Decidi afinal que aquilo era o melhor para mim. Então quando deu duas da tarde, Taehyung veio me buscar no endereço novo. Eu estava encostado no gradil da varanda quando vi aquele grande carro escuro estacionar em frente ao meu prédio. Esperei para ver oque aconteceria depois e nada me surpreendeu quando Taehyung saiu do carro com um sorriso de rasgar as bochechas. Ele vestia um sobretudo preto, boina preta e uma máscara preta que o deixava com cara de suspeito, mas eu reconheci aqueles olhos brincalhões quando sorriu para mim. Desci do prédio o mais rápido que um elevador com artrite podia fazer, com uma mochila nas costas com apenas um caderno, canetas, meu celular e a carteira. Eu não levaria muita coisa, era só uma reunião.
Taehyung assim que me viu correu e me abraçou com força. Tentei murmurar um "Está me matando", mas não consegui.
-Oh, você cresceu mais desde quando eu te vi ou está usando salto?
Bati nas suas costas e nós rimos. Quando nos afastamos, ele segurou meu rosto e disse olhando fundo nos meus olhos.
-Seja legal com ele, Jungkook nem sabe quem você é para ter tanta raiva assim dele.
-Mas ele tinha que ser logo o Rabbit? -reclamei enquanto ele me leva para o carro.
A parte de trás era bem espaçosa, mesmo assim isso não me livrou de bater a cabeça antes de entrar. Haviam dois bancos, um no lugar normal e outro mais baixinho que ficava de costas para o motorista. Taehyung me olhava com expectativa e depois olhava ao redor, e então de volta para mim como se quisesse que eu reparasse algo. Olhei ao redor também, conclui que deveria estar falando do carro.
-É seu? -perguntei com a voz baixa.
-Sim. Não é lindo?
-Para que esse banco? -apontei para o banco a nossa frente.
-Muitas utilidades, apoiar os pés, dar lugar a mais pessoas, brincar.
-Brincar? -eu ri.
Taehyung me deu um sorriso malicioso e eu entendi o sentido de "brincar". Balancei a cabeça tentando não pensar nas brincadeiras que Taehyung aprontava ali dentro. Não queria fazer parte disso.
-Com quem você anda "brincando" aqui?
Perguntei. Já que a dúvida estava queimando na minha garganta.
-Bem... um garoto que conheci faz umas semanas. Muito bom ele.
-Sem detalhes.
Ele riu. Na parte da frente, pude ver por uma janelinha transparente e fumê a cabeça do motorista e seus braços grossos, conclui que não devia ser só motorista do Tae, mas segurança também. Ninguém deveria tentar brigar no trânsito com aquele cara, ou teria o rosto amassado tão facilmente quanto um copo de plástico.
Conversamos no caminho, com Tae me contando sobre o seu último trabalho, Hwarang, e sobre como havia se gabado por mim para o diretor.
-Enlouqueceu? -perguntei apreensivo.
-O que? Você é muito bom, eu tinha que fazer propaganda. Até mostrei um vídeo seu.
Cobri o rosto com as mãos tentando não surtar de vergonha. Eu era a pior pessoa para receber elogios, minhas orelhas queimavam como se quisessem cair e eu as vezes sentia a necessidade de me esconder. Isso Tae já sabia a muitos anos, mas ele nunca parecia se importar com isso, não quando a oportunidade era boa para mim, caso não levasse a nada ele até me ajudava a me esconder. Ergui os olhos sobre os dedos, ele riu e se encostou no banco.
-Você Jimin, vai trabalhar de verdade comigo um dia. Nem que eu tenha que lhe apresentar para mil diretores até que lhe deem uma chance.
-Esqueci como você era otimista. -eu suspirei e escorreguei as costas pelo banco. -Vai demorar muito para chegar lá?
-Falta uns minutos.
