Lucy Narrando
Cansada e com sono. A vontade de levantar e ir para a guilda é zero, não tenho nenhuma vontade de sair de casa, muito menos de levantar da cama. Sinto como se tivesse bebido litros de álcool na noite passada, a minha cabeça doía imensamente. Queria ficar de preguiça o dia todo, porém não posso me dar ao luxo, pelo menos não hoje. Por um único motivo. Limpeza da piscina.
Fazer uma missão é menos trabalhoso do que isso. Juntar a galera toda em um espaço pequeno fazendo a mesma coisa nunca dá certo. Ficar no meu conforto ou perder a vida? Bem... Ainda gosto da minha vidinha. Jamais seria capaz de confrontar a Erza, ela é intimidadora ao extremo e se possível gostaria de não irrita-la, afinal essa ideia veio dela. Confesso ser uma droga, uma ideia estupida, tendo magos como Natsu e Gray para ajudarem. Prevejo problemas.
Estiquei-me preguiçosamente estralando as juntas de meu corpo. Abri os olhos lentamente e minha visão foi invadida por raios solares irritantes, voltei a fecha-los imediatamente. Bocejei, ainda existia resquício de sono em mim. Levantei da cama e caminhei lentamente em direção ao banheiro tomando cuidado para não esbarrar em nada. Com toda certeza eu não estou no meu normal hoje.
Antes que pudesse entrar no cômodo senti o cheiro delicioso preencher meus pulmões. Tudo revirou no estomago, fui tomada por uma avassaladora fome, consequências de ter ido dormir faminta na noite passada. Queria comer, mas primeiro teria que cuidar da minha cara horrível.
Por instantes pensei que meu rosto estaria de volta ao normal, me enganei completamente. O reflexo no espelho mostrou claramente meus olhos ainda um pouco inchados. A vergonha voltou novamente. Imagino o que o pessoal deve estar pensando agora de mim. Agi como um bebê chorão. Devo começar a conter mais minha emoção para não passar por algo do tipo novamente. Apesar de pensar dessa maneira nunca consigo me controlar.
Morguei na banheira por longos minutos. A água quente retirou minha exaustão, deixando-me mais calma e relaxada. Fiquei ali até que meus dedos enrugassem minha vontade de permanecer no banho por mais tempo se foi ao uma sequencia de espirros escaparem. Antes de pegar um resfriado saí dali.
Ainda no banheiro vesti um vestido curto cor de rosa bastante folgado e confortável, por baixo coloquei o biquíni. Poderia simplesmente fazer isso na guilda, infelizmente lembranças desagradáveis surgiram em minha mente. Da ultima vez em que me troquei no vestiário fui encurralada pela Cana que conspirou contra mim junto com a Mira. Essas duas se juntaram ficando longos minutos tocando meus seios, dizendo o quanto tinham crescido.
Se fosse somente isso não veria problema algum em fazer isso lá, porém o vestiário masculino é ao lado do nosso. Tudo o que dizemos ou fazemos é escutado, especialmente gritos. Depois daquele dia fui obrigada a escutar por uma semana as piadas pervertidas do Bickslow e as encaradas pervertidas dos garotos. Por isso prefiro evitar ser motivo de olhadelas impuras.
Ignorei todo pensamento desnecessário e entrei em meu quarto achando estranho o silêncio, logo entendi o porquê. Amaya estava jogada toda desengonçada em cima cama olhando o teto de modo pensativo, nem notou a minha presença. Achei curioso. Sentei-me na beirada da cama, toquei o ombro dela de leve.
A morena saltou olhando-me surpresa.
– Caramba! Você me assustou.
– Percebi. Em que tanto pensava?
Sei que existem certas coisas que não devem ser questionadas, mas às vezes não controlo minha curiosidade. A expressão complexa no rosto de Amaya mostrou, definitivamente, não deveria ter perguntado.
– Nada demais. Eu apenas... –ponderou por alguns instantes olhando mais uma vez o teto. – Acho estranho. Quero dizer, é tão surreal estar me encontrando com vocês novamente. Me pergunto o quanto disso é real.
Essa não parecia ser toda a verdade, consegui segurar minha língua antes de fazer uma pergunta indelicada.
