CAPÍTULO 14 – FINAL
Se tem um único adjetivo que pode ser utilizado para minha pessoa é acabado. Já se passaram três dias, e eu continuo com a mesma roupa daquele diz, minha sala está cheia de garrafas de cerveja e fedendo à álcool. A imagem terrível de ________ sem vida naquela maldita cadeira não saia de minha cabeça, assim como Seokjin berrando, pedindo que eu acordasse após cair deitado no chão, completamente inconsciente.
Esses três malditos dias passaram muito devagar, eu só queria que aquilo acabasse logo e eu morresse logo. Não venha me chamar de gótico, das trevas, porque isso é um assunto sério. Já é ruim pensar em perder alguém realmente especial para você. Pois eu lhe digo e confirmo: vê-lo morrer ao vivo é noventa e nove vezes pior.
Eu nem ao menos fui no enterro dela... Eu, que era a única pessoal viva especial para ela, não fui. Ah, ela estaria querendo me matar por isso! Eu sou terrivelmente idiota, um completo canalha patético, só sei pensar em mim mesmo! Eu deveria, no mínimo, seguir em frente e homenageá-la com todo o carinho e amor possível. Mas não. Eu preferi me fingir de bebum e ficar preso no meu apartamento mofado... Sou um completo idiota!
Meu celular já está cheio de mensagens e ligações perdidas, ele não para de tocar um segundo. Talvez porque apareci na televisão e descrito como "O amante da assassina enlouquecida"? Aish, essas pessoas inventam cada coisa...
— Aish, que cheiro horrível! - Digo com a voz rouca e procuro com o nariz de onde vem o fedor. - Ah, que ótimo... - Nem preciso chegar perto de minha axila para saber que ali fica o local nojento. - Ok, já deu de ficar depressivo nessa merda... - Me levanto de qualquer jeito e sigo até o banheiro, logo me deparando com meu reflexo no espelho.
Comecei a sentir algo estranho. Não sei se eu realmente estava fazendo, porém o espelho me mostrava com um sorriso completamente forçado e psicótico, me fazendo arrepiar. Chacoalho a cabeça e o reflexo volta ao normal. Passo as mãos por todo o rosto, me sentindo uma catinga nojenta. Ligo a torneira da banheira, tiro minhas roupas e, quando ela está cheia, me deito na mesma, fazendo um pouco da água cair no chão. E, mais uma vez, começo a me sentir diferente.
"Calma, isso é normal..."
Dou um pulo da banheira ao ouvir aquela voz horrenda e de fazer arrepiar. Minha respiração começa a ficar num ritmo rápido, eu podia sentir meu coração bater no peito descontroladamente.
— Aish, que horror... - Fecho os olhos para tentar relaxar, porém várias risadinhas baixas e loucas me fazem abri-los novamente, com muito medo. E sim, soltei a famosa frase mais clichê... - Tem alguém aí? - Sem resposta. Respiro fundo e fecho os olhos novamente.
A água estava morna, meus músculos estavam relaxados e eu poderia dormir tudo o que eu não havia dormido por três noites. Começo a me sentir leve como uma pena e, num estralar de dedos, senti alguém me empurrar para dentro da água, me fazendo afogar. Eu tentava, porém não conseguia voltar para cima, alguém realmente estava me segurando pelos ombros. Agarro as laterais da banheira e me forço para cima, felizmente consigo.
— Que porra foi essa?! - Olho para os lados, completamente assustado. - TEM ALGUÉM AÍ?! - Dessa vez berro por todo o apartamento, até fez eco. Depois de minutos sem resposta, me seco e coloco minhas roupas, correndo para ir atrás da coisa que estava fazendo aquele joguinho comigo.
Andei por todos os cômodos, porém nada estava lá. Voltei ao banheiro, sem resposta. Respiro fundo diversas vezes, precisava me acalmar. Pego mais uma garrafa de cerveja e a viro em um único gole, voltando para o banheiro novamente.
A minha imagem no espelho estava me julgando. Eu sentia meus olhos dizendo para mim mesmo que eu não deveria existir, que sou um lixo e que mereço nada mais que a morte. Sim, sou caótico e sombrio ao mesmo tempo, porém eu podia sentir que essa era a mensagem que eu recebia.
— Apenas relaxe... - Digo para mim mesmo.
"Apenas se mate, querido..."
Arregalo os olhos e me viro para ver se tinha alguém atrás de mim. Porém, não encontrei nada. Quando voltei a olhar para o espelho, vejo três crianças no mesmo, bem atrás de mim. Abro a boca em busca de ar, me viro para trás porém não as vejo, e quando encaro o espelho novamente elas somem.
"Você realmente é lindo, querido..."
Dessa vez, a voz estava em minha mente, e não no banheiro. Me olho novamente no espelho e logo vejo alguém se erguendo atrás de meus ombros. Uma das crianças. Os cabelos tapavam todo o seu rosto, eu não podia nem ao menos decifrar se aquilo era um rosto. A menininha pega seu cabelo com as duas mãos e o afasta, mostrando um sorriso amarelo com os dentes cheios de defeitos.
"Por que está tão assustado, querido?"
Outra criança se ergue atrás de mim, agora a que aparenta ser mais nova de todas. Ela também tinha os cabelos na frente do rosto, porém eu podia ver parte de seu nariz. Quer dizer, ele era composto apenas de ossos. Ela faz o mesmo procedimento que a outra, afasta o cabelo com as mãos e posso ver seus rosto coberto de sangue.