Ele sorriu e se voltou para a estrada. Seu sorriso quadrado continuava o mesmo. A única mudança nele era o dinheiro que recebia. Taehyung havia conquistado muitas pessoas por meio do sorriso, enquanto eu só conseguia muitos inimigos por eles acharem que eu e Taehyung tínhamos alguma coisa. Vendo dessa forma, Hoseok Hyung até tinha razão em só me arranjar homens, não era um boato novo a me assombrar, só pararam de me infernizar com isso quando eu fiz quinze anos e namorei uma amiga do Tae. Eu não sabia o paradeiro dela agora. Depois do término, ela saiu da escola e sumiu. Também não senti saudade, devo admitir.
Realmente foram poucos minutos, quando o carro começou a desacelerar, estávamos de frente a um prédio alto numa esquina de uma rua comercial. Taehyung me cutucou nas costelas para eu sair do carro, já que eu estava do lado da calçada. Abri a porta e saímos, olhei ao redor me perguntando quando eu finalmente viveria entre aquilo, era tantos prédios, eu não duvidava que ali haviam vários estúdios e empresas começando a crescer. Eu me virei para o prédio de esquina novamente e Taehyung pôs um braço sobre os meus ombros.
-Bem vindo a BigHit.
***
Taehyung sempre foi uma pessoa animada, mas eu não acreditava que ele conseguia fazer amizade com tanta facilidade.
Enquanto passávamos pelo corredor em direção às escadarias para o primeiro andar, ele havia encontrado uma dúzia de amigos de gravação. Cada um que chegava no corredor e o via era motivo para uma pausa na caminhada e troca algumas palavras, as vezes até marcar um encontro à noite. Eu nunca fui daquele jeito, mas era daquela forma que a minha mãe, conhecido como Hoseok, queria que eu fosse. Eu ficava acanhado atrás dele, tentando me passar de paisagem, mas as vezes não tinha como evitar, Taehyung me puxava e fazia eu me apresentar ao amigo dele. Quando finalmente chegamos às escada eu peguei-o pela mão e o puxei o mais rápido possível para o primeiro andar, e dali até a porta com a placa "sala de reunião". Ou ele faria amizade com o corrimão e eles marcariam de ir tomar alguma coisa na terça à noite.
-Está animado assim? -ele me perguntou quando paramos em frente à porta.
-Não, mas você faz uma pausa a cada seis passos. Eu tive que te apressar.
-Não fique com ciúme, sabe que é o meu melhor amigo, -ele deslizou a ponta do dedo pelo meu nariz e sussurrou -Para sempre.
Afastei sua mão e ele riu. Tomou a frente para abrir a porta e eu tentei esconder que estava nervoso enfiando as mãos nos bolsos. Claro que eu estava nervoso, eu nunca ia a reuniões assim.
Quando o Tae abriu a porta, me dei conta que os filmes eram muito mentirosos. Sentados à mesa, apenas um pequeno grupo ocupava os lugares certos das cadeiras de escritório, o resto estava espalhado pelo chão e por cadeiras de plástico coloridas, ninguém estava de terno, pareciam bem relaxados sobre isso, e o ar estava cheirando a bolo e salgadinhos. Eles riam e conversavam entre si, os papéis de trabalho intocados no canto da mesa, nem pareciam que iam fazer uma reunião e sim uma confraternização de final de ano escolar. Tae entrou e me puxou pela camisa quando fiquei empacado, tropecei para dentro e ele fechou a porta.
-Taehyung! -chamou um homem gordinho na cabeceira da mesa.
-Bang PD-nim! -gritou de volta Tae, que ainda não soltara minha camisa.
Olhei em volta da mesa, muitos olhos estavam em mim, eu não tinha certeza quais eram os papéis de cada pessoa naquela mesa, quem era ator, quem trabalhava com as câmeras, quem eram os ajudantes, era tanta gente que me deixava meio envergonhado de ter tantos olhares curiosos em mim. Não deviam ter avisado sobre um membro novo na equipe.
