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História Lunária - A Minha Eternidade


Escrita por: Thatavisk

Notas do Autor


Boa leitura.

Capítulo 20 - A Minha Eternidade


— Hey... — chamei um pouco surpreso ao ver um braço esticado antes mesmo de entrar no quarto. Alguém estava deitado no chão do meu apartamento e do jeito que estava pálido, poderia estar morto. — Como entrou aqui? — perguntei indo até a porta e voltando no mesmo instante em que notei que a pessoa estava nua, arregalando os olhos surpreso. Era uma criança, uma garota estava nua e jogada no chão do meu quarto e eu não fazia a menor ideia de como havia parado ali... É sério, eu juro que não sei, 'tá?

Fui até o quarto de hóspedes pegar um cobertor para cobri-la ao menos e fiquei mais aliviado ao checar que possuía pulso. Não estava pálida, era simplesmente muito branca mesmo, talvez albina. Pensei em ligar para a polícia, mas se os oficiais chegassem em minha casa e eu os entregasse uma garotinha nua sem explicação alguma, seria no mínimo estranho.

Fiquei alguns minutos sentado no chão, pensando em quais seriam as chances de os vizinhos terem visto uma criança pelada entrando no meu apartamento e se a qualquer segundo a SWAT arrombaria minha porta e me prenderia por algo que eu sequer fiz. Mas minha atenção se voltou para os resmungos da mocinha deitada no chão, quando ela se virou pude ver melhor seu rosto, até mesmo seus cílios eram brancos e a pele possuía pequenas sardas, era extremamente pálida.

— Está acordando? — perguntei mais para mim mesmo que para a garota. — Hey, está me ouvindo? — indaguei tentando saber se estava mesmo acordada ou apenas delirando, mas uma cabeçada, muito bem dada aliás, demonstrou que ela estava acordada.

Ah... Se eu soubesse naquela hora no que estava me metendo, provavelmente arrumaria as malas e a deixaria ficar com a casa sem pensar duas vezes.

A garota se sentou perguntando sobre um tal de "Namjoon" e pareceu confusa em estar em minha casa, ela correu para fora do quarto antes mesmo que eu pudesse pensar em segurá-la. Tentei acalmá-la, mas ela me ignorou e se debruçou na janela, gritando por socorro e por pouco simplesmente não caiu e, céus... Se uma criança nua caísse de meu apartamento após gritar por socorro, eu já pegaria perpétua só por tentar me explicar.

Ordenei que ela não se movesse e o susto pareceu fazê-la obedecer, segui para o quarto pegar alguma roupa para que ela vestisse enquanto ainda me recuperava do golpe na cabeça. Deveria ser apenas uma menina que abusou de alguma substância e acabou em qualquer canto, uma pena que tão nova já parecesse estar se envolvendo com essas coisas.

A delegacia não era tão longe de minha casa, eu poderia simplesmente deixá-la por lá e as autoridades resolveriam isso.

Ou deveriam.

Pois quase onze da noite a garota estava ensopada na portaria do meu condomínio, falando sobre uma amiga minha de infância, chamando-me pelo nome e fazendo-me perguntas aos montes. Iria chamar a polícia para buscá-la dessa vez, mas ao ver o estado dela, não pareceu certo mandá-la de volta para lá. Os pés estavam todo cortados e a pele clara da bochecha quase num vermelho vivo, mas mesmo naquele estado, ela não parecia mais assustada.

Quando o telefone tocou, eu esperava que fosse o síndico perguntando quem era a garota por segurança, já havia tido um caso de pedofilia no condomínio e ele não iria querer que se repetisse. Mas quando atendi, um oficial se apresentou perguntando se a garota albina havia voltado para minha casa, que haviam visto ela numa cena de acidente num cruzamento próximo da minha rua pouco depois de ela fugir de lá.

Após algumas perguntas os oficiais deixaram meu apartamento, pelo visto um pouco preocupados com a garota, porém eu chamaria o conselho tutelar para buscá-la no dia seguinte, com eles eu tinha certeza de que ela não correria o risco que correu quando a deixei na delegacia. Vê-la andando com cuidado para não forçar os cortes, além do hematoma grande na perna, fazia eu me sentir um pouco culpado por não ter ficado lá até alguém ir buscá-la.

Mas pareceu que não iria ser boa ideia quando ela quase deslocou meu braço numa tentativa desesperada de não ser levada. Na delegacia ela fugiu e quase foi estuprada, provavelmente seria morta, se ela conseguisse fugir do conselho tutelar e alguma reportagem noticiasse a morte de uma albina desconhecida, eu me sentiria péssimo.

Liguei para Seokjin pedindo que me encontrasse no horário de almoço, ele trabalhava com adoção e eu tinha uma criança perdida, unindo o útil ao agradável... De qualquer forma, ela ficaria segura e minha consciência leve.

Tudo estava sendo resolvido e em alguns dias eu voltaria para minha rotina normal, voltaria, pois Diana cresceu uns 20 centímetros numa noite apenas. Estava tudo invertido e eu não só beirei um colapso como tive um, desmaiando duas vezes no mesmo dia, ou três... Eu continuo não me lembrando bem daquele dia...

