. Ele fez um movimento com os dedos na tela do celular e colou-o sob a bancada a minha frente, dizendo:

- Bença, pai.

- Chanie, ta tudo bem aí? Faltou luz no lugar onde estávamos, e aí? O gerador deu conta? – uma voz grave respondeu.

- Estamos sem luz aqui em casa também, até estranhei o gerador não ter funcionado – Chanyeol respondeu, girando o corpo e olhando em volta, para a casa escura.

- Estamos? O pessoal ainda não foi embora?

- Foi sim, quem está aqui comigo é o Byun Baekhyun, um amigo da faculdade – Chanyeol, ao dizer meu nome, fixou o seu olhar no meu e eu me senti estranho mais uma vez. Meu coração acelerou apenas com o olhar dele e eu desviei o meu, na esperança de que os batimentos diminuíssem a freqüência.

- Ah sim... Quer que leve alguma coisa pra vocês?

- Seria bom, mas não se preocupe ok? Temos algumas coisas aqui, morrer de fome não vamos.

- Certo... levaremos algumas coisas então.

- Ok! Tchau, pai!

- Um beijo, Chanie!

O tal gerador fez seu trabalho de forma que minutos depois de Chanyeol ter finalizado a ligação a casa toda se iluminou e eu pude ver o rosto dele claramente outra vez. Ele estava sorrindo e seu cabelo ainda estava um pouco molhado por conta da chuva. Chanyeol tinha um charme incomum, talvez fosse pela forma como ele sorria sempre, ou pelos olhos grandes e desenhados que estavam sempre alertas, talvez fosse o conjunto da obra que lhe conferia uma aparência que às vezes me lembrava uma criança. Chanyeol era isso, uma criança grande.

- Você tem sorte, Byun Baekhyun, não vai ser hoje que você vai provar do manjar dos deuses, que é a minha comida. Papai e mamãe estão trazendo comida pra gente.

Oh god! Conhecer a família de Chanyeol não era algo simples, eles eram podres de ricos e deviam ser esnobes. Eu tenho que ir embora antes que cheguem! – eu pensei. Mas, como se os céus quisessem me enviar um recado para ficar, um raio cruzou o céu, e logo depois um trovão bem forte me fez tremer. Eu estava preso ali. Pensei em como os pais de Chanyeol fariam para atravessar a enxurrada, mas depois lembrei que eram ricos e ricos sempre tem iates ou lanchas.

- Acho que você não vai conseguir sair daqui, se é nisso que está pensando. – Chanyeol disse, como se tivesse o poder de ler a minha mente.

Meu Deus! E se Chanyeol fosse algum tipo de mutante com o poder de ler a mente? Lembrei do nosso beijo. Que droga! Se ele fosse mesmo um leitor de mentes ia perceber dessa forma que fiquei afetado belo beijo, já que estava lembrando-se dele. Em defesa comecei a pensar em coisas como pão pra despistar no caso de ele ser mesmo um mutante.

- Baekhyun, aqui tem pão caso você esteja com muita fome.

Socorro! Ele só podia estar lendo a minha mente. Pensei de novo no beijo e gesticulei de maneira exagerada tentando afastar o pensamento. Ele percebeu a minha loucura e estreitou os olhos meio que tentando me entender. Eu tinha que fazer alguma coisa e então peguei meu celular pra tentar mandar uma mensagem pra Kyungsoo, mas o aparelho indicava que não havia área pra esse tipo de serviço por conta da chuva.

- Você quer falar com Kyungsoo? Se não tiver área, pode ligar do meu, porque ainda tenho alguns pauzinhos de área, ou do fixo aqui de casa. Acho melhor você avisar que vai ter que dormir por aqui.

- Dormir?

- É, ué. Dormir. Ou você tem alguma esperança de sair daqui nesse toró?

- Chanyeol, você por um acaso quer me agarrar? – Ops, falei sem pensar.

- Eu aqui pensando na sua segurança e você maliciando tudo. Eu sou um anjo.