-Pessoal, -disse Tae me puxando pela camisa novamente mais para perto dele. Estapeei sua mão tentando me soltar, mas ele me deu uma cotovelada de leve e continuou. -Esse é o Jimin, ele vai fazer parte da equipe também. Ele é meu amigo, então sejam bonzinhos com ele e não achem que ele é chato, é só que... ele é um pouquinho envergonhado.
Assim que ele terminou de dizer isso, muitas pessoas, incluindo o carinha na cabeceira, olharam para mim e sorriram. Abri o meu sorriso menos desesperado, tentando passar a imagem que eu estava muito a vontade. Mesmo assim senti minhas bochechas queimando e um coro de "owt" quase me fez correr para fora da sala. Porém minha camisa ainda estava presa entre os dedos longos de Tae.
-Bem, agora só falta um. -disse Bang PD-nim.
Assim que ele terminou de dizer isso, a porta pela qual entramos se abriu e alguém esbarrou em mim, quase me fazendo dar um encontrão em Tae. Que por sorte soltou a minha camisa a tempo e eu conseguir me segurar na parede antes de dar uma queda em nós dois. O furacão que passara pela porta estava apoiado nos joelhos e respirando com dificuldade. Ele ergueu a mão e disse com a voz assoprada.
-Cheguei em tempo?
-Sim. -respondeu PD-Nim. -Vamos, Tae, arranje cadeiras para você e o seu amigo.
Olhei de lado quando o garoto se ergueu, em um segundo esqueci de gritar com ele pelo empurrão. Jungkook estava à porta, a menos de um metro de mim, eu podia virar e dar um belo soco no seu belo rosto e gritar; VOCÊ É UM IDIOTA! Não fui burro assim, o ignorei e fui com Taehyung atrás de duas cadeiras coloridas que estavam no corredor. Quando voltamos, Jungkook já estava sentado num banco preto ao lado de Bang PD-Nim. Puxei minha cadeira ao lado da porta já que o espaço na mesa estava apertado, Tae ficou logo ao meu lado. Aos poucos a conversa foi cessando e um tom mais sério foi acolhido. Todos pegaram uma folha cheia de dados que fora distribuída por PD-Nim, até mesmo eu recebi uma. Oque eu não esperava já que meu trabalho seria tomar conta daquela grande criança ao lado do diretor, que fazia um avião com o papel. Pelo bem dos meus estudos, eu o suportaria por esses meses que faríamos o filme.
PD limpou a garganta, então olhou para os outros um por um e sorriu.
-Sejam bem vindos ao nosso novo projeto. -ele olhou para o papel e o dispensou deixando-o na mesa. -Alive é um dos manhwas mais comprados da atualidade e mais pedidos para uma adaptação, oque significa que temos que fazê-lo muito bem. -os demais concordaram com um murmúrio. -Aos que me ajudarão a construir esse mundo, desde já, eu peço que se esforcem para ler a coleção. Não é muito grande, e vai nos ajudar a construir isso o mais realístico possível.
-PD-Nim. -chamou Tae, os outros se viraram para ele, não pareciam mais o bando de pessoas animadas de antes. Desejei ser assim algum dia, não perder a graça da vida. -Jimin já leu todos os livros, se precisar da ajuda dele...
Meus dedos coçaram para o beliscar, mas me controlei e balancei a cabeça concordando.
-Pode contar comigo.
-Ah sim, vou precisar da sua opinião como fã.
Eu mal o conhecia, mas sem dúvida ele estava se tornando um dos meus diretores de filme favoritos. Senti as borboletas batendo no meu estômago, mas elas caíram quando vi uma mão pairando no ar. Jungkook me lembrou a amiga de Matthew, me olhando de cima a baixo e me deixando extremamente constrangido em como não estava sendo discreto. Tentei ignorar o olhar, desviando para o meu papel e fingindo estar interessado, mas ainda podia sentir seus olhos em mim.
