De acordo com a previsão do tempo, faltavam apenas cinco dias para o inverno, este já começava a dar as caras por uma simples caminhada na rua. O vento gélido bagunçava meus cabelos e congelava as maçãs de meu rosto, assim como meu nariz, coberto por imperceptíveis - e talvez, fofas - sardas.
Meus pés se moveram para a construção que ficava a três quadras da casa de Seokjin, uma casa de informática, onde Taehyung já se encontrava. Adentrei o local e retirei a touca preta que cobria meus cabelos castanhos. Avistei Taehyung quase que de pronto e fui até ele, seus olhos nunca estiveram tão concentrados.
- E então? Como está indo? - perguntei e ele estalou os dedos, sem parar de digitar com a outra mão.
- Boas notícias! Eu encontrei um cara que pode me dar informações sobre Hoseok. - disse ele e meu coração amoleceu.
Tirei minha mochila das costas e a abri, de lá tirei um copo de café que tinha comprado em uma cafeteria próxima e o abri, dando o líquido para Taehyung tomar. Fazia trinta minutos que ele estava ali, devia estar exausto!
- Ah! Valeu, Taeyoon! - ele expôs seu sorriso quadrado e voltou a digitar. - Como eu dizia, achei um cara que pode me dar informações sobre o Hoseok!
- É mesmo? Quem é ele? - perguntei, me sentando na cadeira ao seu lado.
- Ah! Eu não sei. Mas paguei um bom preço pelas informações. - disse Taehyung, se servindo do café por conta própria.
- O que?! E quanto gastou?! - perguntei, horrorizada.
- Ahm... Acho que uns dois mil ienes. - disse ele, dando de ombros.
Eu acho que nunca senti tanta raiva em toda a minha vida, assim como a vontade insana de esmagar a cabeça de alguém, que no caso era Kim Taehyung.
- Kim Taehyung, meu querido amigo, você não conhece esse ser humano e acabou de dar um salário mínimo para ele! Por onde você pensa, por acaso?! - perguntei retoricamente e lhe dei um tapa na cabeça.
- Ai! Calma, Taeyoon! Esse cara já é de confiança! - Taehyung assegurou e eu semicerrei os olhos pra ele.
- Como sabe disso? Ou por quê? - perguntei, cruzando os braços.
- Bom, ele respondeu minhas três perguntas fundamentais no padrão. Aliás, ele gosta de unicórnios cor de rosa, confio nesse tipo de pessoa. - Taehyung sorriu satisfeito e eu revirei os olhos.
- Eu não acredito no que estou ouvindo! - resmunguei e relaxei na cadeira.
O barulho da porta sendo aberta ecoou pelo ambiente e Taehyung ficou tenso, apertei sua coxa para demonstrar que estava tudo bem e ele suspirou inaudível.
Passos pesados foram andando até nós numa lentidão extraordinária, quando nos demos conta, era apenas Jimin, com uma cara de sono instável!
- Seu imbecil! Não me assuste mais desse jeito! - Taehyung bufou e se virou para o computador novamente.
- Nem tentei assustá-lo. - Jimin falou entre um bocejo.
- Sente-se Jimin, descanse. Desculpe tê-lo chamado tão tarde, mas Taehyung precisa de apoio e um pouco de juízo! - disse a última frase com os dentes cerrados enquanto Jimin se sentava na cadeira que eu estava anteriormente.
- Juízo? O que ele fez? - perguntou entre um bocejo novamente e Taehyung revirou os olhos.
- Ele acabou de pagar dois mil ienes para um homem que ele mal conhece! - berrei.
- O que esse homem tem de tão especial? - perguntou Jimin enquanto eu tirava a mochila de suas costas.
- Ele vai me fornecer informações sobre o Hoseok! - disse Taehyung, com um sorriso vitorioso.
- Que podem ser falsas! - eu disse, como se fosse óbvio.
- Eu já disse! Confio nesse cara! - Taehyung disse e eu levantei as mãos, em rendição.
- Depois não diga que não avisei. - o lembrei e ele deu de ombros, revirei os olhos e olhei para Jimin, que meio dormia, meio prestava atenção no que era dito. - Trouxe café?
- Sim, inclusive o seu macchiato preferido. - Jimin disse, entre outro bocejo.
- Caramelo?! - perguntei, ansiosa, e ele assentiu. Lhe dei um beijo na bochecha e peguei sua mochila rapidamente. - Obrigada!
Peguei o copo lacrado com macchiato de caramelo em seu interior e abri-o, levei a borda do copo aos lábios e deixei com que o café alegrasse minhas papilas gustativas. Ele estava quentinho e docinho!
- O que descobriu até agora? - Jimin perguntou para Taehyung enquanto eu apenas me deliciava mais e mais com aquele macchiato.
- Informações, não exatamente sobre Hoseok, mas sobre como podemos encontrá-lo, precisamos apenas procurar nos lugares certos. - disse Taehyung, anotando alguns números num bloco de notas.