– Sabe... Eu perdi todas as minhas esperanças. Coloquei na cabeça de que todos estavam mortos, convenhamos também faz séculos desde todo o ocorrido. Mas quando vi o Natsu em Hargeon meu coração se iluminou novamente. Pouco a pouco todos foram voltando. Fiquei tão feliz por vocês voltarem para minha vida. Ao menos você, Natsu, Rogue e brevemente a Yuki. São os únicos de quem preciso. – mesmo não ter dito em voz alta foi claro quanto o recusei.
– Lucy. Olha... Eu entendo o que quer dizer, mas isso é... – Amaya respirou fundo, ela pareceu entender sobre o que eu falei. – Ele está arrependido. Nesse pouco mais de um ano que passamos um tempo juntos não houve um único momento em que não estivesse preocupado sobre sua segurança. Ele te...
– Ele não me ama. – a interrompi bruscamente. – Vamos falar de outra coisa, por favor.
Não discutimos mais isso. Mesmo inconformada acatou com meu pedido e paramos de falar sobre minha carga pesada amorosa.
– Fiz panquecas para o café da manhã. Espero que não se importe.
Assim que ouvi essa palavra voei para a mesa. Meus olhos brilharam por causa da boa arrumação, o cheiro gostoso fez meu estomago roncar novamente. Havia dois pratos de panquecas com bastante mel, a aparência extraordinária me fez babar, literalmente, também tinha dois pratos com torrada e mais xicaras fumegantes de café. Tudo parecia estar simplesmente perfeito.
Virei para Amaya que veio até mim sorrindo minimamente em diversão, provavelmente por causa da minha reação infantil.
– Eu já disse que te amo hoje?
– Rsrs não
– Eu te amo Amaya!
Dei um beijo estalado em sua bochecha. Em instante eu me encontrava devorando tudo rapidamente como se não houvesse amanha, enquanto isso Amaya comia com calma, sem fazer bagunça diferente de mim. Estou começando a achar que a convivência diária com o Natsu tem lentamente me transformado em uma selvagem. Perdi completamente as minhas boas maneiras.
Ao final minha barriga estufada mostrou o quanto fiquei satisfeita. Há tempos não como algo tão saboroso além de estar na companhia de alguém, civilizado. O Natsu não conta, na maioria das vezes ele come toda minha comida, o Happy é a mesma coisa. Gato maldito de língua afiada, sempre tem uma resposta para tudo, o pior é que sou tão idiota a ponto de cair nas brincadeiras dele. Isso me irrita tanto.
– Lucy?!
Levei um susto com o chamar repentino.
– Hã?! O que foi?
– Você está fazendo uma cara assustadora.
– Ah! Não foi nada, apenas lembrei-me de um gato maldito. – resmunguei um tanto irritada. – Esquecendo isso, hoje temos limpeza da piscina.
– Não brinca! Tem piscina na guilda?
– Sim. Sinceramente gostaria de ficar em casa, mas ainda prezo bastante minha vida, não quero dar motivos a Erza para me matar.
– Uau! Ela parece ser tão fofa, ontem ficou corada de um jeito inacreditável.
– Ela é fofa, desde que não a irritem. De qualquer forma prefiro não atiçar a fera como o Natsu. Sou pacifista apesar de tudo. Enfim, é meio que uma coisa “obrigatória” ela exigiu a presença de todos.
– Se é assim, mesmo sob ameaça não me importo de ajudar, não tenho muito que fazer. Prefiro não ficar no tedio o dia todo.
– Tem biquíni?
– Hum... Não. Precisa de um? Posso fazer as coisas com minhas roupas normais.
– Vai por mim, não vai querer ter a sua roupa destruída “acidentalmente”, além de que é melhor do que limpar com a roupa encharcada e correr o risco de ficar resfriada. Posso te emprestar, tenho vários que nunca usei.
– Eh... Lucy. Tem certeza de que vai caber? Digamos que se tratando de busto você tem mais que eu.
– Aff não são tão grandes... Eu acho...
Nos rimos em descontração. O dia hoje será longo.
(...)
Chegamos a frente às grandes portas da Fairy Tail. Como o esperado já existia grande burburinho vindo de dentro, porém me atentei ao fato de que havia uma voz diferente que se sobressaia às outras. Impossível não reconhecer, meu coração acelerou em ansiedade. Encarei Amaya com empolgação quase palpável, ela somente sorriu e fez um gesto para que eu entrasse. Assim o fiz. Tal como imaginei, no meio do salão conversando animadamente com Natsu estava Sting.
Vasculhei o local em busca de outras pessoas que possivelmente o tivesse acompanhando, felizmente encontrei. De costa para entrada estava o moreno na companhia de dois exceeds, sua mão segurando a mão de uma garota, com os dedos entrelaçados carinhosamente. Tão fofo.