"Nós somos suas amigas, querido..."
A última criança se ergue, e ela parecia ser a mais velha por ser mais alto. E também aparentava ser a mais assustadora. Quando afastou seu cabelo, soltei um suspiro de medo ao deparar os buracos em que deveriam ser tapados por olhos, vazios e que me assustavam mais ainda.
"Pelo o que sabemos, nossa amiguinha já nos apresentou para você, querido..."
Engulo em seco. Não pode ser... Essas são as tão temidas vozes que a minha ________ tinha na cabeça?
— Como vieram parar aqui? - Fecho os olhos assim que três mãos acariciam meus cabelos, tento bater nelas, porém encontro apenas o ar.
"Alguém iria acabar ficando com a gente..."
"E esse alguém é você, querido..."
"A pessoa mais próxima de nossa querida ________..."
Engulo em seco mais uma vez enquanto continuo com os olhos fechados. Não. Eu não posso estar enlouquecendo...
— Saiam daqui, agora! - Abro os olhos e não encontro mais as três crianças horripilantes. Encaro meu reflexo novamente. - Você. - Aponto para mim mesmo. - Você não está ficando louco, você está completamente normal! - Continuo com o dedo levantado, porém meu reflexo não.
O mesmo sorriso de antes aparece novamente, dessa vez eu podia sentir a psicopatia mais ardente ainda. Meu outro eu levanta o dedão, simulando uma arma, e aponta para a lateral da cabeça, dizendo um "pow" que pude entender. Automaticamente dou um soco no espelho, o quebrando por inteiro, todos os cacos caem no chão e minha mão começa a pingar sangue em cima de meus pés.
"PARA QUE TANTA VIOLÊNCIA, QUERIDO?"
A voz vem com mais força em minha mente, fazendo com que eu tivesse uma dor agoniante. Levo minhas mãos para minha cabeça, como se aquilo fosse parar com a dor, porém ele só aumentou.
"VOCÊ ESTÁ COM MEDO, QUERIDO?!"
Dou um grito de dor, caindo de joelhos no chão e os machucando com os cacos de vidro. Respiro profundamente, buscando ar enquanto esperava a dor cessar. Quando ela diminuiu um pouco, segui até meu quarto em passos cegos, ainda estava doendo, e muito.
"QUERIDO?"
"QUERIDO?"
"QUERIDO?"
Dou mais um grito, dessa vez mais alto e que me fez derramar algumas lágrimas de dor.
— PARE COM ISSO!!! - Dou um grito maior ainda e o tempo parece parar. Abro os olhos novamente, esperando que eu não encontrasse mais um motivo que me fizesse de louco. E encontrei.
— Senhor lindo Park Jimin! - Era ela. Realmente era ela. Porém parecia diferente... Sua áurea parecia suave, ela parecia um anjo, uma luz exalava atrás dela e ________ usava um vestido branco liso até os pés.
— ________? - Pergunto me pondo de pé.
— Sim, sou eu! - Ela estende os braços e começo a caminhar até ela.
— Eu estou ficando louco, certo? - Ela suspira alto.
— Você só será consumido pela loucura se deixar, senhor lindo Park Jimin. - Chego bem perto dela e nos abraçamos fortemente. - Porém, se tiver uma âncora para ajudá-lo... - Ela volta a me encarar. - Você não fica louco.
— E você... - Estalo a língua e engulo em seco. - Você é a minha âncora? - Ela afirma com a cabeça, ainda sorrindo. Realmente parecia um anjo...
— O que eu tenho de fazer para não ser louco? - Ela dá um passo para trás, e logo sinto três mãos em volta de meu pulso. Olho para trás e vejo as três crianças horripilantes.
— Apenas siga o som da minha voz... - Sinto uma de suas mãos macias em meu queixo, me fazendo olhar para ela. - Siga-me e você não vai cair na tentação. - Engulo em seco. - Um passo de cada vez... - A cada passo para trás que ela dava, eu ia um à frente, chegando perto da sacada de meu quarto. - Isso, assim mesmo... - Quando ela encostou na grade de segurança e a abriu, sou abraçado por seus braços. - Agora me beije e tudo ficará melhor. - Respiro fundo e, quando nossos lábios se tocam, vejo a completa escuridão, porém continuava sentindo sua pele na minha.
E aquela era a melhor sensação de todo o mundo.
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PARK JIMIN, 28, PSIQUIATRA DO MANICÔMIO PRINCIPAL DE SEUL, É ENCONTRADO MORTO NA PRÓPRIA RUA DE SEU APARTAMENTO.
O doutor Park Jimin foi encontrado sem vida na rua de seu próprio apartamento. As conclusões levam que a morte foi causada por suicídio. Um de seus vizinhos testemunhou que ouviu gritos do doutor, dizendo que alguém parasse de fazer algo.
Um dia depois dos gritos, Park foi encontrado morto no asfalto, sangue escorria de seu nariz e de sua boca. E estranhamente, o mesmo estava sorrindo.
O renomado doutor é conhecido como o psiquiatra que teve um caso com sua paciente, _____ ________, que há cinco dias também foi morta como pena por ter assassinado os pais de forma violenta e sem motivo.
Esperamos que os dois estejam agora descansando em paz.
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