-Vamos ter equipe nova?
Ouvi ele perguntar isso em voz baixa, mas com todos calados, claro que ouvimos. Além de que Taehyung indiscretamente me deu uma segunda cotovelada. Eu continuei concentrado no meu papel. Ele voltou a me acotovelar dessa vez com força, então eu enrolei o papel e me virei para o bater, mas Taehyung segurou minhas mãos. Não importa se eu estava na frente de vários pares de olhos, a vergonha viria depois, no momento eu estava preocupado com a minha costela machucada.
-Jimin? -chamou PD-Nim.
Abaixei o papel e as mãos, quando me virei para a mesa novamente, eles me observavam atentamente. Uma garota do lado direito de PD-Nim, usando orelhinhas de gato e com o rosto rechonchudo, me olhava como se eu fosse um filhote de cachorro, já do outro lado, havia o oposto desse tipo de olhar. Por que Jungkook estava me olhando como se eu fosse um cachorro quente? Franzi a testa e ele sorriu.
-Jimin-ssi vai ser o seu staff. -disse PD, e então voltou a falar com o resto da equipe.
Eu abaixei o rosto novamente, o ignorei por boa parte da reunião, mesmo sentindo um certo incômodo. Como algo invisível estivesse fazendo cócegas em mim. Então, já para acabar a reunião, quando PD dizia suas últimas recomendações, de que estivéssemos ali na outra manhã para ajudar no teste das maquiagens e figurinos, -cometi o erro de virar o rosto para ter certeza se eu só não estava sendo paranóico. Porém, eu não era paranoico com nada, e dessa vez também não fui. Quando olhei para ele discretamente, seus olhos ainda estavam fixos em mim, como se nem tivesse os tirado dali. Jungkook voltou a sorrir. Eu revirei os olhos para ele e voltei a tentar prestar atenção na reunião. Taehyung estava concentrado assim como todos ao redor da mesa e os sentados no chão, os únicos alheios à isso éramos nós dois. Oque não devia estar acontecendo.
Quando PD-Nim levantou, finalmente senti que a pressão dos olhos deles haviam se aliviado sobre mim.
-Vejo vocês amanhã? -perguntou ele.
-Sim. -responderam todos ao mesmo tempo.
Aos poucos foram se levantando, e a baderna de alguns minutos atrás voltou. Todos eram muito amigos, conversavam e riam como algo corriqueiro. Todas as empresas que produziam filmes eram assim? Eu ia me virar para o Tae para me queixar sobre os olhares daquele idiota, mas quando eu virei não era ele quem estava no meu lado. A garota das orelhinhas de onça estava lá, ela parecia um pouco mais nova que eu, seu estilo era um pouco... refinado: usava uma camisa com um grande unicórnio de lantejoulas, um tutu de bailarina sobre leggings pretas, sapatos all-star (para variar, cor de rosa), também usava cabelo curto da cor de algodão doce rosa, e olhos com delineado roxo. Ela ergueu um cartão e o balançou na minha direção.
-Seu crachá, novato.
Eu o peguei e olhei a face do cartão. Estava meu nome e uma foto nada usual, um gatinho. Franzi a testa para o crachá e ela deu um gritinho de animação.
-Eu sou a HyeMi. -disse dando saltinhos.
Não aguentei olhá-la tão animada sem rir daquela reação.
-Você ri tão fofo. Eu sou da líder das maquiadoras daqui. Tenho minha própria equipe. -ela balançou o cabelo e fez cara de pouco caso. -Nada demais sabe.
-Uau. Eu vou tomar conta daquele...
-Daquele... -uma voz repetiu atrás de mim, senti o seu hálito bater na minha nuca e arrepiei. -Vamos, continue.
-Daquele idiota que fica me encarando o tempo todo. -me voltei para ele.
Jungkook estava a pouco espaço de distância de mim. Segurei meus instintos que me mandavam recuar. Ele tocou minha bochecha com o dedão e eu afastei a sua mão.