Mais um micão para a minha vasta lista e algo me dizia que durante a estadia noturna na casa de Chanyeol essa lista ainda seria atualizada algumas vezes. Olhei de novo para fora e vi que a chuva ainda não dava trégua e, mesmo que eu tentasse sair dali, o trânsito deveria estar uma loucura. É, Chanyeol tinha razão, o mais seguro naquele momento parecia ser mesmo dormir ali.

- Você me empresta seu celular? – Eu pedi, ainda relutante.

- Toma. – Ele me disse, estendendo para mim o seu celular. Na tela de bloqueio Chanyeol estava abraçado em uma garota sorridente. Aquilo me deixou... irritado. Desbloqueei o celular rapidamente para tentar fugir da raiva.

Disquei o número de Kyungsoo desejando que ele me atendesse porque ele costumava ter a mania de não atender números desconhecidos. Enquanto chamava fiquei processando a ideia de ter que dormir na casa de Chanyeol, aquele lugar deveria ser meio macabro à noite com tudo silencioso. Além disso minhas roupas estavam todas sujas e molhadas. Como eu faria pra dormir?

- Posso te emprestar uma roupa minha se quiser.

- Alô. Quem ta falando? – ouvi a voz de Kyungsoo do outro lado da linha. O celular de Chanyeol era mesmo muito bom, eu podia ouvir a voz dele bem clara e limpa.

- Já volto! Fique a vontade! – Ouvi Chanyeol dizer atrás de mim.

Olhei para Chanyeol e ele me lançou um sorriso discreto antes de sumir para algum outro lugar da casa, me deixando sozinho com Kyungsoo. Ainda fiquei pensando na capacidade estranha de Chanyeol tinha de adivinhar tudo que eu estava pensando e não respondi a Kyungsoo, minha cabeça estava tão cheia de pensamentos que meio que esqueci que ele aguardava uma resposta do outro lado da linha.

- Não vai falar não? Vai passar trote pra sua vó, infeliz! – Kyungsoo bradou.

- Kyungsoo, sou eu! – Respondi nervoso.

- Ah, resolveu dar notícia né, malandro? To aqui desesperado por notícias suas! – Ele disse, debochado.

- É o Baekhyun? – ouvi a voz de Jongin perguntar do outro lado da linha.

- Estou vendo a preocupação. – Eu adorava zoar a cara dele.

- Cale a boca... de quem é esse número? Onde você ta? Ta bem? Estamos sem luz. – Pude perceber então por seu tom de voz que ele realmente estava preocupado. Kyungsoo era a única pessoa que eu tinha ali, era a minha família. Ele era amigo, pai e mãe, ele era tudo.

- To bem sim, Soo! Não se preocupe! To na casa do Chanyeol ainda e, hum, esse é o número dele, o meu ta sem área. – Eu despejei as palavras, sem respirar, na esperança que não houvesse tempo pra ele fazer piadas ou perguntas. Mas ele obviamente fez.

- É Byun Baekhyun, eu achando que você estava me ligando pra me dar satisfação, mas na verdade você está dando é outra coisa.

- Cala boca! – torci para que Chanyeol não fosse capaz de ouvir meu diálogo com Kyungsoo. Aquilo seria humilhante.

- Tá namorando!

- Pára, Kyungsoo!

- Tu deu, né safado? – Ele perguntou assim mesmo, sem cerimônia nenhuma.

- Não, Kyungsoo. Para pelo amor de Deus. – Oh céus! Eu estava tão nervoso!

- O QUÊ? ENTÃO FOI O CHANYEOL? – Seu grito foi tão forte e alto que eu até afastei o celular dos meus ouvidos. Meu tímpano devia ter sido perfurado depois daquilo.

- Não, Kyungsoo, ninguém deu nada.

- Não rolou nada?

Não respondi. Olhei pros lados e vi que Chanyeol continuava em outro cômodo da casa e presumi que seu poder de ler mentes não fosse capaz de me alcançar naquele momento, mesmo assim, baixei meu tom de voz e fiz uma concha com as mãos em volta do telefone antes de dizer:

- Rolou alguma coisa Kyungsoo! Tô me achando fácil.

- O que?