A partir desse momento iniciou-se a parte mais bizarra da minha vida.

Diana não podia mais ser adotada e eu não podia expulsá-la, ela tinha a mentalidade muito atrasada, morreria ou acabaria em apuros caso fosse deixada sozinha. Mas eu também não poderia mantê-la ali para sempre. Jin providenciou que ela tirasse sua documentação, ao menos agora eu poderia provar que não havia a comprado na deep web.

Diana, apesar de na maior parte do tempo parecer um tanto quanto lerdinha, às vezes me surpreendia em algumas atitudes. Ela conseguiu um emprego e estava o levando a sério, mesmo que fosse com o boçal do Taehyung, ao menos era alguém que eu sabia que não a machucaria. Apesar do momento constrangedor que foi vê-la seminua enquanto conversava casualmente com ele sem mesmo saber quem era de fato. Diana era muito inocente, de uma forma que me preocupava.

Apesar de que quem tirou sua inocência acabou sendo eu mesmo.

E não me arrependo. Nem um pouco.

Apenas lembrei que havia alguma festa para ir quando um amigo meu perguntou se eu havia sossegado, estava passando tanto tempo ocupado em evitar que Diana explodisse o prédio ou saísse sozinha e se perdesse, que acabava passando a noite inteira com ela, o que não estava me incomodando ultimamente. Ela era uma boa companhia, sincera e carinhosa, além de me fazer rir bastante.

Ela se tornou a minha rotina.

E eu não me importava de segui-la todos os dias.

Fazia já algum tempo que havia me habituado a acordar ao lado de Diana e vê-la orando, responder suas perguntas estranhas, receber alguns sermões do Espírito Santo e vez ou outra ver a morte espiando sorrateiramente pela janela do apartamento. Era estranho pensar que tudo aquilo nos rondava sem que percebêssemos, se Diana nunca tivesse brotado em meu apartamento, eu morreria achando que nada disso existia.

Mas eu morri crendo ao menos e o único arrependimento que levei dessa vida foi ter pedido para ver Diana uma última vez, foi péssimo vê-la chorar daquela forma. Porém seria ainda pior se ela apenas soubesse disso quando passasse nos jornais ou por palavras de outra pessoa.

Achei melhor não contá-la sobre as alianças que estavam no carro, para ela casamento parecia algo tão simples quanto namoro, mas eu não via dessa forma, na verdade, eu evitava relacionamentos. Mas Diana estava tão confiante e tínhamos um convívio tão gostoso, não tinha motivos para eu achar que daria errado, até mesmo pois não daria.

Eu conseguia imaginar toda a cerimônia, a festa, como ela ficaria feliz, até mesmo fazia plano de nos mudarmos para um lugar mais espaçoso... Se eu tivesse dito que pretendia pedi-la em casamento naquela noite mesmo, provavelmente Yoongi jamais seria perdoado.

Em meu julgamento eu recebi o privilégio do perdão sem ser punido, a minha alma recebeu santidade mesmo que eu não a merecesse e me foram dadas duas opções: ficar no paraíso junto de minha família e amigos ou tornar-me nova criatura e arcar com a responsabilidade de ser um serafim. Eu poderia cair no primeiro erro e nunca mais retornar ao céu em momento algum, não eram perdoadas falhas, eu precisaria ser mais que santo e ter um cuidado absurdo inclusive com meus pensamentos, não era algo muito simples.

Ser uma entidade santa não é aquela glória que todos veem, é renunciar a própria existência e existir apenas em Deus e caso Ele decidisse, assim do nada, que eu não merecia mais os céus ou existência alguma, assim seria para sempre e assim se iria qualquer chance de eu vê-la novamente em toda a existência de tudo. Tudo estava por um fio, mas era um risco pouco comparado a ter sua companhia.

Já ser uma alma salva era demasiado simples, eu viveria em corpo santo eternamente, junto de todos os meus amados, com quem foi meu primeiro amor, numa vida totalmente nova, mas o paraíso não seria o melhor lugar se eu não tivesse quem amava comigo, na verdade, isso seria meu inferno.

O momento... Não, os momentos em que eu vi que o que eu sentia por Diana era mais que preocupação, foram quando meu viver inteiro mudou por sua presença e eu me adaptei, quando o meu corpo estava esfriando no carro e a única coisa que me veio a cabeça foi como ela ficaria arrasada, em como eu sequer pensei duas vezes em renunciar tudo o que havia conquistado em minha vida antiga por uma nova, como eu preferia cair feito um relâmpago em Terra e ser engolido pelo inferno que passar a eternidade longe dela.


Notas Finais


Acabou agora de vez agora.
Obrigada por me acompanhar até aqui.
Para quem gostou da viagem que Lunária foi, recomendo fortemente essa outra fic minha: https://spiritfanfics.com/historia/black-cat-10113147

Obrigada por ler até aqui.


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