-Apesar de abusado, finalmente eles acertaram dessa vez. -ele disse, mas tive a impressão que falava consigo mesmo.
-Acertar em que? -perguntei cruzando os braços.
HyeMi se virou para sair discretamente dali, mas no caminho, se distraiu pensando e bateu o pé na cadeira. Um homem de camisa caqui e jeans a ajudou a se sentar enquanto ela choramingava pelo pé. Eu ia a procura dela para saber se estava bem, mas ele me segurou pelo braço e me fez ficar.
-Você.
-Eu o que? Pelo amor, fale tudo com coerência em vez de falar em pedaços.
Sacudi o braço e me livrei dos seus dedos.
-Eles acertaram em você. Em meus outros trabalhos sempre escolhiam staffs feios para cuidarem de mim.
Ruborizei. Imaginei se empurra-lo e sair correndo iria me tirar o emprego, conclui que sim. Então apenas revirei os olhos mais uma vez.
-Certo. Eu paro. -ele ergueu as mãos em rendição, mas eu não acreditei nessa atitude.
-Sem brincadeiras comigo, ouviu?
-Foi um elogio. -Jungkook abaixou as mãos e bufou. -Não sabe aceitar um?
-Sei. Claro que sei.
-Meninos? -chamou PD-Nim se aproximando de nós. Ele veio com um sorriso apaziguador e apoiou as mãos nos nossos ombros. -Algum problema?
-Jimin não sabe receber um elogio. -resmungou Jungkook.
Eu ri incrédulo. Como podia ser tão alto... e tão infantil? Ele me lembrava alguém, mas o nome havia fugido da minha mente. Passei as mãos no rosto tentando esfriar o sangue antes de falar.
-Ele fica me testando.
-Tentando? -perguntou Jungkook com um sorriso.
-Tes-Tan-Do!
PD-Nim limitou-se a rir, deu um aperto leve e voltou a se juntar ao grupo na mesa. Eu olhei para Jungkook e ele se aproximou mais, coloquei uma mão no peito dele tentando afastá-lo. Lembrei-me novamente de Matthew, se não me engano ele já havia feito algo parecido. A diferença: Matthew quase havia conseguido oque queria, me empurrando na parede. Jungkook queria me infernizar e isso brilhava nos seus olhos escuros.
-Vamos nos divertir muito. -ele sussurrou.
Eu pisquei. Ele estava mesmo dando em cima de mim?
-Você, pare de flertar com o meu amigo. -disse Taehyung como se lesse meus pensamentos.
Por um momento pensei que Tae estava partindo para cima dele, mas então eles se abraçaram. Achei estranho, mas não comentei.
-Jungkook, seja legal com o Jimin. -disse Tae se afastando, mas deixando o braço apoiado no ombro do outro.
-Eu estou sendo, mas... ele só não colabora.
-Colabore Jimin, vamos lá.
Apoiei as mãos na cintura e olhei indignado para o Taehyung, ele estava confuso de que lado de deveria defender? Olhei de um para o outro e joguei os braços para cima exasperado.
-Desisto de vocês.
-Não! Vão trazer um staff velho e feio. -choramingou Jungkook me segurando pelo pulso.
Congelei. O cara que eu "odiava" estava implorando para que eu ficasse. Olhei mais uma vez para ele e Jungkook sorriu amigavelmente. Eu não podia esquecer que ele era um ator, muito requisitado afinal, então ele era bom em fingir quem ele não era. Apertei os olhos e ele me imitou.
-Ótimo já são amigos. Jungkook, por que não leva o Jimin para casa? Ai vocês se conhecem mais. -sugeriu Taehyung.
Tentei capturar seu olhar para enviar uma ameaça silenciosa, mas ele me ignorou, mandou um beijo para mim e correu do alcance das minhas mãos.
-É, eu vou te levar em casa.