Ouvi passos que se aproximavam e presumi que Chanyeol estivesse retornando à sua cozinha. Eu não poderia contar tudo a Kyungsoo naquele momento porque Chanyeol talvez ouvisse e isso seria horrível, além disso eu queria ver a cara que Kyungsoo faria quando eu contasse. Me virei e vi Chanyeol vindo em minha direção.

- Não posso falar muito agora, Soo.

- Baekhyun!

- Vou dormir aqui, beijos! Não sei preocupe!

- O que? Como assim você vai dormir aí Baek, como assim? Socorro!

Desliguei o telefone no mesmo momento que Chanyeol chegou exatamente onde eu estava. Ele ficou alternando o olhar entre meus olhos e o chão e eu percebi que queria dizer alguma coisa. Ele esfregava as palmas das mãos, o que indicava nervosismo. Ver Chanyeol tenso estava me deixando da mesma forma, então, tentei dar a ele uma deixa para que conseguisse falar.

- Você quer me dizer alguma coisa, Chanyeol?

- Olha Baekhyun, eu queria me desc...

Um interfone tocou atrás de Chanyeol e ele parou de dizer o que estava dizendo pra atendê-lo. Ele pegou o pequeno aparelho, mas não disse muita coisa além de um mísero ok. Depois ficou me olhando antes de dizer de forma apreensiva:

- Meus pais estão subindo.

Eu não sabia o que fazer naquele momento. Encarei o chão em uma atitude de auto defesa, mas meus olhos acabaram indo de encontro ao meu tênis all star surrado e sujo por conta da chuva. As barras do meu jeans também estavam um tanto manchadas e meu moletom largo era a melhor parte do meu figurino. Eu pensei em talvez tirar os sapatos mas quando fiz menção a isso Chanyeol disse não ser necessário e eu pensei também que o odor dos meus pés iria incomodar a família. Não sabia onde por minhas mãos, então as coloquei dentro dos bolsos embutidos no próprio moletom.

Depois de alguns minutos de angustia, Chanyeol me olhou de forma divertida, seu olhar me transmitia a compaixão que ele devia estar sentindo por mim ao dizer:

- Não precisa se preocupar, eles são tranquilos.

Quase que imediatamente após a fala de Chanyeol foi possível ouvir o barulho da grande porta de entrada sendo aberta, depois o som de passos e vozes altas foram se tornando cada vez mais próximos até que as três pessoas estivessem na cozinha, na minha frente. A mãe de Chanyeol não era tão alta quanto ele óbvio, ela tinha olhos doces e ternos, daqueles que conseguem sorrir. À primeira vista já simpatizei com ela, porque de alguma forma ela me lembrava minha mãe. A jovem que devia ser a irmã de Chanyeol era linda, magra e sorridente, o sorriso quase tão cativante quanto o de seu irmão, ela poderia ser modelo se quisesse. Pensei já ter a visto em algum lugar... Ah! Na tela do celular de Chanyeol. Porque rico sempre é bonito? Deve ser alguma coisa na água deles... O pai de Chanyeol parecia ter a personalidade idêntica a seu filho, suas roupas eram bem elegantes e ele foi o primeiro a vir até mim e me cumprimentar com um abraço. Sim, um abraço.

- Oi, Baekhyun! É Baekhyun né? – o homem disse depois de me abraçar. Confesso que fiquei bastante envergonhado.

- Assim você deixa o menino sem graça, pai – disse a irmã de Chanyeol. Depois ela se virou pra mim dizendo – Ele é assim, mas no fundo é boa pessoa ta? - me lançando um sorriso que me deixou meio bobo.

- Então você é o famoso Baekhyun – disse a mãe de Chanyeol, vindo até mim e me abraçando também.

Como assim famoso? O que ela queria dizer com isso? Será que Chanyeol ficava dentro de casa confabulando e falando mal de mim.

- Famoso? – perguntei meio sem jeito.

- É, famoso! Chanyeol sempre fala muito bem de você.

Olhei pra Chanyeol que encarava sua mãe com um olhar de súplica, seu olhar depois se encontrou com o meu em uma expressão indecifrável e por fim ele começou a encarar o chão. Esse não era o mesmo Chanyeol que eu via nas aulas da faculdade, esse era realmente outro.