- Endereço? - perguntou Jimin, numa voz incrivelmente monótona e calma.
- Sim. É a base secreta, e subterrânea, da Mariana's Web. - disse Taehyung, sorrindo vitorioso, e eu me engasguei com aquele café.
- Como é que é?! - berrei e recebi uma interjeição de reprovação vinda do recepcionista do lugar. - Desculpe! Taehyung, me explica isso e bem direitinho porque estou ficando perdidinha da Silva!
- Você quer seu irmão de volta, não é? - Taehyung perguntou, desligando o computador.
- Claro que sim! - respondi, de imediato.
- E disse que sacrificaria qualquer coisa por isso, correto? - assenti e ele continuou. - Pois, vai ter que pôr isso em prática.
- Como? Eu ainda não entendi. - arqueei as sobrancelhas e ouvi um barulho estranho e repentino.
Olhei para o lado e Jimin estava com os olhos fechados, babando e roncando. Estranho, ele nunca roncava! Mais uma prova de que ele estava deveras cansado!
- Jimin! - cutuquei seu braço e, num pulo, ele acordou. - Preste atenção!
- Arrumem suas coisas, faremos uma longa viagem. - disse Taehyung e minha expressão deveria ser de pura confusão, pois ele revirou os olhos e estalou a língua. - É o seguinte, a base da Mariana's Web fica lá na Coréia do Norte, beleza?
- Coréia do Norte? - perguntou Jimin, num quase inaudível murmúrio sonolento.
- Isso aí, estão fazendo atrocidades com o seu irmão lá. - disse Taehyung e eu arregalei os olhos.
- Ele está sofrendo? - perguntei, numa voz frágil, quase se partindo, como vidro.
- Provavelmente. Na ala de experimentos humanos, os caras não estão de brincadeira, fazem experiências macabras e desumanas. Eu sinto muito informar-lhe isso, mas... As chances de encontrarmos seu irmão vivo são nulas. - disse Taehyung, abaixando a cabeça.
- Eu vou até o inferno, mas Hoseok voltará comigo. - grunhi baixo e Taehyung assentiu.
- Vocês por acaso pensaram nas chances de dar errado? É praticamente impossível ultrapassar a fronteira ilegalmente e se tentássemos entrar no país através de nossos passaportes, provavelmente seríamos pegos. - disse Jimin, coberto de razão.
- É difícil. - disse Taehyung, soltando uma interjeição de frustração.
- Mas não é impossível. - eu disse e pus minha mochila nas costas. - Não estou pedindo para virem comigo, é só me dar o endereço e eu trago Hoseok de volta em poucos dias.
- Entrar na base da Mariana's Web sozinho é suicídio! Não sei você, mas eu quero que você volte. - Taehyung disse, pondo sua mochila nas costas também.
- Eu também. Estou com você para o que der e vier. - disse Jimin, também se levantando e pondo sua mochila nas costas.
- Obrigada, pessoal. Mas quero saber se isso é realmente o que querem. - olhei para os meus pés e chutei o pé da cadeira levemente, brincando. - Existem muitos riscos, não quero que se machuquem por minha causa.
- Relaxa, Taeyoon. Tudo o que estamos fazendo é por livre e espontânea vontade. - disse Taehyung, me mostrando seu belo sorriso quadrado.
- Vai dar seis horas da manhã. O que querem fazer até às oito? - perguntou Jimin e eu bocejei.
- Eu quero dormir. - eu disse, me espreguiçando, e Taehyung riu.
- Quero ver o nascer do sol. - disse ele, dando de ombros.
- A vista do nascer do sol é linda da colina afronte à casa de Taeyoon. - disse Jimin, sorrindo fraco.
- Tudo bem, vejamos o nascer do sol, então! - disse e sorri sinceramente.
[...]
Tecidos finos e delicados cobriam meu corpo, meus olhos insistiam em ficarem fechados, meu cérebro estava exausto e aquela superfície muito dura. Onde eu estava?
Passos pesados fizeram minha audição aguçar e meu coração disparou quando vi a figura de cabelos platinados, lábios cheios e roupas pretas afronte de mim, segurando meu irmão Hoseok pela gola da camisa, sufocando-o.
Namjoon.
- Hoseok! - eu planejava gritar, mas nenhum som saiu do fundo de minha garganta.
Ele estava muito machucado e pálido - como se estivesse anêmico -, sua garganta estava coberta por muitos cortes, assim como seu rosto e seus braços. Ele vestia uma roupa ensanguentada própria para cirurgias e possuía um olhar desesperador. Essa não!
- O seu corpo é muito aproveitável. - disse Namjoon, com um sorriso malicioso no rosto.
- O que você fará comigo? - perguntei e, desta vez, as palavras foram audíveis.
- Muitas coisas. E aviso, desde já, que lhe causarão muita dor. - ele disse, umedecendo os lábios com a língua rosada.
Eu não pretendia chorar, mas a imagem de Hoseok agonizando em minha frente, debilitado, fraco e vulnerável, fez as lágrimas transbordarem de meus olhos.