Me virei para Jungkook e ele sorriu.
-Tente alguma coisa e eu lhe dou um soco no queixo.
-Só vamos seu chato abusado.
***
Eu pensei que assim que entrasse no carro, ficaríamos em um silêncio constrangedor, mas Jungkook sabia manter uma conversa quando queria. Me perguntou da faculdade e me fez falar sem eu perceber, até o contar sobre ter me mudado. Quando notei, quase entregara uma ficha sobre a minha vida. Decidi guardar algumas coisas, como por exemplo... ele nunca saberia que eu quero um cachorro.
-Então você mora sozinho? -perguntou ele.
-Sim.
Virei o rosto, ele continuava olhando a estrada com uma expressão pensativa. O que ele estava pesando com essa pergunta?
-Por que? -perguntei, lentamente.
-Ah, nada. Quer dizer que você não tem hora para chegar em casa.
-E?
-E se quisermos sair depois do seu expediente, você está livre.
-O que?
Me ajeitei no banco e fiquei de frente para o ombro dele. Jungkook sorriu e dobrou uma esquina, me olhou de relance enquanto isso.
-Nada, só um hipótese, Jimin.
-Eu sou dois anos mais velho que você.
-Ah, então pesquisou sobre mim.
Senti minhas bochechas arderem e desviei os olhos para a pista. Ouvi ele rir baixinho do meu constrangimento. Eu podia ter o socado como disse que faria, mas isso me levaria a perder a minha vaga. Ou não. Portanto, a melhor decisão foi fingir que nada aconteceu.
-Certo, Hyung. Se sente melhor se eu te chamar assim?
-Muito forçado. -cruzei os braços e me virei para frente.
-Jiminie Hyung. -ele disse, como se apreciasse cada som. Eu arrepiei, seria estupido admitir que eu quis sorrir quando ele disse isso. Eu tinha que me lembrar que aquela criança era insuportável. -Qual o seu prédio?
Apontei para o único prédio colorido na rua, cada andar uma cor, o meu era azul. E talvez, só talvez, isso tenha sido um dos motivos para eu ir morar ali.
-Nos vemos amanhã. Ou vai desistir? -ele me perguntou quando o carro parou.
Embora fosse chato ter que aturar cantadas dele, oque provavelmente iria acontecer se eu tivesse o lido bem, o trabalho não era lá tão ruim. Eu teria que dar assistência a ele, não devia ser tao difícil. Mal sabia eu, que ele me traria tantos problemas.
-Hum... Eu vou ficar.
-Ótimo. -disse com um sorriso.
Eu abri a porta para sair e ele segurou meu braço de novo. Aquilo devia ser uma mania dele. Voltei a me sentar, infelizmente ele havia se inclinado e quando voltei, parei bem em frente ao seu rosto.
-O que foi? -perguntei, um pouco intimidado. Ele não parecia desconfortável com aquilo, tanto que nem se moveu.
-Queria só te dizer que... não acredite em tudo que ouvir.
Eu entendi.
Eu o dissera que havia pesquisado sobre ele, e como disse, muitos boatos corriam por aí. Uns tão desrespeitosos que eu me negava a acreditar. Ele abaixou os olhos, pela primeira vez ele não parecia uma pessoa confiante e segura, talvez aquele fosse o Jungkook de verdade, não o personagem que ele atuava vinte e quatro horas. Mas isso passou rápido, assim que o vi ele desapareceu.
-Tire suas próprias conclusões. Acredite, muitas pessoas já se decepcionaram por causa da internet.
Ele piscou um olho para mim.
Eu assenti nervosamente e me esgueirei para fora do carro. Por que eu estava tão nervoso? Corri para a entrada do meu prédio, quando me virei ele continuava a me olhar, com aquele mesmo olhar de antes. Acenei e corri para o elevador, sem nem o esperar devolver o aceno. Por que ele continuava me olhando como se eu fosse um doce na vitrine?
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