- Trouxemos uns hambúrgueres pra vocês! E também alguns combos de kimchi, porque não sabíamos o que você gosta Baekhyun.

O pai de Chanyeol espalhou algumas sacolas sobre a bancada da cozinha ao mesmo tempo em que nos explicava que o resto da família já havia comido, portanto toda aquela comida seria apenas para mim e para Chanyeol. Eu meio que sem jeito posicionei uma cadeira a frente da bancada e comecei a mexer em uma das caixinhas de fast food.

- Chanie, vou arrumar um dos quartos de hóspedes pra ele, ok? – a mãe de Chanyeol disse, carinhosa.

- Não, mãe! Deixa ele ficar no meu quarto, por favor! Eu prometo, arrumo tudo. – a voz de Chanyeol em resposta soou como uma suplica exagerada.

- Ok, eu e seu pai vamos nos deitar...

- Eu to subindo também. – A irmã de Chanyeol disse antes de sumir escadas a cima.

 

***

 

As várias sacolas de comida que pareciam muita coisa rapidamente sumiram e todo seu conteúdo foi devorado rapidamente por mim e por Chanyeol. Enquanto comíamos, falávamos sobre várias coisas, entre elas nosso trabalho. Acabamos decidindo que guardaríamos os vídeos que já tínhamos e que já na próxima segunda feira, quando uma nova semana de aulas se iniciaria, começaríamos a coletar novas imagens. Lançaríamos a várias pessoas a nossa pergunta: O que te move? E filmaríamos suas respostas. Se um artista nos dissesse que o que o move é a arte, nós filmaríamos a sua arte, se um esportista nos dissesse que o que o move é o esporte, era isso que filmaríamos.

Conversamos por horas e depois jogamos vídeo games no quarto de Chanyeol. Quando o sono começou a nos alcançar, Chanyeol me cedeu uma toalha, um moletom e todas as outras coisas necessárias à minha higiene pessoal para que eu tomasse um banho e me preparasse para dormir. O banheiro do quarto de Chanyeol era grande, e futurista. Em frente ao vazo sanitário havia um quadro abstrato. Que tipo de pessoa coloca um quadro em frente ao vaso? Será que aquilo inspirava Chanyeol de alguma forma? Será que era ali que ele fazia suas composições? Tomei um belo banho quente e depois vesti o moletom que Chanyeol havia me dado. O traje ficou duas vezes maior que meu corpo mas ao menos havia ficado confortável e seria fácil dormir com ele. O moletom de Chanyeol tinha o cheiro dele...

Quando deixei o banheiro, percebi que Chanyeol havia colocado um pequeno colchão ao lado de sua cama para que eu dormisse. E ali eu me ajeitei. O quarto estava escuro, mas como uma de suas paredes era apenas vidro, havia alguma claridade. A chuva já estava mais fraca e o barulho que ela produzia era até sonífero, a temperatura do quarto estava perfeita e eu estava um pouco cansado de forma que não conseguia entender porque não estava conseguindo dormir. Tudo estava em silencio na cama ao lado, que me fez presumir que Chanyeol estivesse dormindo.

- Byun Baekhyun, não consigo dormir! – a voz grave de Chanyeol me assustou.

Eu não respondi porque fiquei com receio de que ele usasse esse momento para falar do beijo ou então para abusar de mim. Então achei que a melhor opção fosse continuar quieto fingindo estar dormindo.

- Eu sei que você está acordado – Ele disse.

Não sei como Chanyeol presumiu que eu estivesse acordado, mas de fato ele acertou. Eu tinha duas opções naquele momento: a primeira era continuar no meu teatro fingindo estar dormindo e a segunda, que com certeza era mais arriscada, era iniciar uma conversa com Chanyeol. Olhei pro teto pensando nos rumos que a possível conversa tomaria e decidi que era melhor continuar em silêncio. Mas Chanyeol aparentemente não pensava como eu, e não desistiria tão fácil.

- Não adianta fingir que está dormindo, Baekhyun. Eu sei que você está acordado. – Chanyeol seguiu dizendo e eu percebi que não havia escapatória.