Em qualquer outra situação eu teria pulado nas costas dele o abraçando, mas ela me chamava atenção. Ofeguei em expectativa, claro minha impulsividade me fez correr em direção a ela e pular em suas costas. Infelizmente as coisas não deram tão certo quanto imaginei que seria.
Caímos no chão e saímos rolando. Nesse momento a guilda foi preenchida por nossos gritos histéricos isso até batermos em uma pilastra nos fazendo parar. Olhares queimaram minha pele, creio que estão indagativos nesse momento, mas nada importa agora. Agarrei-me a albina em minha frente a esmagando em meu abraço. Mais uma vez as lagrimas começaram a cair insistentemente.
– Yuki!
Ela correspondeu ao meu abraço com gentileza, comecei a soluçar baixinho.
– Calma, não chora. – acariciou-me o cabelo tentando me acalmar. – Cadê a Lucy forte que eu conheço?
– Yu...ki
– Está tudo bem. Eu estou aqui. Prometo não te deixar mais, sempre estarei aqui.
Relaxei mais. Tinha consciência de que não fugiria de mim. Tanto ela quanto a Amaya. Desfiz o abraço, olhei para o seu rosto, nele tinha um pequeno sorriso. É oficial, tenho estado muito sensível ultimamente.
– Foi mal ter pulado em cima de você! Se machucou?
– Haha não, está tudo bem.
Rimos que nem duas idiotas voltando a nos abraçar.
– Hey, Princesa Cosplay, você tem uma amiga muito bonita. – o comentário repentino de Bickslow nos chamou atenção.
Inicialmente não entendi. Logo percebi a posição em que nos encontrávamos. Yuki em cima de mim com o vestido amarrotado e levantado na parte traseira revelando mais que o necessário, pior a lingerie dela não era a mais decente. Eu estava no mesmo estado, porém não me preocupei muito, o biquíni que vesti cobria tudo devidamente.
Os garotos adquiriram uma coloração avermelhada na face. O cenário ultrapassava o limite de vergonhoso. Yuki ficou tão corada que não conseguia dizer nada nem se mexer. Quis rir, mas algo em meu interior me dizia que se eu começasse a rir iria apanhar muito depois.
– Vocês parem de olhar agora. – Rogue interveio com uma cara bem irritada. – Yu-nee! Pare de se expor dessa maneira e se vista mais adequadamente.
O moreno puxou-a bruscamente pelo braço a pondo de pé. Yuki escondeu o rosto vermelho no peitoral de Rogue agindo como uma criança mimada, totalmente da atitude matura que teve há poucos instantes enquanto me consolava.
– Yuki! Os papeis se inverteram? O bebê é você agora? – Amaya se intrometeu de sobrancelhas erguidas. – Não me diga que está de aproveitando da gentileza do Rogue.
– Tsc... – estalou a língua. –Não estou tirando vantagem, apenas aproveitando meu fofo irmãozinho. Você faria o mesmo com o A-chan.
– Nem pensar. Não sonha grisalha irritante. Você e aquele estupido são dois malditos.
– Sabe que não vai conseguir me ofender ne? Já estou acostumada com seus insultos.
Assisti surpresa à discussão das duas, elas não costumavam ser assim tão ariscas uma com a outra, creio que tanto anos de convivência faz isso. Mesmo que estejam trocando insultos parecem estar se divertindo bastante, talvez seja o modo delas de se cumprimentar ao se verem após um período longe.
Senti inveja, de certa forma ali não pareceu ser meu lugar, como se fosse uma completamente estranha entre elas. Foi erro meu achar que continuariam as mesmas de antes, já não somos mais crianças, crescemos, vivenciamos coisas diferentes, já deveria estar ciente disso. Sinto-me como uma intrusa.
– Não! Está proibida. – Yuki apontou o dedo para mim com uma expressão séria. – Te proíbo de ter qualquer pensamento negativo. Estamos diferentes sim, mas continuamos te amando igualmente, não, te amamos ainda mais do que quando éramos crianças. Então te proíbo.
Fiquei assustada em como ela sabia o que se passava em minha cabeça.
– Não se preocupe. A idiota da Yuki é capaz de utilizar Telepatia. – explicou a morena com cara entediada. – Já te avisei para bloquear essa coisa e não ficar escutando os pensamentos alheios.