- Por favor, deixe-o ir. Se seu problema é comigo, resolva-o comigo! - gritei e tentei me levantar, porém meus braços foram puxados para o mesmo lugar.
Só então que reparei em mim. Eu estava apenas de lingerie, com cordas machucando meus pulsos, deixando-os roxos e feridos, estas estavam amarradas na cama dura e desconfortável.
O meu pesadelo!
- Por que todas as pessoas são assim? Por que pensam que são escolhidas por terem algo especial? Não entende? Não deixarei ninguém que desrespeite as regras em paz! - Namjoon vociferou.
- Que regras?! Não tinha nada escrito! - berrei, numa voz repleta de embargo e amargura.
- Claro que não, menina burra! Porém, a curiosidade sempre mata o gato. E com seu irmão não foi diferente. - disse Namjoon, sorrindo de uma forma sinistra.
- O que você fez com meu irmão, seu monstro?! Me deixa em paz! Deixe ele em paz! - berrei e comecei a me debater.
- Ah! Fiz com ele o mesmo que farei com você, mas duas vezes melhor! - ele deu uma risada maléfica e continuou: - Seu irmão era muito resistente, ele não obedecia aos meus comandos, era um teimoso!
- É! Ele não está morto! - berrei, tentando me soltar daquelas malditas cordas.
- Continue sonhando, se iludindo. Se as esperanças não habitassem o mundo, todo o entretenimento seria inútil e seríamos governados por pessimistas patéticos. - ele revirou os olhos e largou Hoseok no chão.
- Hoseok! - gritei novamente, mas minha voz não saiu.
Por que eu não conseguia pronunciar o nome de meu irmão?!
- Seu gosto deve ser melhor que o do seu irmão. - disse ele, aproximando-se de mim.
- Não ouse encostar em mim! - berrei e ele me segurou pelo queixo. - Não! Não!
Selou nossos lábios e iniciou um beijo violento, misturando sincronias improvisadas e batidas de dentes dolorosas. Mordi seu lábio e arranquei um pedaço de sua pele, afastando-o surpreendentemente.
Ele passou a língua pelo lábio inferior e sorriu ao sentir o gosto de sangue, recebi um tapa forte no rosto como desaprovação à minha rebeldia e me remexi mais na cama, tentando desesperadamente sair daquele inferno!
- Parece que você é mais esquentadinha... - ele subiu em cima de mim e puxou meu cabelo, fazendo-me grunhir de dor. - ...Vamos dar um jeito nisso.
Segurou o tecido fino de minha calcinha e a rasgou, remexi minhas pernas, em constante desespero, e gritei de forma estridente. Não podia deixá-lo me tocar.
- Não me toque! Não encoste em mim! - berrei, me virando de costas, tentando atrasá-lo, em vão.
- Prefere levar atrás? Que assim seja. - ele disse, num tom malicioso, e segurou minha cintura.
- Não! Não! Por favor! Não faça isso comigo! Eu lhe imploro! - disse, chorando em desespero.
- Calma. Logo, logo vai estar implorando para que eu vá mais rápido. - murmurou em meu ouvido e mordeu o lóbulo do mesmo.
- Não! - gritei, mesmo que fosse inútil, pois ninguém me salvaria.
Quando o senti adentrar meu corpo, gemi estridente, era uma dor insuportável! Ele era grande e grosso, machucava, e não tinha pena de meu estado. Apenas ia mais rápido, mais fundo, mais impiedosamente, puxando meus cabelos, estapeando minhas nádegas e, por fim, me fazendo desmaiar.
- Taeyoon! Taeyoon! - ouvi a voz de Taehyung chamando-me e abri os olhos lentamente. - Você tem um sono pesado, hein!
Arregalei os olhos e me sentei aos poucos, foi só um pesadelo, porém... houvera sido tão real! Eu senti as dores, os tapas, até mesmo o hálito quente daquele homem contra meu pescoço!
Agradeci mentalmente por aquilo não ter acontecido de verdade e me deparei com os meninos ao meu lado, olhei o relógio, este marcava seis e vinte e quatro, tínhamos dormido naquela colina depois de um mini-piquenique por basicamente uma hora e meia!
- Taehyung... - murmurei, tentando me levantar, mas Jimin me puxou para seu colo de surpresa e beijou meu pescoço.
- Vamos ficar aqui mais um pouco, você merece isso Taeyoon. - disse Jimin e eu olhei para o sol.
Eu sabia que seu nascimento era lindo, mas naquela manhã, especificamente, ele houvera sido demasiado perfeito, dando-lhe um resultado extraordinário!
As poucas nuvens que tentavam cobri-lo não eram páreo para sua fantástica luminescência. O céu estava como ao entardecer, colorido em tons quentes de laranjado, vermelho e amarelo, cegando os olhos de qualquer um que olhasse para aquela potente imagem por tempo demais.
Então, naquele confortável momento, pensei:
"Como Deus é sábio"
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