- O que você quer, Chanyeol? – Perguntei, tentando fazer com que meu nervosismo não fosse perceptível em minha voz.

- Posso te perguntar uma coisa?

- Já está perguntando.

- Por que você está fazendo isso comigo?

- Isso o que, Chanyeol? – Eu realmente não estava entendendo o que ele estava tentando dizer.

- Não sei, você me deixa mais confuso do que o normal. – De onde eu estava eu não conseguia ver seu rosto, mas ao ouvir frase dita por Chanyeol imaginei seus grandes olhos em uma expressão confusa e tristonha e a cena me deixou pensativo.

De todas as coisas que Chanyeol podia escolher para me dizer naquele momento, essa eu não esperava. Para mim ele sempre foi um daqueles caras seguros de si, inabaláveis, que não precisam de ninguém e não se afetam por quase nada. No fundo eu sabia que a principal razão que sempre me impedia de me aproximar de Chanyeol era esse jeito dele, tão prepotente. E eu não queria admitir que algo sempre me movia em direção à ele. Eu não podia precisar daquele cara que não precisava de ninguém.

Mas, ultimamente Chanyeol estava mostrando ser na verdade uma caixinha de surpresas. Ele definitivamente não era aquilo que eu pensei que fosse. Chanyeol era absolutamente mais do que a definição tosca dele que eu tinha em minha mente. Ele não era só um, ele era vários. Não parecia haver nada que ele não fosse capaz de fazer. Ele era fascinante, justamente por ser surpreendente. Se eu imaginava algo sobre ele, ele parecia ter gosto em destruir todas as minhas pré concepções.  Chanyeol não era aquilo que eu imaginava, ele era melhor. Perto dele eu me sentia sem graça, sem sal, talvez por isso fosse difícil entender que alguém como Chanyeol ficasse confuso por minha causa. Fazendo uma comparação: Se Chanyeol era um shopping Center, completo, cheio de possibilidades, eu era uma pequena lojinha de camelô. Por que Chanyeol ficaria confuso por minha causa? Eu, o Baek Camelô? Se Chanyeol era um lindo e rico biscoito Oreo, eu era uma mísera, porém digna bolacha água e sal.

- Confuso? – Perguntei.

- É. Desse jeito mais errado do que já sou.

É realmente muito engraçado como as pessoas às vezes são injustas consigo mesmas, o que Chanyeol ali naquele momento via como um defeito era o que mais me fascinava nele. O seu jeito livre e quem sabe até talvez sonhador. Chanyeol era a animação que faltava na minha vida tediosa, eu era pensamento e Chanyeol era ação.

- Eu gosto do seu jeito confuso, Chanyeol.

- Tá vendo! Olha o que você faz! – Ele disse, com a voz meio nervosa e impaciente.

- O que eu faço? – Eu quis saber.

- Me faz acreditar que você gosta de mim, quando na verdade não é bem assim.

- Eu...

Muita coisa passou pela minha mente naquele momento, mas nada parecia se encaixar na frase, e eu estava tão nervoso que não conseguiria articular bem qualquer coisa que quisesse dizer a ele. Chanyeol não havia dito isso exatamente, mas para mim ele tinha acabado de dizer, mesmo que em outras palavras, que gostava de mim. Logo de mim, o Baekhyun sem sal e sem graça. Eu queria dizer a ele o que sentia, mas eu pensava tanta coisa, que o peso de todos os pensamentos pareciam me silenciar. Por fim, acabei desistindo de dizer algo a ele, ainda que eu precisasse, para que ele não fizesse conclusões preciptadas.

- Desculpa por te beijar, ok? Não sei o que deu em mim! Espero que isso não estrague as coisas entre a gente...