– Desculpa, não foi intensão, é que estava utilizando no Sting mais cedo e acabei esquecendo-me de bloquear.
– Como é maldita? – o loiro se aproximou de nós com veias expressivas visíveis em sua testa. – Por que diabos usou isso em mim?
A discussão que apenas se prolongava teve um fim imediato. Uma aura assustadora surgiu no meio da gente. Engoli seco assim que vi a titânia parada nos observando severamente. O simples motivo foi o atraso, por um longo tempo nos esperou chegar para começar a limpeza e como não chegávamos, ela em pessoa veio ver o porquê da demora. Juro pensar ter visto a morte nesse momento. Fomos obrigados a irmos até a piscina sem reclamar, mesmo o trio da Saberthoot e os exceeds se viram envolvidos no meio dessa bagunça.
(...)
Ocorria tudo maravilhosamente bem. Foi impressionante o quão comportados estavam meus amigos. Sem brigar, quebrar nada, apenas fazendo o que deveria ser feito, claro isso só foi possível porque Erza continuou com a inspeção colocando todos sob pressão. Perfeito seria terminar sem nenhum contratempo, todavia pedir isso aos magos da Fairy Tail é demais.
A titânia teve que sair com um chamado do mestre e na primeira oportunidade um bolo de gente se formou discutindo, se batendo, se xingando mutuamente. Vai dar muita merda se Erza retornar e ver isso. Sinceramente pouco me importo, vão aprender uma valiosa lição, muito dolorosa devo acrescentar. Juntei-me as meninas observando de longe.
Desde cedo estou reclamando, entretanto ver essa animação preenche meu peito, todo vazio desaparece, meu coração se aquece. Minha família, meu lar. É gostaria de ter permanecido nesse pensamento bonito admirando, os loucos que tanto amo, de longe, o que não deu. Fui acertada por um forte jato de água vinda da direção do Natsu, fiquei irritada, nem mesmo tive reação para revidar, desequilibrei.
Tentei apoiar meu peso na coisa mais próxima a mim, no caso uma vassoura, tragicamente escorreguei tanto na poça de agua abaixo de meus pés quanto na vassoura que caiu me levando junto. Minha segunda queda do dia, que problema eu tenho? Francamente.
– Natsu seu maldito, vou te bater tanto até ficar desfigurado. – esbravejei.
O rosinha olhou para mim e riu alto como se eu tivesse dito uma piada. Estupefata, caminhei a passos pesados em sua direção, no caminho alguém esbarrou em mim, como consequência me inclinei e me bati em alguém também, mais precisamente, Sting se bateu em mim e eu esbarrei na Amaya.
Vi a morena se desequilibrar dando passos desajeitados para frente tentando voltar a ficar em pé novamente, infelizmente ela chegou ao meio da confusão e continuava a ser empurrada. A expressão que tomou o rosto dela não foi muito boa. Viria grande cagada daí. Perdi toda a coragem de entrar ali e bater no Natsu.
– Seus infelizes. Fiquem quieto, droga! – gritou irritada.
Todos pararam assustados por causa da aura que ela emanava, ou quase todos, como sempre Natsu não deu ouvidos e continuou com a provocação. Jogou um jato de agua fazendo-a desequilibrar mais uma vez indo para frente, só que dessa vez caindo em cima de alguém. Antes de alcançar o chão duro uma mão de neve afofou os “segurou”, enquanto todo resto de agua jazia congelada.
Por instantes pensei ter sido o Gray, porém o rosto dele fazia um mergulho irreal entre os seios de Amaya. Claro foi em cima dele que ela caiu anteriormente. Questionei brevemente de onde veio aquele ar gélido, minha resposta veio imediatamente, uma nevoa azul cobria parte do corpo da morena, seu braço se tornou de gelo. Impressionante.
– Caramba vocês! Parem com a bagunça eu... – se interrompeu. Olhou para baixo e enfim notou a posição que se encontrava.
Como se não bastasse estar em uma pose comprometedora, tinha os seios apalpados por Gray que parecia tentar sair dali para respirar, provavelmente.
– KYAAAA PERVERTIDO!
O coitado levou uma bofetada. Voou para longe caindo semi-consciente no chão. Senti muita pena dele. Um arrepio subiu minha espinha, engoli seco com medo. Uma azulada com olhar psicótico lançou um olhar de raiva para Amaya. Estremeci dos pés a cabeça. Isso é com certeza uma grande merda.
– Rival do amor!!
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.