As palavras de Chanyeol soaram tristes e cortantes. Eu nunca fui muito sentimental apesar de ter fama de dramático, mas a fala de Chanyeol me deixou com um estranho nó na garganta. Eu nunca fui do tipo que beijava várias pessoas em uma noite e minha experiência com beijos podia ser contabilizada na metade dos dedos de apenas uma mão, mas o beijo que Chanyeol havia me dado com certeza havia sido o melhor de todos. Podia não ter sido o beijo mais forte, mais intenso, nem o mais cinematográfico, mas com certeza havia sido o mais significativo deles, porque eu estava presente, eu me coloquei naquele beijo, inteiramente e pela primeira vez eu havia feito algo sem pensar racionalmente sobre aquilo, eu havia feito porque queria. Vendo que eu continuava em silencio, Chanyeol continuou, apreensivo:

- Me desculpa, eu sou mesmo um idiota... estraguei tudo.

Não disse nada à Chanyeol à princípio, pensando bem em cada uma das palavras que eu estava prestes a dizer, era um risco, um risco grande. Dizer aquilo naquele momento era quase como saltar em queda livre. Mas Chanyeol me provocava esse tipo de sentimento, sabe? Chanyeol fazia eu me sentir como outra pessoa, alguém capaz de coisas que antes pensaria ser impossível. Ouvi a voz de Chanyeol quebrar o silêncio mais uma vez.

- Olha eu prometo que nunca mais...

- Chanyeol, eu gostei do beijo. – Eu disse, impedindo que ele continuasse a frase e continuasse achando que me beijar tinha sido o pior de seus erros.

- O que? – eu podia sentir o misto de confusão e animação que tomavam conta de sua voz naquele instante.

- Você também me deixa confuso, e pior, me faz entrar em contradição... – Eu disse a ele, mas ao mesmo tempo deixando que minhas palavras fizessem sentido pra mim também.

Era aquilo mesmo, Chanyeol me fazia entrar em contradição. Lá no fundo um alerta de perigo piscava, mas eu preferia ignorar porque eu estava amando a sensação de novidade que Chanyeol me proporcionava. Entrar em contradição talvez não fosse necessariamente algo ruim, afinal nós somos seres em constante mudança, certo? E aí está a beleza da vida: continuar mudando, se transformando, se reinventando. Que graça teria viver uma vida completamente igual? Nenhuma.

- Gosto disso. – Chanyeol disse meio malicioso.

- Cala a boca, Chanyeol, vai dormir.  – Eu disse sorrindo e, pela primeira vez na noite realmente senti sono.

- Boa noite Byun Baekhyun.

- Boa noite Chanyeol.

Fechei os olhos e várias cenas me vieram à mente. Me vi dançando em frente a minha turma, lembrei de quando Chanyeol almoçou comigo, lembrei de nossa briga e de meu pedido de desculpas, lembrei da labareda e de acordar com o rosto de Chanyeol à centímetros do meu... Chanyeol estava realmente me transformando, e eu podia dizer ali naquele momento que estava adorando me tornar algo melhor e mais divertido. Eu sempre pensei que quem gosta da gente tem que gostar do jeitinho que a gente é, mas Chanyeol estava me mostrando que às vezes uma pessoa chega em nossas vidas pra trazer luz e cor, para vira-la de cabeça pra baixo, pra nos tirar dos eixos, para dar aquela sacudida e nos fazer perceber que a vida sempre pode ser melhor, só basta a gente olhar de outro ângulo.

- Baekhhyun...

Eu ouvi a vi grave de Chanyeol chamar meu nome e senti meu coração vibrar em meu peito. De fato, eu estava com muito sono, além de um pouquinho envergonhado então fingi estar dormindo, mas consegui ouvir ele dizer baixinho:

- Je suis la lampe, tu est ma lumière.*


Notas Finais


* Eu sou a lâmpada e você é a minha luz.

Esse é um dos capítulos que mais gostei de escrever porque nele vemos mais explicitamente o amor deles nascendo... é um momento bonito e por isso resolvi que seria importante dar atenção à ele, sabe? Ir, com calma...
Como falei lá em cima, essa é uma história de amor e amores são assim, as coisas acontecem com calma. Os leitores vão acompanhar esse amor crescer junto comigo e junto com Baek e Chanyeol.
Obrigada de novo por me apoiarem nessa empreitada de ser ficwriter, vocês são demais!

Esqueci de perguntar no capítulo anterior, então lanço a pergunta agora pra vocês:
E aí, leitor, o que te move?


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